ESTUDOS DA ESCRITURA SAGRADA:

A BÍBLIA

 

PARTE I

 

INTRODUÇÃO

(DESCUBRA O VERDADEIRO NOME DE “DEUS...”):

 

 

               Que é a Bíblia? Um simples olhar lançado sobre o índice basta para ver que ela é uma “biblioteca”, uma coleção de livros muito diversos. Quando se consultam as introduções a esses livros, a primeira impressão se confirma: distribuindo-se por mais de dez séculos, os livros provém de dezenas de autores diferentes; uns estão escritos em hebraico (com certas passagens em aramaico), outros em grego; apresentam gêneros literários tão diversos quanto a narrativa histórica, o código de leis, a pregação, a oração, a poesia, a carta, o romance.

               O nome desta coleção, “os livros” (em grego, ta bíblia), tornou-se um singular, “a Bíblia” (em grego, hê biblia). “Os livros” chegaram a ser considerados como um único livro e até mesmo o Livro por excelência. Por quê?

 

               De quem provém a Bíblia? Todos estes livros provêm de homens com uma convicção comum: Deus os destinou a formar um povo que toma lugar na história com legislação própria e normas de vida pessoal e coletiva. Foram todos testemunhas daquilo que Deus fez por esse povo e com ele. Relatam os apelos de Deus e as reações dos homens (indagações, queixas, louvor, ações de graça).

               Este povo posto a caminho por Deus foi primeiramente Israel, que apareceu na história por volta de 1200 a.C., envolvido – como todos os povos vizinhos – nos movimentos que agitaram o Oriente Próximo até os inícios da nossa era. No entanto, sua religião o tornava um povo  à parte. Israel conhecia um único Deus, invisível e transcendente; o Senhor. Exprimia a relação que o unia ao seu Deus com um termo jurídico: a Aliança. Submetia toda a existência à  Aliança e à Lei que dela decorria, e seu modo de vida se tornava cada vez mais contrastante com o das outras nações. Toda a parte hebraica da Bíblia se refere à Aliança, tal como foi vivida e pensada por Israel até o século II a.C.

               O antigo povo judaico, cuja dispersão se acelerou com a destruição de seu centro religioso, Jerusalém, em 70 e 135 d.C., prolonga-se na comunidade judaica, cuja história movimentada e frequentemente trágica se desenvolve na maior parte de tempo em terra de exílio. As diversas tendências que o animam, todas têm por fundamento a Escritura e notadamente a Lei, venerada como a própria palavra do Senhor. Os judeus a leem e sobre ela fundamentam sua prática ao quadro de tradições que, lançando raízes na vida do antigo Israel, foram redigidas após a ruína da nação e inseridas na literatura rabínica.

               Ao mesmo tempo que viu a desaparição da nação judaica, o século I assistiu ao nascimento da comunidade cristã, que se afastou progressivamente. Para os cristãos, a história do povo de Deus tinha encontrado cumprimento em Jesus de Nazaré; foi por ele que Deus reuniu as pessoas de todas as origens para formar um povo regido por uma nova Aliança, um novo Testamento. Era uma Aliança definitiva; em contra partida, fazia da Aliança que regia Israel uma etapa que, embora indispensável, estava destinada a ser superada. Os cristãos denominaram-na de antiga Aliança e deram ao conjunto dos livros bíblicos recebidos de Israel o nome de Antigo Testamento (cf. 2Co 3,14), enquanto os livros que falavam da pessoa e da mensagem de Jesus formaram o Novo Testamento.

               Os discípulos de Jesus e seus sucessores imediatos que redigiram o Novo Testamento viam em jesus aquele que concretizaria a esperança de Israel e responderia à expectativa universal tal qual expressa no seio desse próprio povo. Com toda naturalidade, utilizaram a linguagem dos livros santos de Israel com toda a sua densidade histórica e experiência religiosa acumulada no decorrer dos séculos. Consequentemente, a comunidade cristã reconheceu no Antigo Testamento a palavra de Deus. As Escrituras judaicas vieram a ser, então, a primeira Bíblia dos cristãos. Mas, iluminado pela fé em Jesus Cristo, o Antigo Testamento tomou um sentido novo para eles, tornou-se como que um novo livro.

               Assim, judeus e cristãos se vinculam à Bíblia, mas não a leem com os mesmos olhos. Não obstante, ela continua a convidar os homens e mulheres de todos os países e de todos os tempos a ingressar no povo dos que buscam a Deus no seguimento dos patriarcas, dos profetas, de Jesus e de seus discípulos. Livro do povo de Deus, a Bíblia é o livro de um povo ainda a caminho.

 

               Ler a Bíblia. Os livros da Bíblia são a obra de autores ou de redatores reconhecidos como portadores da palavra de Deus no meio de seu povo. Muitos dentre eles quedaram no anonimato. De qualquer modo, não estavam isolados: eram conduzidos pelo povo cujas vidas, preocupações, esperanças partilhavam, mesmo quando se erguiam contra ele. Boa parte de sua obra se inspira nas tradições da comunidade. Antes de receber forma definitiva, estes livros circularam durante muito tempo entre o público e apresentam os vestígios das reações suscitadas em seus leitores, sob a forma de retoques, anotações e até de reformulações mais ou menos importantes. Os livros mais recentes são por vezes reinterpretação e atualização de livros mais antigos (como, por exemplo, as Crônicas, com relação a Samuel e Reis).

               A Bíblia está profundamente marcada pela cultura de Israel, povo que teve, como todos os outros, um modo próprio de compreender a existência, o mundo que o circundava, a condição humana. Exprime sua concepção do mundo, não numa filosofia sistemática, mas em costumes e instituições, em reações espontâneas dos indivíduos e do povo, através das características originais de sua língua. A cultura hebraica evoluiu no decorrer dos séculos, conservando, porém, determinadas constantes.

               A civilização de Israel tem muitos pontos em comum com as civilizações dos outros povos do antigo Oriente. Apesar disso, o antigo Oriente não explica tudo na Bíblia; a linguagem dos livros foi modelada pela história própria de Israel, única em seu gênero. Muitas das palavras da Bíblia – particularmente no Novo Testamento – estão carregadas de uma experiência religiosa milenar. Para detectar toda sua riqueza, é preciso levar em consideração o contexto de toda a Bíblia e da vida das comunidades que prolongam a existência do antigo Israel.

               Isto explica por que, muitas vezes, é difícil para o homem de hoje compreender plenamente a Bíblia. Entre ela e ele se interpõe uma distância considerável: o afastamento no tempo, a diferença de cultura e, mais profundamente, a distância que um texto escrito sempre introduz entre a mensagem original e o leitor.

               Para reduzir a distância, recorre-se à exegese, isto é, a uma explicação do texto. Cada época teve seus métodos. De dois ou três séculos para cá, o Ocidente viu desenvolver-se uma exegese histórica, à qual a civilização técnica forneceu instrumentos (especialmente a arqueologia científica). Sua intenção é estabelecer com exatidão o texto bíblico, compreender exatamente o sentido das palavras, situar o texto em seu ambiente original. É o resultado deste vasto trabalho que as introduções e as notas de A Bíblia – Tradução Ecumênica resumem.

 

 

               A Bíblia, Palavra de Deus. O leitor constata que a Bíblia não constitui simplesmente um antigo tesouro literário ou uma mina de documentação sobre a história das ideias morais e religiosas de um povo. A Bíblia não é somente um livro no qual se fala de Deus; ela se apresenta como um livro no qual Deus fala ao homem, como atestam os autores bíblicos.

               NÃO se trata de uma palavra sem importância para vós: é uma vida (Dt 32,47). Estes sinais foram escritos neste livro para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome (Jo 20,30-31).

               Nenhuma leitura poderá desconhecer essa função do texto bíblico; essa interpelação constante, essa vontade de transmitir uma mensagem vital e de atrair a adesão do leitor. O leitor é livre para resistir e pode apreciar a Bíblia apenas como um literato ou um apreciador da história antiga. Mas se ele aceitar entrar em diálogo com os autores que dão testemunho da própria fé e suscitam a necessidade de uma decisão, a questão fundamental, o sentido da vida, não deixará de ser enfrentada por ele. Pois a Bíblia e a fé – à qual ela convida de modo tão premente -, embora estejam profundamente enraizadas numa história numa história particular e bastante longa, ultrapassam a história. Os autores bíblicos querem ser os porta-vozes de uma Palavra que se dirige a todo homem, em todo tempo e lugar.

               Através dos séculos, as comunidades cristãs de todas as línguas e de todas as culturas encontraram alimento neste livro, cuja mensagem meditam e atualizam. Não é sem razão que nos cultos ou ofícios se leem ou se cantam os Salmos, o Antigo Testamento, as Epístolas, com o Evangelho; sua unidade é a unidade da fé. Fundada nesse testemunho da Bíblia, a fé não deixa de encontrar ali vida e força. O leitor (mesmo não crente) sabe que esta fé existe hoje, que ela é – nas comunidades e algumas vezes fora delas – um certo modo de o homem viver a relação com os outros homens e de agir no meio deles, uma modalidade particular de existir que é fermento da história humana.

               Assim, a Bíblia sempre remete o leitor à fé vivenciada, como também a vivência da fé sempre remete à Bíblia, na qual a fé lança suas raízes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     ORDEM DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO:

 

 

 

  1. As edições protestantes correntes apresentam a seguinte ordem (p. ex., J. F. de Almeida ):
  2. O Pentateuco, Gn, Êx, Lv, Nm, Dt
  3. Os Livros históricos: Js, Jz, Rt, 1 e 2Sm, 1 e 2Rs, 1 e 2Cr, Ed, Ne, Et
  4. Os Livros poéticos: Jó, Sl, Pr, Ec, Ct
  5. Os Profetas: Is, Jr, Lm, Ez, Dn, os Doze (Oseias; Joel; Amós; Obadias; Jonas; Miqueias; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias).

              

               As edições católicas (p. ex., a Bíblia de Jerusalém) seguem a mesma ordem, mas inserem: Tb e Jt após Ne; 1 e 2Mc depois de Est; Sb e Sr (Sirácida Eclesiástico) depois de Ct; Br depois de Lm.

               Esta classificação apareceu no Concílio de Florença (1442), com a diferença de que o Concílio situa 1 e 2Mc no fim do Antigo Testamento.

               As edições da Bíblia hebraica agrupam os livros sob três títulos: A “Lei”, os “Profetas”, os “Escritos”. Esse uso é anterior à era cristã.

               As listas gregas (grandes manuscritos dos séculos IV e V, fornecidas pelos Padres e Concílios) apresentam grande diversidade. O Pentateuco está sempre no começo; mas os outros livros são classificados conforme variáveis, levando em consideração o gênero literário, o conteúdo, e autor suposto ou os costumes locais.

               Esta variedade se explica, aliás, pela forma dos livros na antiguidade. Antes da aparição da  forma códex (= páginas encadernadas em sequência como nos livros atuais), os livros eram rolos; sendo necessários uns vinte rolos para escrever todo o Antigo Testamento. Os bibliotecários os ordenavam em cofres, para protegê-los. O caráter iminentemente sagrado do Pentateuco vetava guardar outra coisa no cofre que lhe era reservado, mas quanto à disposição dos outros rolos não havia nenhuma ordem rigorosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANTIGO TESTAMENTO

 

INTRODUÇÃO

 

 

               O Antigo Testamento é uma coletânea de escritos que os judeus chamam “a Lei, os Profetas e os Escritos” (abreviado conforme o hebraico, a Tanak), ou simplesmente “ a Escritura”. Quando os cristãos consideraram que suas próprias escrituras “apostólicas” expressavam as disposições de uma “Nova Aliança” (ou “Novo Testamento”) entre Deus e seu povo, denominaram as escrituras anteriores de Antigo Testamento, ou seja, a Antiga Aliança.

               A presente Introdução quer apresentar o ambiente geográfico e histórico no qual nasceu o Antigo Testamento, explicar como foram reunidos os livros que o constituem, como nos foram transmitidos e qual seu significado para o crente de hoje.

 

 

A) A TERRA DA BÍBLIA

 

  1. O “Crescente e Fértil”. A terra de Israel, chamada na Bíblia terra de Canaã e pelos geógrafos antigos e modernos, “Palestina” (Isto é, “terra dos filisteus”), é um pequeno setor de um vasto conjunto geográfico em forma de meia-lua denominado o “Crescente Fértil”. Essa região tem, de fato, a forma de um arco cujo centro se situaria no deserto da Síria e ao norte do deserto da Arábia, regiões quase impenetráveis na Antiguidade. O próprio Crescente é uma zona irrigada por rios mais ou menos importantes: Tigre, Eufrates, Oronte, Litâni, Jordão. A essa região é preciso acrescentar o importante vale do Nilo, uma espécie de prolongamento, embora os geógrafos não o situem no “Crescente” propriamente dito. A margem interna do Crescente é formada por regiões semidesérticas que fazem a transição com o deserto, enquanto no exterior se estendem maciços montanhosos: Planalto Iraniano, Armênia, Tauro. Deste Crescente, a Síria e a Palestina formam a parte  mais estreita: entre o Mediterrâneo e o deserto, ocupam um corredor de menos de 100 quilômetros de largura, que faz a ligação entre a Mesopotâmia e o Vale do Nilo.

               Esse conjunto abrigou desde cedo uma importante população e viu desenvolverem-se vários grandes focos de civilização. As mais importantes concentrações foram feitas no Vale e no Delta do Nilo e nos cursos inferiores do Tigre e do Eufrates. Entre estas duas extremidades, a circulação era intensa. A parte principal seguiu o Eufrates, atravessava a Síria por Palmira e Damasco, a Palestina por Meguido e Jafa, para atingir o Egito por Gaza e Rafia. Em Damasco, podia-se tomar, margeando o deserto, a rota trans-jordaniana, que permitia chegar à Arábia por Eliat, e no Egito pela península do Sinai. Um último itinerário, mais frequentado pelos transportadores, ia diretamente do Eufrates aos portos fenícios (Tiro, Sídon, Bíblos), de onde estava assegurado a ligação por mar com o Egito. Por essas grandes vias de comunicação, circulavam as mercadorias, os exércitos e também as ideias.

               O Crescente Fértil não era um mundo fechado. Comunicava-se diretamente com a Arábia, com a África através do Egito e da Etiópia, com a Índia através do Irã, e também com o Ocidente: Chipre, Creta, Ilhas Gregas, Jônica, mais tarde Grécia continental e Itália. Sempre houve intercâmbio comerciais entre o Crescente Fértil e a bacia mediterrânea, o que deu aos países do Mediterrâneo e do  Oriente Próximo certa unidade cultural.

 

  1. Estrutura da Palestina. Neste conjunto, a Palestina ocupa uma posição bastante marginal, embora se encontre inserida num importante corredor. Com efeito, o coração do país se encontra bem próximo dos grandes eixos de comunicação , mas a região está tão compartimentada que seus habitantes se veem  constrangidos a um certo isolamento.

               De modo bastante sumário, podem-se distinguir quatro faixas orientadas no sentido norte-sul:

               a) uma faixa costeira: o litoral mediterrâneo, estreito e pouco favorável ao estabelecimento de portos, prolonga-se numa cadeia de colinas (chamada Shefelá – Baixada – no sul), cortada por pequenas planícies;

               b) uma cadeia central: bastante elevada ao sul, na Judeia (mais de 1.000 m), abaixa-se  à medida que se vai para o norte, mas acaba por levantar-se na extremidade setentrional do país, antes de se prolongar no maciço do Líbano. Depressões transversais delimitam nitidamente três regiões: Judeia, Samaria, Galileia. A mais importante dessas depressões é a planície de Jezreel, ou Esdrelon. Limitada a oeste pelo monte Carmelo;

  1. uma grande depressão ocupada pelo vale do Jordão, o lago da Galileia e o mar Morto; prolonga-se ao sul pelo vale da Arabá, que termina no Golfo de Ácaba. Esta depressão, que prolonga as falhas geológicas dos grandes lagos africanos, é o fosso continental mais profundo de toda a terra: o mar Morto está 390m abaixo do nível do Mediterrâneo;
  2. o planalto trans-jordaniano, cuja margem ocidental sobreolha a depressão central. Sua parte sul é recortada pelas gargantas dos afluentes de Jordão e do mar Morto (Arnon, Jaboc). A parte norte, menos abrupta, forma uma cadeia mais elevada do que a cadeia central, o Hermon e o Antilíbano são seus prolongamentos.

 

  1. Condições de vida na Palestina. Apesar de variar com as regiões, o clima da Palestina apresenta alguns traços comuns: bastante ensolarado, chuvas distribuídas em poucos dias, estação seca de maio a outubro, grande irregularidade da quantidade de chuva (que pode diminuir ou duplicar de um ano para outro).

               O índice pluviométrico decresce rapidamente de oeste para leste e de norte a sul. Desse modo, podem-se distinguir três regiões climáticas:

  • entre a costa e as colinas centrais, uma região razoavelmente irrigada por chuvas, que permite as culturas mediterrâneas: trigo, cevada, vinho, oliveira, frutas e legumes;
  • na vertente leste do maciço da Judeia e no Négueb, uma região semidesértica apta para algumas culturas periódicas e criação de ovelhas;
  • uma região desértica, uma estepe , que fornece algumas pastagens periódicas.

               Nas duas últimas regiões, encontram-se alguns oásis férteis, mas de superfície bastante reduzida.

               Se, em comparação com as regiões semiáridas, as regiões irrigadas podiam passar por “terra boa”, uma “terra que mana leite e mel”, a vida nelas era sempre precária e a terra não podia alimentar uma população numerosa, que não parece ter ultrapassado um milhão de pessoas nos tempos bíblicos. As duas maiores cidades, Jerusalém e Samaria, não chegaram a contar mais de 30.000 habitantes. As outras cidades eram simples cidades fortificadas. O resto da população habitava povoados agrupados ao redor das nascentes.

 

 

B) ISRAEL NO MEIO DAS NAÇOES

 

  1. As grandes etapas da história de Israel

               a) As origens de Israel, como as da maioria dos povos, são muito difíceis de estabelecer. A entrada de Israel história, por volta de 1200 a.C., foi precedida por um longo período de formação (8 ou 9 séculos), que escapa em grande parte aos historiadores. No entanto, Israel guardou desse período lembranças de acontecimentos e de personagens marcantes, lembranças que se conservaram na tradição oral, narrativas que se transmitiam de uma geração a outra. Esses relatos podem conservar muitas informações úteis ao historiador. Confrontando essas tradições com o que sabemos da história do Oriente Primitivo e com os documentos fornecidos pela arqueologia, pode-se chegar a certo conhecimento desse período decisivo.

               Os antepassados dos israelitas devem ser procurados entre os semitas seminômades, criadores de ovelhas, que circularam durante todo o segundo milênio pelas margens semidesérticas do Crescente Fértil. Pouco a pouco, esses grupos acabaram por se fixar; por vezes chegaram até a dominar uma região já ocupada por outras populações. Entre as seminômades, dois grupos são mais conhecidos: os amorreus (emoritas), que se fixam na Mesopotâmia, na Síria e na Palestina por volta de 2000 a.C., e os arameus, que se fixam na Síria no século XIII a.C. Mas os documentos egípcios e mesopotâmicos assinalam muitos outros grupos que se infiltravam continuamente na Mesopotâmia, na Palestina e no Egito.

               Desse período pouco conhecido, a tradição bíblica faz emergir algumas grande figuras. Abraão, Isaac, Jacó-Israel e os ancestrais das tribos israelitas. É difícil avaliar o valor histórico dos dados sobre os patriarcas fornecidos pela tradição. Confrontando-se com os dados da história e de arqueologia, pode-se presumir que os patriarcas se fixaram na Palestina no século XIX ou XVI a.C. - segundo outras estimativas entre os séculos XVIII e XVI a.C. - e que vinham da Mesopotâmia (Abraão vinha de Ur na Siméria, Jacó de Harran no Médio-Eufrates). Os autores bíblicos se preocupam muito menos em situá-los na história de seu tempo do que em mostrar como eles se tornaram os pais espirituais do povo de Deus: adoradores e confidentes do único verdadeiro Deus, receberam dele ricas promessas para sua posteridade (Gn 15; 17).

               Uma parte de seus descendentes se estabeleceu no Egito, em companhia de outros grupos semíticos. É impossível fixar uma data para a implantação, que se processou lentamente, no decorrer de quatro ou cinco séculos. Há, pelo menos, dois períodos que podem ter tornado esta instalação mais fácil:

  • A denominação dos hicsos, vindos da Palestina e que governaram o Egito de 1700 a 1550 aproximadamente;
  • O enfraquecimento do poder egípcio, que marcou o reino do faraó Akhenaton (1364-1347).

               b) O nascimento do povo foi um processo complexo, que começou provavelmente em 1250, sob o faraó Ramsés II. Grupos semitas estabelecidos no Egito, submetidos a duras corvéias, conseguiram fugir sob a direção de Moisés, que os reagrupou ao redor do Sinai, depois no oásis de Qadesh (Cades), ensinando-os a servir ao Senhor, a quem devem a libertação, e dando-lhes um início de organização.

               A Bíblia dá grande destaque a esses acontecimentos fundamentais, que apresenta como ato de nascimento de Israel, o ponto de partida de sua história. Três fatos são especialmente destacados: a partida do Egito depois de uma série de catástrofes, sinais da intervenção do Senhor (Êx 7-12), a passagem do mar (Êx 14-15) e o encontro entre Israel e seu Deus no Sinai ou no Horeb Êx 19-24).

               As tribos que escaparam do Egito penetram em seguida na Palestina. Umas pelo sul, outras pelo leste. Trata-se em geral de movimentos dispersos, de infiltrações pacíficas em regiões pouco habitadas. Mas em vários lugares, os recém-chegados devem guerrear contra as cidades cananeias, que tentam detê-las. As vitórias israelitas são compreendidas como novas provas da intervenção do Senhor, que dá a seu povo a “boa terra” prometida a seus antepassados. Entre os chefes de tribos que se destacaram nas batalhas, a Bíblia conservou sobretudo Josué, chefe de Efraim, que parece ter desempenhado um papel importante no reagrupamento das tribos, tanto das que vinham do Egito como das que já estavam instaladas na Transjordânia e na Galileia. Israel é, de agora em diante, um povo constituído, embora sua estrutura política ainda seja muito maleável.

               A “federação” das tribos pouco a pouco toma consistência no decorrer dos séculos XII e XI a.C., porque devia resistir a diversas ameaças: assaltantes nômades, reinos da Transjordânia, cidades cananeias. O perigo principal vinha dos filisteus, desembarcados nas costas da Palestina no início do século XII a.C., que se apresentavam como os concorrentes mais sérios de Israel na posse da Palestina. Durante muito tempo, as tribos se contentam com alianças defensivas, limitadas e temporárias, sob a conduta de chefes inspirados aos quais se dava o título de “Juízes”. Mas tendo a ofensiva filisteia se tornado mais ameaçadora, as tribos decidem reforçar a coesão pondo à sua frente um rei, conforme o modelo dos povos vizinhos.

  1. A monarquia. Após o fracasso do reinado de Saul, o judeu David é reconhecido como rei por todas as tribos, pouco antes do ano 1000 a.C. (2Sm 5). David repele os filisteus para a costa e empreende uma série de guerras ofensivas contra os arameus; chegará a impor sua dominação a todos os estados vizinhos até o norte da Síria. Ao mesmo tempo, começa a organizar o Estado. Instala a capital em Jerusalém e para lá transfere a arca da aliança, centro do culto comum às tribos.

               É a seu filho Salomão que compete concluir a organização do reino com a criação de um aparelho administrativo e de um exército permanente bem-equipado. Salomão desenvolve o tráfego comercial, que propicia ao país um rápido enriquecimento e enseja ao jovem reino um lugar invejável em meio às nações. Ele multiplica as construções em Jerusalém e em todo o reino. Sua obra mais importante é a construção do templo de Jerusalém (1Rs 6-8), centro de reunião das tribos, no qual Israel vê o sinal da presença permanente do Senhor no meio de seu povo, a prova de que o povo de Deus está constituído e estabelecido em solo próprio. O fim do reinado de Salomão foi, contudo, marcado por séries reveses (1Rs 11).

               O filho de salomão, Roboão, não era capaz de governar o estado, apenas aparentemente unificado. Revoltadas por um despotismo oneroso, as tribos do centro e do norte provocam a secessão, em 933 a.C., e se constituem em estado independente, o reino de Israel. Isoladas no sul, as tribos de Judá e de Benjamin continuam fiéis ao descendente de David no reino de Judá. Durante dois séculos, o povo de Israel estará dividido em dois estados mais ou menos rivais.

               Constituído pelas regiões mais ricas e mais povoadas do pais, o reino do Norte conheceu períodos brilhantes, especialmente sob Omri (886-875), o fundador de Samaria, sob Acab, sob Jeroboão II. Mas, minado por uma instabilidade dinástica crônica, não teve meios para se opor à expansão assíria. Foi varrido pela ofensiva de Tiglat-Piléser em 738 a.C.; a última resistência foi quebrada em 722-721 a.C., entre a tomada de Samaria. Parte da população foi deportada, e o território do reino tornou-se província assíria.

               O reino do Sul, pobre, cercado por vizinhos hostis, não podia desempenhar um papel importante e parece ter sido bastante influenciado pela política egípcia. Logrou, no entanto, conservar seu lugar no meio das nações sob reis como Asá, Josafat, Ezequias, que teve de recolher o que restou do reino do norte, e Josias, a quem Judá deve seu último surto de independência. Mas após um prazo de pouco mais de um século, foi a vez de o pequeno reino ruir: os babilônios de Nabucodonosor arrasam Jerusalém e deportam parte de seus habitantes (587 a.C.).

               Dispersos por toda a Mesopotâmia ou refugiados no Egito, os israelitas muitas vezes se assimilaram aos povos que os acolheram. Mas alguns grupos de origem judaísta souberam manter a coesão e preservaram uma vida religiosa própria: a organização que deram a suas comunidades foi a origem das sinagogas. Para esses grupos, o exílio foi a ocasião de refletir profundamente sobre a vida de seu povo e de fazer o balanço da História de Israel, vários livros da Bíblia são fruto dessa meditação.

               Mas os profetas não esperaram o fim do reino de Judá para expressar um juízo de valor sobre os fatos que estavam ocorrendo. Ensinaram o povo de Deus a ver a obra do Senhor em todos os acontecimentos, tanto os mais gloriosos como os mais trágicos. Nas catástrofes que, a partir do século VIII a.C., se abateram sobre os dois reinos, reconheceram as consequências das infidelidades cometidas pelo povo contra Deus: culto aos deuses estrangeiros e injustiça social. Mas deixaram entrever igualmente o retorno do povo infiel à graça e delinearam perspectivas de esperança.

  1. A comunidade judaica. Com efeito, menos de 50 anos após a queda do reino de Judá, a situação se inverte: o império babilônico desmorona sob os golpes dos persas. Um decreto de Ciro, em 538 a.C., autoriza a reconstrução do Templo de Jerusalém, ao redor do qual se reagrupam os judeus que retornaram do exílio. É apenas uma pequena comunidade, que cresce lentamente em meio a numerosas dificuldades. Ela deve enfrentar especialmente a hostilidade dos que ficaram na região e ocuparam a terra. Neemias e Esdras, no século V a.C., dão-lhe uma organização definitiva. Sem influência no domínio político, ela deixou profundas marcas no âmbito religioso. Foi no decorrer desse período que a maior parte  dos livros do Antigo Testamento recebeu a foma final.

               Em 333 a.C., Alexandre Magno pôs fim à dominação persa e assegurou, no terreno político, a vitória do helenismo. Incorporada ao Império Macedônico, a terra de Israel terá de sofrer muitas vezes por causa das lutas entre os sucessores de Alexandre. Durante um século e meio, a comunidade judaica viverá em paz geral com o mundo grego. Mas em 167 a.C., o conflito explode: Antíoco IV quer abolir o estatuto particular de Jerusalém e lança o interdito sobre as práticas judaicas na Palestina. Os irmãos macabeus desencadeiam uma insurreição armada, que acaba por ser vitoriosa. Simão Macabeu, reconhecido como sumo sacerdote, obtém a independência para a Judeia (141 a.C.). Durante quase um século, seus descendentes, os hasmoneus, que se tinham arrogado o título de reis, mantiveram a situação, à qual os romanos puseram fim em 63 a.C., quando Pompeu se apoderou de Jerusalém e fez da Judeia uma província romana (cf. Introdução ao Novo Testamento).

               No decorrer desse período, a comunidade judaica se separa progressivamente dos samaritanos que, vivendo em redor do santuário de Siquém, herdaram das tribos do centro algumas tradições opostas às de Jerusalém.

               As invasões assírias, no século VIII a.C., dispersaram bom número de israelitas na Mesopotâmia, no Egito e em outros países. Muitos não retornaram à Judeia, depois de 538 a.C. A unificação de numerosos povos sob a dominação grega favoreceu um movimento de emigração através de todo o Oriente Próximo e em torno da bacia do Mediterrâneo, especialmente no Egito. Desde o século II a.C., Alexandria conta mais judeus do que a Judeia. Ao mesmo tempo, desenvolve-se um intenso esforço de propaganda, que levará ao judaísmo muitos convertidos, os “prosélitos”. Todos esses judeus residentes no estrangeiro constituem a diáspora (dispersão), muito mais numerosa do que a população da Palestina, metade da qual, aliás, não era judaica. Agrupados ao redor de sinagogas e, apesar da distância, muito apegados a Jerusalém e ao Templo, esses judeus partilham ao mesmo tempo a vida dos povos em meio aos quais residem. Eles contribuíram para dar ao judaísmo um semblante novo e o prepararam para superar a grande provação que foi, em 70 d.C., a guerra contra os romanos, que terminou com a ruína do Templo e, após uma derradeira resistência com Bar-kokbá (em 135), com a supressão da nação judaica.

 

 

  1. As nações em torno de Israel. No decorrer dos séculos, o Crescente Fértil foi o lugar de migração de numerosos povos de proveniência, cultura e religião diversas. Israel esteve em contato mais ou menos estreito com muitos dentre eles.

               a) Vizinhos imediatos. Eram pequenos estados, cujos habitantes tinham mais ou menos a mesma origem que os israelitas.

               No sudeste, os edomitas ocupavam o maciço de Seir, o vale da Arabá e a região de Petra. Mais ao norte, encontrava-se o reino de Moab (a leste do mar Morto), depois o reino de Amon (cf. A atual Amã). Na fronteira norte, Israel encontrava os reinos arameus (Damasco, Hamar). Apesar de os conflitos com esses países terem sido crônicos, Israel considerava que seus povos tinham com ele um parentesco, expresso nas genealogias: Amon e Moab eram os sobrinhos-netos de Abraão, Edom (Esaú) era o irmão de Jacó, o arameu Labão era tio e sogro de Jacó.

               No noroeste se encontravam os fenícios, marinheiros e comerciantes que, durante toda a Antiguidade, sulcaram os mares, estabelecendo feitorias e colônias às margens do Mediterrâneo. Biblos, Sidom e Tiro foram periodicamente as capitais deste pequeno reino, derradeiro resto dos estados cananeus vencidos pelos israelitas e os filisteus. Com população muito mesclada, Canaã tinha, no entanto, certa unidade cultural e religiosa, contrastando com o esfacelamento político da região. Falava-se aí uma única língua, o cananeu, cuja forma antiga só se pode perceber graças a algumas glosas de tabuletas babilônias de Tell el-Amarna. A civilização e a religião de Canaã não são conhecidas pelo testemunho direto dos textos. Mas se admite que elas se assemelhavam, no essencial, com as que revelaram os documentos de Ras Shamra, na Síria do Norte, redigidas no século XVI a.C., numa língua chamada ugarítica.

               No sudeste, enfim, residiam os filisteus, chegados à costa pouco depois da época da instalação das tribos de Israel. Sua religião e costumes diferiam nitidamente das religiões e costumes dos povos do Crescente Fértil, enquanto se assemelhavam aos de Creta e da Grécia. Para Israel, eram os estrangeiros por excelência.

               b) Grandes potências. Israel tinha problemas não só com esses pequenos estados, mas também com as grandes potências que periodicamente dominavam o Oriente Próximo. Em raros períodos, a fraqueza dessas potências permitia à Palestina dispor de si mesma; David aproveitou-se de uma situação dessas para fundar seu reino. Mas, na maior parte do tempo, a Síria e a Palestina estavam submetidas à pressão de seus grandes vizinhos.

               Primeiramente o Egito, que, por volta de 3000 a.C., já era um grande estado, com civilização bastante evoluída. Estendido ao longo do Nilo, estava voltado para a África (a Núbia, ou Etiópia), mas mais ainda para a Europa e a Ásia. Todo o tempo, os faraós procuraram dominar a Palestina que, durante longos séculos, foi província egípcia ou protetorado: quase todos os reis de Judá foram aliados ou satélites do Egito. Isso explica uma influência cultural prolongada que deixou na Bíblia traços importantes (em particular aos livros sapienciais).

               Depois, a Mesopotâmia: Ela foi sempre um mundo complexo: todas as raças se entrecruzavam aí, os impérios se sucediam combatendo-se. O primeiro império mesopotâmico a dominar a Palestina foi o reino assírio, que começou sua expansão para o oeste no século IX a.C. Assolou o reino de Israel entre 735 e 721 a.C., enquanto o reino de Judá devia prestar-lhe vassalagem. A potência assíria, definitivamente vencida em 608 a.C., deu lugar a um reino babilônico governado pelos caldeus (arameus orientais). Nabucodonosor impôs sua dominação a quase todo o antigo império assírio e esmagou definitivamente o reino de Judá em 587 a.C. Em 539 a.C., o rei da Pérsia, Ciro, pôs fim a esse império, cujas província incorporou a um império muito mais vasto, que se manterá por mais de dois séculos. O governo persa se mostrará tolerante para com as culturas e as religiões das etnias que dominava. Neste quadro, a comunidade judaica pôde se reconstituir e prosperar.

               Mas, muito antes de confrontar-se com as potências políticas da Mesopotâmia, a Palestina já tinha relações prolongadas com esse foco de civilização. Desde 3000 a.C., pelo menos, a Baixa Mesopotâmia fazia sentir sua influência em toda a extensão do Crescente Fértil. Dominada sucessivamente pelos sumérios (Ur, Lagash), os acádios (Acad), os amorreus (Babilônia, Mári), os hurritas (Nuzi), os assírios (Nínive), os caldeus, os persas e outros ainda, a Mesopotâmia teve uma tradição constante e bastante homogênea. A criação do império persa acrescentou a essa influência a contribuição dos povos indo-europeus do Irã.

               Vem, por fim, o mundo grego. Desde o ano 2000 a.C., Canaã sofria a influência da civilização egéia, influência que cresceu ainda mais a partir da época da dominação persa. Ela se torna particularmente forte no século IV a.C.: em alguns anos, o macedônio Alexandre construíra um império que ia do Adriático ao Indo. Com sua morte, em 323 a.C., o império foi dividido entre seus generais. A Palestina pertenceu primeiramente ao estado dos ptolomeus, que dominava o Egito (Alexandria), depois ao estado dos selêucidas (Antioquia), que recobria a Síria e a Mesopotâmia. Embora pertencessem à mesma civilização, chamada helenística, esses dois estados estavam em perpétuo conflito, e a Palestina mudou várias vezes de senhorio. Mas não foi apenas porque os gregos ocupavam o território que Israel se deparou com essa cultura: uma população numerosa helenizada se tinha instalado na Palestina no curso do século III a.C. No entanto, nessa época, o judaísmo, havia muito tempo, afirmara sua personalidade, e a influência grega só o tocou talvez bastante superficialmente. E não sem lutas Obs.: “Para efeito de história – registro – sito os apócrifos (1 e 2Mc), somente”. A influência helenística atingiu mais os judeus da diáspora, embora neles também as referências fundamentais fossem sempre as da cultura e da religião de Israel.

 

 

 

C) O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

 

               O Antigo Testamento não é a totalidade da literatura produzida pelo povo hebreu. É o resultado de uma seleção de livros aos quais se reconhece autoridade e que são, por isso, chamados canônicos (a palavra Kanôn em grego significa “Regra).

               Sobre a formação do cânon do Antigo Testamento, remetemos o leitor à introdução aos livros deuterocanônicos. (OBS.: “sendo o meu entender, somente para estudo histórico. Sendo que nesse sentido, entra os           livros apócrifos – NÃO INSPIRADOS POR DEUS!”).

 

 

 

D) O TEXTO DO ANTIGO TESTAMENTO E SUA TRANSMISSÃO

 

               I – A língua do Antigo Testamento

               Os livros do Antigo Testamento foram escritos essencialmente em hebraico. Essa língua semítica – apresentada, portanto, com o árabe e o babilônico – é bastante diferente das línguas europeias. Para compreender certas notas, talvez seja útil conhecer algumas de suas características, que são as mesmas para o aramaico, língua de alguns textos do Antigo Testamento.

               - A maior parte das palavras (verbos e substantivos, por exemplo) é formada a partir de “raízes” caracterizadas por consoantes (habitualmente três, o único elemento a ser escrito, ao menos no princípio). As vogais (variáveis) e um certo número de prefixos e sufixos servem para indicar as funções gramaticais: gênero e número dos nomes, modos dos verbos etc. Assim, a raiz brk, que exprime a ideia de benção, pode tomar formas tais como: barek = abençoar, berak = ele abençoou, beraku = eles abençoaram, yebarek = ele abençoará, baruk = abençoado, beruká = abençoada, beraká = bênção.

               Como o contexto é que determina o sentido das palavras, geralmente é fácil constatar na leitura quais vogais devem figurar em cada palavra: por isso, essa escrita abreviada (sem vogais) foi suficiente para o hebraico durante o tempo em que permaneceu uma língua viva. Quando deixou de ser falada pelo povo, foram criados diversos sistemas para a notação das vogais.

  • Nos verbos, o hebraico exprime sobretudo o aspecto da ação: as noções temporais de passado, presente, futuro nas quais se desenrola a ação são indicadas pelo contexto. A forma verbal descreve a ação como realizada ou não-realizada. A ação realizada corresponde geralmente ao passado (perfeito ou mais-que-perfeito), mas pode também ter valor para o futuro, se se olhar a ação em sua totalidade como uma realidade acabada. A ação não-realizada vale sobretudo para o futuro, mas também para o presente e o passado, quando a ação continua ou se repete (imperfeito). De fato, só o contexto permite saber se ação está no passado ou no futuro, mais o próprio sentido do contexto nem sempre é evidente, o que explica numerosas divergências entre as diversa traduções da BÍBLIA.
  • Como toda língua, o hebraico possui certo número de expressões idiomáticas: para falar do santo Templo de Deus, o hebraico diz “o Templo de sua santidade”; para descrever alguém que empreende uma viagem, o hebraico diz: “levantou-se e foi”; para apresentar-se diante de Deus o hebraico diz: “vir ante a face de Deus”.

               As primeiras traduções gregas da Bíblia transpuseram numerosas expressões desse gênero, bem como outros hebraísmo. Desse modo criaram uma língua particular: o grego bíblico, utilizado no Antigo Tesamento grego e ao Novo Testamento. A escritura é quase a mesma do grego que se falava em toda a bacia do Mediterrâneo entre o século II a.C., e o século I de nossa era; mas muitas palavras tomaram um sentido especial, e esse idioma utiliza figuras próprias ao hebraico ou aramaico.

 

 

 

               II – A TRANSMISSÃO DO TEXTO

              

               1. Os livros transmitidos em hebraico (ou em aramaico)

               a) O texto massorético. Os livros que o povo judeu, no fim do século I d.C., considerou como livros santos (Bíblia judaica, Antigo Testamento dos protestantes, livros protocanônicos do Antigo Testamento para a Igreja católica) foram conservados em sua língua original (aramaico para uma grande parte de Daniel e algumas passagens de Esdras, hebraico para todo o resto).

               Chama-se texto massorético a forma textual oficial definitivamente fixada no judaísmo por volta do século X d.C., época na qual floresciam em Tiberíades, na família dos bem Asher, os mais celebres massoretas (= transmissores e fixadores da tradição textual). O mais antigo manuscrito  “massorético” que possuímos foi copiado entre 820-850 d.C., e contém apenas o Pentateuco. O mais antigo manuscrito completo, o códice de Alepo – hoje, infelizmente amputado -, foi copiado nos primeiros anos do século X d.C. Nossas Bíblias hebraicas modernas reproduzem esse texto tal como foi copiado no manuscrito B 19a (L), de Leningrado (c. 1800).

               O fato de a escrita hebraica anotar de modo preciso apenas as consoantes tornou ambíguos certos textos bíblico. Por volta do século VII d.C., encontrou-se um meio preciso para anotar as vogais e para indicar a vocalização tradicional das frases e membros de frases, graças a um sistema complexo de pontos e de traços que acompanham o texto consonântico. Assim se fixou por escrito uma tradição de leitura e de exegese desenvolvida no judaísmo no curso da primeiro milênio de nossa era e da qual os targumin (traduções aramaicas da Bíblia hebraica)  são as testemunhas fiéis. Resquícios de algumas traduções gregas realizadas sob a influência do rabinato no curso dos dois primeiros séculos (as de Teodocião, de Áquila e de Símaco) permite remontar ainda mais longe na história desta tradição de exegese.

               b) O texto protomassorético e as formas textuais não-massoréticas. O texto consonântico que serviu de base para a atividade das massoretas (= texto protomassorético) já suplantado no judaísmo todas as outras formas textuais rivais pelo fim do século I d.C.

               A partir de 1947, foram descobertas, às margens do mar Morto, em grutas ao redor da ruína de khirbet Qumran, alguns rolos de livros bíblicos quase completos e de milhares de fragmentos abandonados no século I de nossa era. Isso permitiu constatar que, na época de Jesus, circulavam na Palestina certo número de livros bíblicos em formas textuais por vezes divergentes do texto protomassorético. Conheciam-se já, antes da descoberta dos manuscritos de Qumran e do Deserto de Judá, algumas formas não-massoréticas do texto do Antigo Testamento: por exemplo, aquele que a comunidade dos samaritanos conservou para o Pentateuco, ou então o que serviu de base para a antiga tradução grega dos Setenta (Septuaginta). Estas duas últimas formas textuais, apesar de conservadas em manuscritos mais recentes que os manuscritos do Deserto de Judá, remontam aos três últimos séculos antes de Cristo.

               Em todas essas formas do texto pré-massorético podemos encontrar por vezes um texto mais claro e inteligível do que o massorético. Daí a tentação de muitos exegetas, sobretudo entre 1850 e 1950, de a elas apelar para corrigir o texto massorético nos trechos considerados alterados.         c) Alterações textuais. É certo que determinado número de alterações diferenciam o   texto proto-massorético do texto original.

  • Por exemplo, o olho do copista saltou de uma palavra a outra semelhante, situada algumas linhas abaixo, omitindo tudo aquilo que as separava.
  • Do mesmo modo, certas letras, sobretudo quando mal-escritas, muitas vezes foram mal-lidas e mal-reproduzidas, pelo copista seguinte.
  • Ou então um escriba inseriu ao texto que ele copiava, e às vezes num lugar inadequado, uma ou várias palavras que encontrara à margem: termos esquecidos, variantes, glosas explicativas, anotações etc.
  • Ou ainda alguns escribas piedosos pretenderam melhorar por meio de correção teológicas uma ou outra expressão que lhes parecesse suscetível de interpretação doutrinalmente perigosa.

               Algumas dessas alterações podem ser detectadas e corrigidas graças às formas textuais não-massoréticas, quando estas se verificam isentas de alterações.

               d) Crítica textual. Que forma de texto escolher? Noutras palavras, como chegar a um texto hebraico o mais próximo possível do original? Alguns críticos não hesitam em “corrigir” o texto massorético cada vez que ele não lhes agrada, seja por motivo literário, seja por motivo teológico. Por reação, outros se atém ao texto massorético, mas quando ele é manifestamente insustentável, procuram encontrar numa ou noutra das versões antigas uma variante que lhes pareça preferível. Esses  métodos não são científicos, sobretudo o primeiro. São perigosamente subjetivos.

               Atualmente, um melhor conhecimento da exegese targúmica e das literaturas antigas do Oriente Próximo permite explicar certas passagens até hoje obscuras.

               Mas a solução verdadeiramente científica consistiria em fazer com a Bíblia hebraica o que se faz com o Novo Testamento e com todas as obras da Antiguidade: um estudo bastante minucioso do conjunto das variantes, estabelecendo “a árvore genealógica” dos testemunhos que possuímos – texto massorético, múltiplos textos de Qumran, Pentateuco samaritano, versões gregas da Septuaginta (com suas três revisões sucessivas), da Quinta (de Orígenes), de Áquila, de Símaco, de Teodocião, versões aramaicas dos targumin, versões siríacas peshitto, filoxeniana, siro-hexaplar, versões latinas antigas e Vulgata de Jerônimo, versões coptas, armênias etc. - e assim, sem nenhuma conjetura subjetiva, restabelecer o arquétipo à base de todas as testemunhas. Geralmente esse arquétipo remonta ao século IV a.C. Em alguns casos privilegiados (certas passagens das Crônicas), pode-se provar que o arquétipo assim obtido é o próprio original. Quase sempre o arquétipo está separado do original por um período mais ou menos longo, e então se está obrigado, para passar do arquétipo ao original, a recorrer a algumas conjeturas, com a aplicação prudente de princípios críticos bem estabelecidos.

               Infelizmente, os textos de Qumran ainda não estão todos publicados, e o trabalho crítico exige tanta competência e pesquisa que ele levará ainda várias décadas.

 

 

               2. Os livros transmitidos em grego. Fiel nesse ponto mais a Orígenes do que a Jerônimo, a presente tradução não quis manter o apego à tradição rabínica a ponto de eliminar os livros que, desde a fundação, as Igrejas herdaram do judaísmo de língua grega (classificados como deuterocanônicos na tradição “católica”). Pelo fato de os judeus de língua hebraica não os terem conservado na lista oficial de seus livros santos e de o judaísmo ter cessado de assegurar-lhes a tradição textual no curso do século I de nossa era, eles nos oferecem tradições textuais geralmente menos unificadas que, por vezes, perderam o enraizamento semítico de onde a maior parte deles surgira. As introduções a cada um deles justificam as escolhas textuais realizadas pelos colaboradores desta tradução. LIVROS APÓCRIFOS!

 

 

E) O SENTIDO DO ANTIGO TESTAMENTO

 

  1. Para os judeus. Para ler a Bíblia (= “Lei escrita “), o judaísmo elaborou sua própria tradição interpretativa durante o período rabínico clássico, do século II a.C. Ao século VIII da nossa era. Primeiramente “Lei oral” ou “tradição dos antigos” (porque transmitida de mestre a discípulo sem a mediação escrita), essa tradição foi codificada e posta por escrito na Mishná (que, com o seu comentário, a Guemará, forma o Talmud) e nas diversas coletâneas midráshicas. Ela se desenvolve essencialmente sobre dois pontos: a interpretação livre e homilética, visando alimentar a reflexão religiosa (Hagadá) e a definição das regras de conduta cotidiana (Halaká). “Lei escrita” e “Lei oral”, texto de referência e interpretação ininterrupta, constituem a tradição religiosa viva do judaísmo.

               Deixemos a palavra a dois autores judeus contemporâneos:

               “Se existe uma coisa no mundo que mereça o atributo de divino, é a Bíblia. Há inúmeros livros sobre Deus. A Bíblia é o livro de Deus. Revelando o amor de Deus pelo homem, ela nos abriu os olhos, a fim de que pudéssemos ver que aquilo que tem um sentido para a humanidade é, ao mesmo tempo, o que é sagrado para Deus. Ela mostra como a vida de um indivíduo pode se tornar sagrada, e sobretudo, a vida de uma nação. Oferece sempre uma promessa às almas honestas quando perdem o ânimo, enquanto os que a abandonam vão de encontro ao desastre” (A. Heschel, Dieu em quête de I' homme, Paris, Seuil, 1968, p. 263 [port: Deus em busca do homem, São Paulo, Paulinas, 1975]).

               “A teologia judaica, ligando o universalismo da criação ao particularismo de Israel, confirma aquilo que toda a Bíblia ensina, a saber, que Deus se revela ao homem e que Israel está no centro da humanidade, criada à imagem espiritual de Deus: “Vós sereis para mim um povo de eleição entre todos os povos, um reino de sacerdotes, uma nação santa” (Êx 19,5-6); “Santos vos tornareis, pois Eu sou Santo, Eu, o SENHOR, vosso Deus” (Lv 19,2). {está, é uma das passagens mais bela que, no meu entender, acho mais linda e importante – Anselmo Estevan.}”.

               “Compreende-se então que o judaísmo conceda a Bíblia o lugar mais eminente no ensinamento sinagogal, visto que ela é o “Livro da Aliança” que une Deus a seu povo (Êx 24,7), a carta que, em Abraão, tornou todo Israel bênção para todas as nações (Gn 12,3), de sorte que “a terra inteira reconheça um dia e proclame a Realeza e a Unidade de Deus” (Zc 14,9)” (A. Zaoui, Catholiques, juifs, orthodoxes à la Bíble, t. I, Paris, cerf, 1970, p. 76).

 

 

 

  1. Para os cristãos. O Antigo Testamento só é antigo em relação ao Novo, isto é, a nova aliança instaurada por Jesus Cristo. Mas não se deve exagerar a diferença entre ambos, como se a antiga aliança e a literatura que dela dá testemunho tivessem caducado. Essa visão das coisas, que foi a de Marcião no século II, reaparece periodicamente na história da teologia. Ora, ela atinge mortalmente o próprio Novo Testamento.

               a) O Antigo Testamento foi a única Bíblia de Jesus e da Igreja primitiva. Como livro da educação judaica, de algum modo, moldou a alma de Jesus. Este assumiu os valores do AT como fundamentos do seu evangelho: não veio para “ab-rogar” a Lei e os profetas, mas “para cumpri-los”. Cumpri-los era primeiramente levá-los a um ponto de perfeição no qual o sentido primitivo dos textos se superasse a si mesmo, para traduzir em sua plenitude o mistério do Reino de Deus. Cumpri-los era também fazer entrar na experiência humana o conteúdo real da promessa que polarizavam a esperança de Israel. Era desvendar o sentido definitivo de uma história ligada a uma educação espiritual, mostrando sua relação com o mistério da salvação, consumado pela cruz e ressurreição de Jesus. Era enfim dar à oração que aí se expressava uma riqueza de conteúdo que ultrapassasse os seus limites provisórios. Sob todos estes aspectos, Jesus cumpriu em sua pessoa as Escrituras que estruturavam a fé de Israel.

               b) Por isso a Igreja apostólica encontrou nas Escrituras o ponto de partida necessário para anunciar Jesus Cristo. À luz da Pascoa, ela não somente rememorou os feitos e gestos de Jesus, a fim de compreender o seu sentido profundo; também releu todos os textos antigos que lhe recordavam a história preparatória, com suas peripécias contrastantes, suas instituições provisórias, seus sucessos e fracassos, seus pecadores e santos. Não se encontravam esboçados, anunciados e prefigurados já no Primeiro Testamento a mensagem de Jesus, sua missão redentora, a constituição e o mandato da Igreja? Por isso os livros do Novo Testamento, sem perder de vista as lições positivas contidas nos preceitos do Antigo, habitualmente reinterpretam os textos do AT para fazer emergir neles a presença antecipada do Evangelho. Dessa forma o Antigo Testamento pôde tornar-se a Bíblia Cristã, sem nada perder de sua consistência própria, antes adquirindo o estatuto de Escritura “consumada”.

  1. Tal é a perspectiva na qual a primitiva teologia cristã foi construída, para explicitar o conteúdo do Evangelho e explicar que é Jesus, Messias judeu e Filho de Deus. As imagens de Adão e de Moisés, de David e do Servo sofredor, do Emanuel e do Filho do Homem vindo sobre as nuvens permitiram elaborar a linguagem fundamental da fé cristã. Certamente a linguagem do Novo Testamento apresenta diversidade notável. Mas, embora não despreze os recursos do universo cultural no qual viviam sem autores e leitores, foi tecido com as palavras e as frases da Escritura, as quais lhe conferem densidade. A relação entre Deus e seu povo, manifestação de sua graça e fidelidade , tomou assim sua verdadeira dimensão: tudo aconteceu a nossos pais “para servir de exemplo” e Deus quis que isso fosse consignado por escrito “para nos instruir, a nós a quem coube o fim do tempos” (1Co 10,11).

               O Novo Testamento, que conseguinte, pôs as bases de uma leitura cristã do Antigo. Descoberta do Espírito sob o véu da letra. Revelação do sentido definitivo sob invólucros provisórios. Tal trabalho não se realizou, no decorrer dos séculos da história cristã, sem suscitar problemas complexos, que cada época formulou de modo novo. Herdeiros dessa tradição interpretativa, sempre orientada por uma visão de fé, vemos esses problemas se apresentarem a nós. Que pode haver de extraordinário nisso, uma vez que a Palavra de Deus veio até nós no meio de uma história verdadeiramente humana e sob a forma de palavras verdadeiramente humanas? Para além dessa história e desses textos, a Igreja se esforça por perceber a Palavra de Deus da qual é portadora, a fim de lhe responder na “obediência da fé”. Por isso é importante que a Escritura inteira se tenha transformando no tesouro comum das Igrejas, divididas por tantos dramas históricos. A obediência comum à única Palavra de Deus não é o indício mais seguro de uma unidade que se procura construir? É vivendo da mensagem bíblica, do modo como dela viveram os apóstolos, que os cristãos de hoje re-encontrarão o caminho da reunificação em Jesus Cristo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O PENTATEUCO

 

INTRODUÇÃO

 

 

               Unidade e diversidade do Pentateuco. Os primeiros livros da Bíblia formam o que se chama, na tradição cristão – grega,  depois latina – o Pentateuco. É uma palavra grega que designava os “cinco estojos” que encerravam os volumes ou rolos, as cinco partes daquilo que se chama em hebraico a Torá, palavra habitualmente traduzida por “Lei”; por isso dizia-se também para designar esse livros “os cinco quintos da Lei”. Fala-se ainda dos “cinco livros de Moisés”, pois, conforme a tradição, Moisés é o legislador, o intermediário pelo qual o povo de Israel recebeu a Lei.

               A Torá de Moisés é composta de várias coletâneas de leis, cada qual com sua estrutura literária, histórica e social, e enquadrando grandes ciclos de narrativas que evocam os atos de Deus na constituição do povo.

               Os títulos dos cinco livros do Pentateuco vêm do grego. Procuram dar uma ideia esquemática do conteúdo: as origens, Gênesis; a saída do Egito, Êxodo. O nome do Levítico corresponde ao papel dos filhos de Levi na legislação cultural, e dos Números provém do recenseamento das tribos; o Deuteronômio (em grego, a “segunda lei”) é como uma retomada, uma repetição da lei. A tradição judaica se contenta com designar cada um dos cinco livros pela sua primeira palavra hebraica.

               A divisão em cinco partes não quebra a unidade do conjunto, manifestada pela continuidade de um livro noutro. Dessa forma, o livro do Êxodo, inicia por uma breve recapitulação da genealogia de Jacó desenvolvida no cap. 46 do Gênesis e por uma retomada do último versículo do livro das origens. O Levítico prolonga a revelação da Lei a Moisés no Sinai, que principia em Êx 20 e não será concluído antes de Nm 10. Quanto ao Deuteronômio, é um discurso de Moisés, no qual ele renova o código de Êx 20-23, prevendo o tempo em que o povo, recém-instalado na Terra prometida, estará defronte ao risco de esquecer as exigências do seu Deus.

               A atual divisão em capítulos, que data da Idade Média, pretende dar ao conjunto uma divisão mais ou menos regular para a comodidade da leitura e do estudo. As seções da leitura litúrgica judaica conheceram variações. Tampouco elas correspondem ao que se poderia considerar divisões naturais do texto, pois estas constituem seções de extensão muito variável. Por exemplo, a história de José ocupa vários de nossos capítulos (Gn 37 e 39-50); em compensação, o episódio da união dos anjos com as filhas dos homens ocupa apenas alguns versículos (Gn 6,1-4). Não se deve procurar no Pentateuco a composição rigorosa de um código moderno de leis ou de um tratado de teologia, e, apesar de seguir uma ordem cronológica, também não é um manual de história.

 

               A lei e a história. Muitos textos narrativos do Pentateuco têm por finalidade valorizar uma lei: é assim que o episódio do bezerro de ouro (Êx 32,34) liga a ordem de partida do Sinai para a Terra prometida e a formulação da aliança com o preceito: “Não farás para ti deuses em forma de estátua” (Êx 34,17). Outros relatos justificam uma instituição: p. ex., a revolta de Qôrah, Datan e Abirâm (Nm 16,17) explica a escolha da família de Aarão para desempenhar as funções sacerdotais. Embora o Gênesis seja mais narrativa e o Levítico mais legislativo, é no Gênesis que se encontra a lei-instituição da circuncisão, não relatada alhures (Gn 17,9-14), e é no Levítico que se lê a narrativa da investidura sacerdotal de Aarão (Lv 8 e 9). A tradição judaica é mais sensível ao aspecto legislativo da Torá; a tradição cristã muitas vezes conservou mais os aspectos narrativos, a ponto de ver neles uma história da humanidade salva por Deus. A análise literária permite, em certa medida, distinguir diferentes “gêneros”, e o conhecimento dos documentos do Oriente Próximo antigo ajuda a caracterizá-los (código penal, legislação matrimonial, genealogia etc). Mas o trabalho de análise, por si só, não daria conta da perspectiva de conjunto, a imbricação de textos de gêneros tão diferentes é deliberada, significativa; não há leis e narrativas, mas uma lei que é, ao mesmo tempo, história e a lei do povo escolhido constituído por Deus.

 

 

               Uma composição por etapas. Sem perder de vista a unidade de conjunto do Pentateuco, o leitor atento se surpreenderá com certos aspectos literários que traem uma composição complexa. Longe de empobrecer a leitura, essa atenção dispensada à diversidade de estilos e testemunhos contribui para desvelar os cinco livros como uma suma na qual se fixaram as confissões de fé de Israel, cada qual à sua maneira, no decorrer dos séculos.

               Dessa forma, certos textos legislativos se repetem em contextos diferentes: O Decálogo é dado duas vezes (Êx 20; Dt 5); o ciclo das festas, quatro vezes (Êx 23; 34; Lv 23; Dt 16). O mesmo vale para as narrações: uma dupla narrativa da criação (Gn 1,1-2.4a; 2,4b-25), da expulsão de Hagar (Gn 16 e 21), da vocação de Moisés (Êx 3-4 e 6,2ss.) etc. Não se trata de simples repetições. Cada um dos textos paralelos possui uma marca original. O mandamento do shabbat, por exemplo, se funda tanto na evocação da criação (Êx 20,9-11), como na da saída do Egito (Dt 5,12-15); essas duas motivações para um mesmo mandamento possuem a mesma autoridade, mais decorrem de intenções diversas, que merecem ser resgatadas. O fenômeno é particularmente nítido na história do patriarca que faz a própria mulher passar por sua irmã aos olhos de um rei. Ela aparece três vezes. Em Gn 12 e 20, é aplicada a Abraão e Sara; em Gn 26, a Isaac e Rebeca. Também pode acontecer que uma narrativa desdobrada desse modo se apresente não só sob a forma de duas narrações distintas, mas como uma única narração na qual duas tradições se mesclam a narrativa do dilúvio (Gn 6,5-9.17). O caráter compósito desse texto é evidente, pois as diferenças de estilo saltam aos olhos. Bastaria perceber as diferenças nas indicações numéricas: dois animais de cada espécie (6.19) ou sete (7,2); quarenta dias de inundação (7,17) ou cento e cinquenta (7,24).

               Diversidade literária aparece também no nível do estilo e das peculiaridades de vocabulário. A mais evidente é o emprego de diversos nomes divinos, particularmente óbvia nas narrativas paralelas. Uma das duas narrativas da expulsão de Hagar, por exemplo, fala do Senhor (YHWH, Gn 16,3-14), enquanto a outra emprega o nome comum para designar Deus (Elohim, Gn 21,9-19). A esse primeiro critério – que serviu de chave para que a análise literária identificasse a origem diversa das tradições – acrescentou-se outras divergências: a montanha da revelação ora é o Sinaí (Êx 19,1; Nm 10,12), ora o Horeb (como sempre em Dt, mas já citado em Êx 3,1; cf. Nota); os antigos abitantes da região são os cananeus (Gn 12,6) ou os emoritas (Dt 1,19, nota). Essas diferenças, entre muitas outras, sobretudo as que se combinam, evidenciam hábitos de linguagem próprias e certos grupos religiosos por meio dos quais os dados da tradição foram transmitidos. O estilo caloroso das exortações do Deuteronômio contrasta com o caráter técnico das prescrições rituais de Lv 1-7, assim como se choca com a forma lapidar dos mandamentos de Lv 19, onde o próprio Deus exige obediência, pois, é ele que diz: “Eu sou o Senhor, vosso Deus”. Tantas particularidades de estilo não se explicam apenas pela diferença de objetos tratados, mas também pelas maneiras distintas de confessar  e de viver a fé no Deus único.

               Num plano mais artístico, enfim, pode-se comparar a extrema sobriedade de uma narrativa como a da vocação de Abraão (Gn 12,1-4) com o romance pitoresco do casamento de Isaac e Rebeca (Gn 24) ou as aventuras de José (Gn 37; 39-50).

               Todos esses fenômenos literários deixam transparecer um longo processo de composição, até se chegar ao conjunto acabado e definitivamente fixado. Na origem, os santuários, os lugares de peregrinação constituíam núcleos em redor dos quais se perpetuavam as tradições orais de tribos ou de grupos de tribos. Todos vinham a eles para celebrar os grandes feitos da história da salvação a Páscoa com a recordação do Êxodo, as Tendas com a recordação da estada no deserto. Os sacerdotes, guardiães e interpretes das leis da aliança herdeiros da tradição mosaica, velavam pela salvaguarda e transmissão das tradições particulares que, pouco a pouco, se agruparam em ciclos ou conjuntos mais vastos, à medida que se estreitavam os laços entre as tribos. À medida que se afirmava a unidade religiosa de Israel, esta supunha a formação de uma síntese ainda mais ampla, que traçasse o destino inteiro do povo a serviço de seu Deus. Tradições religiosas e tradições literárias resultaram assim na formação do nosso Pentateuco: deixaram traços ainda visíveis, graças aos quais se pode ter uma ideia das etapas dessa história, e que dão testemunho da fidelidade da redação final a essas tradições venerandas.

               Pode-se comparar o Pentateuco em sua redação final a um terreno de aluvião criado por um rio provindo de uma vasta bacia hidrológica, cujas camadas sucessivas conservam vestígios de sua origem particular. É incumbência da análise literária identificar essas contribuições diversas e ensaiar hipóteses sobre o meio de origem das camadas no seio do povo de Israel, assim como as circunstâncias de sua fixação literária.

               Hoje se concorda em reconhecer que quatro correntes principais contribuíram para a formação do conjunto, cada uma das quais projetando sua própria perspectiva sobre a história da aliança e de suas instituições.

 

 

               A tradição sacerdotal (P). A camada literária mais facilmente identificável é a que dá ao Pentateuco sua atual estrutura geral. Estende se da narrativa da criação do mundo em sete dias (Gn 1,1-2,4a) à morte de Moisés (Dt 34,7-9) e organiza a história em torno a uma sequência de genealogias (Gn 5,1 e notas). Ela passa pelo dilúvio e a aliança com Noé (Gn 9) para alcançar a aliança com Abraão (Gn 17). Além dos patriarcas e da revelação do nome divino a Moisés (Êx 6), ela narra a saída do Egito, depois se detém demoradamente na revelação da lei e das instituições culturais por intermédio de Moisés no Sinai (Êx 25 a Nm 10). As características mais marcantes de seu estilo são as repetições, genealogias, listas, e a predileção por tudo o que concerne ao culto e à liturgia. O interesse dessa tradição pelo santuário (Êx 25-31 e  35-40), pelos sacrifícios (Lv 1-7) e pelo clero constituído por Abraão e seus filhos (Lv 8-10) permite reconhecer nela o testemunho próprio do círculo dos sacerdotes, de onde a denominação de tradição sacerdotal que lhe foi dada, simbolizada pela inicial P (de Priestercodex, código sacerdotal). Por muito tempo considerada proveniente da corrente mais antiga da tradição – notadamente porque é ela que serve de fio condutor a todo o Pentateuco –, sabe-se hoje que essa camada é a de fixação mais recente, embora transmita certo número de materiais antigos. Com efeito, a imagem que ela reproduz das instituições culturais corresponde à organização da comunidade pós-exílica. Na verdade, foi de acordo com essa forma da tradição que a comunidade judaica se reconstituiu depois da grande ruptura do exílio. Foi esse texto que certamente serviu de fundamento para a reforma de Esdras (Ne 8; comparar Ne 8,18 a Lv 23,36). Baseando-se em uma longa tradição oral, ela pode ter sido redigida pelos sacerdotes de Jerusalém durante o exílio na Babilônia, em vista da restauração do culto no templo reconstruído. Ela dá testemunho de que Deus é senhor do universo inteiro, que todo homem foi criado a sua imagem para servi-lo e adorá-lo. Deus firmou aliança com toda a humanidade por meio de Noé, depois escolheu Abraão para que ele viesse a ser o pai de uma multidão de nações e fez aliança com ele. No seio de sua descendência, Deus separou os levitas, e dentre eles Aarão e sua linhagem, para oferecer o culto em nome de todo o povo. É no santuário sobre o qual repousa a graça divina que se realiza o encontro salvífico entre Deus e os homens, graças à mediação de Moisés e do sumo sacerdote Aarão.

               Esta sucessão de alianças concêntricas confere ao conjunto do Pentateuco sua majestosa ordenação, mas não se deve perder de vista que se trata de uma visão super elaborada e relativamente tardia da história das origens. Não é de causar surpresa que um documento-programa desses tenha sido utilizado para o arremate redacional de todo o Pentateuco, com o enquadramento e reorganização dos materiais mais antigos da tradição.

 

 

               A tradição deuteronômica (D). Uma segunda camada é facilmente resgatável – porque não se mescla facilmente com as outras e se caracteriza por um estilo muito particular. É a tradição compilada no Deuteronômio, designada pela letra D. Centrada no ensinamento da lei, renuncia ao plano cronológico da uma história das origens. Seu gênero literário é o da pregação, com a conclamação à obediência, as exortações, ameaças e as promessas. As múltiplas prescrições da lei são articuladas com o mandamento central do amor a Deus (Dt 6,5 e notas). Mas a catequese da lei se refere constantemente aos eventos da história, dos quais ela ressalta a atualidade (Dt 1,10 e nota): a saída do Egito (Dt 16,3), a promessa de uma boa terra feita aos pais (Dt 4,31 e nota) e mesmo a criação do mundo (Dt 4,32 e nota). Ela evoca também o bezerro de ouro e as infidelidades do povo no deserto (Dt 9,7ss.), a fim de advertir Israel e de levá-lo a escolher entre a vida e a morte (Dt 30,15ss.).

               A exigência de um santuário único (Dt 12) permite pôr essa obra literária em relação com a reforma do culto realizada pelo rei Josias em 622 a.C. (2Rs 22-23), ainda que o “livro da lei” - que é a sua base – seja provavelmente uma versão breve e primitiva do livro do Deuteronômio. A atenção reservada aos levitas (Dt 18,1-8) e seu papel de detentores da lei (Dt 33,8-11; 17,18) e de pregadores juntamente com Moisés (Dt 27,9) indicam que essa tradição é a mesma que se transmitia no círculo dos levitas dos antigos santuários do interior, porta-vozes do ensinamento de Moisés. Pode ser que ela tenha recebido sua primeira fixação escrita após a queda do reino do Norte (em 722 a.C.), entre os levitas do Norte refugiados em Judá, ou, de acordo com outra hipótese, entre os sábios agregados à corte de Jerusalém. Mas foi submetida a numerosos desenvolvimentos ulteriores, até o tempo do exílio (Dt 4,25ss.).

               O longo trabalho de redação deuteronomista não atingiu apenas o Deuteronômio. Enriqueceu visivelmente várias passagens mais antigas do Êxodo (por exemplo. Êx 12-13; 32-33) e até do Gêneses (Gn 18,17-19), onde se podem reconhecer seu estilo e vocabulário. Alias, é nessa perspectiva que também se organizou a grande síntese da história subsequente, da entrada na terra à queda de Jerusalém, tal como registrada nos livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis, cujo prefácio se encontra nos três primeiros capítulos do Deuteronômio. Essa forma deuteronômica da tradição marcou profundamente o testemunho de todo o Antigo Testamento, com sua insistência  no Deus único, na fidelidade à promessa, na eleição gratuita de um povo a quem ele dá terra e instituições, e cuja lei é para aqueles que a praticam fonte de vida e alegria.

 

              

               Tradições mais antigas. Se agora lançarmos o olhar para os trechos mais antigos, veremos que o Pentateuco toma proporções mais modestas, traindo, embora, sua origem diversificada. As camadas aqui são mais difíceis de identificar, pois a redação definitiva deslocou-se parcialmente para integrá-las como peças que dão autoridade ao escrito. Suas características literárias levam a crítica a reconhecer aqui duas formas primitivas da tradição, uma das quais relativamente bem-conservada, enquanto a outra subsiste apenas em fragmentos esparsos.

 

 

 

               A tradição javista (J). A primeira camada decorre da tradição que chama Deus por seu nome pessoal YHWH” desde as origens (Gn 4,26). Por isso, ela se chama javista e é designada pela inicial J. A exemplo da camada sacerdotal, narra a história das origens a partir da criação do homem (Gn 2,4b-25) até a morte de Moisés (Dt 34,5-6). Suas primeiras páginas registram a história de Israel no quadro da humanidade criada para a vida (Gn 2), mas marcada pela recusa a escutar Deus (Gn 3) e pela violência (Gn 4). A paciência de Deus para com os homens pecadores é assegurada a Noé e a sua descendência (Gn 6-8), em vista de uma bênção que Deus promete a Abraão para todas as nações (Gn 12,1-4a). Os ciclos narrativos de Abraão e Jacó demonstram como a promessa se cumpre para aqueles que creem. A partir da missão de Moisés ante a sarça ardente (Êx 3), a camada literária J narra de maneira particular o enfrentamento entre Deus e Faraó, a saída do Egito, a travessia do mar (Êx 14) e alguns episódios da caminhada no deserto rumo ao Sinai, onde Moisés e os anciãos celebram com Deus uma refeição de aliança e recebem a lei, talvez sob a forma sintética do ritual de Êx 34,14-26. Essa camada se encontra ainda nas últimas narrativas da caminhada no deserto, do Sinai à Terra prometida (Nm 11ss.), e na história de Bilêam (4º oráculo Nm 24,15-19).

               A narração javista  conservou o caráter pitoresco e a variedade das tradições orais relacionadas a certos santuários e ao folclore do clã. Ela se caracteriza pelo estilo concreto, colorido cheio de margens, quase ingênuo de um contador de histórias (os filhos de Noé, Gn 9,18-27; a torre de Babel, Gn 11,1-9), que não hesita em falar de Deus em termos muito expressivos, como se estivesse falando de um homem: “Eles ouviram a voz do Senhor Deus que passeava no jardim ao sopro do dia”(Gn 3,8); “O Senhor fechou a porta atrás de Noé” (Gn 7,16); “Abraão percebeu três homens de pé perto dele” (Gn 18,2). A originalidade de J consiste em que suas múltiplas narrativas foram organizadas em uma história que vai da promessa a seu cumprimento. Não ocultando nenhum dos pecados do homem, nem sua condenação por Deus, essa narrativa dá testemunho dos atos de salvação de um Deus que dispersa sua bênção a Abraão e sua descendência, a fim de fazê-la atingir todas as nações da terra.

               A origem e a data de fixação por escrito dessa corrente da tradição são muito discutidas. A redação pode até ter sido processada em várias fases. A dominação prometida para sempre a Judá sobre seus irmãos (Gn 49,10; cf. Gn 37,26) poderia indicar que a origem dessa tradição deve ser procurada em Judá, em meio próximo à monarquia davídica. O “dominador que surge de Jacó” (Nm 24,19) seria uma alusão a David ou a um de seus sucessores? A tradição “J” teria a intenção de fazer o Estado davídico recordar que, se ele se tornou uma nação inumerável (Gn 12,2; Sm 7,23; 1Rs 3,8), foi por favor de uma promessa divina, da qual agora ele deve ser portador em benefício dos outros povos da terra.

 

 

 

               A tradição eloísta (E). Vários fragmentos narrativos, quase sempre combinados com a camada J, distinguem-se pela utilização do nome genérico “Elohim” para falar de Deus nas narrativas que precedem a revelação do nome YHWH. Daí o nome eloísta dado a essa camada, com a inicial E. Outras características literárias acompanham esta feição e permitem detectar importantes vestígios dessa corrente: a passagem de Abraão e Abimélek (Gn 20), o sacrifício de Abraão (Gn 22), provavelmente uma grande parte da história de José (cf. Gn 50,20), mas também a infância de Moisés (Êx 2), a revelação do Nome (Êx 3,14), e a visita de Iitrô (Êx 18). Aparentemente, é dessa camada que deriva a mais primitiva coletânea das leis do Pentateuco, o “Código da aliança” (Êx 10,23-23.33). A partir daí, o rastreamento se complica, a ponto de ser necessário renunciar a isolar E da camada J.

               Algumas narrativas trazem uma perspectiva particular: insistem na distância entre Deus e o homem. É necessário que um anjo intervenha, ou mesmo um homem (Gn 22,11-18; 32,23-33), para evitar que o próprio Deus se imiscua em uma atividade exclusivamente humana, o que às vezes confere a Deus um aspecto temível. A atitude justa do homem perante Deus é aqui frequentemente expressa pelo termo “temor”, que significa, ao mesmo tempo, a relação de intimidade e de obediência (Gn 20,11; 22,12). Ora esse termo é característico da piedade dos círculos próximos aos profetas Elias e Eliseu (Rs 18,3; 2Rs 4,1). A figura do profeta serve de modelo para descrever o papel de Moisés (Nm 11,25), ou mesmo o de Abraão (Gn 20,7). Alguns também atribuem a origem dessa corrente tradicional ao reino do Norte. Pode-se supor que a tradição E tenha sido compilada em Judá após a destruição do reino do Norte em 722 a.C. O último redator da narrativa J (que à vezes é chamado de jeovista = JE) teria integrado à redação elementos eloístas, sem que se possa afirmar se se tratava de passagens isoladas ou de uma obra coerente da qual ele sacrificara grande parte.

 

 

 

               A composição definitiva do Pentateuco. A unidade do povo de Deus, fundada sobre a unicidade do próprio Deus, tornou indispensável a conjunção gradativa dessas diversas formas de tradição. Várias gerações de redatores se dedicaram a isso: eles remanejaram e retocaram o conjunto, mas a preocupação de nada desperdiçar da herança dos pais levou-os a respeitar, o mais possível, a especificidade dos testemunhos antigos.

               Outras hipóteses foram elaboradas para explicar a composição do Pentateuco. Se alguns crentes defendem a opinião dos antigos, segundo a qual Moisés redigiu o Pentateuco inteiro, outros autores afirmam que a maior parte das coletâneas de lei se explicam sobretudo pela combinação de partes inicialmente independentes (a hipótese dos “fragmentos”). Outros ainda pensam que a coesão do conjunto como um todo postula a existência de um escrito fundamental, longamente ampliado depois (hipótese “dos complementos”). Não obstante, postas em debate todas essas perspectivas, a redação por camadas sucessivas parece ser hoje a hipótese mais pertinente, por explicar, ao mesmo tempo, a unidade e a diversidade do Pentateuco. Ela proporciona uma leitura em profundidade dessa vasta obra, põe em foco sua mensagem como abordagens diversas do mesmo mistério: J, mais psicológica; E, e mais preocupada em atentar a transcendência; P, mais atenta às realidades jurídicas e cultuais; D, valorizando a eleição e o amor.

 

 

 

               Sentido religioso. A religião do Antigo Testamento, como a do Novo, é uma religião histórica: funda-se na revelação feita por Deus a determinados homens, em determinados lugares e circunstâncias, e nas intervenções de Deus em determinados momentos da evolução humana. O Pentateuco, que reproduz a história dessas relações de Deus com o mundo, é o fundamento da religião judaica e tornou-se seu livro canônico por excelência, sua lei.

               Ali encontrava o israelita a explicação do seu destino. Não apenas tinha, no começo do Gênesis, a resposta às interrogações que todo homem se faz sobre o mundo e a vida, sobre o sofrimento e a morte, mas encontrava também resposta para seu problema particular: Por que (Yaohu) – YHWH, o Único, é o Deus de Israel? Por que Israel é seu povo entre todas as nações da terra? É porque Israel recebeu a promessa. O Pentateuco é o livro das promessas: a Adão e Eva após a queda, o anúncio da salvação longínqua; o Protoevangelho, a Noé depois do dilúvio, a certeza de uma nova ordem do mundo; e a  Abraão principalmente. A promessa que lhe é feita é renovada a Isaac e a Jacó e interessa a todo o povo deles nascido. Essa promessa se refere imediatamente à posse do país em que viveram os Patriarcas, a Terra Prometida, mas implica outras coisas mais: significa que existem entre Israel e o Deus dos Pais relações especiais, únicas.

               Pois Yaohu chamou Abraão e nessa vocação já se prefigurava a eleição de Israel. Foi Yaohu que fez dele um povo e deste povo seu povo, por uma eleição gratuita, por um desígnio amorável, concebido desde a criação e continuada através de todas as infidelidades dos homens.

               Essa promessa e essa eleição são garantidas por uma aliança. O pentateuco é também o livro das alianças. Uma já é feita, embora tácita, com Adão; ela é explícita com Noé, com Abraão, com todo o povo, enfim, pelo ministério de Moisés. Não se trata de um pacto entre iguais, pois Deus não o necessita e é ele quem toma a iniciativa. No entanto, ele se compromete, se obriga de uma certa maneira pelas promessas que faz. Mas exige, em contrapartida, a fidelidade de seu povo: a recusa de Israel, seu pecado, pode romper o vínculo que o amor de Deus formou.

               As condições dessa fidelidade estão reguladas pelo próprio Deus. Deus dá sua lei ao povo que escolheu para si. A lei ensina-lhe seus deveres, regula sua conduta conforme a vontade de Deus, e, mantendo a aliança, prepara o cumprimento das promessas.

               Esses temas da Promessa, da Eleição, da Aliança e da Lei são os fios de ouro que se entrecruzam na trama do Pentateuco e continuam seu curso por todo o Antigo Testamento. Pois o Pentateuco não é completo em si mesmo: Menciona a promessa mas não a realização, já que termina antes da entrada na Terra Santa. Devia permanecer aberto como uma esperança e uma exigência: esperança nas promessas, que a conquista de Canaã parecerá cumprir (Js 23), mas que os pecados do povo comprometerão e que os exilados recordarão em Babilônia, exigência de uma lei sempre premente, que permanecia em Israel como uma testemunha contra ele (Dt 31,26).           

               Isso durou até Cristo, que é o termo para o qual tendia obscuramente essa história da salvação e que lhe dá todo o seu sentido. Paulo salienta o significado deste fato, sobre tudo em Gl 3,15-29. Cristo concluiu a Nova Aliança, prefigurada pelos pactos antigos e nela faz entrar os cristão, herdeiros de Abraão pela fé. Quanto à Lei, ela foi dada para guardar as promessas, como um pedagogo que conduz a Cristo, em que estas promessas se realizam.

               O cristão não está mais sob o pedagogo, está libertado das observâncias da Lei, mas não de seu ensinamento moral e religioso. Pois Cristo não veio ab-rogar e sim levar à perfeição (Mt 5,17), o Novo Testamento não se opõe ao Antigo, prolonga-o. A Igreja não apenas reconheceu nos grandes eventos da época patriarcal e mosaica, nas festas e ritos do deserto (sacrifício de Isaac, passagem do mar Vermelho. Páscoa. Etc), As realidades da Nova Lei (sacrifício de Cristo, batismo, Páscoa cristã), mas a fé cristã exige a mesma atitude fundamental que os relatos e os preceitos do Pentateuco prescreviam aos israelitas. Mais ainda: em seu itinerário para Deus, toda alma atravessa as mesmas etapas de desapego, provação e purificação pelas quais passou o povo eleito, e encontra sua instrução nas lições que foram dadas a este.

               Uma leitura cristão do Pentateuco deve seguir antes de tudo a ordem dos relatos: O Gênesis, depois de haver oposto às bondades de Deus Criador as infidelidades do homem pecador, mostra, nos Patriarcas, a recompensa concedida à fé; o Êxodo é o esboço de nossa redenção; Números representa o tempo de provação em que Deus instrui e castiga seus filhos, preparando a consagração dos eleitos. O Levítico poderá ser lido com mais proveito em conexão com os últimos capítulos de Ezequiel ou depois dos livros de Esdras e Neemias; o sacrifico único de Cristo tornou caduco o cerimonial do antigo Templo, mas suas exigências de pureza e de santidade no serviço de Deus continuam sendo uma lição sempre válida. A leitura do Deuteronômio acompanhará bem o de Jeremias, o profeta de que ele está mais próximo pelo tempo e pelo espírito.

 

 

 

               A leitura cristã do Pentateuco. Com a dispersão do povo de Israel, o livro da Lei apareceu como fundamento de sua unidade, como aquilo que fazia dele um povo. A insistência recaiu sobre os aspectos jurídicos: é a fidelidade à Torá, a uma Lei reguladora da vida cotidiana, que permite aos judeus dispersos serem ainda um povo. Esta interpretação farisaica e rabínica não está fechada ao universalismo, mas seu universalismo centra-se no povo judeu e supõe a fidelidade à Lei. Nessa perspectiva, a atualidade da Lei é posta em evidência.

               Ao lado da perenidade do judaísmo, a interpretação cristã abre-se o outro tipo de universalismo. Para o cristianismo, as promessas do Antigo Testamento já se realizaram, seu cumprimento deu-se em Jesus Cristo e a nova aliança consumou a antiga. A lei da primeira aliança aparece então como momento de uma história, e, com a abertura da Igreja aos pagãos, insiste-se na ideia de que a palavra de Deus se dirige ao mundo atravessando a continuidade da história. É uma etapa da constituição do povo de Deus, na qual não se deve parar, mas que se deve assumir até o pleno cumprimento.

               Os dons de Deus não têm retorno. Por isso o povo judeu conserva aquilo que dele recebeu, mas não é o único a ouvir na Torá uma palavra de Deus. Os cristãos reconhecem a palavra de Deus encarnada em Jesus de Nazaré, que não veio abolir a lei, mas consumá-la (Mt 5,17). Na Lei, descobrem sua própria história. Eles também constituem uma comunidade a caminho, que vise da libertação realizada por Cristo no dia da Pascoa e da espera do reino de Deus. Eles sabem que sua vida está determinada por uma aliança, a aliança que Cristo selou para eles. Eles se alimentam da palavra de Deus e dos sinais de sua misericórdia e fidelidade. Os acontecimentos atestados pelo Pentateuco anunciam e prefiguram a obra que Deus realizou por Cristo na Igreja, do mesmo modo que as instituições da antiga aliança preparam e delineiam as instituições da nova. Para o cristão, o que se diz do Templo e da liturgia aplica-se ao corpo de Cristo, novo santuário sobre o qual resplandece a glória de Deus (Jo 2,21). É assim que o Pentateuco continua a ser uma fonte de vida para os homens de hoje, para aqueles que partilham a fé de Abraão e saúdam ao Cristo a consumação da promessa feita ao patriarca em favor da humanidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GÊNESIS

 

INTRODUÇÃO

 

 

               Visão geral

               Autor: Moisés.

               Propósito: Ensinar aos israelitas o propósito de Deus para eles como uma nação, tendo como pano de fundo o início do mundo e a vida de seus patriarcas.

               Data: c. 1446-1406 a.C.

               Verdades fundamentais:

  • Embora o pecado tenha corrompido o mundo ideal  que o Deus de Israel tinha criado, a redenção víria por meio do povo escolhido por ele.
  • As vidas de Abraâo, de Isaque e de Jacó fornecem muitos vislumbres da natureza da aliança de Deus com o seu povo, bem como das esperanças deles quanto ao futuro.
  • A vida de José e a de seus irmãos revelam como o povo de Deus deve se relacionar entre si e com o mundo.

 

               Público original

               O livro de Gênesis foi escrito para encorajar os israelitas enquanto estes enfrentavam inúmeros desafios ao deixar o seu passado de escravidão no Egito e seguiam para conquistar a Terra Prometida. As narrativas fornecem um prólogo para as responsabilidades que a nação enfrentaria nos dias de Moisés. Por exemplo, Gênesis enfoca, explicitamente, o ritual da circuncisão (17,9-14) e a observância do sábado (2,2-3). E, o mais importante, Gênesis relata as origens de Israel, remontando ao início da história da humanidade e ao conflito entre o reino de Deus e o reino da serpente – conflito no qual a nação de Israel teve um papel crucial. Gênesis também relata a escolha de Israel para uma aliança de relacionamento exclusivo com o único Deus. De acordo com essa aliança, os descendentes dos patriarcas se tornariam uma grande nação na Terra Prometida, por meio dos quais os gentios seriam abençoados.

 

               Propósito e características

               Segundo o antigo costume de nomear livros de acordo com sua(s) primeira(s) palavra(s), a título hebraico é bereshith, “no princípio”. Com base no conteúdo do livro, o título grego é geneseos que significa “origens”. Os dois títulos são apropriados, uma vez que o livro versa sobre a origem da história sagrada.

 

               CRISTO EM GÊNESIS

               O que começou em Gênesis é cumprido em Cristo. A genealogia iniciada no cap. 5 prosseguiu no cap. 11 e termina com o nascimento de Jesus Cristo (Mt 1; Lc 3,23-38). Ele é o legítimo descendente prometido a Abraão (17,15-16; Gl 3,16). Os eleitos são abençoados nele porque somente ele, pela sua obediência ativa, satisfez as exigências da lei, e por sua disposição em desistir de seus direitos de igualdade com Deus, morreu no lugar deles. Todos os que são batizados em Cristo são descendentes de Abraão (Gl 3,26-29). As ousadas profecias e os sutis tipos em Gênesis mostram que Deus estava escrevendo uma história que se completaria com Jesus. No limiar da profecia bíblica, Noé  predisse que os jafetitas encontrariam salvação por meio dos semitas (9,27), uma profecia que se cumpriu no Novo Testamento (Rm 11, cf. Nota sobre 9,27); e o próprio Deus proclamou que o descendente da mulher destruiria Satanás (3,15). Esse descendente é Cristo e sua igreja (Rm 16,20). A apresentação da noiva a Adão tipificou a apresentação da Igreja a Cristo (2,18-25; Ef 5,22-32); o sacerdócio de Melquisedeque é semelhante ao do Filho de Deus (14,18-20; Hb 7). O paraíso perdido pelo primeiro Adão é restaurado pelo último Adão. Essa história sagrada maravilhosamente unificada certifica que o foco de Gênesis é, em última análise, Cristo.

 

 

               O Gênesis é o primeiro livro do Pentateuco (ver introdução ao Pentateuco); o livro conta, como seu próprio nome  indica (gênese = começo), as origens do mundo e o início da ação de Deus entre os homens. Embora faça parte da Torá (ou lei de Moisés), contém essencialmente relatos que dizem respeito aos ancestrais do povo de Israel, reconhecidos como seus Pais por todos os que creem. O Gênesis inaugura uma história que se prolonga até os dias de hoje e diz respeito, juntamente com o povo judaico e a Igreja de Cristo, à humanidade inteira.

               O Gênesis relata diversos episódios da vida dos patriarcas, agrupados de modo a mostrar que Deus intervém constantemente junto a Abraão e sua família com vistas a preparar a salvação do mundo. É por isso que os relatos patriarcas são precedidos de um prólogo que situa Abraão e seus descendentes no quadro dos povos da terra e contém alguns dos capítulos mais celebres da Bíblia: a criação, Adão e Eva, o Dilúvio, a torre de Babel... capítulos que constituem como que um resumo impressionante da caminhada da humanidade na terra, dos seus empreendimentos e dos seus fracassos...

               Para bem compreender este livro e o sentido dos relatos nele contidos, é preciso considerá-lo no seu dinamismo e não dissecá-lo em pedaços destituídos de relação uns com os outros. Mesmo que o leitor se atenha especificamente a algumas das páginas célebres que o livro contém, há de se lembrar – como já o sublinhou a Introdução ao Pentateuco – que o Gênesis não constitui uma  abra independente, uma espécie de história da época dos patriarcas, mas que ele representa o começo de um vasto conjunto que narra como Deus, no meio das nações, forma para si um povo sobre a terra para dar testemunho dele. Há que lembrar também que o Gênesis não foi composto de uma só vez, mas resulta de um trabalho literário que se prolongou durante várias gerações; o livro reflete, portanto, as experiências, por vezes dolorosas, dos filhos de Abraão, que nos contam a vida dos seus antepassados, pressupondo assim uma tradição viva que foi constantemente relida em função das vicissitudes da história de Israel. O texto atual só se compreende levando em conta as retomadas necessárias da obra divina dentro do povo de Israel. Temos reflexo disso nas sucessivas redações do texto sagrado, mas elas nunca anularam os primeiros esboços nos quais se baseiam. Elas enriqueceram os primeiros esboços com revelações novas.

 

 

               A composição do livro. Costuma-se dividir o Gênesis em duas partes: Gn 1-11, que trata dos primórdios da humanidade no universo criado por Deus, e Gn 12-50, que apresenta a vida dos patriarcas e se subdivide em três ciclos de relatos, referentes a Abraão (12-25), a Isaac e sobretudo a Jacó (26-36), e, enfim, a José (37-50). A esta divisão “vertical” e cômoda – já que põe em evidência o conteúdo do Gênesis – pode-se preferir outra, “horizontal”, que destaca o fato de o primeiro livro da Bíblia constar de vários estratos ou camadas, que, aliás, vão além de Gn 50. Com efeito, o Gênesis, na sua forma atual, é formado por diversas tradições, denominadas, “javista”, “eloísta” e “sacerdotal” (ver introdução ao Pentateuco). Essas camadas foram se sobrepondo umas às outras no decurso dos séculos e voltam a se encontrar no conjunto do Pentateuco.

               Efetivamente, aquilo que poderíamos qualificar como o Gênesis mais antigo, a narração “javista”, já fornece a estrutura do livro atual; segundo o “Javista”, Deus formou o homem da terra e o colocou no meio das plantas e dos animais. Mas o ser humano deu ouvido a vozes diferentes da de Deus e acabou sendo excluído do jardim do Éden, devendo viver a sua vida no sofrimento, na confusão e na divisão (2-4). A humanidade tenta constituir a própria unidade; fracassa (11), mas Deus preparará e realizará o verdadeiro congraçamento dos homens. Por isso salva Noé do diluvio (6-9) e chama Abraão, para que nele a bênção divina atinja todas as nações (12). O patriarca vai de uma localidade a outra e, de santuário em santuário, recebe as promessas de Deus, cujas garantias são o nascimento de Ismael (16) e o de Isaac (18-20). O ciclo de Abraão encerra-se com o casamento de Isaac com uma parenta da terra de Arâm, na Mesopotâmia (24).

               As tradições relativas ao herdeiro de Abraão são pouco numerosas; têm menos relevo, embora estejam melhor enraizadas na terra e na história do que as relativas a seu pai (26). Desde o começo, a figura de Isaac é dominada pela de Jacó, o antepassado das doze tribos e referência da unidade delas sob a designação de Israel, Jacó, o homem que ao longo de toda a sua existência deveria lutar com Deus e com os homens (32), viveu sobretudo fora da Terra Prometida. Com efeito, ele tem brigas constantes tanto com os arameus – povo de origem das suas esposas – como Esaú, ancestral de Edom – o povo irmão de Israel – ou com os habitantes de Canaã (34). Jacó morrerá no Egito.

               O Gênesis termina com a história dos filhos de Jacó, na qual, ao lado de Judá, José ocupa o papel principal. Ele salva os irmãos da fome acolhendo-os no Egito, apesar de os irmãos terem tentado liquidá-lo.

               Antes de morrer, Jacó abençoa seus filhos, designando Judá como rei deles (49); sua morte precede de pouco a de José (50), que deixa os seus numa terra em que, breve, passarão por dura escrevidão.

               A libertação dos descendentes dos patriarcas será o tema do livro subsequente ao Gênesis, o Êxodo.

               A versão “javista”, composta sem dúvida no tempo da realeza, foi a primeira redação literária de tradições locais e tribais. Ela recorda às tribos de Israel as promessas do Deus de Abraão e as dificuldades com que as tribos deparam no caminho da realização dessas promessas.

               A ruptura da unidade do povo de Deus e o período difícil que se seguiu causaram a Israel novos problemas, que exigiram, senão uma revisão, pelo menos uma complementação da história dos patriarcas. A tradição “eloísta” constitui um segundo estrato literário, cuja extensão e importância são difíceis de discernir: seu tom é mais sóbrio e menos otimista que o da tradição javista. Na eloísta, Deus intervém menos diretamente nos assuntos humanos e espera dos seus servos, antes de tudo, a obediência. Por vezes reconhece-se nesta tradição a influência do profetismo: Abraão, por exemplo, é saudado como um profeta (20,7), cuja fé é submetida à prova (22).

               A dolorosa queda de Jerusalém em 587 a.C., exigiu uma nova revisão da gesta patriarcal. Ela foi obra dos círculos de sacerdotes exilados na Mesopotâmia. A versão “sacerdotal”, de tom geralmente abstrato, interessa-se pelos aspectos cultuais e legislativos da obra divina. Ela insiste na aliança de Deus com Abraão (17), que vem depois da aliança com Noé (9) e prepara a do Sinai.

               A tradição “sacerdotal dá ao relato do Gênesis a estrutura definitiva: fazendo a História Sagrada começar com a criação do universo (1), ela mostra a continuidade do destino da humanidade através das indicações genealógicas e cronológicas, ao mesmo tempo que revela as diversas etapas deste destino, marcado pela instauração de alianças ou de estatutos particulares que, da criação a Noé e de Noé a Abraão, possibilizam a Israel torna-se, no meio das nações, o povo que prestará ao Deus único um culto verdadeiro.

 

 

               As fontes do Gênesis. Ao contarem as origens do mundo e da humanidade, os autores bíblicos não hesitaram em haurir, direta ou indiretamente, das tradições do antigo Oriente Próximo, em particular da Mesopotâmia, do Egito e da região fenício-cananeia. As descobertas arqueológicas feitas de aproximadamente um século para cá mostram, com efeito, que existem muitos pontos comuns entre as primeiras páginas do Gênesis e determinados textos líricos, sapienciais ou litúrgicos da Suméria, da Babilônia, de Tebas ou de Ugarit. Este fato nada tem de estranho quando se sabe que a terra em que Israel se instalou estava amplamente aberta às influências estrangeiras: além disso, o próprio povo de Deus, pela sua história, manteve relações com os diversos povos do Oriente. Próximo. Mas os progressos da arqueologia revelam igualmente que os escritores que estruturaram e revisaram os relatos dos primeiros capítulos do Gênesis não foram imitadores servis. Souberam retrabalhar as suas fontes, repensá-las em função das tradições especificas do seu povo. Não se limitaram a salvaguardar a originalidade da fé javista: enfatizaram-na.

               O fato é que a comparação entre o texto bíblico e os relatos concernentes à origem do mundo ou aos heróis da Antiguidade não está destituída de interesse para o leitor da Sagrada Escritura. Entre muitas outras testemunhas do passado literário do antigo Oriente Próximo, limitamo-nos a assinalar aqui a história babilônica “Enuma Elish”, as aventuras do herói Guilgamesh, que contêm uma versão babilônia do Dilúvio, ou ainda as grandes torres – construídas pelas cidades mesopotâmicas em honra das suas divindades  – que lembram a história da torre de Babel.

               Os relatos sobre os patriarcas, embora redigidos muito tempo depois dos acontecimentos aos quais se referem, atestam um enraizamento real no ambiente em que viveram os antepassados de Israel. Mais uma vez, os arqueólogos, sobretudo pelas descobertas relativamente recentes de Ugarit e de Mári, possibilitam reconhecer ao mesmo tempo a complexidade das tradições e sua integração na vida do segundo milênio antes da era cristã, tal como é conhecida hoje.

               Os costumes de Abraão e dos seus descendentes lembram os de clãs de seminômades, proprietários de ovelhas e de cabras, que circulam ao longo do “Crescente Fértil”. Vivem mais ou menos em contato com populações sedentárias, com as quais mantêm relações ora pacíficas, ora belicosas. Os diversos grupos constituídos pelas famílias dos patriarcas – cujas relações exatas nos são desconhecidas – estão em vias de sedentarização na terra de Canaã, que se tornará a terra dos seus sucessores.

               Não é possível escrever uma história contínua dos patriarcas, não só por causa do tempo que os separa dos documentos que deles falam, mas sobretudo porque viveram com os seus grupos à margem da história política, isto é, da “grande história”. As tradições a seu respeito refletem, antes de tudo, preocupações essenciais, como a de garantir a sobrevivência das famílias em uma região ameaçada pela fome, ou a de assegurar terras férteis para os rebanhos; finalmente, o que se conservou foram apenas certos episódios da sua existência.

               Os relatos do Gênesis acerca dos antepassados de Israel são,  pois, de origem popular e familiar, e guardam os traços da cultura do seu tempo. Exprimem também as crenças dos patriarcas em um Deus que caminha com eles quando dos seus constantes deslocamentos e lhes promete tudo o que lhes é necessário à vida.

 

               Temas e figuras do Gênesis. O livro do Gênesis é rico em temas e figuras que se re-encontram em outras passagens da Bíblia e que a tradição – tanto judaica como cristã – não cessará de meditar. Ele se abre com o relato da criação decantada nos Salmos (Sl 8; 104), evocada pelo autor de Jó (Jó 38ss.) e pelo Dêutero-Isaías (Is 40ss.); a atitude de Adão no jardim do Éden será confrontada com a de Cristo, novo Adão, nas epístolas paulinas (Rm 5; 1Co 15); a história do Dilúvio servirá de pano de fundo para o drama do fim dos tempos (Mt 25) ou de figura do batismo (2Pd 3). O destino de Abraão começa com uma promessa, incessantemente confirmada por Deus, que explica e determina a sorte dos seus descendentes próximos e remotos, promessa cujo cumprimento os patriarcas aguardam, da mesma forma que Israel no tempo de Josué ou Davi, e cuja realização em Cristo é saudada pelo apóstolo Paulo (Gl 3). O sacrifício (ou o “amarramento”) de Isaac retém a atenção dos rabinos que celebram os méritos dos seus Pais; ele se tornará na Igreja dos primeiros séculos uma prefiguração do drama da Sexta-feira Santa.

               A teologia, judaica ou cristã, irá reler, século após século, o primeiro livro da Bíblia, para aprender o mistério da origem do mundo e o sentido do seu destino, para descobrir as primeiras etapas da obra de Deus em favor dos homens. Com efeito, o Gênesis possibilita à teologia enraizar a vida dos indivíduos e das nações na vontade amorosa do Deus que se revelou a Abraão.

               Alguns personagens chamam particularmente a atenção: o casal Adão e Eva, que o “Javista” pinta com tanta delicadeza e profundidade, no qual nos convida a reconhecer-nos a nós mesmos; Noé, que achou graça aos olhos do Senhor e obedeceu às suas ordens; e sobretudo os patriarcas: Abraão, pai dos crentes – ao qual se reportam ao mesmo tempo judeus, cristãos e muçulmanos – testemunha de uma fé e de uma esperança que o comprometem até o fim; Isaac, tão esperado, tão ameaçado e finalmente tão indefeso diante das intrigas dos seus; Jacó, em luta constante com os seus parentes próximos, enganador e enganado, disposto a tudo para usurpar a bênção divina e que permanecerá para sempre marcado, na sua carne, pelo encontro com Deus; José, a criança sábia, o inocente esquecido em sua prisão, o grande personagem da corte egípcia, cujo destino revela a sabedoria do Senhor capaz de fazer tudo concorrer para o bem dos seus eleitos.

               Ao lado dessas figuras masculinas, não se deve negligenciar o papel da mulher ou da mãe na tradição patriarcal: Eva, seduzida pela serpente, mas apesar disso chamada a ser a mãe de todos os viventes (cap, 3); Sara, que ri ao saber que será mãe de Isaac, o filho da promessa (18); Rebeca, que trama intrigas em favor do seu filho preferido, Jacó; as brigas de Leá e de Raquel (29ss.); a mulher de Potifar (39)... umas e outras introduzidas, com Adão, Abraão, Isaac, no plano de Deus, tal como o apresenta a tradição bíblica.

               A riqueza do Gênesis em temas e figuras é uma abertura para o mundo da Bíblia, diante do qual os crentes nunca cessarão de ficar maravilhados.

 

 

 

               Bem, como estamos falando do “Principio...”. Gostaria de colocar um assunto, que se refere ao: “NOME DE DEUS”. - Como no “Principio”! (Que por tradições, etc. Foi esquecido...!). Ou seja, Seu Nome PESSOAL: (“Só que aqui, começaram os “erros” traduzindo o TETRAGRAMA como “senhor”. Veja só”):

 

YHWH

 

               [Yahweh] (o Senhor). O vocábulo Yahweh, que geralmente é traduzido como “Senhor”, em nossas versões da Bíblia em Português, tem sido corretamente chamado de “o nome da aliança de Deus”. Foi por este título que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó escolheu revelar-se a Moisés (Êx 6,3). Sem dúvida, os seguidores fiéis do Senhor já o conheciam por este nome antes da revelação da sarça ardente, mas com Moisés há mais revelações da fidelidade de [Yahweh] à aliança e de sua comunhão intima com seu povo. O nome em si é derivado do verbo hebraico “ser”. Moisés imaginou pessoas que lhe perguntariam pelo nome de Deus que lhe apareceu, quando voltasse para seu povo. O Senhor lhe respondeu: 'EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel : EU SOU me enviou a vós' (Êx 3,14). Yahweh, portanto, significa algo como “Ele é” ou talvez “Ele traz à existência”.

               Como o nome revelado de Deus, o título “[Yahweh]” trazia uma declaração da existência contínua do Senhor e sua presença permanente com seu povo. Foi Ele quem se apresentou a Moisés e ao povo de Israel através das gerações como o Deus da aliança, o que sempre seria fiel às suas promessas em favor de seu povo. Foi sob este nome que o povo da aliança adorou a Deus. No NT, os cristãos entenderam que o Senhor da aliança era Jesus Cristo e, assim, ideias e atributos do AT que pertenciam a Yahweh foram trazidos e aplicados a Jesus.

 

 

Senhor  E  SENHOR

 

Os nomes e o Nome

 

               O antigo Testamento usa dois substantivos para “Deus”: um expressa “o Deus único e transcendente” (Heb. “El”: Is 40,18) e o outro “Deus na plenitude dos seus atributos divinos” (Heb. “Elohim”). De qualquer maneira, contudo, “Deus é um nome genérico para definir um certo Ser”, assim como o termo “homem” (Heb. Adam, Ish). O vocábulo “Senhor” tem dois significados: traduz o hebraico “Adonai”, que significa “soberano” (Is 6,1; cf. v. 5), e descreve uma certa qualidade do Ser divino, ou seja, Ele reina e governa como um “diretor executivo”, absoluto em sua supremacia sobre as pessoas e os eventos. Por outro lado, Senhor (em algumas versões com letras Maiúsculas – SENHOR) traduz o nome próprio [Yahweh]. É como se Deus fosse seu sobrenome. Senhor representa sua posição ou status na ordem das coisas e “[Yahweh]” é seu nome pessoal ou próprio. À medida que o relacionamento entre o grande Deus e o seu povo desenvolvia-se, Ele esperava ser reconhecido com [Yahweh].

 

[Yahweh] e Senhor

 

               Mesmo no próprio texto do Antigo Testamento, claramente percebemos as hesitações quanto ao uso do nome divino. No Salmo 14,2 aparece o termo “o Senhor e no 53,2 utiliza-se o nome “Deus”! Geralmente isso é entendido como uma tendência dos escribas de evitar o uso do vocábulo “[Yahweh]”, considerado muito sagrado. Entre os testamentos, quando o judaísmo cresceu, esse processo se fortaleceu; quando os sinais massoréticos (sinais de vocalização) foram acrescentados aos textos hebraicos (século V d.C. Em diante), tornou-se impossível. Mesmo por acidente, pronunciar esse nome, [pois as consoantes YHWH receberam as vogais apropriadas para serem pronunciar-se “Adonai”]. Desta maneira, os leitores nas sinagogas, por exemplo, quando chegavam ao nome de Deus, na verdade substituíam o termo por “Senhor”; os tradutores da Bíblia em geral seguiram esta prática e distinguiram Yahweh  (SENHOR) de Adonai (Senhor). Para acrescentar mais um elemento nesta questão complicada, se tentarmos pronunciar as consoantes YHWH com as vogais da palavra Adonai (em hebraico), surgirá algo semelhante a “Jeová” - um termo que na verdade NUNCA EXISTIU!

 

 

Nomes compostos

 

               [Yahweh] (“Senhor”) é largamente utilizado em combinações com os nomes de Deus e outros termos divinos. Em Gênesis 2,4 a 3,23 encontramos “o Senhor Deus” 20 vezes. “Deus” aqui é o plural “Elohim”, ou seja, Deus na plenitude de seus atributos eternos. Desta maneira, a composição significa “[Yahweh] em toda sua plenitude como Deus”. Isaías 50,4.5.7.9 e muitas outras referências falam sobre “o Senhor Deus”, que no hebraico é “[Adonai Yahweh]” e quer dizer [Yahweh] em sua soberania. O salmo 50,1 tem uma composição tripla: “O Senhor Deus Todo-poderoso”, “[El Elohim Yahweh]”, e significa [Yahweh], o único Deus transcendente e pleno de divindade. A composição tripla em Isaías 1,24: “O Senhor, o SENHOR dos Exércitos, o Poderoso”, às vezes simplesmente usada como “o Senhor dos Exércitos”, é abundante em todo o Antigo Testamento. É bem provável que “dos exércitos” tenha um significado de substantivo usado como oposto junto com [Yahweh], “[Yahweh], que é Exército”. Certamente este é o seu significado conforme aparece nos profetas: [Yahweh], que não simplesmente possui, mas Ele próprio é a fonte de todo poder concebível. Embora a maioria das versões traduza como “SENHOR Poderoso”, a expressão “o SENHOR Onipotente”, levemente mais enfática, seria preferível.

 

 

Desenhando o mapa

 

               Emergindo das páginas da Bíblia, percebemos um padrão distinto concernente ao nome divino.

 

               As bases

 

               Êxodo 6,2.3 é uma linha divisória do nosso mapa. Neste ponto, Deus disse a Moisés: “Mas pelo meu nome, o SENHOR, não lhes fui conhecido”. O livro de Gênesis está repleto de referências ao “SENHOR”, e alguns tentam resolver o problema propondo que existem duas correntes diferentes de tradições em nossas Bíblias: de acordo com uma delas, o nome divino era conhecido desde os tempos remotos (Gn 4,26); de acordo com a outra corrente, o nome só foi revelado nos dias de Moisés. A solução, entretanto, é mais simples e nasce a partir de uma leitura mais cuidadosa de Gênesis. Em Êxodo 6,2.3 a ênfase é a revelação do caráter de Deus. “Apareci (me revelei) a Abraão...como  (no caráter de ) o Deus Todo-poderoso (El Shaddai), mas (no caráter expresso) pelo meu nome, o SENHOR [(Yahweh)], não lhes fui conhecido...”. Isto é precisamente o que encontramos em Gênesis: o Nome é conhecido como uma designação de Deus, mas onde quer que haja uma revelação do caráter divino exista uma substituição de [Yahweh por El Shaddai] ou algum dos outros títulos patriarcais (veja a seguir). Gênesis 17,1 é um exemplo desses: “Apareceu-lhe o SENHOR e lhe disse: Eu sou o Deus Todo-poderoso (El Shaddai)”.

               Moisés, então, teve o privilégio de apresentar o significado do nome divino. [Yahweh], para Israel, e o fundamento foi estabelecido em Êxodo 3,13-15. Ele era um homem cheio de escusas. Não desejava retornar ao Egito e tentou esquivar-se de todas as maneiras. Sua segunda desculpa foi a ignorância. Visualizou que, quando chegasse ao Egito, seria confrontado com a pergunta: “Qual é o nome do Deus que enviou você?” O próprio Moisés não perguntou “ao Deus dos pais” qual era seu nome, mas sabia que de alguma maneira os hebreus lhe fariam esta pergunta. Será que a interrogação: “Qual é o seu nome?” poderia significar: “Que revelação você traz  do nosso Deus?”. O nome de uma pessoa na Bíblia muitas vezes é uma expressão de seu caráter (1Sm 25,25!). Porventura, Moisés sabia que os hebreus guardavam um nome secreto para seu Deus, o qual eles precisavam conhecer, se desejassem ser ouvidos? Sua escusa é tão fascinante quanto misteriosa; mas, de qualquer maneira, é uma súplica por informação, à qual Deus respondeu: “EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU ME ENVIOU A VÓS”. “Eu sou” é a primeira pessoa do verbo “ser”e “[Yahweh]” é a terceira do singular. Deus refere-se a si mesmo como “Eu Sou”; nós olhamos para Ele e dizemos: “Ele é”. Alguns eruditos entendem o verbo aqui como a forma “causativa” no hebraico: “Eu faço acontecer/Ele faz acontecer” e, como veremos, isso deve estar correto e não altera o sentido básico do nome. No hebraico, o verbo “ser”, embora expresse também existência (Eu sou/Eu existo), com mais frequência expressa uma presença ativa: Eu sou/Eu estou ativamente presente. Em si mesma, essa ideia não nos diz muito sobre o possuidor do nome, mas em Êxodo a ideia está ligada primeiro à revelação de Deus a Moisés (Êx 3 e 4) e depois à atividade pessoal do Senhor, que conduz seu povo para fora do Egito (Êx 5 a 12). É por meio desta “presença ativa” nos eventos do Êxodo que o SENHOR revela quem e o que Ele é. Por esta razão, mesmo que a expressão signifique “Eu faço acontecer”, a situação essencial não é alterada, pois ainda são eventos do Êxodo imediatamente “ocasionados”, nos quais a revelação de Deus dada a Moisés em palavras claras é confirmada na ação. Numa palavra, portanto, [Yahweh] é o Redentor (Êx 6,6.7).

 

 

               Antecedentes: o Deus de Abraão , Isaque e Jacó

 

               Abraão, Isaque e Jacó certamente chamaram Deus de [“El”], e adicionaram outra palavra descritiva para formar um nome composto. Assim, aprendemos sobre “El Elyon” (“Deus Altíssimo”: Gn 14,18); “El Roi” (“o Deus que me vê”: Gn 16,13): “El Shaddai” (“Deus Todo-poderoso”: Gn 17,1; 28,3; 35,11; 48,3; cf. 49,25); “El Olam” (“o Deus Eterno”; Gn 21,33); e “El, Elohe Israel” (“Deus, o Deus de Israel”: Gn 33,20). Esses, porém, não são “muitos deuses e muitos senhores”. O Deus que se revelou em Betel, por exemplo, anunciou a si mesmo como [Yahweh], o Deus dos antepassados (Gn 28,13), chamado de [Yahweh] (v. 16) e Elohim (vv. 17,20) e, em Gênesis 48,3, identificado como “El Shaddai”. Existem muitas outras identificações cruzadas semelhantes.

               Fundamentalmente, os patriarcas receberam o conhecimento de Deus por meio da revelação. Às vezes era por meio de uma palavra direta do SENHOR (Gn 16,13; 17,1; 31,13); em outras ocasiões, o conhecimento de Deus era adquirido por meio da experiência: quando Abraão se encontrou com Melquisedeque, imediatamente reconheceu o “Deus Altíssimo” com [Yahweh] (Gn 14,22); ou quando Abraão foi chamado por Abimeleque, rei de Gerar, para estabelecer uma aliança perpétua com ele, parece que a experiência abriu os olhos do patriarca para a natureza imutável de seu Deus (Gn 21,22.23.31.33). O texto de Êxodo 6,2, entretanto, certamente está certo em destacar El Shaddai como a revelação preeminente de Yahweh para os patriarcas. Infelizmente o significado de “Shaddai” permanece incerto; entretanto, onde as traduções falham, o uso prático proporciona tudo o que precisamos (veja Abraão). As referências dadas acima revelam El Shaddai como o Deus que faz as promessas (especialmente a concessão de terra e descendentes, centrais na aliança patriarcal), o Deus que intervém nas situações onde as forças humanas estão exauridas (cf. Gn 17,1 -  “Abraão tinha noventa e nove anos de idade”) e age com poder e um propósito transformador (Gn 17,5 – não mais...Abrão, mas Abraão”). É o Deus que é capaz, quando nós somos incapazes. Era desta maneira que os patriarcas conheciam Yahweh. O nome divino não tinha ainda, em si mesmo, nenhum significado para eles. Porventura houve uma preparação mais adequada da revelação vindoura do que esta rica teologia em torno de El Shaddai?

 

 

               Revelação Posterior

 

               A seção acima, intitulada “Antecedentes”, explorou os fundamentos mosaicos apenas para afirmar que no Êxodo, por meio de palavras e obras, [Yahweh] revelou-se como o Redentor. Agora, avançaremos sobre esta base.

               O título “Redentor” (Êx 6,6) é extremamente importante e estava destinado a tornar-se o elemento principal no conhecimento que Israel tinha do Senhor (Sl 74,2; 106,10; 107,2; Is 41,14; 43,14; 44,6; 47,4; 49,7.26; 54,5.8; 59,20; 63,16; etc.), Basicamente, a palavra tem o sentido de relacionamento e de pagamento de um preço. O “remidor” (heb. Go'el) era o parente mais próximo que tinha o direito de se levantar em favor de um parente desamparado, assumia todas as suas necessidades sobre si, como se fossem dele próprio, e pagava, dos seus próprios recursos, qualquer despesa que fosse requerida pela situação. O vigor e o dinamismo deste termo são ilustrados pelo seu uso da expressão “vingador do sangue” (Dt 19,6.12; etc.); sua dimensão de pagar um preço é vista em Levítico 25,25; 27,13.19.31; etc.;

 

               O Êxodo e a Bíblia

 

               Conforme vimos, há uma progressão através de Gênesis e Êxodo, à medida que a revelação de [Yahweh com El Shaddai] preparou o caminho para a revelação plena do nome divino, por meio de Moisés. Conforme revermos mais claramente, o clima da revelação mosaica foi a Páscoa; de maneira que, em Êxodo, duas grandes verdades são reunidas: a revelação do nome divino e a provisão do Cordeiro de Deus. É precisamente neste ponto que o Novo Testamento também começa. Cada um dos três primeiros evangelhos move-se através dessas preliminares essenciais e coloca o foco no batismo do Senhor Jesus. Em Mateus 3,13-17, quando Cristo se aproximou do Batista nas águas do rio Jordão, a primeira reação foi reverter seus papéis: “Eu preciso ser batizado por ti, e vens tu a mim?” Até aquele momento, o Batista não sabia que o Senhor Jesus era o Messias (Jo 1,31.33); suas palavras eram apenas um elogio ao caráter do primo – ou seja, ali estava um ser humano que não precisava submeter-se ao batismo de arrependimento. O Senhor Jesus, entretanto, o corrigiu: “Pois assim nos convém cumprir toda a justiça” - quer dizer, “Somente desta maneira cumpriremos toda a vontade justa de Deus”.

               Foi neste ponto que o céu (de acordo com a vívida expressão de Marcos) foi aberto (Mc 1,10; cf. 15,38) como se o próprio Deus não pudesse mais se conter, mas tivesse de, naquele momento de identificação com o homem pecador em sua carência, não apenas autenticar a identidade de Jesus como seu único Filho e revesti-lo com o Espírito Santo, mas revelar pela primeira vez o significado pleno do nome divino – a Santa Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Foi em consequência do que viu e ouviu naquele momento que João Batista, mais tarde, apontou Jesus como o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.

               Quando olhamos para trás, para o Antigo Testamento, vemos que o Deus revelado ali como [Yahweh], o SENHOR, não é o “Deus Pai”, mas sim a Trindade incógnita. O que foi concedido a Moisés para declarar aos israelitas era uma verdade eterna (Êx 3,15): [Yahweh] é o Redentor. Mas esta não é toda a verdade: o pleno significado do nome e a obra completa da redenção pertencem ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Nenhuma pesquisa, por mais exaustiva que seja, descobriria no Antigo Testamento que Yahweh é a Trindade. Ele não é um único “Um” mas uma unidade diversificada; é o “[Yahweh] dos Exércitos” em quem podemos ver a Palavra ativa (Sl 33,6), o Espírito Santo vivo (Is 63,10.14).

 

               “[BEM, DEVIDO A TODAS ESSAS 'MUDANÇAS' NO NOME DE “DEUS” - O TETRAGRAMA {YHWH} – FOI COMPLETAMENTE “ALTERADO EM SUA FORMA ORIGIANAL”. (PROCURAR EM: “DEUS, NOMES BÍBLICOS DE. -,  A FORMA CORRETA DE SE ESCREVER O SEU NOME PESSOAL; E, O PORQUE DE TUDO ISSO – YHWH – YAOHUH - UL). “TODAS AS FORMAS QUE ESTIVEREM COMO:YAHWEH – ESTÁ ERRÔNEAMENTE COLOCADA”; CONFORME OS DESCRITOS ACIMA]”.{“MESSIAS, CRISTO = YAOHUSHUA!!”}.

               Bem, agora, vamos a um breve resumo das: “Principais personagens de Gênesis”:

 

               ADÃO

               Pontos fortes e  êxitos:

  • Primeiro zoólogo – conferiu nome aos animais.
  • Primeiro arquiteto de paisagens, designado para cuidar do jardim.
  • Primeira pessoa feita a imagem de Deus (Yaohu), e o primeiro homem a partilhar um relacionamento íntimo e pessoal com Deus (Yaohu).

              

               Fraquezas e erros:

  • Fugiu à responsabilidade e culpou a outros; preferiu esconder-se a confrontar; inventou desculpas ao invés de admitir a verdade.
  • Maior falta: juntamente com Eva trouxe pecado ao mundo.

 

               Lições de vida:

  • Como descendente de Adão, todos refletimos em algum grau a imagem de Deus (Yaohu).
  • Deus (Yaohu) está à procura de pessoas que, embora sejam livres para fazer o mal, escolham amá-lo.
  • Não devemos culpar outros por nossas falhas.
  • Não podemos nos esconder de Deus (Yaohu).

 

               Informações essenciais:

 

  • Local: Jardim do Éden.
  • Ocupações: Zelador, jardineiro e fazendeiro.
  • Familiares: Esposa – Eva: filhos - Caim, Abel. Sete, e inúmeros outros. Único homem que nunca teve pai ou mãe terrenos.

               Versículos-chave:

 

  • “Então, disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi” (Gn 3,12). “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1Co 15,22).

 

               A história de Adão pode ser encontrada em Gênesis 1,26 – 5,5. Ele também é mencionado em 1 Crônicas 1,1; Lucas 3,38; Romanos 5,14; 1 Coríntios 15,22.45; 1 Timóteo 2,13.14.

 

 

 

               EVA

               Pontos fortes e êxitos:

  • Primeira mulher e mãe.
  • Primeira fêmea. Ao compartilhar um relacionamento especial com Deus (Yaohu), foi co-responsável com Adão pela criação, e demonstrou certas características de Deus (Yaohu).

 

               Fraquezas e erros:

  • Permitiu que sua satisfação fosse minada por Satanás.
  • Agiu impulsivamente, sem consultar a Deus (Yaohu) ou a seu marido.
  • Não apenas pecou, mas também partilhou seu pecado com Adão.
  • Quando confrontada, culpou a outros.

 

               Lições de vida:

  • A mulher também foi feita à imagem de Deus (Yaohu).
  • Os ingredientes necessários para um casamento sólido são o compromisso mútuo, o companheirismo, a unidade e a pureza (2,24.25).
  • A tendência humana básica para o pecado remonta ao início da raça humana.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Jardim do Éden.
  • Ocupações: Esposa, ajudadora, companheira e co-gerenciadora do Éden.
  • Familiares: Marido – Adão; filhos – Caim, Abel, Sete e inúmeros outros filhos.

 

               Versículo-chave:

  • “E disse o Messias Deus (Yaohu): Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele” (Gn 2,18).

 

               A história de Eva pode ser encontrada em Gênesis 2,18 – 4,26. Sua morte não é mencionada nas Escrituras.

 

 

 

               ABEL

               Pontos fortes e êxitos:

  • Primeiro membro da Galeria da Fé em Hebreus 11.
  • Primeiro pastor.
  • Primeiro mártir pela verdade (Mt 23,35).

 

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) ouve os que se achegam a Ele.
  • Deus reconhece a pessoa inocente e, cedo ou tarde, Ele pune o culpado.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Fora do Éden.
  • Ocupação: pastor de ovelhas.
  • Familiares: Pais – Adão e Eva; irmão – Caim.

 

               Versículo-chave:

  • “Pela fé, Abel ofereceu a Deus (Yaohu) maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus (Yaohu) testemunho dos seus dons, e, por ela, depois de morto, ainda fala” (Hb 11,4).

 

               A história de Abel pode ser encontrada em Gênesis 4,1-8. Ele também é mencionado em Mateus 23,35; Lucas 11,51; Hebreus 11,4 e 12,24.

 

 

 

               CAIM

               Pontos fortes e  êxitos:

  • Primeira criança humana.
  • Primeiro a seguir a profissão do pai, fazendeiro.

 

               Fraquezas e erros:

  • Quando contrariado, reagia com fúria.
  • Assumiu uma posição negativa mesmo quando uma possibilidade positiva lhe foi oferecida.
  • Foi o primeiro assassino.

 

               Lições de vida:

  • A raiva não é necessariamente um pecado, mas as atitudes motivadas por elas podem ser pecaminosas. A raiva deveria ser a energia por trás de uma boa ação, não uma ação maligna.
  • O que oferecemos a Deus (Yaohu) precisa ser de coração – o melhor do que somos e possuímos.
  • As consequências do pecado podem durar toda a vida.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Próximo ao Éden, provavelmente onde se encontram hoje o Iraque ou Irã.
  • Ocupação: Agricultor, depois peregrino.
  • Familiares: Pais – Adão e Eva; irmãos – Abel, sete e outros não mencionados.

 

               Versículo-chave:

  • “Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás” (Gn 4,7).

 

               A história de Caim encontra-se em Gênesis 4,1-17. Ele é também mencionado em Hebreus 11,4; 1 João 3,12 e Judas 1,1.

 

 

 

               NOÉ

               Pontos fortes e êxitos:

  • Único seguidor de Deus (Yaohu) que restou de sua geração.
  • Segundo pai da raça humana.
  • Homem de paciência, consistência e obediência.
  • Primeiro e mais importante construtor de barcos.

 

               Fraquezas e erros:

  • Ficou bêbado e desconcertado diante dos filhos.

 

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) é fiel para com os que lhe obedecem.
  • Deus(Yaohu) não nos protege sempre do problema, mas cuida de nós a despeito do problema.
  • A obediência é um compromisso em longo prazo.
  • O homem pode ser fiel, mas sua natureza pecaminosa sempre o acompanha.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Não sabemos a que distância do jardim do Éden as pessoas se estabeleceram.
  • Ocupações: Fazendeiro, construtor de barcos, pregador.
  • Familiares: Avô – Metusalém; pai – Lameque; filhos – Sem, Caim e jafé.

 

               Versículo-chave:

  • “Assim fez Noé; conforme tudo o que Deus (Yaohu) lhe mandou, assim o fez” (Gn 6,22).

 

               A história de Noé pode ser encontrada em Gênesis 5,28 – 10,32. Ele também é mencionado em 1 Crônicas 1,3.4; Isaías 54,9; Ezequiel 14,14.20; Mateus 24,37.38; Lucas 3,36; 17,26.27; Hebreus 11,7; 1 Pedro 3,20; 2 Pedro 2,5.

 

 

              

               Pontos fortes e êxitos:

  • Foi um homem de negócios bem-sucedido.
  • Pedro o chama de “justo” (2Pe 2,7.8).

 

               Fraquezas e erros:

  • Costumava fugir às decisões, e depois escolhia a saída mais fácil.
  • Ao receber opção de escolha, sua primeira reação era pensar em si mesmo.

 

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) requer de nós mais do que simplesmente seguir a vida; Ele deseja que sejamos uma influência para Ele.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: A princípio morou em Ur dos Caldeus e depois mudou-se para Canaã com Abraão. Por fim, mudou-se para a perversa cidade de Sodoma.
  • Ocupação: Rico fazendeiro de ovelhas e gado; uma autoridade na cidade.
  • Familiares: Pai – Harã. Adotado por Abraão quando seu pai morreu. O nome de sua esposa, que foi transformada em estátua de sal, não é mencionado.

 

               Versículo-chave:

  • “Ele, porém, demorava-se, e aqueles varões lhe pegavam pela mão, e pela mão de sua mulher, e pela mão de suas duas filhas, sendo-lhe o senhor misericordioso, e tiraram-no e puseram-no fora da cidade” (Gn 19,16).

 

               A história de Ló encontra-se em Gênesis 11 – 14; 19. Ele também é mencionado em Deuteronômio 2,9; Lucas 17,28-32; 2 Pedro 2,7.8.

 

 

               MELQUISEDEQUE

               Pontos fortes e êxitos:

  • Primeiro sacerdote das Escrituras – um líder com o coração voltado para Deus (Yaohu).
  • Hábil para encorajar as pessoas a servir a Deus (Yaohu) de todo o coração.
  • Um homem cujo caráter refletia seu amor por Deus (Yaohu).
  • Uma pessoa no Antigo Testamento que nos lembra Cristo, e a qual alguns realmente acreditam que era Cristo.

 

               Lições de vida:

  • Viva para Deus (Yaohu) e você  provavelmente estará no lugar certo e no momento certo. Examine seu coração: Para quem ou para que é a sua maior fidelidade? Caso sua resposta honesta seja Deus (Yaohu), você está vivendo para Ele.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Reinou em Salém, Local da futura Jerusalém.
  • Ocupações: Rei de Salém e sacerdote do Deus (Yaohu) Altíssimo.

 

               Versículo-chave:

  • “Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém e sacerdote do Deus (Yaohu) Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis; e o abençoou {…}. Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu o dízimo dos despojos” (Hb 7,1.4).

 

               A história de Melquisedeque pode ser encontrada em Gênesis 14,17-20. Ele é também mencionado em Salmos 110,4 e Hebreus 5 – 7.

 

 

               ISMAEL

               Pontos fortes e êxitos:

  • Um dos primeiros a experimentar o sinal físico do pacto de Deus (Yaohu), a circuncisão.
  • Conhecido por sua habilidade como arqueiro e caçador.
  • Pai de 12 filhos que se tornaram líderes de tribos guerreiras.

              

               Fraquezas e erros:

  • Não reconheceu o lugar de seu meio-irmão Isaque, e zombou dele.

 

               Lições de vida:

  • Os planos de Deus (Yaohu) incorporam os erros das pessoas.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Canaã e Egito.
  • Ocupações: Caçador, arqueiro e guerreiro.
  • Familiares: Pais – Agar e Abraão; meio-irmão – Isaque.

 

               Versículo-chave:

  • “E ouviu Deus (Yaohu) a voz do menino, e bradou o Anjo de Deus (Yaohu) a Agar desde os céus e disse-lhe: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus (Yaohu) ouviu a voz do rapaz desde o lugar onde está. Ergue-te, levanta o moço e pega-lhe pela mão, porque eu dele farei uma grande nação” (Gn 21,17.18).

 

               A história de Ismael pode ser encontrada em Gênesis 16 – 17; 21,8-20; 25,12-18; 28,8.9; 36,1-3. Ele também é mencionado em 1 Crônicas 1,28-31; Romanos 9,7-9; Gálatas 4,21-31.

 

 

 

               ABRAÃO

               Pontos fortes e êxitos:

  • Sua fé agradou a Deus (Yaohu).
  • Tornou-se o fundador da nação judaica.
  • Foi respeitado pelos outros e corajoso ao defender a família a qualquer preço.
  • Foi um pai cuidadoso não apenas para a sua família, mas praticou a hospitalidade para com outras pessoas.
  • Foi um fazendeiro bem-sucedido.
  • Tinha o costume de evitar conflitos, mas, quando estes eram inevitáveis, permitia que seu oponente estabelecesse as regras para a disputa.

 

               Fraqueza e erros:

  • Quando sob pressão, ele destorcia a verdade.

 

               Lições de vida:

  • Deus requer dependência, confiança e fé nEle, não fé em nossa habilidade de agradá-lo.
  • Desde o princípio, o plano de Deus (Yaohu) tem sido permitir que todas as pessoas o conheçam.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Nascido em Ur dos Caldeus, passou a maior parte da vida na terra de Canaã.
  • Ocupação: Rico e bem-sucedido criador de gado.
  • Familiares: Irmãos – Naor e Harã; pai – Tera; esposa – Sara; sobrinho – Ló; filhos – Ismael e Isaque.
  • Contemporâneos: Abimeleque e Melquisedeque.

 

               Versículo-chave:

  • “E creu ele no Messias, e foi-lhe imputado isto por justiça” (Gn 15,6).

 

               A história de Abraão pode ser encontrada em Gênesis 11 – 25. Ele é também mencionado em Êxodo 2,24; Mateus 1,1; Lucas 3,34; Atos7,2-8; Romanos 4; Gálatas 3; Hebreus 2,6.7.11.

 

 

 

               SARA

               Pontos fortes e êxitos:

  • Foi intensamente leal ao seu único filho.
  • Tornou-se mãe de uma nação e uma antecessora de Cristo.
  • Foi uma mulher de fé, a primeira citada na Galeria da Fé, em Hebreus 11.

 

               Fraquezas e erros:

  • Teve dificuldade em crer nas promessas de Deus (Yaohu) para a sua vida.
  • Tentou resolver os problemas por si mesma, sem consultar a Deus (Yaohu).
  • Tentou encobrir sua falhas culpando a outros.

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) responde à fé, mesmo em meio às falhas.
  • Deus (Yaohu) não se limita aos acontecimentos comuns; Ele pode alargar os limites e realizar proezas nunca antes vistas.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Casou-se com Abraão em Ur dos Caldeus, e depois mudou-se com ele para Canaã.
  • Ocupações: Esposa, mãe e administradora do lar.
  • Familiares: Pai – Tera; marido – Abraão; Meios-irmãos – Naor e Harã; sobrinho – Ló; filho – Isaque.

 

               Versículo-chave:

  • “Pela fé, também a mesma Sara recebeu a virtude de conceber e deu à luz já fora de idade; porquanto teve por fiel aquele que lho tinha prometido”.

 

               A história de Sara pode ser encontrada em Gênesis 11 – 25. Ela é também mencionada em Isaías 51,2; Romanos 4,19; 9,9; Hebreus 11,11; 1 Pedro 3,6.

 

 

 

               ISAQUE

               Pontos fortes e êxitos:

  • Nasceu miraculosamente da união de Abraão e Sara, quando estes tinham 100 e 90 anos respectivamente.
  • Foi o primeiro descendente no cumprimento da promessa de Deus (Yaohu) a Abraão.
  • Parece ter sido um marido cuidadoso e consistente, pelo menos até o nascimento de seus filhos.
  • Demonstrou grande paciência.

 

               Fraqueza e erros:

  • Costumava mentir quando era pressionado.
  • Praticou o favoritismo entre os filhos e alienou a esposa.

 

               Lições de vida:

  • A paciência sempre produz recompensas.
  • As promessas e os planos de Deus (Yaohu) são maiores que os das pessoas.
  • Deus (Yaohu) cumpre suas promessas! Ele permanece fiel embora nossa fé seja pequena.
  • Exercer favoritismo certamente produz conflitos familiares.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Vários lugares ao sul da Palestina, incluindo Berseba (Gn 26,23).
  • Ocupação: Rico criador de gado.
  • Familiares: Pais – Abraão e Sara; meio-irmão – Ismael; esposa – Rebeca; filhos – Jacó e Esaú.

 

               Versículo-chave:

  • “E disse Deus (Yaohu): Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque; e com ele estabelecerei o meu concerto, por concerto perpétuo para a sua semente depois dele” (Gn 17,19).

 

               A história de Isaque pode ser encontrada em Gênesis 17,15 – 35,29. Ele também é mencionado em Romanos 9,7 – 10; Hebreus 11,17 – 20 e Tiago 2,21.

 

 

               AGAR

               Pontos fortes e êxitos:

  • Mãe do primeiro filho de Abraão, Ismael, que tornou-se o fundador das nações árabes.

 

               Fraquezas e erros:

  • Ao deparar-se com problemas, Agar costumava fugir deles.
  • Sua gravidez suscitou fortes sentimentos de orgulho e arrogância.

 

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) é fiel a seus planos e promessas, mesmo quando as pessoas complicam o processo.
  • Deus (Yaohu) se revela como aquEle que nos conhece e deseja ser conhecido de nós.
  • O Novo Testamento utiliza Agar como símbolo dos que procuram o favor de Deus (Yaohu) através dos próprios esforços, ao invés de confiar em sua misericórdia e perdão.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Canaã e Egito.
  • Ocupações: Serva e mãe.
  • Familiares: Filho – Ismael.

 

               Versículo-chave:

  • “Então, lhe disse o Anjo do Messias: Torna-te para tua senhora e humilha-te debaixo de suas mãos” (Gn 16,9).

 

               A história de Agar pode ser encontrada em Gênesis 16,21. Ela também é mencionada em Gálatas 4,24.

 

 

 

               REBECA

               Pontos fortes e êxitos:

  • Ao enfrentar qualquer necessidade, imediatamente tomava uma  atitude.
  • Orientava-se pelas realizações.

 

               Fraquezas e erros:

  • Sua iniciativa nem sempre era equilibrada pela sabedoria.
  • Favoreceu um de seus filhos.
  • Enganou o marido.

 

               Lições de vida:

  • Nossas ações precisam se guiadas pela Palavra de Deus (Yaohu).
  • Deus (Yaohu) usa até os nossos erros ao cumprir seu plano.
  • O favoritismo paterno ou materno fere a família.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Harã e Canaã.
  • Ocupações: Esposa, mãe e administradora do lar.
  • Familiares: Avós – Naor e Milca; pai – Betuel; marido – Isaque, irmão – Labão; filhos gêmeos – Esaú e Jacó.

 

               Versículos-chave:

  • “E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe, Sara, e tomou a Rebeca, e esta foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim, Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe” (Gn 24,67). “E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto: mas Rebeca amava a Jacó” (Gn 25,28).

 

               A história de Rebeca pode ser encontrada em Gênesis 24 – 27. Ela é também mencionada em Romanos 9,10.

 

 

 

               ESAÚ

               Pontos fortes e êxitos:

  • Ancestral dos edomitas.
  • Conhecido por suas habilidades como arqueiro.
  • Apto a perdoar após uma explosão de fúria.

 

               Fraquezas e erros:

  • Ao enfrentar importantes decisões, costumava escolher baseado nas necessidades imediatas e não nos efeitos em longo prazo.
  • Endureceu os pais com as más escolhas de casamento.

 

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) permite certos acontecimentos em nossas vidas para que seus propósitos sejam cumpridos, mas ainda assim somos responsáveis por nossos atos.
  • É importante considerar as consequências.
  • É possível sentir muita raiva e não pecar.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Canaã.
  • Ocupação: Habilidoso caçador.
  • Familiares: Pais – Isaque e Rebeca; irmão – Jacó, esposas – Judite, Basemate e Maalate.

 

               Versículo-chave:

  • “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá a Yaohu, tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus (Yaohu), e de que nenhuma raiz da amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. E ninguém seja fornicador ou profano, como Esaú, que por um manjar, vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrima, o buscou” (Hb 12,14-17).

 

               A história de Esaú pode ser encontrada em Gênesis 25 – 36. Ele também é mencionado em Malaquias 1,2.3; Romanos 9,13; Hebreus 12,16.17.

 

               JACÓ

               Pontos fortes e êxitos:

  • Pai das 12 tribos de Israel.
  • Terceiro na linhagem abraâmica do plano de Deus (Yaohu).
  • Determinado, era disposto a trabalhar muito pelo que desejava.
  • Bom homem de negócios.

 

               Fraquezas e erros:

  • Ao enfrentar conflitos, confiava em seus próprios recursos ao invés de buscar ajuda em Deus (Yaohu).
  • Tendia a acumular riquezas para seu próprio bem.

 

               Lições de vida:

  • A segurança não está no acúmulo de bens.
  • Todas as atitudes e intenções humanas – para o bem ou para o mal – são tecidas por Deus (Yaohu) no decurso de seu  plano.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Canaã.
  • Ocupações: Pastor e proprietário de gado.
  • Familiares: Pais – Isaque e Rebeca; irmão – Esaú; sogro – Labão; esposas – Raquel e Léia; doze filhos e uma filha são mencionados na Bíblia.

 

               Versículo-chave:

  • “E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito” (Gn 28,15).

 

               A história de Jacó pode ser encontrada em Gênesis 25 – 50. Ele é também mencionado em Oséias 12,2-5; Mateus 1,2; 22.32; Atos 7,8-16; Romanos 9,11-13; Hebreus 11,9.20.21.

 

 

 

               RAQUEL

               Pontos fortes e êxitos:

  • Demonstrou grande lealdade a sua família.
  • Deu à luz José e Benjamim após anos de infertilidade.

 

               Fraquezas e erros:

  • Sua inveja e competitividade atrapalharam o relacionamento com sua irmã, Léia.
  • Era capaz de ser desonesta quando sua lealdade ia muito longe.
  • Não reconheceu que o amor de Jacó era independente de sua capacidade de ter filhos.

 

               Lições de vida:

  • A fidelidade deve ser controlada pelo que é justo e certo.
  • O amor é aceitado, não merecido.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Harã.
  • Ocupações: Pastora de ovelhas, esposa, mãe e dona de casa.
  • Familiares: Pai – Labão; tia – Rebeca; irmã – Léia; marido – Jacó; filhos – José e Benjamim.

 

               Versículo-chave:

  • “Assim, serviu Jacó sete anos por Raquel; e foram aos seus olhos como poucos dias, pelo muito que a amava” (Gn 29,20).

 

               A história de Raquel pode ser lida em Gênesis 29 – 35.20. Ela é também mencionada em Rute 4,11.

 

 

 

               LABÃO

               Pontos fortes e êxitos:

  • Controlou duas gerações de casamentos na família abraâmica (Rebeca, Léia e Raquel).
  • Esperto.

 

               Fraquezas e erros:

  • Manipulava as pessoas em benefício próprio.
  • Não conseguia admitir os erros.
  • Beneficiou-se financeiramente ao usar Jacó, mas nunca foi beneficiado espiritualmente de modo completo ao conhecer e adorar o Deus (Yaohu) de Jacó.

 

               Lições de vida:

  • Os que costumam usar as pessoas acabam sendo usados por outros.
  • O plano de Deus (Yaohu) não pode ser impedido.

               Informações essenciais:

  • Local: Harã.
  • Ocupação: Rico criador de ovelhas.
  • Familiares: Pai – Betuel; irmã – Rebeca; cunhado – Isaque; filhas Raquel e Léia; genro – Jacó.

 

               Versículo-chave:

  • “Se o Deus de Meu pai, o Deus (Yaohu) de Abraão e o Temor de Isaque, não fora comigo, por certo me enviarias agora vazio. Deus (Yaohu) atendeu à minha aflição e ao trabalho das minhas mãos e repreendeu-te ontem à noite” (Gn 31,42).

 

               A história de Labão pode ser encontrada em Gênesis 24,1 – 31.55.

 

 

 

               JOSÉ

               Pontos fortes e êxitos:

  • Saiu com poder da escravidão para governar o Egito.
  • Ficou conhecido por sua integridade pessoal.
  • Foi um homem de sensibilidade espiritual.
  • Preparou uma nação para sobreviver a fome.

 

               Fraquezas e erros:

  • O orgulho juvenil provocou o atrito com seus irmãos.

 

               Lições de vida:

  • O importante não são apenas os acontecimentos ou as circunstâncias da vida, mas é a atitude com relação a eles.
  • Com a ajuda de Deus (Yaohu), qualquer situação pode ser usada para o bem, mesmo quando as pessoas deseja utilizá-la para o mal.

               Informações gerais:

  • Locais: Canaã e Egito.
  • Ocupações: Pastor de ovelhas, escravo, prisioneiro e governador.
  • Familiares: Pais – Jacó e Raquel; onze irmãos e uma irmã; esposa – Asenate; filhos – Manassés e Efraim.

 

               Versículo-chave:

  • “E disse Faraó aos seus servos: Acharemos um varão como este em quem haja o Espírito de Deus (Yaohu)” (Gn 41,38).

 

               A história de José pode ser encontrada em Gênesis 30 – 50. Ele é também mencionado em Hebreus 11,22.

 

 

 

               RUBÉN

               Pontos fortes e êxitos:

  • Salvou a vida de José conversando com os outros irmãos sobre assassinato.
  • Demonstrou grande amor por seu pai ao oferecer os próprios filhos como garantia de que a vida de Benjamim estaria a salvo.

               Fraquezas e erros:

  • Cedia rapidamente a pressões de grupo.
  • Não protegeu José de seus irmãos diretamente, embora tivesse autoridade para fazê-lo, como filho mais velho.
  • Dormiu com uma das esposas de seu pai.

 

               Lições de vida:

  • A integridade em público ou em particular precisa ser a mesma, se não uma destruirá a outra.
  • A punição para o pecado pode não ser imediata, mas é certa.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Canaã.
  • Ocupação: Pastor de ovelhas.
  • Familiares: Pais – Jacó e Léia; sete irmãos e uma irmã.

 

               Versículo-chave:

  • “Rubén, tu é meu primogênito, minha força e o princípio de meu vigor, o mais excelente em alteza e o mais excelente em poder. Inconstante como a água, não serás o mais excelente, porquanto subsiste ao leito de teu pai. Então, o contaminaste; subiste à minha cama” (Gn 49,3.4).

 

               A história de Rubén pode ser encontrada em Gênesis 29 – 50.

 

 

 

               JUDÁ

               Pontos fortes e êxitos:

  • Foi um líder natural, franco e decidido.
  • Pensou com clareza e agiu em meio a situações de grande pressão.
  • Mantinha a palavra e permanecia firme.
  • Era o quarto de 12 filhos, e através dele Deus (Yaohu) traria Davi e Cristo, o Messias.

 

               Fraquezas e erros:

  • Sugeriu a seus irmão que vendessem José como escravo.
  • Não manteve sua promessa para com a nora, Tamar.

 

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) está no controle, muito além da situação imediata.
  • A procrastinação costuma agravar os problemas.
  • A atitude de Judá de oferecer a sua vida em troca de Benjamim é um exemplo do que seu descendente, o Messias, faria por todas as pessoas.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Canaã e Egito.
  • Ocupação: Pastor de ovelhas.
  • Familiares: Pais – Jacó e Léia; esposa – A filha de Sua (1Cr 2,3); nora – Tamar. Onze irmãos, pelo menos uma irmã e cinco filhos.

 

               Versículo-chave:

  • “Judá, a ti te louvarão os teus irmãos, a tua mão estará sobre o pescoço de seus inimigos; os filhos de teu pai a ti se inclinarão. Judá é um leãozinho; da presa subsiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como um leão e como um leão velho; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos” (Gn 49,8-10).

 

               A história de Judá pode ser encontrada em Gênesis 29,35 – 50.26. Ele é também mencionado em 1 Crônicas 2 – 4.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ÊXODO

 

INTRODUÇÃO

 

 

               Visão Geral

              

               Autor: Moisés.

               Propósito: Confirmar a autoridade divina da liderança de Moisés e da aliança da lei, bem como das regras para a adoração.

               Data: c. 1446-1406 a.C.

               Verdades fundamentais:

               - O Messias deu autoridade a Moisés como líder de Israel para trazer a bênção da libertação do Egito.

               - As leis da aliança dadas por meio de Moisés foram divinamente autorizadas para levar bênçãos ao povo de Deus (Yaohu).

               - As regulamentações de Moisés para a adoração no tabernáculo foram divinamente ordenadas para trazer bênçãos ao povo de Deus (Yaohu).

 

 

               Propósito e características

 

               O livro de êxodo tem vários temas importantes. O primeiro conta como o Messias libertou o povo de Israel do Egito para cumprir a aliança com os patriarcas. O segundo tema importante do livro é a revelação da aliança no Sinai. O terceiro é um resultado dos dois primeiros: o estabelecimento do tabernáculo com a morada de Deus (Yaohu) com os israelitas. Cada um desses temas apresenta um triunfo da graça de Deus (Yaohu). Ao libertar o seu povo, o verdadeiro Deus (Yaohu) julgou os deuses e os governantes do Egito, falou aos homens no Sinai e manifestou a sua presença no tabernáculo, o qual ele havia instruído o povo a construir. O desdobramento desses temas também revela a santidade e a graça do Messias na sua lei da aliança e no simbolismo cerimonial da vida e do culto de Israel.

 

 

               Cristo em Êxodo:

 

               Os cristãos podem aprender a respeito de Cristo ao longo de todo o livro de Êxodo de várias maneiras. Em primeiro lugar, numa escala maior, a maneira pela qual os israelitas foram libertos da dura escrevidão no Egito para a Terra Prometida de bênçãos divinas apresenta uma importante metáfora da obra da salvação de Deus (Yaohu) através da História. Deus (Yaohu) redimiu o seu povo escolhido dos poderes do mal do qual eles haviam se tornado escravos, julgou esses poderes e reivindicou o seu povo como o seu primogênito, a nação santa de sacerdotes em meio à qual ele habitou pelo seu Espírito. O modelo da divina vitória sobre os inimigos, o estabelecimento de um lugar para habitação divina e a abundância de bênçãos encontram a sua maior realização na primeira e na segunda vindas de Cristo (p. ex., 1Co 10,1-13; Ef 2,14-22; Ap 20,11 – 22,5).

               Em segundo lugar, o tabernáculo e seus serviços apontavam para Cristo. Em termos gerais, assim como o tabernáculo era o local da presença acessível de Deus (Yaohu) na terra, o Messias “habitou” (lit., “tabernaculou”) entre nós (Jo 1,14.17). Além disso, a provisão de animais sacrificiais como solução temporária para o pecado de Israel antecipou o sacrifício da morte de Cristo no qual o pecado foi punido de uma vez para sempre (24,8; Mt 26,27-28; Jo 1,29; Hb 12,24; 1Pe 1,2). Assim, o importante acontecimento da Páscoa é cumprido em Cristo (1Co 5,7).

               O papel principal que Moisés representou nesse livro também aponta para Cristo. Assim como os israelitas foram “batizados... com respeito a Moisés” (1Co 10,2), quando conduzidos através do mar Vermelho, os cristãos são batizados em Cristo. Moisés foi o grande servo do Messias que recebeu as palavras de Deus (Yaohu) diretamente dele. O Evangelho de Mateus, em especial, apresenta o Messias como aquele que enfrentou o seu próprio êxodo (Mt 2,14-15), ensinou a lei de Deus (Yaohu) num monte (Mt 5,1) e ficou lado a lado com Moisés no monte da transfiguração (Mt 17). Assim como Moisés estava disposto a morrer pelo bem de seu povo (32,10), Cristo serviu de substituto para o seu povo. A glória de Deus (Yaohu) que se refletiu na face de Moisés (34,29; 2Co 3,7) é agora refletida naqueles transformados pelo Espírito de Cristo (2Co 3,18).

 

 

               Êxodo. A introdução ao Pentateuco mostrou como foram compostos os cinco livros da Torá e o que eles representavam para a fé de Israel. O Êxodo, segundo livro do Pentateuco, é, por vezes, chamado “Evangelho do Antigo Testamento”: como um evangelho, o Êxodo anuncia a “boa nova” fundamental da intervenção de Deus (Yaohu) na existência de um grupo de pessoas (4,31), a fim de fazê-las nascer para a liberdade e congregá-las em uma nação santa (19,4-6).

               Para entrar no pensamento do livro, é preciso lembrar o que a saída do Egito significava para Israel.

  1. A saída do Egito sempre foi considerada por Israel como um momento singular de sua história, acontecimento situado num plano diferente dos outros. É, na verdade, o evento criador de Israel, do qual dependerá toda a vida subsequente e ao qual inúmeras instituições, ritos e crenças deverão se referir; é também o evento ao qual, por sua vez, se reportarão as grandes esperanças nacionais. De fato, a rememoração da saída do Egito foi tão decisiva que passou o predominar sobre outros acontecimentos que, no plano estritamente histórico, tiveram a mesma influência sobre a vida do povo: a entrada em Canaã sob Josué e a progressiva tomada de consciência da unidade das doze tribos (Js 24), a instauração da realeza e a constituição de um Estado palestino sob Davi, bem como o exílio e a transformação de Israel em comunidade dispersa. Por mais importantes que tenham sido, esses fatos da história de Israel nunca suplantaram o acontecimento da saída do Egito e do tempo passado no deserto. Muito ao contrário, toda a reflexão teológica e histórica de Israel tem sido iluminada pelo “êxodo”. Foi, de fato, a época da juventude de um povo que Deus (Yaohu) tomou sob seus cuidados (Os 11,1-4; Dt 8,11-16), mas que logo manifestou suas primeiras revoltas (Êx 14 - 17). A quem procurasse compreender o sentido desta ou daquela instituição, o ponto de referência era muitas vezes oferecido pelos acontecimentos do Êxodo. Qual a razão de ser da Páscoa (12,26), da festa dos Pães sem fermento (13,8 e 12,39) ou da apresentação do primogênito (13,14-15)?  A resposta não é: trata-se de um costume da terra onde moramos, mas: é uma recordação do que aconteceu por ocasião da saída do Egito. Outro exemplo: por que respeitar e ajudar os “imigrantes?”. Não é justamente porque nossa experiência em terra egípcia nos ensinou o que é a vida deles (22,20; 23,9)? Em suma, esse acontecimento tão importante, capaz de animar, através dos séculos, as instituições, ritos e leis de um povo, deve realmente ser considerado como o nascimento deste povo.
  2. Além de ser o nascimento, o êxodo também foi para Israel o tempo privilegiado do encontro com Deus (Yaohu). A linguagem “miraculosa” do livro do Êxodo (cf. As “pragas” ou a “passagem do mar”) não deve enganar o leitor moderno, dando-lhe a impressão de estar diante de uma teologia ingênua, isto é, diante de uma teologia que concebesse a intervenção de Deus (Yaohu) como um evento necessariamente estrondoso e de adesão obrigatória. Lendo o livro com atenção, percebemos que é perpassado por uma série de questões essenciais, ou seja, de contestações. Será que vão acreditar (4,1; 6,9; 14,31)? O Messias está ou não no meio de nós (17,7)?  Qual é seu nome (3,13-15)? [“Neste parágrafo, em:”Glossário resumido,” colocarei mais informações do nome PRÓPRIO – PESSOAL DE DEUS – YHWH.]. É possível vê-lo (33,18-23)? Por que Moisés nos arrasta a esta aventura perigosa e fatal (14,11; 16,3; 17,3; 32,1)? A essas questões e dúvidas, o livro dá a resposta da fé do povo de Israel. Esta fé amadureceu incessantemente no decurso dos séculos, até a elaboração final do livro do Êxodo (cf. A Introdução ao Pentateuco). Desde o dia em que Moisés deu a conhecer ao seu povo o Deus (YAOHU) único a ser cultuado, o Deus (YAOHU) da Aliança, Israel meditou longamente sobre o evento primeiro de sua existência nacional: este êxodo e esta aliança. Compreendeu que Deus (YAOHU) interveio na história (cf. As pequenas “confissões de fé” em 13,9.16). Compreendeu quem era esse Deus (YAOHU), que havia suscitado e guiado a caminhada do povo, e qual era o seu nome. O MESSIAS, o Deus (YAOHU) de Moisés e de Israel, é aquele que, sendo fiel a uma esperança por ele mesmo suscitada, respondeu ao grito de homens insatisfeitos e reduzidos à servidão (2,2-25). É aquele que, ao final, foi capaz de vencer todas as resistência (cf. 7-11), encaminhando o seu povo para a liberdade (a tal ponto que a expressão Aquele que nos fez sair da terra do Egito tornou-se um de seus títulos principais, QUASE O SEU NOME). Desejando reunir a humanidade num povo que fosse o seu povo, ofereceu-lhe  uma aliança e pediu-lhe que agisse de acordo com ela (19 – 24). Revelou sua paciência e sua misericórdia a um povo pecador (32 – 34). Tornou-se, enfim, presente junto ao povo pela mediação de Moisés, o profeta (33,7-11; 34,29-35), e mediante a liturgia celebrada pelo sacerdote Aarão no santuário legítimo (25,8; 40,34-35).
  3. Assim, a saída do Egito não é apenas um acontecimento de outrora, mas uma realidade sempre viva. Tanto o Sl 114 como Js 4,22-24 reuniam na mesma celebração a passagem do mar realizada com Moisés e a do Jordão com Josué. O Sl 81 convidava a comunidade reunida “no dia da festa” a ouvir melhor do que os seus antepassados a voz que tinha ressoado por ocasião dos acontecimentos do Êxodo, e o Sl 95 acentuava que esta vós estava falando hoje. Na verdade, conforme o Sl 111,4, o Messias (Yaohushua). [BEM, COMO ESTAMOS EM “ÊXODO” - E, FOI ISSO QUE O MESSIAS FEZ POR NÓS – NOS LIBERTAR; DECIDI EM MINHA APOSTILA – DE QUE QUANDO VIR O NOME 'SENHOR' – QUE É UMA FORMA TRANSLITERADA “ERRÔNEAMENTE” DO TETRAGRAMA {“YHWH”}, PARA O PORTUGUÊS, QUANDO ENTRARAM AS VOGAIS {A,E}; VOU SIMPLESMENTE COLOCAR A FORMA CERTA, OU SEJA : “LÊ-SE” – YAOHU. 'VERIFICAR: GLOSSÁRIO' – PARA “INFORMAÇÕES ADICIONAIS!”.]. ANSELMO ESTEVAN. [Sl 114,4] - “Yaohu benevolente e misericordioso (cf. Êx 34,6) quis que seus milagres fossem lembrados”. Com suas festas litúrgicas, Israel tem, por conseguinte, o ensejo de participar plenamente da libertação pascal e de entrar incessantemente na aliança inaugurada no Sinai. Desse modo, a liturgia dava a cada um a possibilidade de reviver periodicamente os acontecimentos da saída do Egito. Além disso, Israel olhou para o passado de modo ainda mais intenso por ocasião das grandes crises que abalaram a comunidade. Lembremos, por exemplo, a peregrinação feita pelo profeta Elias ao monte Horeb, às fontes da fé israelita (1Rs 19), na época da crise cananéia, que, no tempo de Acab, conseguiu levar o reino do norte à apostasia. Da mesma forma, depois de Jeremias (Jr 31,31-34) e de Ezequiel (Ez 16,59-63; 37,20-28), que haviam anunciado uma nova aliança, o Segundo Isaías proclamava que tinha chegado o tempo de um novo Êxodo (Is 43,16-21): a libertação maravilhosa de uma terra de cativeiro (Is 48,20-22; 49) viria ainda mais maravilhosamente acompanhada por uma libertação dos pecados (Is 40,2; 44,21-22) e por um apelo a que todas as nações se voltassem para aquele que, tendo salvado Israel, é capaz de salvar a todos (Is 45,4-25). Portanto, para ler o livro de Êxodo, é preciso estar lembrado de que, na elaboração progressiva do texto, Israel foi guiado por sua fé. “Em cada geração, cada qual deve considerar-se como tendo ele mesmo saído do Egito”, dirá mais tarde o ritual judaico da Páscoa (cf. 13,8 nota).
  4. Como livro de um povo a caminho, o Êxodo não é um livro acabado. Sendo um testemunho prestado à intervenção salvífica de Deus (Yaohu) na história dos homens, alimenta a esperança de uma liberdade mais fundamental e mais definitiva. Nessa perspectiva, os autores do Novo Testamento consideravam a salvação trazida por Cristo como um cumprimento do êxodo de Israel. E para exprimir a novidade da experiência cristã foi justamente utilizado a linguagem do Êxodo, aliás, tal como ele era reinterpretado pelo judaísmo na era cristã. A última ceia de Cristo, sua morte e sua glorificação foram compreendidas como sendo a sua Páscoa (Lc 22,14-20; Jo 13,1-3; 19,36). Outros textos (Jo 6; 1Co 5,7; 10,2-4) utilizam os conceitos maná, nuvem, travessia do mar, água do rochedo, páscoa, pão sem fermento para falar do batismo. O Apocalipse celebra Cristo como o Cordeiro pascal (Ap 5,6); no mesmo livro, os flagelos que se abatem sobre os adoradores da Besta são retomados das pragas do Egito (Ap 15,5-21); e os que participavam do triunfo de Cristo sobre a Besta cantam novamente o cântico de Moisés (Ap 15,3); enfim, para descrever o surgimento do mundo novo, alude-se a um desaparecimento do mar (Ap 21,1). Todos os temas de uma leitura cristã do Êxodo foram abundantemente explorados pelos Pais da Igreja – aliás, menos em comentários contínuos do que em homilias pascais. Tudo isso explica a presença difusa dos temas do Êxodo na liturgia cristã. Sem pretender fazer um levantamento completo, mencionamos apenas a leitura da travessia do mar e o canto do hino de Moisés (Êx 14-15), retomados na noite da Páscoa tanto na liturgia bizantina como na liturgia romana; ou então o lugar do decálogo no culto e na catequese das Igrejas.
  5. O fato de o livro do Êxodo ter sido escrito para exprimir a fé do povo de Israel não significa que ele esteja baseado em fatos imaginários. Confrontando os dados da tradição bíblica com os dados agora melhor conhecidos da história do antigo Oriente Médio, percebemos que os estudos históricos não foram feitos em vão. Quanto a Moisés, hesitava-se em situá-lo entre o século XV (18º dinastia, especialmente no reinado de Tutmés/Tutmósis III) e o século XIII (19º dinastia: nos reinados de Seti I, Ramsés II ou Merneptá). Embora admitindo que a dominação egípcia da 18º dinastia pode ter deixado vestígios na narração “javista”, historiadores geralmente mantêm a assim chamada cronologia “curta” (Êxodo no século XIII). No contexto político da região e da época, podemos representar-nos os fatos da seguinte maneira:

               No século XVI, o Novo Império egípcio expulsa os invasores hicsos, que cento e cinquenta anos antes vieram da Ásia. No século XV, especialmente com Tutmés III, o Egito fortaleceu a sua dominação sobre os países cananeus. O século XIV foi marcado por um enfraquecimento do Egito, que passa pela crise religiosa dita de El-Amarna (Amenófis IV, Tutankamon); seus vassalos cananeus estão sob a ameaça do crescente poderio hitita e da agitação fomentada por uma população de migrantes turbulentos chamados habiru pelos textos antigos. Par restabelecer a ordem, um general, Horemheb, funda a 19ª dinastia (século XIII), que instala sua capital no delta do Nilo, empreende a fortificação da costa do Mediterrâneo e, com Ramsés II, vê-se obrigado a enfrentar o poderio hitita. Foi nessa época – supõe-se – que os egípcios utilizarem mão-de-obra semita, encontrada na região e cujas intenções, aliás, deixaram preocupada a administração. No entanto, Moisés (que talvez tenha sido formado, como outros semitas, para o serviço da política asiática de Faraó) conseguiu levar seus irmãos de raça para o deserto e organizar sua vida religiosa, esperando que esta gente, pertencente sobretudo à “casa de José” (tribos de Efraim e de Manassés) e à “casa de Levi”, entrasse em Canaã sob Josué. Aí, outras tribos vão se unir a eles e ao “Deus (Yaohu) que fez subir o seu povo da casa da escravidão”.

Foi este o quadro humano em que Deus (Yaohu) interveio para revelar a um povo de migrantes o desígnio de fazer deles a sua propriedade pessoal, um reino de sacerdotes e uma nação santa (19,5-6). Enfim, é aí que se inicia o congraçamento de todos os homens na aliança de Yaohu.

 

 

 

 

PRINCIPAIS 'PERSONAGENS' – DO “ÊXODO”:

 

               MOISÉS

               Pontos fortes e êxitos:

  • Educação egípcia; treinamento no deserto.
  • Maior líder judeu. Promoveu o êxodo.
  • Profeta e legislador; entregou os Dez Mandamentos ao povo.
  • Autor do Pentateuco.

 

               Fraquezas e erros:

  • Não entrou na Terra Prometida em razão de sua desobediência a Deus (Yaohu).
  • Nem sempre reconheceu e usou os talentos de outros.

 

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) prepara, e então usa. Seu tempo oportuno dura por toda a vida.
  • Deus (Yaohu) realiza seu maior trabalho através de pessoas frágeis.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Egito, Midiã, deserto do Sinai.
  • Ocupação: Príncipe, pastor de ovelhas, líder dos israelitas.
  • Familiares: irmã – Miriã; irmão – Arão; esposa – Zipora; filhos – Gérson e Eliézer.

 

               Versículos-chave:

  • “Pela fé, Moisés, sendo já grande recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado” (Hb 11,24.25).

 

               A história de Moisés pode ser encontrada nos livros de Êxodo a Deuteronômio. Ele também é mencionado em Atos 7,20-44; Hebreus 11,23-29.

 

 

 

               JETRO

               Pontos fortes:

  • Como sogro de Moisés, reconheceu o verdadeiro e único Deus (YHWH).
  • Era um apaziguador e organizador prático.

 

               Lições de vida:

  • Supervisão e administração são esforços de equipe.
  • O plano de Deus (Yaohu) inclui todas as nações.

               Informações essenciais:

  • Locais: Terra de Midiã e deserto do Sinai.
  • Ocupações: Pastor de ovelhas e sacerdote.
  • Familiares: Filha – Zipora; genro – Moisés; filho – Hobabe.

 

               Versículo-chave:

  • “E alegrou-se Jetro de todo o bem que Yaohu tinha feito a Israel, livrando-o da mão dos egípcios” (Êx 18,9).

 

 

 

               ARÃO

               Pontos fortes e êxitos:

  • Primeiro sumo sacerdote de Deus (Yaohu) em Israel.
  • Comunicador eficiente; porta-voz de Moisés.

 

               Fraquezas e erros:

  • Personalidade flexível, cedeu ao pedido do povo e fez um bezerro de ouro.
  • Uniu-se a Moisés em desobedecer à ordem de Deus (Yaohu) quanto a tirar água da rocha.
  • Juntamente com Miriã, reclamou contra Moisés.

 

               Lições de vida:

  • Deus (Yaohu) concede às pessoas habilidades especiais e as usa em conjunto para fazer a sua vontade.
  • As mesmas habilidades que fazem do individuo um bom membro de equipe podem torná-lo um mau líder.

 

               Informações essenciais:

  • Locais: Egito e deserto do Sinai.
  • Ocupação: Pastor; o segundo no comando depois de Moisés.
  • Familiares: Irmão – Moisés; irmã – Miriã; filhos – Nadabe, abiú, Eleazar e Itamar.

 

               Versículos-chave:

  • “Então, se acendeu a ira de Yaohu contra Moisés, e disse: Não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele falará muito bem; e eis que ele também sai ao teu encontro, e, vendo-te alegrará em seu coração. E tu lhe falarás e porás as palavras na sua boca; e eu serei com a tua boca e com a sua boca, ensinando-vos o que haveis de fazer. E ele falará por ti ao povo; e acontecerá que ele te será por boca e tu lhe serás por Deus (Yaohu)” (Êx 4,14-16).

 

               A história de Arão é encontrada nos livros do Êxodo a Deuteronômio 10,6. Ele também é mencionado em Hebreus 7,11.

 

 

              

 

 

              

 

 

 

 

 

LEVÍTICO

 

INTRODUÇÃO

 

 

               Visão Geral

 

               Autor: Moisés.

               Propósito: Conduzir os israelitas nos caminhos da santidade para que eles se mantivessem separados do mundo e recebessem bênçãos em vez de julgamento, enquanto vivessem nas proximidades da presença especial de seu Deus santo. (Yaohu).

               Data: c. 1446-1406 a.C.

               Verdades fundamentais:

  • Deus (Yaohu) é santo e exige santidade do seu povo.
  • O povo de Deus (Yaohu) não conseguia cumprir perfeitamente as exigências de santidade, mas podia obter expiação temporária por meio do sistema sacrificial.
  • Deus (Yaohu) chamou o seu povo para buscar a santidade em todos os aspectos da vida em gratidão pela misericórdia que ele havia demonstrado para com eles.
  • Deus (Yaohu) ofereceu bênçãos maravilhosas e ameaçou trazer julgamento caso o seu povo não se arrependesse e se comprometesse com ele.

 

               Público original

               Levítico, a forma latina do título grego do livro, significa “acerca dos levitas”. Levi era a tribo de origem dos sacerdotes e cabia aos levitas manter o culto em Israel. O título é apropriado, uma vez que o livro trata principalmente do culto e do que era próprio para ele. No entanto, não é dirigido apenas aos levitas, mas também aos israelitas leigos, dizendo-lhes como oferecer sacrifícios e como ser puro, um requisito para entrar na presença de Deus (Yaohu) em adoração.

 

               Propósito e características

               Talvez nenhum outro livro do Antigo Testamento seja tão desafiador para o leitor moderno quanto Levítico, sendo necessário exercitar a imaginação para visualizar as cerimônias e os ritos que constituem grande parte do livro. No entanto, é importante entender os rituais de Levítico por dois motivos. Em primeiro lugar, de modo geral, os rituais preservam, expressam e ensinam os valores e os ideais mais preciosos de uma sociedade. Embora os vários aspectos dos rituais de Levítico pareçam obscuros para os leitores modernos, os israelitas do Antigo Testamento sabiam o motivo pelo qual determinados sacrifícios eram oferecidos em ocasiões específicas e que certos gestos significavam.

 

 

               Cristo em Levítico:

               Por meio de seus símbolos e ritos, Levítico apresenta uma descrição do caráter de Deus (Yaohu) que é pressuposta e aprofundada na mensagem do Novo Testamento sobre Cristo. Esse livro ensina que Deus (Yaohu) é a fonte da vida perfeita, que ele ama o seu povo e quer habitar no meio dele. Vemos nisso uma prefiguração da encarnação, na qual “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Levítico também mostra claramente a pecaminosidade humana: Tão logo os filhos de Arão haviam sido ordenados, eles profanaram o seu ofício sacerdotal e morreram, numa demonstração terrível de julgamento divino (cap,10). Aqueles que sofriam de doença de pele e fluxo, bem como aqueles que possuíam imperfeições morais, eram proibidos de participar do culto, pois suas imperfeições eram incompatíveis com o Deus (Yaohu) santo e perfeito (cap, 12 – 15). Por meio desse simbolo, Levítico ensina a universalidade do pecado humano, uma doutrina afirmada também por Cristo (Mc 7,21-23) e Paulo (Rm 3,23). Preso entre a santidade divina e a pecaminosidade humana, a maior necessidade do ser humano é receber expiação. É nesse ponto que o livro mostra mais instrutivo para o cristão, pois seus conceitos se cumprem na obra expiatória de Cristo. Ele é o Cordeiro sacrifical perfeito que tira o pecado do mundo (1,10; 4,32; Jo 1,29). Sua morte é o resgate por muitos (Mc 10,45) e o seu sangue purifica de todo pecado (4; Hb 9,13-14; 1Jo 1,7). Acima de tudo, Cristo é o sumo sacerdote perfeito que entra, não no tabernáculo terreno uma vez por ano no Dia da Expiação (Lv 16), mas no templo celestial para sempre. Cristo não ofereceu um mero bode pelos pecados de seu povo, mas sim, a sua própria vida (Hb 9 – 10). Quando o véu do templo se rasgou na crucificação de Cristo, ficou claro que sua morte ABRIU O CAMINHO PARA DEUS – YAOHU DE MODO QUE TODOS QUE CRESSEM TIVESSEM UM ACESSO MAIS PLENO (Mt 27,51; Hb 10,20). [POR ISSO, QUE É MUITO IMPORTANTE, SABER O NOME DESSE “DEUS” - NÃO UM TÍTULO SOMENTE OU PIOR, QUALQUER “deus”? MAS SIM O ÚNICO QUE SALVA YAOHU]. Além do mais, enquanto Levítico se concentra na importância de manter Israel separado dos povos vizinhos, o Novo Testamento abre o reino PARA TODAS AS NAÇÕES e desse modo, revoga a observância das leis alimentares (Mc 7; At 10) sem, no enanto, abrir mão dos princípios morais simbolizados nas mesmas (Jo 17,16; 2Co 6,14 – 7,1). O Deus (Yaohwh) santo de Levítico é mostrado nos Evangelhos como sendo CRISTO, que oferece vida, saúde e santidade a todos os que estão dispostos a segui-lo.

               Sito as palavras de Paulo:

               “Atos 17,23”: Porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio. (YHWH –  “Yaohu” - o Nome pessoal de “EL-ULHIM” = DEUS NO PLURAL = YAOHU UL.).              

 

 

 

               Levítico. (LUGAR E FUNÇÃO DO LIVRO):

 

               O livro de Êxodo termina com a construção da Tenda do Encontro (40,16-33), que Yaohu imediatamente legitima, vindo instalar-se nela na nuvem (40,34-38).

               As primeiras palavras do Levítico exprimem a seu modo esta legitimação: enquanto no Êxodo  Yaohu falava a Moisés sobretudo no cume do Sinai, agora é “da tenda da reunião” que o faz (1,1).

               Nos 27 capítulos deste livro, Deus (Yaohu) transmite a seu povo “suas leis e seus costumes”, pois “é pondo-os em prática que o homem tem a vida” (18,5). Em suma, vai explicar-lhes o bom uso dessa “tenda”, para que seja verdadeiramente um lugar de “encontro”: não aconteça que um erro ritual (1 – 10), uma impureza física (11 – 16) ou uma infidelidade moral (17 – 26) cause obstáculo a essa comunhão. Por isso tudo é descrito com tanta minucia.

               Contudo, o Levítico não apresenta senão certos aspectos do culto israelita. É talvez no saltério que se devam procurar as orações e os cantos que acompanhavam os ritos. São sobretudo os profetas (p. ex. Jr 7,3-11; Os 6,6) que lembra a Israel que a execução dos ritos não basta para proporcionar a salvação. Mas o que o Levítico quer fazer penetrar na consciência dos fiéis, e isto com uma insistência incansável, é que a comunhão com o Deus (Yahu) vivo é a verdade última do homem!

 

               Levítico. (DATAÇÃO, ORIGEM E CONTEÚDO DO LIVRO):

 

               O texto, no seu estado atual e canônico, é de redação pós-exílica, embora reúna em um todo relativamente coerente elementos de origens diversas, alguns dos quais podem remontar a uma alta antiguidade. Na época em que o poder político do sacerdócio vai aumentando, já que não existe mais rei, e o profetismo está em vias de desaparecimento, os sacerdotes de Jerusalém reuniram e completaram, para as necessidades do Segundo Templo, diversas coleções de leis e de rituais.

               Numa primeira seção (1 – 7), apresentam-se as diversas categorias de sacrifícios que o israelita pode (ou deve) oferecer a Deus (Yaohu), em certas circunstâncias. Não se trata de uma iniciação para o uso dos profanos, mas da codificação, para os iniciados, dos rituais, numa espécie de livro de referência. Em particular, nada se diz sobre a origem ou a significação dos sacrifícios e dos rituais. Só se pode constatar, por alusões ou comparações, que Israel hauriu o princípio dos sacrifícios das religiões do Antigo Oriente e que soube encher este quadro ritual com um conteúdo novo, correspondente a sua visão do mundo e ao seu conhecimento de Deus (Yaohu)

               A segunda seção (8 – 10) descreve as cerimônias que se desenrolam por ocasião da investidura sacerdotal de Aarão e de seus filhos. Esses três capítulos talvez tenham constituído, na origem, a continuação direta do Êxodo, respondendo às prescrições do capítulo 29. Os sacerdotes aparecem ali com toda clareza na sua função de mediação, que implica uma exigência particular de santidade, já que devem servir de intermediários entre o povo de Deus (Yaohu) santo.

               A terceira seção (11 – 16) elenca diversas categorias de impurezas que impedem o homem de entrar em contato com Deus (Yaohu) [praticamente: que o impedem de aproximar-se do santuário]: o consumo se alimentos impuros, a impureza da mulher depois do parto, a lepra, a impureza sexual do homem ou da mulher. O capítulo 16, de certo modo, constitui o coração do livro: descreve a majestosa liturgia do Yom Kippur, o Dia do Grande Perdão, que chegou a ser chamado de “Sexta feira Santa no Antigo Testamento”.

               A quarta seção engloba os capítulos 17 – 26, que geralmente são agrupados sob o título de Lei (ou Código de Santidade. Uma vez que Yaohu é um Deus vivo e santo (qadosh, 11,44-45; 19,2; 20,26; 21,8), o povo que escolheu, que reservou para si, que lhe é consagrado [qadosh, 11,44-45; 19,2; 20,7.26; 21,6-8], deve procurar tudo o que facilita a comunhão com Deus [Yaohu] e evitar tudo o que, física ou moralmente, pôr obstáculo a essa comunhão vital: não consumir o sangue, que é a sede da vida dada por Deus [Yaohu]; recusar quaisquer relações sexuais anormais; respeitar a Yaohu entre único DEUS, e o homem enquanto criatura de Deus (Yaohu); garantir a dignidade do sacerdócio e dos sacrifícios e celebrar fielmente as festas e os anos santos).

               O capítulo 27, apêndice ao conjunto do livro, trata dos problemas de tarifação dos votos e dos resgates.

 

 

PEQUENO LÉXICO DO LEVÍTICO

 

               A leitura do Levítico não é fácil. O estilo é muitas vezes monótono e bastante árido. Encontra-se nele certo número de termos técnicos, cujo valor é importante conhecer. Também é preciso ter consciência de certos traços da mentalidade hebraica e de certas instituições do povo de Israel. Não se deve, por exemplo, imaginar os sacerdotes de Israel à semelhança dos sacerdotes nas Igrejas cristãs de hoje: embora a palavra seja a mesma, ela não designa duas realidades idênticas. O pequeno léxico que se segue quer agilizar a compreensão do livro. {As seções são tratadas na ordem das quatro seções do livro: sacrificais,sacerdócio, puro e impuro, santidade. Na primeira parte, os termos técnicos sacrificais estão classificados por ordem alfabética}.

 

 

  1. Os sacrifícios. Em todas as religiões, o sacrifício é uma tentativa de entrar em relação mais íntima com a divindade; por isso a história das religiões o estudou essencialmente sob três pontos de vista: o sacrifício enquanto “dom” oferecido à divindade; o sacrifício operando uma “comunhão” com a divindade; o sacrifício visando a uma “expiação” dos pecados e ao perdão por parte da divindade. Os sacrifícios israelitas dividem-se com bastante facilidade entre essas três categorias; dom: holocausto, oferenda vegetal, primícias; comunhão: sacrifício de paz; expiação: sacrifício pelo pecado, sacrifício de reparação.

No decorrer dos séculos e sob o peso das circunstâncias, desenhou-se uma evolução: refletindo sobre a ruína de Jerusalém e sobre o Exílio, Israel adquiriu uma consciência mais viva da força do pecado e da necessidade de perdão. Eis por que o Levítico enfatiza o papel reconciliador dos sacrifícios, dando grande importância à absolvição pelo sangue e reduzindo as oferendas vegetais a complemento dos sacrifícios sangrentos.

a) Aceitar: o verbo (sempre no passivo no Lv) e o substantivo correspondente (sempre em um sentido passivo) designam o escolhimento benévolo que Deus (Yaohu) dá a um ofertante sincero, aceitando e aprovando o seu presente, quando o oferente obedece às regras rituais.

b) Holocausto: sacrifício de uma vítima totalmente consumida pelo fogo sobre o altar (excetuada a pele, cf. 7,8). É o sacrifício que exprime por excelência a doação: o oferente não recebe nada da vítima sacrificada. Encontra-se o seu equivalente entre os gregos e em Ugarit, mas não entre os demais semitas.

c) Memorial: termo técnico que designa a parte de uma oferenda vegetal (com ou sem incensos) consumida sobre o altar. Quanto à significação da palavra, cf. 2,2 nota.

d) Oferenda consumida: termo geral que engloba tudo o que é queimado sobre o altar para Deus (Yaohu) e, por extensão, a vítima toda inteira de tais sacrifícios. Parece, todavia, que o termo nunca é utilizado explicitamente para as partes queimadas do sacrifício pelo pecado. A etimologia da palavra é desconhecida, mas evoca por assonância a palavra hebraica para “fogo”, donde a tradução: oferenda consumida. i.é. Pelo fogo.

e) Oferenda vegetal: a palavra minhá designava originalmente o conjunto dos sacrifícios da categoria do dom e da comunhão (Gn 4,3-5; Sm 2,17). Mais tarde, o termo especializou-se no sentido de oferenda não-sangrenta e foi substituído na acepção geral pelo termo presente (cf. Tópico J).

f) Paz (sacrifício de -): por vezes é chamado também de sacrifico de “comunhão”, ou sacrifício de “aliança”. As partes gordas da vítima são queimadas sobre o altar para Deus (Yaohu), uma parte da carne é reservada aos sacerdotes e o resto é consumido pelo oferente, sua família e seu amigos. O Levítico distingue três formas específicas desse sacrifício, que correspondem a disposições internas dos oferentes, mais do que a rituais próprios: o sacrifício de louvor (7,12-15), o sacrifício votivo (7,16) e o sacrifício espontâneo (7,16). O sacrifício de paz, assim como o holocausto, tem o seu equivalente em Ugarit e entre os gregos, mas não entre os demais semitas.

g) Pecado (sacrifício pelo -): ele é difícil de ser distinguido do sacrifício de reparação (cf. Tópico K): não se sabe se na origem se trata de dois sacrifícios diferentes, que pouco a pouco se teriam confundido, ou de um único sacrifício conhecido sob duas designações sinônimos, que os redatores teriam artificialmente distinguido no ritual ulterior.

A vítima varia segundo a qualidade ou os meios do delinquente; o sangue desempenha o papel mais importante, pois é ele que proporciona a absolvição; as gorduras são queimadas sobre o altar, como sacrifício de paz; as carnes são consumidas pelos sacerdotes, salvo no caso em que o delinquente é um sacerdote ou o povo no seu conjunto, pois não se pode ao mesmo tempo oferecer um sacrifício pelo pecado e tirar proveito dele.

Este sacrifício não serve para obter o perdão de um pecado deliberado, mas visa restabelecer uma relação com Deus (Yaohu) comprometida pelos pecados involuntários (cf. 4,2 nota) ou por um estado de impureza (cf. 14,19).

h) Perfume: no interior da tenda da reunião (e em Lugar santo do Templo) encontrava-se o altar dos perfumes (4,7), onde se queimava um perfume especialmente composto para este efeito (cf. Êx 30,34 e nota).

À mesma raiz está ligado o termo frequente no Lv e traduzido por “fazer fumegar” (1,9 etc.), que designa toda combustão de sacrifício sobre o altar dos holocaustos. O emprego deste verbo mostra como se entendia que Deus (Yahu) se beneficiava (na forma de “fumaça perfumada”) da doação que lhe era feita.

i) Perfume aplacador: esta expressão está  o mais das vezes em estrito paralelo com a expressão oferenda consumida (cf. Tópico d) e, com exceção de um caso (4,31, qualificando o sacrifício pelo pecado), ela se refere a um sacrifício que se pode qualificar de oferenda consumida. Talvez na origem se trate do decalque hebraico de uma expressão acádica que aparece no relato babilônico do dilúvio, por ocasião do sacrifício oferecido pelo resgatado (cf. Gn 8,21). Ela exprime o desejo que o oferente sente de manter uma relação pacífica com um Deus (Yaohu) benevolente.

j) Presente (cf. Tópico e: oferenda vegetal): no “Código Sacerdotal” a palavra qorban designa qualquer espécie de sacrifício, e até oferendas não sacrificais (Nm 7). Significa literalmente aquilo que a gente “aproxima” de Deus (Yaohu) {ou do altar}, mas pouco a pouco a palavra adquiriu o sentido de “oferenda sagrada” ou de “objeto consagrado”, sentido que o termo tem na boca de Cristo – MESSIAS – (Mc 7,11).

k) Reparação (sacrifício de -): (cf. Tópico g: sacrifícios pelo pecado). Na época do Segundo Templo, apesar da identidade dos ritos, o sacrifício de reparação parece ter-se distinguido do sacrifício pelo pecado, essencialmente pelo fato de vir acompanhado de uma reparação do mal causado (restituição ou re-embolso com majoração de um quinto). Talvez ele diga respeito também a casos particulares e mais individuais que o sacrifício pelo pecado. Finalmente, ele não faz parte do ritual de nenhuma grande festa de Israel. Estes dois sacrifícios parecem constituir uma peculiaridade de Israel: não se encontra atestação certa de sacrifício deste tipo em nenhum dos povos vizinhos ou contemporâneos.

l) Santíssimo (ou coisa santíssima): enquanto a expressão qôdesh qodashim (lit. Santo dos santos) tem muitas vezes um sentido local, designando especialmente a segunda parte do santuário (tenda ou templo), conhecida também sob o nome de debir (quarto sagrado, cf. 1Rs 6,16), o redator do Levítico só a emprega para designar uma coisa consagrada a Deus (Yaohu) e do qual, por conseguinte, não se pode fazer nenhum uso profano. Pare ele, são essencialmente as partes dos sacrifícios “expiatórios” e das oferendas vegetais, reservados exclusivamente aos sacerdotes, que são coisas ou oferendas santíssimas.

M) Santo: a palavra qôdesh designa ou qualifica uma grande variedade de coisas: pessoas,lugares, tempos, objetos, oferendas. Cf. Abaixo §4.

  1. O sacerdócio. A origem que o Levítico oferece do sacerdócio é o resultado de uma evolução de vários séculos, no qual se manifestaram influências diversas, religiosas, morais, sociais, políticas.

Na época mais antiga, as funções sacerdotais (garante a mediação entre o homem e Deus [Yaohu] pela execução dos ritos e pela comunicação da vontade divina) não parecem ser exercidas exclusivamente por uma classe de especialistas. Os patriarcas, na qualidade de chefes de família, oferecem eles mesmos os sacrifícios (Gn 8,20; 15,9-10; 22,1-14).

Contudo, em torno dos lugares de culto (p. ex. Shilô, 1Sm 1 – 3; Dan, Jz 18,19-20.27-31) estabelecem-se famílias sacerdotais que garantiam o serviço do santuário e conservavam as tradições  e os ritos. Em Jerusalém, Davi encontrou uma família sacerdotal (a de Sadoq) que talvez tivesse ligações com Malki-Sédeq, o rei sacerdote da época patriarcal (Gn 14,17-20). A importância adquirida por Jerusalém atraiu muitos sacerdotes dos outros lugares de culto; foram, aliás, obrigados a se reagrupar ali quando Josias decidiu centralizar todo o culto israelita em Jerusalém: mas este aporte de pessoal não deixou de criar litígios entre o pessoal ali instalado e os recém-chegados (2Rs 23,8-9).

Já no reinado de Salomão, havia-se assistido a lutas de influência entre duas famílias sacerdotais, a de Ebiatar e o de Sadoq, cujas origens não são claramente conhecidas. Os sadoquitas teriam acabado excluindo quase completamente os seus rivais do exercício do sacerdócio hierosolimitano (1Rs 2,26-27). O Exílio pôs fim a essas rixas, quando os dois grupos foram genealogicamente ligados a Aarão, fazendo deste último, membro da tribo de Levi, o primeiro sumo sacerdote, no ponto de partida de todo sacerdócio (1Cr 24,1-6).

Depois da volta do Exílio (538 a.C.), não sendo restaurado a realeza, é o clero que assume as rédeas do destino do povo. Aquele que se acabará chamando 'sumo sacerdote' vai pouco a pouco ocupando uma função equivalente à do rei: traz insignias régias (8,9) e, como o rei pré-exílico, recebe a unção (8,12). A partir de Aristóbulo I (104-103 a.C.). tornou-se explícito o que era implícito: o sumo sacerdote assume o título de rei.

O que importa é o que permaneceu imutável ao longo de toda esta evolução, a saber o caráter mediador do sacerdote, o qual, introduzido pela sua consagração na esfera do sacro, pode desempenhar o papel de intermediário autorizado.

  1. O puro e impuro. A noção de impureza é bem próxima à de “tabu”, tal como os historiadores das religiões a encontram nos povos mais diversos. Ela supõe que o homem deseja viver uma vida enquadrada por regras estáveis, protegida da angústia do desconhecido. Consequentemente, tudo o que é excepcional, anormal, insólito, tudo o que é mudança, passagem de um estado a outro, aparece como uma ameaça, como a manifestação de um poder que zomba das regras conhecidas, como uma mancha contagiosa da qual é preciso proteger-se, afastando-se dela, ou do qual é preciso libertar-se, purificando-se.

A Impureza não é um ato culpável: com efeito, as obrigações da vida (maternidade, toalete dos mortos, etc.) implicam necessariamente o homem num estado de impureza que o impede de entrar, pelo culto, em relação com o Deus (Yaohu) santo, estado do qual ele tem de se purificar. O ato culpável acontece quando, estando em impureza, a pessoa age como se estivesse em estado de pureza (Lv 15,31). Ezequiel utilizará o vocabulário da impureza para qualificar os pecados de Jerusalém, incluídos os que eram cometidos contra a moral propriamente dita (cf. Ez 22,7). O pecado é com efeito a grande impureza que compromete a relação entra o homem e Deus (Yaohu).

O fato de as proibições de Lv 11 – 15 serem codificadas é o sinal de que quase não são mais vividas espontaneamente; o Levítico as coloca em relação com o Deus (Yaohu) da aliança (11,44-45), o Yaohu da vida, para quem devemos manter-nos puros.

O  Novo Testamento é testemunho de vários debates sobre o valor dessas proibições (Mc 7,1-23; At 10; 1Co 6,12-20).

  1. A santidade. A santidade é uma das noções capitais do Levítico, e de todo o Antigo Testamento. Ela tem parentesco com a noção de pureza.

Fundal-mente, a santidade designa todo o mistério insondável do Deus (Yaohu) transcendente, do Deus (Yaohu) absolutamente diferente, incomparável, inapreensível, inefável, do Totalmente-Outro inacessível ao homem. Dizer que o Yaohu é santo é, pois, não tanto dar a Deus (Yaohu) uma qualificação moral, mas antes afirmar que ele é radicalmente dessemelhante de tudo o que o homem conhece ou imagina.

No entanto – e isto também é um elemento constitutivo da sua santidade – este Deus (Yaohu)  transcendente permite ao homem aproximar-se dele (cap. 23); este Deus (Yaohu) incompreensível dá-se conhecer e comunica a sua vontade (cap. 19); ele faz irradiar a sua santidade e quer fazer a humanidade participar dela: “Sede santos, pois eu sou santo...” (19,2). Ao escolher o povo de Israel, Deus (Yaohu) o quer diferente dos demais; reserva-o para si, distinguindo-o e separando-o dos povos profanos, para que possa entrar em comunhão com o Deus (Yaohu) santo. Esta eleição traz consigo uma exigência moral, consequência da santidade do povo eleito, mas que o levou a santificar-se constantemente, para permanecer nessa COMUNHÃO vital e manifestar assim aos olhos das outras nações a santidade do seu Deus (Yaohu).

Os homens não são os únicos a ser chamados de santos: TUDO O QUE EXPRIME A PRESENÇA DE DEUS (YAOHU) PODE SER QUALIFICADO DE SANTO:

  • Pessoas (p. ex. Os sacerdotes, que penetram mais profundamente na esfera de Deus (Yaohu) e que devem abster-se de diversas práticas legítimas, porém profanas, cap, 21 – 22);
  • Tempos (p. ex. O sábado, dia do Yaohu, no decurso do qual se deve renunciar às ocupações profanas, Êx 20,8-11);
  • Lugares (p. ex. O santuário, no qual não têm direito de penetrar nem os profanos nem os estrangeiros, Hb 9,7-8; At 21,28);
  • Objetos (p. ex. O óleo de unção santa, que serve aos ritos de consagração e é proibido para qualquer uso profano, Êx 30,23-33).

Em suma, a noção de santidade comporta três ideias-força: Separação de tudo o que é profano, consagração para entrar em comunhão com Deus (Yaohu), compromisso para fazer a vontade Dele.

 

O LEVÍTICO NA BÍBLIA E NA VIDA DO CRENTE

 

               O Levítico apareceu tarde demais na vida de Israel para poder influenciar de maneira sensível os demais livros do Antigo Testamento. Por outro lado, apresenta com exclusividade excessiva a “técnica” dos sacrifícios israelitas para ser citado com frequência no NT. As passagens citadas com maior frequência são tiradas sobretudo das leis morais do “Código da Santidade”. Mas a influência de um livro não se mede somente pelo número de citações que dele se fazem. Daí por que a influência do Levítico não é desprezível, embora indireta; com efeito, o culto praticado em Jerusalém consoante as regras codificadas no Levítico é o pano de fundo das reflexões do NT sobre o sacerdócio e o sacrifício de Cristo. Sem o Levítico, falta-nos iam muitos elementos para compreender como Paulo ou a epístola aos Hebreus (cf. Hebreus, Introdução § 8) interpretam teologicamente a morte de Cristo – Messias.

               Hoje o Levítico é talvez, entre os livros do AT, o menos lido pelos cristãos. Com efeito, ele não é de acesso fácil, e parece só falar de práticas que caducaram em virtude da nova Aliança. Mas é preciso entender bem esta “caducidade”. Ao aproveitar gestos religiosos dos seus vizinhos ou ao criar novos para elaborar o seu ritual, Israel procurou fazer o culto que celebrava concordar com a fé que professava; o culto tinha a função de exprimir e realizar a reconciliação e a comunhão do povo santo com o Deus (Yaohu) santo, em nome do qual pelejavam os profetas e todos os que zelavam pela pureza da fé em Israel. As festas, os ritos, os gestos variam com os tempos e os lugares, de acordo com o que se quer expressar e de acordo com os meios de que se dispõe para fazer isso. Mas permanece o desejo de exprimir a fé pela festa comunitária e pela linguagem do corpo. Nem as investidas  proféticas contra um culto mal celebrado, nem o abandono dos ritos levíticos por parte do judaísmo, privado do seu Templo, e por parte do cristianismo, que reconheceu o valor único e definitivo do sacrifício de Cristo, nada disso abole o fato de que o Levítico está presente na Bíblia. A presença dele responde à necessidade humana de exprimir a fé por gestos religiosos, ao mesmo tempo em que anuncia e prepara a vinda daquele que traz nas suas palavras e realiza na sua vida a reconciliação e a comunhão dos homens com Deus (Yaohu).

 

 

 

PRINCIPAIS 'PERSONAGENS' - DO “LEVÍTICO”

 

 

               Nadabe/Abiú

               Pontos fortes e êxitos:

  • Filhos mais velhos de Arão.
  • Primeiros candidatos a serem sumo sacerdote após seu pai.
  • Envolvidos na consagração do Tabernáculo.
  • Elogiados por fazerem “todas as coisas que Yaohu ordenara” (Lv 8,36).

 

               Fraquezas e erros:

  • Trataram as ordens diretas de Deus (Yaohu)  de forma indiferente.

 

               Lições de vida:

  • O pecado traz consequências mortais.

 

               Informações essenciais:

  • Local: Península do Sinai.
  • Ocupação: Aprendizes de sacerdote.
  • Familiares: Pai – Arão; tios – Moisés e Miriã; irmãos – Eleazar e Itamar.

               Versículos-chave:

  • “E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e puseram incenso sobre ele, e trouxeram fogo estranho perante a face de Yaohu, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante de Yaohu e os consumiu e morreram perante Yaohu” (Lv 10,1.2).

               A história de Nadabe e Abiú pode ser encontrada em Levítico 8 – 10. Eles são também mencionados em Êxodo 24,1.9; 28,1; Números 3,2-4; 16,60.61.