ESTUDOS DA ESCRITURA SAGRADA:

JOSUÉ; JUÍZES; RUTE; 1 e 2 SAMUEL; 1 e 2 REIS; 1 e 2 CRÔNICAS; ESDRAS/NEEMIAS; ESTER.

 

INTRODUÇÃO AO: “ANTIGO TESTAMENTO.

 

(Livros Históricos):

 

 

            A Bíblia em português é organizada com base na Septuaginta (a tradução grega do AT). Dentro desse arranjo, os livros do Josué a Ester são considerados livros históricos. A maior parte desses livros pode ser divida em dois grupos:

  1. A história deuteronômica: de Josué a Reis (exceto Rute).
  2. A história cronística: Crônicas, Esdras e Neemias.

 

         Esta forma de organização difere da ordem da Bíblia hebraica, que chama a história deuteronômica de Profetas Anteriores e inclui Esdras, Neemias e Crônicas nos “outros livros” dos Escritos. Rute e Ester se destacam dessas duas histórias editadas tanto nas discussões acadêmicas modernas quanto na Bíblia hebraica, onde são incluídas nos cinco Rolos. Tendo em vista ser mais apropriado estudá-los separados dos outros livros, não trataremos deles aqui (veja as suas respectivas introduções).

         A história deuteronômica é assim chamada porque Deuteronômio introduz a compilação. Embora as obras dessa história tenham sido escritas por autores diferentes (veja a introdução a cada um dos livros), tudo indica que a coleção foi editada de modo a formar uma unidade pouco depois de 562 a.C., a data mais recente de Reis. Essa obra editorial tratou de uma crise de fé entre os exilados de Judá que, na época, estavam vivendo no cativeiro babilônico sob o domínio de Nabucodonosor. Eles tinham a impressão de que Yaohu havia se esquecido das promessas que havia feito de uma terra eterna para Israel e um trono permanente para Davi e seus descendentes.

         A compilação posterior – Crônicas, Esdras e Neemias – foi organizada como uma unidade para o povo de Judá que havia sido restaurado à Terra Prometida depois do exílio na Babilônia. Embora estivessem de volta na terra e de a linhagem de Davi ter sobrevivido, Judá era então apenas uma das muitas províncias do império persa. Esses livros ofereceram esperança e orientações práticas para essa comunidade de ex-cativos desanimados.

         As duas compilações contêm relatos históricos verídicos escritos por autores inspirados e finalizados subseqüentemente por editores inspirados. Nem os autores nem os editores criaram os acontecimentos relatados nesses livros. Eles citam às fontes (Js 10,13; 1Rs 11,41; 2Rs 16,19; 1Cr 4,22; 5,17; 2Cr 9,29; Ed 6,1.2) e seguem uma ordem cronológica rigorosa. Ao mesmo tempo, fica evidente que os livros e as compilações foram escritos e organizados com propósitos teológicos, e não apenas para preservar um registro histórico.

 

 

 

         A história deuteronômica

         (Josué, Juízes, Samuel e Reis)

 

         Unidade literária. A junção de Josué com Deuteronômio é especialmente convincente. As promessas e exortações de YHWH no início de Josué (1,1-9), por exemplo, consistem inteiramente de expressões dos discursos de Moisés em Deuteronômio, Js 1,2 corresponde a Dt 10,13; Js 1,3-5a é praticamente uma citação de Dt 11,23-25; Js 1,5b -7a e 9 repete, em grande parte, Dt 31,6-8 e 23; Js 1,7b-8 faz lembrar uma série de textos em Deuteronômio que identificam esse livro como “Livro da Lei” e enfatizam a importância da meditação e da obediência (Dt 5,32-33; 17,18-19; 30,10).

         Juízes também possuí ligações com Josué. Depois da introdução de Juízes (1,2 – 2, 5), o corpo do livro (2,6 – 16,31) é apresentado com uma referência a Josué (Jz 2,6-10). Além disso, todos os episódios e seções de Juízes empregam repetições verbais, paralelos históricos e citações de Josué.

         Samuel, por sua vez, é relacionado a Juízes, um livro que prepara o seu público para a instituição da monarquia davídica levantando a questão da liderança apropriada e afirmando energicamente que Yaohu escolheu Judá, e não Benjamim, para liderar a sua nação. Samuel registra o fracasso da monarquia benjamita representada por Saul e a instituição bem-sucedida da monarquia judaica, representada por Davi. Até mesmo o refrão de Juízes – “naqueles dias, não havia rei em Israel” – pode ser aplicado aos primeiros capítulos de 1 Samuel antes do reinado de Saul. Por fim, a síntese que Samuel faz da história dos juízes (lSm 12,9-11) parece uma aplicação da síntese do editor dessa mesma história (Jz 2,6-19).

         Reis é estreitamente relacionado a Samuel e alguns estudiosos acreditam que haja uma fonte comum por trás da passagem que se estende de 2Sm 9 – 20 a 1Rs 2. Nesses capítulos, pode-se observar uma narrativa que discorre, entre outros assuntos, sobre a sucessão do trono de Davi, começando com o nascimento de Salomão e culminando com a sua coroação.

         Unidade temática. A fim de tratar da crise de fé dos exilados, vários temas enfatizados em Deuteronômio aparecem ao longo do restante da história deuteronômica.

         Em primeiro lugar, Deuteronômio lança um alicerce firme para ofício profético e apresenta o teste do verdadeiro profeta, ou seja, o cumprimento de suas palavras (Dt 18,14-22). O ofício específico de profeta é instituído em 1Sm 9. Como foi observado acima, a tradição judaica se impressionou de tal modo com o papel dos profetas na história deuteronômica que a chamou de Profetas Anteriores. Além disso, os livros dessa história são ligados por vários elementos proféticos. Por exemplo, a profecia de Josué segundo a qual quem tentasse reconstruir a cidade de Jericó perderia o seu primogênito (Js 6,26) é cumprida em 1Rs 16,34. Salomão interpreta o seu reinado e a construção do templo (1Rs 8,20) como cumprimento das promessas de YHWH a Davi (2Sm 7,12-13). Reis reafirma para os exilados a veracidade das palavras proféticas de que Yaohu daria ao seu povo uma terra e um trono eternos.

         Em segundo lugar, o conceito de “aliança”, tão importante em Deuteronômio, também norteia toda essa história. Do lado divino, o enfoque é sobre a promessa. Yaohu jurou aos patriarcas e seus descendentes que seria o seu Deus – Yaohu e jamais os abandonaria (Dt 4,31; 29,12-13; Js 1,6; Jz 2,1; 2Rs 13,23). Em seu amor inescrutável, Yaohu escolheu Israel e assumiu o compromisso de lhes dar a terra que havia prometido aos patriarcas. Essa promessa, repetida cerca de trinta vezes em Deuteronômio (p. ex., Dt 1,8; 34,4), é lembrada no restante da história (p. ex., Js 1,2; 24,13; Jz 1,2; 1Rs 4,21; 8,34). Do lado humano, o enfoque é sobre a confiança e a obediência. O relato histórico declara repetidamente que a posse da terra depende da fidelidade de Israel à aliança. As promessas de Yaohu e as obrigações de Israel fazem parte dos sermões de heróis como Moisés (Dt 1 – 4; 5 – 11; 27 – 28), Josué (Js 24,1-27). Samuel (1Sm 12) e Davi (1Rs 2,1-4). YHWH anuncia claramente a Salomão as condições para o seu reinado (1Rs 9,1-9).

         As obrigações de Israel se concentram nas duas prescrições iniciais dos Dez Mandamentos: Não adorar a outros deuses e não fazer ídolos para si. Ou, na linguagem desse relato histórico, “amar”. “temer” a YHWH, “andar perante” ele ou “segui-lo” e “não esquece-lo” (Dt 6,5; Js 1,7-8; 24,14-15; Jz 2,6-10; 1Sm 12,20.24; 1Rs 2,4; 3,6; 8,23-25; 11,4-5). Essa ordem é, fundamentalmente, uma questão de fé, e não de obediência rigorosa a um código externo. Por exemplo, as prescrições específicas, como a ordem para adorar apenas em Jerusalém, não visavam alimentar um legalismo burocrático, mas evitar a tentação da idolatria. Essa história se preocupa mais com a fidelidade a Yaohu do que com as prescrições individuais. A desobediência a essas prescrições indicava um problema mais amplo, ou seja, a infidelidade a Yaohu. O relacionamento era constituído da eleição de Israel por Yaohu e dois atos salvíficos da graça divina em favor do seu povo. A confiança em Yaohu era proveniente da ligação que Yaohu já havia estabelecido com Israel Js 1 mostra essa ligação. YHWH havia assumido um compromisso com Israel e lhe entregado a terra para que os israelitas se apropriassem dela. Para isso, precisavam apenas confiar nele (Js 1,1-9). Por outro lado, se não confiassem em Yaohu e se desobedecessem ao mandamento de amá-lo e não adorar outros deuses seriam considerados culpados e sofreriam o julgamento (Dt 28; Js 24,19-20; Jz 2,10-15; 1Sm 12,5-15; 2Rs 17,7-20). A pergunta-chave levantada pelos exilados na Babilônia é articulada em Dt 29,24 e 1Rs 9,8: “Por que precedeu YHWH assim com esta terra e esta casa?”. Esse relato histórico responde de modo inequívoco: “Não foi Yaohu que falhou, mas sim, Israel”. Mas, ainda, as promessas de Yaohu são eternas (Dt 30,1-9; Jz 2,1; 1Sm 12,22; 2Sm 7,16).

         Em terceiro lugar, Deuteronômio também lança um alicerce firme para a monarquia e suas prescrições (Dt 17,14-20). Apesar da infidelidade do povo, Yaohu misericordioso e fiel de Israel é uma fonte inesgotável de bênção (Dt 9,4-6). Apesar do pecado de Israel, Yaohu compassivo toma nova iniciativa e levanta líderes em tempos de crise: Josué, os juízes, Saul e por fim, a casa de Davi. Sua aliança com a casa de Davi, como todas as alianças com Israel, representa inevitavelmente um avanço do reino de Yaohu, mas estabelece condições que regulam a participação nesse reino. Yaohu continuará a levantar um “filho” da casa de Davi, mas disciplinará os infiéis (2Sm 7,14-16). A história termina com Joaquim, um dos reis infiéis, no exílio, não obstante, ele é elevado a um lugar de honra entre os reis cativos da Babilônia. Essa pequena chama de esperança não se apagará, mas se tornará cada vez mais reluzente até a vinda do mais exaltado Filho de Davi, o verdadeiro Filho de Yaohu – Cristo.

         Por fim, nesse relato o histórico, o tema do arrependimento se baseia nas promessas eternas de Yaohu (Dt 4,29-31; Js 7; Jz 2,18; 2Sm 12,13; 1Rs 8,46-51). A esperança de alívio do julgamento e até mesmo de volta às bênçãos de Yaohu uma vez que o julgamento do exílio tivesse ocorrido, é uma expressão de arrependimento (Dt 30,1-10; 1Rs 8,58). Assim, João Batista e Cristo ofereceram o reino de Yaohu a todos que se arrependessem (Mt 3,2; 4,17; Mc 1,15).

 

 

 

         A história cronística

         (Crônicas, Esdras e Neemias)

 

         Como observado na introdução a Esdras, Esdras-Neemias era, originalmente, um só livro. Crônicas e Esdras-Neemias são ligados como conjunto literário pelo uso da conclusão de Crônicas na introdução de Esdras-Neemias (2Cr 36,22-23; Ed 1,1-3). Além disso, as duas obras apresentam os mesmos interesses religiosos e ideologia. Descrevem, por exemplo, os preparativos para a construção do primeiro e do segundo templo de modos paralelos (1Cr 22,2.4.15; 2Cr 2,9.15-16; Ed 3,7), mostrando que ambos foram edificados com recursos doados por chefes de famílias antigas (1Cr 26,26; Ed 2,68). Os dois livros demonstram grande interesse pelos utensílios sagrados (1Cr 28,13-19; 2Cr 5,1; Ed 1,7; 7,19; 8,25-30.33-34); e apresentam a ordem dos sacrifícios (2Cr 2,4; 8,13; Ed 3,4-6) e a enumeração dos elementos sacrificais (1Cr 29,21; 2Cr 29,21.32; Ed 6,9.17; 7,17.22; 8,35-36) de maneiras praticamente idênticas. Assim como a história deuteronômica é constituída de livros distintos, organizados de modo a formarem uma só história, esse relato histórico pós-exílio também é formado pela união de obras díspares.

         Esse conjunto posterior de obras abrange boa parte do conteúdo da história deuteronômica, mas continua além do ponto em que esta termina de modo a incluir a constituição de Israel depois do exílio. Enquanto o primeiro conjunto é baseado principalmente em Deuteronômio, essa história se baseia em todo o Pentateuco, voltando até Adão. No entanto, o seu eixo central é a história de Israel no período entre o primeiro e o segundo templo, sendo que este último é prenunciado nos últimos versículos de Crônicas e descrito em detalhes em Ed 1 – 6.

         Crônicas, Esdras e Neemias foram escritos para encorajar os ex-cativos desanimados depois do exílio. Esses livros lembram o povo de sua herança gloriosa na dinastia davídica e no templo. A História ensinou àqueles que voltaram do exílio que deviam guardar a aliança e se arrepender dos seus pecados (2Cr 7,14). Não obstante, não se concentrou no fracasso; antes, mostrou a grandeza da dinastia de Davi e a glória do templo. Davi é retratado como fundador do programa litúrgico de Israel, e os reis que restauraram a liturgia depois de períodos sombrios de desordem e negligência recebem destaque: Ezequias depois de Acaz e Josias depois de Manassés e Amom servem de modelos para os judeus que sobreviveram ao caos do exílio na Babilônia. Seguindo essas ênfases, o Novo Testamento apresenta Cristo como herdeiro legítimo e perfeito da aliança de Davi (Mt 1,1; 22,42; Lc 1,31-33) e Aquele em quem o templo é cumprido (Jo 2,19-22; Ap 21,22). §. (Complemento).

 

         § VIDE OBS. NAS PÁGINAS: 300 à 306.

 

 

 

       § “SOBE A PALAVRA” {CRISTO} – VEJA O TERMO CORRETO NAS PÁGINAS DE Nº 174, 175 DE ISAÍAS. [CHRISTÓS – “O UNGIDO”]. Anselmo Estevan.

         Veja, também, nas páginas: 205 – 207 – O TERMO CRISTÃO, E O TERMO REMANESCENTE – ACOMPANHADO DE “DANIEL” E “OSEIAS”...!!!

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:

 

JOSUÉ

 

INTRODUÇÃO

 

        

Visão Geral

         Autor: Desconhecido.

         Propósito: Apresentar o cumprimento das promessas de Yaohu nos dias de Josué e ensinar às gerações futuras de Israel como servir ao YHWH – nas batalhas, na distribuição da Terra Prometida entre as tribos e na renovação de sua aliança com Yaohu.

         Data: c.1000-561 a.C.

         Verdades fundamentais:

         Por intermédio de Josué, Yaohu abençoou Israel com muitas vitórias na Terra Prometida, mas ainda havia inúmeras batalhas a serem travadas.

Por intermédio de Josué, Yaohu distribuiu a terra do modo em que deveria ser mantida no futuro.

A renovação da aliança realizada nos dias de Josué serve de modelo para a renovação em gerações futuras.

 

                                                        

Propósito e características

A principal idéia teológica do livro de Josué é que, assim como Israel devia servir a YHWH sob a liderança de Josué com gratidão por Yaohu haver cumprido as suas promessas, também os leitores deviam continuar a servir com gratidão diante do cumprimento das promessas divinas.

 

 

         Cristo em Josué.

       O livro de Josué aponta para Cristo de várias maneiras. Do mesmo modo que a primeira parte do livro apresenta Josué como um guerreiro liderando a conquista de Canaã, o Novo Testamento fala de Cristo como o grande Guerreiro que conduz o seu povo a tomar posse dos novos céus e da nova terra. O que Josué apenas começou, Cristo cumpriu na sua primeira vinda ao derrotar Satanás (Ef 4,8-9; Cl 2,15; Hb 2,14-15), continua a cumprir na guerra santa espiritual que a Igreja enfrenta (At 15,15-17; Ef 6,10-18) e cumprirá de modo definitivo na sua segunda vinda (Ap 19,11-21; 21,1-5).

         Assim como a segunda parte do livro mostra a divisão da herança de Israel entre todas as tribos segundo Yaohu havia determinado, o Novo Testamento explica que Cristo dá ao seu povo a herança que lhe cabe. Em sua ressurreição e ascensão, Cristo recebeu muitas bênçãos de Yaohu, bênçãos estas que ele distribui ao seu povo por meio dos dons do Espírito (Ef 4,4-13). Assim, o Espírito é o penhor que garante a nossa herança vindoura (Ef 1,13-14). Quando Cristo voltar em glória, concederá ao seu povo a herança plena e eterna que consistirá em reinar com ele para sempre sobre os novos céus e a nova terra (Ap 5,10; 22,5).

         Do mesmo modo que a terceira parte do livro se concentra na necessidade de uma vida fiel à aliança, o Novo Testamento ensina que Cristo preencheu todos os requisitos da aliança para aqueles que crêem nele, tornando-se justiça de Yaohu (2Co 5,21). Cristo cumpriu perfeitamente toda a lei santa de Yaohu e sua justiça é imputada àqueles que crêem (Rm 3,21-24; 4,3-13; Gl 2,16). Ao mesmo tempo, porém, a vida em aliança com Yaohu continua a ser um período de teste, pois provamos a fé que professamos ao conformar a nossa vida aos requisitos da aliança de Yaohu conosco (Mt 24,12-14; Fp 2,12-13; Hb 3,14; 10,15-39; Ap 2,7.11.17.26.28.; 3,21).

 

 

 

         JOSUÉ: Seguindo-se ao Pentateuco, o livro de Josué inicia a narrativa de uma etapa – e não a menor – da história de Israel. Conforme a tradição judaica, ele faz parte do grupo dos “Profetas anteriores” (Josué, Juízes, Samuel e Reis).

         O Livro de Josué pode facilmente ser dividido em duas partes, seguidas de três conclusões (caps. 22; 23 e 24).

         1. A conquista da terra prometida (1 – 12). Após um capítulo de introdução (1), Josué envia espiões a Jericó; eles são acolhidos com hospitalidade por Rahab. Os israelitas atravessam o Jordão e acampam em Guilgal (3-4), onde se efetua uma circuncisão e uma primeira celebração da Páscoa em terra canaanita (5). Na Palestina central, a conquista principia com a tomada de Jericó (6), depois com a de Ai (8), no decorrer da qual é descoberto o pecado de Akan (7). A seguir, Josué faz uma aliança com os guibeonitas (9), e isto provoca uma coalizão dirigida pelo rei de Jerusalém contra Israel, resultando na batalha de Guibeon (10). Na Palestina do norte, Israel tem de enfrentar uma nova coalizão dirigida pelo rei de Hasor, cuja cidade foi incendiada pelos israelitas (11). No cap. 12, um quadro recapitula a lista das cidades conquistadas.

2. A repartição territorial entre as doze tribos (13 – 19), à qual se pode, juntar as enumerações das cidades de refúgio (20) e das cidades levíticas (21).                        

3. Conclusões: as tribos transjordanianas que participaram da conquista (1,12-16) são remetidas por Josué para seu patrimônio além do Jordão (22,1-6). Nesta primeira conclusão, enxerta-se o episódio da construção de um altar por estas tribos, ocasião de um pacto solene entre as doze tribos (22,7-34).

         O cap. 23 constitui o testamento de Josué, sucessor de Moisés.

         O cap. 24 nos apresenta, em aparente paralelismo com o precedente, a aliança firmada por Josué em Siquém.

         Deste rápido resumo depreende-se que um só personagem domina o conjunto das narrativas: Josué, filho de Nun, pertencente à tribo de Efraim (Nm 13,8.16). O seu nome é, por si só, todo um programa. Josué significa: “O YHWH salva”. Narra uma tradição bíblica que Moisés lhe mudou o nome de Hoshea (Oséias) para Iehoshua (Josué); [AQUI, O NOME DE CRISTO QUANDO TRANSLITERADO PARA “j” =JESUS SENDO ERRADAMENTE CHAMADO. POR ISSO YHWH – SALVA. OU SEJA, “IEOSHUA” – SALVA = Josué CRISTO.], [Anselmo Estevan], (Nm 13,16), definindo-lhe um novo destino.

         Outras personagens bíblicas também receberam este nome que, na época do Novo Testamento, RESULTOU EM “JESUS” – PALAVRAS DO AUTOR - para um judeu de língua grega (cf. Hb 4,8). Para os primeiros cristãos, isto facilitaria a aproximação entre a atividade de Jesus como salvador e a de Josué como condutor do povo rumo à terra do repouso. (Página 323 - da Bíblia tradição ecumênica TCB – edições: Loyola. {SÓ QUE NO YHWH – A TRANSLITERAÇÃO ESTÀ COMO SENHOR = YAHWEH = FORMA ERRADA – SENDO SENHOR = BAAL. Anselmo Estevan}).

         No Pentateuco, Josué vive à “sombra” de Moisés: com ele sobe à montanha de Yaohu, segundo Êx 24,13; vela pela Tenda do Encontro (Êx 33,11); por vezes, desempenha um papel militar de destaque (Êx 17,8-16). Ao saber que não atravessaria o Jordão para conduzir o povo à Terra Prometida, Moisés confiou esta missão a Josué (Nm 27,18-23; Dt 31,7-8).

         O Livro de Josué não pode ser lido com um registro que referisse ponto por ponto as etapas da conquista e instalação de Israel em Canaã. Sem dúvida, a crítica moderna cada vez mais reconhece o valor das tradições em que ele se funda. Mas, entre os acontecimentos que ele refere (fim do século XIII) e a data da redação final do livro, medeiam vários séculos. Por outro lado, a imagem – que este documento propõe – de uma conquista total de Canaã pelo conjunto da liga das tribos não resiste à crítica histórica. Canaã só foi efetivamente conquistada no tempo de Davi (século X). Antes disso, como o próprio livro repetidas vezes sugere, os canaanitas, ao invés de serem todos exterminados, mantiveram-se nas planícies e não raro houve coexistência entre eles e os israelitas (cf. 15,63; 16,10; 17,12.18). Por ocasião da morte de Josué, somos informados de que um amplo território ainda ficava por conquistar, embora já houvesse sido repartido pelas tribos (13 – 23).

         Qual a perspectiva em que se deve ler este livro? Como é que ele, aos poucos, se formou? Uma leitura atenta mostra que, em Js 2 – 10, estamos diante de tradições particulares das tribos de Benjamim e Efraim, ou seja, unicamente das tribos do centro, vinculadas ao santuário de Guilgal e mesmo ao de Betel. Este primeiro conjunto foi compilado no fim do século X. A esta altura, Josué conduzia todo o povo, entidade maldefinida no livro, mas que de fato representa os guerreiros de algumas tribos que participaram da saída do Egito. Todavia, bem mais que ao aspecto militar – que não deixa de ter importância -, deve-se ser sensível à dimensão cultual e à apresentação litúrgica dos materiais. A travessia do Jordão (3 – 4) com a presença da Arca, réplica da travessia do mar dos Juncos, constitui uma entrada processional na Terra Prometida. Em Js 5, a menção à circuncisão seguida da primeira Páscoa celebrada com os produtos da região representa uma seqüência eminentemente litúrgica.

         Nesta base, uma releitura foi feita por um redator pertencente à escola que produziu o Deuteronômio e que nele se baseou para meditar a história passada de Israel à luz das experiências recentes (séculos VII – VI). Esta meditação é particularmente perceptível nos grandes discursos dos caps. 1 e 23, sem contar inúmeros retoques com relação à obra anterior. A conquista é apresentada como obra de “todo Israel” (cf. 10,28-39). A menção reiterada às tribos transjordanianas frisa o propósito de manter a unidade do povo numa época em que ela estava em perigo (cf. 1,12-16; 12,1-6; 13,8-32; 22,1-6).

         Paralelamente, exprime-se uma preocupação muito viva com a fidelidade de Israel ao seu Deus – Yaohu, que a convivência com as demais nações pode comprometer a todo momento; pois a Aliança supõe um compromisso incondicional. Só nesta perspectiva é que se torna compreensível a insistência no extermínio dos povos que habitam Canaã e na necessidade de vota-los ao interdito (6,17.21; 11,12.14). Esta medida, que, a uma simples leitura das narrativas, poderia nos chocar, é mais teórica do que real. Ela foi imaginada posteriormente, por causa da experiência do perigo de idolatria, do qual Israel não escapou.

         Mais positivamente, o interesse dos redatores tem em mira a terra que Yaohu prometeu aos antepassados do povo. Por isso, a segunda parte do livro (13 – 19), muito menos influenciada pelo trabalho deuteronomista, comporta uma demarcação de fronteiras e listas de cidades para cada uma das doze tribos de Israel. Temos aí documentos muito preciosos sobre a divisão tradicional da terra entre os membros da liga israelita. Alguns deles podem remontar ao período que precede a realeza de Davi, mas não se podem excluir complementos mais tardios, em função da respectiva evolução da situação em Judá e Israel durante o período monárquico.

         Além da redação deuteronômica, pode-se reconhecer na elaboração do Livro de Josué uma influência dos meios sacerdotais. Em certos capítulos, o papel do sacerdote Eleazar ou do seu filho Pinhas chega a suplantar o de Josué (14,1; 19,51; 21,1; 30,32), e a maioria desses relatos está vinculada ao santuário de Shilô.

         Se levarmos em conta esse extenso trabalho redacional, teremos uma noção mais exata daquilo que, do ponto de vista histórico, se deve esperar do Livro de Josué. Não há dúvida de que a apresentação da conquista sob a guia exclusiva de Josué procede de uma sistematização que não nos deve impedir de perceber a complexidade dos fatos. Por exemplo, nada se diz da conquista de Betel, que, entretanto é referida em Jz 1,22-26. A tomada de Siquém não aparece em nenhum relato, sinal provável de que houve uma instalação pacífica, por um acordo com os habitantes desta cidade. A conquista de Hebron e Debir é atribuída a Josué (Js 10,36-39), ao passo que ficamos sabendo em outro lugar que o verdadeiro conquistador de Hebron foi Daleb, e o de Debir, Otniel (15,13-14; 15,17 e Jz 1,11-13).

         Para restabelecer a verdade histórica deste período, freqüentemente se invocou o testemunho da arqueologia. De fato, as escavações empreendidas em cidades antigas não raro atestam violentas destruições, ocorridas na passagem da Idade do Bronze Recente – que termina por volta de 1200 – para a Idade do Ferro. Já que a entrada dos israelitas em Canaã é dotada por volta de 1230, houve a tentação de atribuir a eles essas destruições. Mas não se podem descartar, por um lado, rivalidades entre as cidades-estados canaanitas, por outro, a presença nesta época de invasores de outra origem. O argumento arqueológico perde então sua força. Todavia, uma cidade como Hasor, cuja destruição é situada pelos arqueólogos no fim do século XIII, pode efetivamente ter sido incendiada pelos israelitas, conforme atesta Js 11,10-11. No caso de Jericó, os indícios arqueológicos revelaram-se decepcionantes quanto a este período, e a narrativa de Js 6 tem mais a aparência de uma liturgia guerreira do que um relato circunstanciado do cerco contra a cidade. Não se pode deixar de admitir que o texto bíblico nem sempre dá resposta às perguntas que nós lhe fazemos.

         Muito mais do que Josué, a personagem central do livro é a Terra Prometida. O que era objeto da promessa no Pentateuco encontra aqui cumprimento. Por isso, houve quem chegasse a falar de um Hexateuco, acrescentando Josué ao Pentateuco. A Terra é o lugar da fidelidade de Yaohu para com seu povo e do povo para com seu Deus – Yaohu. Penhor da aliança entre Yaohu e Israel, ela não é um símbolo inanimado, mas um convite vivo e insistente ao homem de assumir a realidade criada para santifica-la. A ocupação de Canaã e sua divisão cadastral entre os filhos de Israel cumprem a promessa patriarcal renovada por Yaohu a Moisés. Não devemos nos deter ante a aridez das enumerações topográficas, mas partilhar a alegria do redator que pormenoriza a herança dada por Yaohu às tribos.

         O Livro de Josué afirma que a Terra é simultaneamente dom e constante objeto de conquista. Há nisto uma nunca resolvida tensão entre o presente e o futuro, constitutiva da existência do povo de Yaohu.

 

VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE JOSUÉ:

 

         JOSUÉ

         Pontos fortes e êxitos:

         Assistente e sucessor de Moisés.

         Um dos dois com mais de 20 anos de idade que saíram do Egito e viveram para entrar na Terra Prometida.

         Guiou os israelitas para entrarem na terra que Yaohu lhes prometera.

         Brilhante estrategista militar.

         Tinha fé para pedir a Yaohu orientação nos desafios que enfrentava.

 

         Lições de vida:

         A liderança efetiva costuma ser produto da boa preparação e encorajamento.

         As pessoas nas quais nos espelhamos exercerão influência sobre nós.

         A pessoa comprometida com Yaohu nos proporciona o melhor exemplo.

        

         Informações essenciais:

         Localidades: Egito, o deserto do Sinai e Canaã (a Terra Prometida).

         Ocupações: Assistente especial de Moisés, guerreiro e líder.

         Familiares: Pai – Num.

         Contemporâneos: Moisés, Calébe, Miriã e Arão.

 

 

         Versículos-chave: “E fez Moisés como YHWH lhe ordenara; porque tomou a Josué e apresentou-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação; e sobre ele pôs as mãos e lhe deu mandamentos, como YHWH ordenara pela mão de Moisés” (Nm 27,22.23).

 

 

         Josué é também mencionado em Êxodo 17,9-14; 24,13; 32,17; 33,11; Números 11,28; 13; 14; 26,65; 27,18-23; 32,11.12.28; 34,17; Deuteronômio 1,38; 3,21.28; 31,3.7.14.23; 34,9; e todo o livro de Josué; Juízes 2,6-9 e 1 Reis 16,34.

 

 

 

         RAABE

         Pontos fortes e êxitos:

         Mãe de Boaz, e também ancestral de Davi e Cristo (Mt 1,5).

         Uma das duas únicas mulheres citadas na galeria dos heróis da fé em Hebreus 11.

         Habilidosa, disposta a ajudar as outras pessoas a qualquer custo para si própria.

 

         Fraquezas e erros:

         Foi uma prostituta.

 

         Lições de vida:

         Não permitiu que o medo afetasse sua fé na confiança de ser salva por Yaohu.

 

         Informações essenciais:

         Local: Jericó.

         Ocupações: Prostituta/hospedeira, mais tarde tornou-se esposa.

         Familiares: Esposo – Salmom; filho – Boaz.

         Contemporâneo: Josué.

 

 

         Versículo-chave: Pela  fé, Raabe a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias” (Hb 11,31).

 

 

         A história de Raabe encontra-se em Josué 2 e 6,22.23. Ela também é mencionada em Mateus 1,5; Hebreus 11,31 e Tiago 2,25.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:

 

JUÍZES

 

 

INTRODUÇÃO

 

        

Visão geral

         Autor: Desconhecido.

         Propósito: Demonstrar a necessidade que Israel tinha de um rei piedoso da linhagem de Davi.

         Data: c. 1000-538 a.C.

         Verdades fundamentais:

         As tribos de Israel não conseguiram completar a conquista da terra e sofreram as conseqüências desse fracasso.

         Na melhor das hipóteses, a provisão de juízes por Yaohu poderia abençoar o seu povo apenas temporariamente.

         A provisão de levitas por Yaohu também não deu ao povo uma liderança eficaz.

         O povo de Yaohu deveria ter um rei piedoso de Judá, não de Benjamim, para exercer a liderança.

 

 

         Propósito e características

O título do livro se refere aos doze homens que Yaohu levantou antes do tempo de Samuel para libertar Israel de diversos opressores. Esses líderes são chamados de “juízes” em 2,11-19 ou de “libertadores”.

 

 

 

         CRISTO EM JUÍZES.

         A ênfase do livro de Juízes sobre a necessidade de um rei justo da linhagem de Davi aponta para o papel que Cristo cumpriu como Rei. Ele era da família de Davi e herdeiro legítimo do trono davídico (Mt 1,1-17; Lc 3,1-37). Ao contrário de todos os outros filhos de Davi, Cristo sempre guardou a lei de Yaohu perfeitamente (Mt 5,17). Assim, Yaohu ressuscitou Cristo dentre os mortos e os fez assentar no seu trono celestial (1Co 15,25), estabelecendo um reino que nunca terá fim (Is 9,6-9). Apesar de Cristo já ser Rei, todos o reconhecerão como tal quando ele voltar em glória e governar sobre os novos céus e a nova terra (Ap 22,1-3). O sucesso do reinado de Cristo contrasta nitidamente com o fracasso de outros líderes do povo de Yaohu. Como os juízes e os levitas de Israel, os líderes pecadores não são capazes de suprir a necessidade de um rei perfeitamente justo. Somente Cristo pode fazer isso.

 

 

 

         JUÍZES: Dando a continuidade ao livro de Josué e pertencendo, como ele, ao grupo dos “Primeiros Profetas”, o livro dos Juízes nos dá um resumo da vida das tribos durante um dos períodos mais obscuros da história do povo de Israel, aquele que se segue à conquista e precede o aparecimento da instituição da monarquia.

 

         O plano do Livro. O plano do Livro se descobre facilmente. Uma primeira introdução (cap. 1) apresenta a instalação das tribos em Canaã com seus sucessos e fracassos. A situação das tribos, cuja ação não parece concertado, é a de uma existência ameaçada pela presença das cidades cananéias no território designado para cada tribo. Essa situação, que está em contradição com a promessa de Yaohu, recebe uma primeira explicação (2,1-5). Após essa exposição preliminar, que nos remete ao período da conquista, abre-se o período dos Juízes propriamente dito (2,6 – 16,31), introduzido por um prólogo que dá o sentido religioso dessa etapa da história das tribos (2,6 – 3,6). Ao passo que a época de Josué era de fidelidade, a dos Juízes nos é apresentada como a da infidelidade. Em seguida, dá-se uma história fragmentária das ações dos Juízes, que são doze, mas cujas notícias são de amplidão variada: Oséias (3,7-11). Ehud (3,12-30), Shamgar (3,31), Débora e Baraq (4 – 5), Guideon e Abimélek (6,1 – 9,57), Tolá (10,1-2), Iair (10,3-5), Jefté (10,6 – 12,7), Ibsan (12,8 – 10), Elon (12,11-12), Abdon (12,13-15), Sansão (13,1 – 16,31).

         A compilação termina com dois apêndices que mostram a anarquia reinante em Israel antes da instauração da monarquia. Um narra a migração dos danitas e as origens do santuário de Dan (17 – 18), o outro narra o crime cometido pelos habitantes de Guibeá e a guerra empreendida pelas tribos contra Benjamin, que se recusava a punir os culpados (19 – 21).

 

         Juízes e salvadores. Os personagens apresentados por este livro são genericamente chamados “Juízes”, mas convém examinar a abrangência deste título. No plural, designando aqueles que Yaohu escolheu para salvar seu povo, o termo aparece, neste livro apenas em 2,16-18; mas se este emprego é raro no texto, a designação do período pré-monárquico como “tempo dos Juízes” é conhecido pela tradição bíblica (2Sm 7,11; 2Rs 23,22; Rt 1,1). No entanto, se o título “juiz” está praticamente ausente das narrações, encontra-se com freqüência o verbo “julgar” para descrever a ação dos heróis do livro (3,10; 4,4; 10,1-5; 12,7.8-15; 15,20; 16,31). Observar-se-á, todavia que este verbo se encontra mais freqüentemente nas informações que enquadram as narrativas, o que pode indicar um emprego redacional. Mesmo neste caso, o verbo não adquire simplesmente o sentido de “fazer justiça”, mas de “comandar, governar”. A esse respeito, o uso português do verbo “julgar” não deixa perceber essa acepção, porque a língua hebraica concorda com as línguas vizinhas para designar por este verbo uma verdadeira função de autoridade. Para citar apenas um exemplo, o termo “juiz” nos textos de Mári designa altos funcionários dotados de amplos poderes.

         Se alguns personagens julgaram Israel, não é certo que todos aqueles cujos grandes feitos são reportados tenham tido essa função, porque um outro verbo qualifica a ação daqueles que chamamos os Juízes: “salvar” (3,31; 6,15; 10,1). Nessa perspectiva, Otniel e Ehud são qualificados como “salvadores” (3,9.15). Mais geralmente Yaohu é aquele que salva seu povo pela escolha de um homem que realiza concretamente a salvação (3,9; 6,36-37; 7,7; 10,13). Encontramo-nos, então, diante de uma dualidade de expressões que remete muito provavelmente a uma dualidade de perspectivas, que a leitura do livro dos Juízes deixa entrever.

         Mesmo que não se tenha certeza quanto à composição do livro, podem-se descobrir tradições ou ciclos de relatos que tiveram uma existência anterior e independente. Assim as notícias sobre os Juízes menores (10,1-5; 12,8-15) devem provir de uma lista antiga que não fornecia mais que informações sucintas. Aliás, a história de Jefté, que separa em duas essa lista, permite averiguar como foi possível passar da personagem do juiz à do salvador, pois Jefté foi um e outro. Os relatos sobre os outros Juízes se apóiam sobre tradições antigas que foram ampliadas, completadas e fundidas. Esses relatos foram reunidos em uma coletânea que poderia ser chamado de “livro dos salvadores?” É uma hipótese que ainda exige verificação, mas que não deixa de ser provável.

 

         O quadro teológico. Mas além dessas tradições e dessas coletâneas, o livro dos Juízes oferece um quadro teológico que chama a atenção, porque fornece o ensinamento religioso dos acontecimentos relatados. Essa perspectiva teológica encontra-se particularmente no prólogo (2,6 – 3,6), no início do capítulo 6 (vv. 7-10) e na introdução à história de Jefté (10,6-16).

         Ela se caracteriza por uma série de fórmulas estereotipadas: os filhos de Israel fizeram o que é mau aos olhos de YHWH (2,11; 3,7.12; 4,1; 6,1; 10,6; 13,1), fórmula que pode ser esclarecida por outra: eles abandonaram  YHWH e serviram a Baal e as Astartes (2,11.13; 3,7; 10,6). A conseqüência dessa infidelidade é então indicada: YHWH os entregou às mãos de tal ou tal inimigo (2,14; 3,8; 4,2; 6,1; 10,7). A seguir, vem a fórmula, os filhos de Israel clamaram a YHWH (3,9.15; 4,3; 6,6; 10,10). À súplica de seu povo, YHWH responde suscitando Juízes (2,16) ou um salvador (3,9.15). Enfim, na conclusão dos relatos, aparecem outras fórmulas: o inimigo foi humilhado sob a mão de Israel (3,30; 8,28; cf. 4,23.24) ou ainda: a terra esteve em repouso durante tantos anos (3,11.30; 5,31; 8,28).

         Dessas fórmulas se depreende uma lógica religiosa de quatro termos: o pecado acarreta a castigo, mas o arrependimento do povo conduz ao envio de um salvador. Encontramo-nos assim em face de uma teologia da história que posteriormente foi adicionada a esses relatos e que se aplica a todo Israel; contudo este quadro nem sempre corresponde ao que sabemos da história dos Juízes.

         Se, agora, se procurar atribuir essa teologia a um ou a mais redatores, pode-se pensar nos deuteronomistas, mas ainda assim se trata de uma hipótese que não se impõe sem restrição. A mencionada tese teológica, com seus quatro momentos sucessivos (pecado, castigo, arrependimento e salvação), não se encontra com esta mesma precisão nos outros livros que compõem a “história deuteronomista”, que vai do Deuteronômio ao livro dos Reis. Por outro lado, a multiplicidade de introduções, as diferentes explicações dadas para o retardamento da conquista (2,6 – 3,6), a vontade de atingir o número de doze Juízes, segundo o número das tribos, indicam uma redação escalonada ao longo do tempo. A perspectiva teológica deve ter sido influenciada pelos redatores deuteronomistas, mas não se pode afirmar que a tenham inventado, ainda que a tenham reforçado.

         Os apêndices do livro (17 – 21), que recolhem igualmente tradições antigas, foram acrescentadas durante ou após o Exílio, pois fazem uso de um vocabulário que se encontra nos escritos sacerdotais. Mais difícil é situar a época em que foi acrescentada a introdução de Jz, que contém informações antigas, bastante marcadas pela tendência de fazer a apologia da tribo de Judá.

 

         O livro dos Juízes e a história. Malgrado todas as incertezas que pairam sobre a redação do livro dos Juízes, ele continua a ser para o historiador a única fonte de informações sobre o período que vai da morte de Josué à instauração da monarquia, mas sua utilização suscita numerosos problemas. Os relatos permitem fazer uma idéia do período dos Juízes; oferecem-nos um quadro da história de certas tribos em que nada nos autoriza a afirmar uma unidade política, nem mesmo sob a forma de uma liga de doze tribos. Trata-se de histórias de grupos que revelam afinidades ou hostilidades entre certas tribos, de relatos de combates para conservar o território já adquirido, mas tudo isso é fragmentário e se nos oferece sem o cuidado de uma ordem cronológica.

         Com efeito, o livro dos Juízes não contém nenhuma data; apenas a duração de cada judicatura é indicada, mas se forem somados os números fornecidos para cada juiz obtêm-se uma duração de 410 anos, o que não é compatível com os outros dados cronológicos da história de Israel. A maior parte dos números provém dos redatores, e, se é certo que cada um tem sua própria lógica, é quase impossível restabelece-la e compreende-la. Aliás, o uso freqüente do número 40, que indica o tempo de vida ativa de um individuo, manifesta o caráter aproximado dos dados do livro dos Juízes. Na verdade, a cronologia do período dos Juízes deve ser obtida considerando tanto os inícios do período da realeza como a data da entrada em Canaã. Com efeito, o conjunto das tradições relatadas deve situar-se entre 1200 e 1020 a.C., sendo esta segunda data a do estabelecimento da monarquia.

 

         Um livro da fé de Israel. Documento instigante e difícil para o historiador, o livro dos Juízes é antes de tudo uma obra suscitada pela fé de Israel. Desde os mais antigos textos que o compõem, tal como o Cântico de Débora (Jz 5), descobre-se esta convicção: o Deus – Yaohu de Israel é aquele que sustentou seu povo nas horas difíceis. Essa experiência teologal foi estendida a todo Israel, e o quadro teológico do livro ainda reforçou a intuição original, insistindo na fraqueza de Israel e na paciência de Yaohu, que, incansavelmente, envia homens para libertar as tribos da opressão.

         É certo que os heróis do livro dos Juízes estão enraizados num tempo em que os costumes eram rudes e as idéias morais não correspondiam às nossas. A astúcia de um Ehud, o assassinato de Siserá por Iael, o sacrifício da filha de Iftah, os amores de Sansão podem nos chocar, mas, através desses relatos, que não procuram edulcorar a realidade, é necessário aprender a descobrir a ação de Yaohu, que conduz um povo dando-lhe chefes animados pelo Espírito (3,10; 6,34; 11,29; 13,25; 14,6.19; 15,14). Esses homens prefiguravam o rei que devia receber o Espírito de YHWH para dirigir o povo com justiça, e o próprio rei era o presságio do Messias, sobre quem repousaria o Espírito de Múltiplos dons (Is 11,2).

 

 

 

VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE JUÍZES:

 

         EÚDE

         Pontos fortes e êxitos:

         Segundo juiz de Israel.

         Um homem de ação direta, um líder de primeira categoria.

         Utilizou uma visível fraqueza (era canhoto) para realizar um grande trabalho para Yaohu.

         Encabeçou a revolta contra o domínio moabita e concedeu a Israel 80 anos de paz.

 

         Lições de vida:

         Alguns problemas pedem uma atitude radical.

         Yaohu responde ao choro de arrependimento.

         Yaohu está pronto para usar nossas qualidades únicas a fim de completar seu trabalho.

 

         Informações essenciais:

         Nasceu durante os últimos anos de peregrinação pelo deserto ou nos primeiros anos de Israel na Terra Prometida.

         Ocupações: Mensageiro e juiz.

         Familiares: Pai – Gera.

         Contemporâneo: de Eglom, rei de Moabe.

 

 

         Versículo-chave: “Então, os filhos de Israel clamaram a YHWH, e YHWH lhes levantou um libertador. Eúde, filho de Gera, benjamita, homem canhoto. E os filhos de Israel enviaram pela sua mão um presente a Eglom, rei dos moabitas” (Jz 3,15).

 

 

         Sua história encontra-se em Juízes 3,12-30.

 

 

 

         DÉBORA

         Pontos fortes e êxitos:

         Quarta e única juíza mulher de Israel.

         Habilidades especiais como mediadora, conselheira e consultora.

         Quando chamada para liderar, dispôs-se a planejar, dirigir e delegar.

         Conhecida como profetisa.

         Compositora de hinos.

 

         Lições de vida:

         Yaohu escolhe os líderes pelos seus padrões, não pelos nossos.

         Os líderes sábios escolhem ajudantes tementes a Yaohu.

 

         Informações essenciais:

         Local: Canaã.

         Ocupações: Profetisa e juíza.

         Familiares: Esposo – Lapidote.

         Contemporâneos: Baraque, Jael, Sísera e Jabim, rei de Hazor.

 

 

         Versículo-chave: “E Débora, mulher profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo” (Jz 4,4).

 

 

         Sua história encontra-se em Juízes 4 e 5.

 

 

 

         GIDEÃO

         Pontos fortes e êxitos:

         Quinto juiz de Israel. Estrategista militar especialista em surpreender.

         Um dos heróis da fé, citado em Hebreus 11.

         Derrotou o exército midianita.

         Foi proclamado rei pelos homens de Israel.

         Embora difícil de ser convencido, agiu segundo suas convicções.

 

         Fraquezas e erros:

         Temeu que suas próprias limitações impedissem o trabalho de Yaohu.

         Reuniu o ouro midianita e fez um éfode que se tornou um perigoso objeto de adoração.

         Com uma concubina, teve um filho que traria grande desgosto e tragédia tanto para a sua família como para a nação de Israel.

         Falhou em estabelecer os caminhos de Yaohu para a nação de Israel; após a sua morte, ela voltou à adoração de ídolos.

 

         Lições de vida:

         Yaohu nos chama em meio à nossa presente obediência. Ao sermos fiéis. Ele nos dá mais responsabilidades.

         Yaohu expande e usa as habilidades que Ele mesmo colocou em nós.

         Yaohu nos usa a despeito de nossas limitações e falhas.

         Mesmo aqueles que fazem grande progresso espiritual podem facilmente cair em pecado, caso não sigam a Yaohu com fidelidade.

 

         Informações essenciais:

         Locais: Ofra, vale de Jezreel e fonte de Harode.

         Ocupações: Fazendeiro, guerreiro e juiz.

         Familiares: Pai – Joás; filho – Abimeleque.

         Contemporâneos: Zeba e Salmuna.

 

 

Versículos-chave: “E ele disse: Ai, YHWH meu, com que livrarei Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai. E YHWH lhe disse: Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás os midianitas como se fossem um só homem” (Jz 6,15.16).

 

 

         Sua história encontra-se em Juízes 6 – 8. Ele é também mencionado em Hebreus 11,32.

 

 

 

         ABIMELEQUE

         Pontos fortes e êxitos:

         Autoproclamou-se rei de Israel.

         Planejador e organizador tático qualificado.

 

         Fraquezas e erros:

         Implacável e faminto pelo poder.

         Autoconfiante.

         Tirou vantagem da posição de seu pai sem imitar seu caráter.

         Matou 69 de seus 70 meio-irmãos.

 

         Informações essenciais:

         Locais: Siquém, Arumá e Tebes.

         Ocupações: Autoproclamou-se rei e juiz e criou muitos problemas.

         Familiares: Pai – Gideão; único irmão sobrevivente – Jotão.

 

 

         Versículos-chave: “Assim, Yaohu fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito a seu pai, matando os seus setenta irmãos. Como também todo o mal dos homens de Siquém fez tornar sobre a cabeça deles; e a maldição de Jotão, filho de Jerubaal, veio sobre eles” (Jz 9,56.57).

 

 

         Sua história encontra-se em Juízes 8,31 – 9,57. Ele é também mencionado em 2 Samuel 11,21.

 

 

 

         JEFTÉ

         Pontos fortes e êxitos:

         Citado na Galeria dos Heróis da Fé em Hebreus 11.

         Controlado pelo Espírito de Yaohu.

         Brilhante estrategista militar que negociava antes de lutar.

 

         Fraquezas e erros:

         Guardou rancor pelo tratamento recebido de seus meio-irmãos.

         Fez um tolo e precipitado voto que lhe custou caro.

 

         Lições de vida:

         O passado da pessoa não impede o poderoso trabalho de Yaohu em sua vida.

 

         Informações essenciais:

         Local: Gileade.

         Ocupações: Guerreiro e Juiz.

         Familiares: Pai – Gileade.

 

 

         Versículo-chave: “Assim, Jefté passou aos filhos de Amom, a combater contra eles; e YHWH os deu na sua mão” (Jz 11,32).

 

 

         Sua história encontra-se em Juízes 11,1 – 12,7. Ele é também mencionado em 1 Samuel 12,11 e Hebreus 11,32.

 

 

 

         SANSÃO

         Pontos fortes e êxitos:

         Dedicado a Yaohu desde seu nascimento como narizeu.

         Conhecido por suas demonstrações de força.

         Listado na galeria dos Heróis da Fé em Hebreus 11.

         Deu início à libertação de Israel da opressão filistéia.

 

         Fraquezas e erros:

         Violou seu voto e as leis de Yaohu em muitas ocasiões.

         Era controlado pela sensualidade.

         Confiava nas pessoas erradas.

         Usava seus dons e habilidade imprudentemente.

 

         Lições de vida:

         Excepcional força em determinada área da vida não compensa as grandes fraquezas em outras atividades.

         A presença de Yaohu não oprime a vontade da pessoa.

         Yaohu pode usar a pessoa de fé a despeito de seus erros.

 

         Informações essenciais:

         Locais: Zorá, Timna, Asquelon, Gaza e vale de Soreque.

         Ocupação: Juiz.

         Familiares: Pai – Manoá.

         Contemporâneos: Dalila e Samuel (que nasceu provavelmente enquanto Sansão era o juiz).

 

 

         Versículo-chave: “Porque eis que tu conceberás e terás um filho sobre cuja cabeça não passará navalha; porquanto o menino será nazireu de Yaohu desde o ventre e ele começará a livrar a Israel da mão dos filisteus” (Jz 13,5).

 

 

         Sua história encontra-se em Juízes 13 – 16. Ele é também mencionado em Hebreus 11,32.

 

 

 

         DALILA

         Pontos fortes e êxitos:

         Persistente ao enfrentar obstáculos.

        

         Fraquezas e erros:

         Valorizava mais o dinheiro do que as amizades.

         Traiu o homem que confiava nela.

 

         Lições de vida:

         Precisamos ser cuidadosos para confiarmos apenas nas pessoas que merecem confiança.

 

         Informações essenciais:

         Local: Vale de Soreque.

         Contemporâneo: Sansão.

 

         Versículos-chave: “E sucedeu que, importunando-o ela todos os dias com as suas palavras e molestando-o, a sua alma se angustiou até à morte. E descobriu-lhe todo o seu coração e disse-lhe. Nunca subiu navalha à minha cabeça, porque sou nazireu de Yaohu, desde o ventre de minha mãe, se viesse a ser rapado, ir-se-ia de mim a minha força, e me enfraqueceria e seria como todos os mais homens” (Jz 16,16.17).

 

 

         Sua história encontra-se em Juízes 16.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        

 

 

        

 

 

        

 

 

 

 

 

 

 

        

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:

 

RUTE

 

 

INTRODUÇÃO

 

        

Visão geral

         Autor: Desconhecido.

         Propósito: Demonstrar a legitimidade do reinado de Davi apesar de sua ancestral moabita, Rute.

         Data: Cerca de 1000 a.C.

         Verdades fundamentais:

         A providência de Yaohu algumas vezes é severa, mas ele sempre opera pelo bem do seu povo.

         O amor e a devoção familiar que são orientados pela lei de Yaohu trazem alegria e felicidade.

         A família de Davi foi a nobre linhagem real escolhida por Yaohu.

 

 

         Propósito e características

         Vários estudiosos propuseram diferentes temas centrais para o livro. Dentre outros propósitos possíveis, o livro de Rute é considerado como a explicação de que: (1) uma pessoa convertida (até mesmo uma moabita) poderia ser verdadeiramente fiel ao ETERNO e ser totalmente aceita em Israel; (2) as qualidades de lealdade e fidelidade à aliança demonstrada por uma estrangeira poderiam servir de modelo para a resposta de Israel ao ETERNO; e (3) o ETERNO como Redentor redimiria e restauraria a família exilada de Israel às suas terras.

 

 

 

         CRISTO EM RUTE.

       Cristo é revelado no livro de Rute, antes de tudo, no modo como o livro testemunha à legitimidade do reinado de Davi. Primeiro, ao legitimar Davi, o livro legitima Cristo como o grande Messias, Yaohushua obteve o trono de Israel porque era o filho totalmente fiel de Davi (Mc 10,47-48; At 2,22-36; Rm 1,2-4). Por causa do interesse pela genealogia de Yaohushua por parte dos escritores dos Evangelhos de Mateus e de Lucas, os seguidores de Cristo podem ter a certeza da afirmação no Novo Testamento de que ele é o Messias. Yaohushua inaugurou o reino de Davi em seu ministério na terra. Hoje, ele reina e expande o seu reinado e um dia retornará para trazer o domínio mundial para a linhagem de Davi (Am 9,11; At 15,14-19).

         Segundo, o interesse que o livro mostra na inclusão de Rute, uma gentia, antecipa a expansão do reino de Yaohu aos gentios durante o período do Novo Testamento. E Rute, ao exibir uma fé como a de Abraão e ao deixar seu país e parentes para viajar sob os cuidados de YHWH para uma terra estrangeira, encontrou a bênção prometida para todas as nações na descendência de Abraão (Gn 12,3). Assim como ela se tornou parte de Israel, gentios e judeus estão agora reconciliados com Yaohu num só corpo, por meio de sua união com Cristo (Ef 2,16; 3,6).

         Terceiro, o retrato ideal de Boaz, o resgatador de Rute, fornece consistência à declaração do Novo Testamento de que a Igreja é a noiva de Cristo (Ef 5,25-27; Ap 19,1-8; 22,17). Boaz demonstrou amor intenso e abnegado por duas viúvas desamparadas, Rute e Noemi. Essa caracterização de Boaz dá uma visão do quanto Cristo ama intensa e abnegadamente a sua dependente noiva, a Igreja.

 

 

 

         RUTE: O livro de Rute, cujo nome se deve à principal heroína do relato, narra a história de uma família de Bet-Lehem que emigrou para a terra de Moab. Lá chegando, Elimélek, esposo de Noemi, morre, assim com seus dois filhos, Mahlon e Kilion, que haviam desposado duas moabitas, Rute e Orpá. Ao cabo de dez anos, Noemi retorna a Bet-Lehem, acompanhada de Rute, enquanto Orpá volta para junto de seu povo. Rute vai recolher espigas no campo de Boaz, que a acolhe com benevolência. Noemi, sabendo que Boaz tem sobre Rute um direito de resgate, aconselha a nora a incitar Boaz a desposa-la. Ele acede ao pedido e, após a desistência de um resgatador mais próximo, toma Rute por mulher. Ela lhe dá um filho; Obed, pai de Jessé, pai de Davi.

         Na Bíblia hebraica, a história de Rute se situa entre os “Ketubim” ou Escritos. A Bíblia grega e a Bíblia latina inserem-na depois dos Juízes, certamente por causa da indicação cronológica que está no primeiro versículo.

         A data do texto ainda é bastante discutida. Para uma data pré-exilica, levantaram-se várias razões.

         Os costumes jurídicos aduzidos no livro (direito de resgate, matrimonial; cf. nota a 4,5) refletiram uma legislação anterior ao Deuteronômio. O estilo do livro se aproximaria da prosa clássica do AT. O estudo dos nomes próprios sugeriria uma origem antiga. Entretanto, uma data pós-exílica parece preferível. O autor considera muito distanciada a época dos Juízes. Deve explicar um velho costume caído em desuso. Algumas particularidades lingüísticas sugerem uma época tardia. A teologia do livro (universalismo, concepção da retribuição e sentido do sofrimento) pode ser mais bem entendida num clima pós-exílico. A época de Esdras e de Neemias conviria muito bem ao relato, favorável à causa dos matrimônios com estrangeiras, contra as reformas rigorosas de Ed 9 e Ne 13.

         Mas o livro de Rute não é uma polêmica. O autor evoca o exemplo da avó de Davi, uma estrangeira, modelo de piedade que, por um casamento levirático providencialmente conduzido pelo YHWH, introduziu-se legalmente numa família israelita e, ainda por cima, davídica.1Sm 22,3-4 aponta os vínculos entre David e Moab.

         Com exceção da genealogia, 4,18-22, que se reencontra em 1Cr 2,5-15 e que parece ser uma adição, a unidade literária do livro revela-se sem falhas. O relato se desenvolve em perfeita harmonia: quatro quadros (1,6-18; 2,1-17; 3,1-15; 4,1-12) precedidos de uma introdução (1,1-5), seguidos de uma conclusão (4,13-17), com intermédios que servem de transições (1,19-22; 2,18-23; 3,16-23; 3,16-18). Paralelismo numerosos, passagens ritmadas, assonâncias e aliterações atravessam todo o livro, tornando-o uma obra-prima da literatura. Acrescentemos ainda trocadilhos contidos nos nomes próprios: Elimélek (Meu-Deus-é-rei), Noemi (Minha Graciosa) contrastam singularmente com Mahlon (Doença) e Kilion (Fragilidade), cujos nomes anunciam morte próxima. Orpá poderia evocar a “nuca”, que se vira ao partir, e simbolizar a defecção, enquanto Rute, provavelmente aparentada a “amiga”, ou mais certamente a “reconfortada”, anuncia a afeição ou o reconforto. O nome de Boaz (Força-nele) engendra a esperança, o de Mara (Amarga) traduz a miséria. Quando a Obed, significa “servidor”, “servo” (subentendido: de um deus particular; aqui: do Senhor). A mudança de Noemi para Mara em 1,20 sugere claramente que o autor dá a estes nomes próprios um valor simbólico.

         O livro de Rute faz parte dos cinco Rolos lidos nas principais festas judaicas. Ele é utilizado para a festa de Pentecostes. Será que foi escolhido para tal por situar-se no começo da colheita da cevada? Ou mais profundamente porque, se a festa judaica de Pentecostes celebra o dom da Lei a Israel, o livro de Rute estende este dom às nações pagãs, e a genealogia final chega a fazer de uma estrangeira a antepassada de Davi e, em conseqüência, do futuro Messias? Seria difícil dize-lo com exatidão. A tradição rabínica viu em Rute o modelo de prosélito, e a expressão “vir sob as asas de YHWH” (cf. 2,12) veio designar a conversão ao judaísmo.

         Rute figura na genealogia de Cristo, segundo o evangelho de Mateus 1,5. Este último traço enfatiza o universalismo e o messianismo do nosso relato.

 

 

 

VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE RUTE:

 

 

         RUTE & NOEMI

         Pontos fortes e êxitos:

         Uma relação onde o maior laço era fé em Yaohu.

         Uma relação de forte compromisso mútuo.

         Uma relação na qual cada pessoa tentava fazer o melhor pela outra.

         Lições de vida:

         A presença viva de Yaohu em uma relação supera as diferenças que poderiam de outro forma criar divisão e desarmonia.

 

         Informações essenciais:

         Locais: Moabe e Belém.

         Ocupações: Esposas e viúvas.

         Familiares: Elimeleque, Malom, Quiliom, Orfa e Boaz.

 

 

         Versículo-chave: “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti, porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus – Yaohu é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; me faça assim YHWH e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti” (Rt 16,17).

 

 

         Sua história encontra-se no livro de Rute. Ela também é mencionada em Mateus 1,5.

 

 

 

         BOAZ

         Pontos fortes e êxitos:

         Um homem de palavra.

         Sensível aos necessitados, atencioso para com seus empregados.

         Um agudo senso de responsabilidade e integridade.

         Um homem de negócios, inteligente e bem-sucedido.

 

         Lições de vida:

         Pode ser heróico realizar o que deve ser feito e faze-lo corretamente.

         Yaohu freqüentemente usa pequenas decisões para executar seu grande plano.

 

         Informações essenciais:

         Local: Belém.

         Ocupação: Rico fazendeiro.

         Familiares: Elimeleque, Noemi e Rute.

 

 

         Versículo-chave: “E de que também tomou por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do falecido sobre a sua herdade, para que o nome do falecido não seja desarraigado dentre seus irmãos e da parta do seu lugar; disto sois hoje testemunhas” (Rt 4,10).

 

 

         Sua história encontra-se no livro de Rute. Ele é também mencionado em Mateus 1,5.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:

 

SAMUEL

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

Visão geral

         Autor: Desconhecido.

         Propósito: Explicar que a dinastia de Davi continuava a ser a esperança para o futuro de Israel apesar das maldições que Davi e sua casa trouxeram sobre a nação.

         Data: 930-538 a.C.

         Verdades fundamentais:

         Yaohu queria que o seu povo tivesse um rei escolhido por ele.

         Yaohu cuidadosamente preparou o caminho para o rei de sua escolha.

         Yaohu escolheu a casa de Davi para ser a família real eterna.

         Apesar da fraqueza do reino de Davi, a esperança para o povo de Yaohu ainda permanecia na sua família.

 

 

         Propósito e características

         O título do livro tem variado ao longo dos séculos. A Septuaginta (a tradução grega do AT) junta 1 e 2Samuel com 1 e 2Reis como o “Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Livros dos Reinos” (ou “Reinados”). Do mesmo modo, a Vulgata (a tradução da Bíblia para o latim) refere-se a esses livros como “Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Reis”. As versões mais modernas refletem a tradição hebraica de fazer a distinção entre os livros de Samuel e os de Reis. Até o século 15, a tradição hebraica tratava 1 e 2Samuel como um único livro.

         Foi durante a segunda metade do século 11 a.C., uma época em que os impérios do antigo Oriente Próximo ainda não estavam plenamente fortalecidos, que Yaohu transformou Israel, de uma confederação tribal dispersa numa monarquia unida. Ainda que a instituição da monarquia tenha marcado um importante desenvolvimento religioso e político, a idéia não era nova em Israel. Um princípio fundamental de fé israelita era de que o próprio YHWH era o soberano de Israel, o grande Rei (p. ex., 8,7; 12,12; Nm 23,21; Sl 5,2; Ml 1,14). Todavia, os primeiros livros da Bíblia contêm várias indicações de que Israel, em concordância com a vontade divina, teria um monarca humano (Gn 49,10; Nm 24,7.17-19; cf. Gn 17,6.16; 35,11). Em Dt 17,14, Moisés previu uma época em que Israel estaria estabelecido na Terra Prometida e desejaria um rei, tendo deixado instruções para regularizar o reino nesse momento em que a monarquia seria instituída (vs. 15-20; cf. 28,36). Esse período de tempo é o assunto do livro de Samuel.

 

 

 

         CRISTO EM 1 E 2SAMUEL. 

         Cristo permanece como um contraste aos muitos exemplos de líderes pecadores de Israel que aparecem no livro. Todavia, mais do que isso, Yaohushua é o herdeiro do trono de Davi, e a carreira de Davi antecipa a pessoa e obra de Cristo. Tanto Davi como Yaohushua tiveram uma confirmação profética; Davi, por Samuel (3,20; 16,13) e Yaohushua, por João Batista (Mt 14,5; Jo 1,29-31; 5,31-35). O Espírito de YHWH desceu sobre ambos (1Sm 16,13; Mc 1,9-11), os dois realizaram prodígios (cap. 17; Mt 11,4-5), envolveram-se na guerra santa (cap. 17; Cl 1,20), foram rejeitados por rei invejosos (18,9; Mt 2,16) e alertados para fugir a fim de salvar a própria vida (cap. 20; Mt 2,13-15). Rejeitados pelo seu próprio povo sem uma justa causa (23,12; Jô 19,15), ambos aprenderam no exílio a depender de Yaohu. Eles intercederam em favor do povo de Yaohu (2Sm 21,24; Jo 17) e foram grandemente exaltados pelo YHWH (2Sm 23,1-8; Js 52,13; Fp 2,9). Nesses e em muitos outros exemplos, a vida de Davi prefigurou as realizações de Cristo, seu filho.

 

 

 

         SAMUEL: (O título dos Livros). A divisão de Samuel em dois livros é muito recente. Uma nota masorética a 1Sm 28,24 indica que o “centro do livro” se encontrava neste lugar. Os tradutores gregos devem ter copiado a tradução em dois rolos, que intitularam 1º e 2º livro dos Reinados. Tal divisão, seguida pela Vulgata (que os chamava 1º e 2º livro dos Reis), se impôs às bíblias hebraicas a partir dos séculos XV/XVI.

         A comparação do texto hebraico com o da versão grega revela importantes divergências. É pouco provável que os Setenta tenham agido por conta própria nas adições e omissões constatáveis no texto grego. Os escassos vestígios já publicados do texto hebraico encontrado em Qumran mostram um texto hebraico às vezes mais próximo daquele que parece ter servido de base à Septuaginta. Por outro lado, a antiguidade destas testemunhas não basta para provar que estejam fornecendo o “texto autêntico”. A versão grega, ou antes, seu substrato hebraico, pode ter procurado eliminar algumas duplicatas ou contradições e representa provavelmente uma recensão menos espinhosa que a transmitida pelos masoretas. As duas recensões deviam ainda coexistir no início da era cristã.

         O título Samuel reflete uma antiga tradição rabínica que dava o profeta Samuel por autor destes livros (Baba Batra 14b). Rabinos posteriores, tomando ao pé da letra 1Cr 29,29-30, supuseram que a obra de Samuel, depois de sua morte, fora continuada pelos profetas Natan e Gad (Baba Batra 15 a).

         Por mais antiga que seja, a própria definição dos livros de Samuel tem algo de artificial. Percebe-se particularmente que os caps. 21 – 24 de 2Sm interrompem uma narrativa relativamente homogênea quanto ao estilo e argumento, relatando as vicissitudes internas do reino de Davi e conduzindo à ascensão de Salomão. Os dois primeiros capítulos de 1Rs pertencem a esse conjunto antigo, cuja unidade foi rompida pela inserção de 2Sm 21 – 24. Esta inserção é comparável à de Jz 17 – 21, constituída de apêndices que interrompem a série de histórias de juízes-salvadores que 1Sm parece conter.

 

 

         O conteúdo dos livros. Na sua disposição atual, as diversas partes dos livros de Samuel parecem encadeadas segundo uma ordem cronológica, desconsiderados os “Suplementos” de 2Sm 21 – 24. A primeira parte (1Sm 1 – 7) narra a carreira de Samuel desde seu nascimento e vocação profética, até o momento em que se tornou um grande juiz, salvador de Israel. O ambiente é o das guerras contra os filisteus, das quais se retêm sobretudo os episódios referentes ao destino da arca de Shilô.

         Quando Samuel envelhece, o povo, sob a pressão do perigo externo, vem pedir-lhe um rei. Esta iniciativa provoca objeções do profeta, defensor da teocracia. Não obstante, ele acede ao desejo dos anciãos de Israel e confere a investidura a Saul. Instalado o rei, Samuel se retira. A discussão em torno à realeza e os relatos da ascensão de Saul ocupam os capítulos 8 – 12 de 1Sm, constituindo a 2ª parte deste livro.

         A 3ª parte (1Sm 13 – 15) focaliza as guerras de Saul contra os filisteus e os amalequitas. Estas guerras são vitoriosas, mas já se acumulam sombras sobre o rei: ele se torna culpado de dois atos de desobediência à vontade divina, e Samuel lhe revela sua destituição, anunciando-lhe, em termos explícitos, que Davi o vai substituir.

         A carreira de Davi, desde sua apresentação a Saul até o momento de sua sagração como rei, é narrado no conjunto complexo que se chama “história da ascensão” de Davi (1Sm 16 – 2Sm 5). Sagrado, ainda criança, por Samuel, Davi entra para o serviço de Saul e se distingue pela vitória gloriosa sobre um gigante filisteu. Torna-se grande chefe de guerra e conquista a afeição de todos, particularmente de Jônatan, o filho de Saul. Mas ele inspira a Saul um ciúme mórbido, que tenta por várias vezes, sem êxito, desembaraçar-se de seu rival. Davi deve fugir e, perseguido por Saul, começa uma vida errante que o conduz a pôr-se a serviço dos filisteus, sem contudo empunhar armas contra seu próprio povo. Quando Saul e Jônatan tombam diante dos filisteus na batalha de Guilboa, Davi continua a luta contra os sucessores de Saul e anda de vitória em vitória, enquanto a casa de Saul vai enfraquecendo.

         A 5ª parte (2Sm 6 – 8) é a dobradiça do díptico que constitui a história de Davi nos livros de Samuel. A instalação da arca de Shilô em Jerusalém consagra a cidade conquistada por Davi como capital de seu reinado, e a profecia de Natan estabelece em favor da dinastia davídica o princípio de hereditariedade monárquica. A notícia do cap. 8 lembra que o fundador da monarquia de Jerusalém foi também o conquistador de um verdadeiro império.

         O segundo painel do díptico é representado pelos caps. 9 – 20 de 2Sm (aos quais convém acrescentar 1Rs 1 – 2). É a relação dos acontecimentos que deságuam na entronização de Salomão. Muito espaço ocupa o relato do nascimento de Salomão e as circunstâncias que o acompanham. Depois se relata como foram eliminados da sucessão os filhos de Davi que poderiam representar obstáculo ao destino de Salomão: Amon, Absalão (e Adonias).

         Introduzidos por ocasião de uma pausa no relato da “sucessão de Davi”, os apêndices de 2Sm 21 – 24 agrupam, em torno a duas composições líricas e notícias referentes a diversas pessoas, as relações de duas catástrofes naturais e de seu esconjuro, relatos que não conseguiram lugar nos capítulos precedentes, a despeito de seu significado histórico e religioso.

 

 

         Os livros de Samuel e a história de Israel. Os livros de Samuel abrangem um longo período da história israelita, sendo possível determinar-lhe ao menos o termo final. Levam-nos até a velhice de Davi, alguns anos, ao que parece, antes da ascensão de Salomão em 970 a.C. Não é tão fácil situar na história os episódios iniciais, mergulhados na mesma indefinição cronológica que as histórias dos Juízes. Desta época remota, subsistem em Samuel tradições contendo elementos com incontestável sabor de autenticidade: as informações a respeito da dominação filistéia, particularmente o monopólio do ferro conservado pelos filisteus (1Sm 13,19-21), os relatos de guerras, ricos em indicações topográficas precisas e verificáveis (1Sm 13; 17; 31), os das peregrinações de Davi fugitivo. A tensão entre “Israel” e “Judá”, que se percebe nas histórias dos conflitos entre Davi e a casa de Saul e da rebelião de Absalão, é um dado de valor sólido. Malgrado a ausência de fontes externas, não podemos desmerecer o que nos ensina 2Sm 8 sobre as guerras de Davi: somente a constituição de um Império davídico, bem no começo do 1º milênio, quando tanto o Egito como a Assíria estão na defensiva, pode explicar a prosperidade do reinado de Salomão, tendo Israel então acesso ao Mediterrâneo e ao Mar Vermelho. As notícias sobre os funcionários de Davi (2Sm 8,15-18; 20,23-26) e o recenseamento de que fala 2Sm 24 atestam uma vontade decidida de organizar o território e marcam uma mudança significativa em relação ao tempo de Saul, cujo aparato de defesa não passava de um embrião de exército permanente. Em compensação, não se devem perguntar a Samuel informações seguras quanto ao início da realeza. O perigo filisteu certamente pode explicar a iniciativa dos anciãos que vêm pedir um rei a Samuel, mas, quando e onde acontecem isso? A tradição de 1Sm 11, mostrando em Saul o vencedor dos amonitas e o salvador de Iabesh de Guilead, tem para si as melhores garantias, segundo o estudo interno; mas será historicamente compatível com os outros relatos de sua entronização? Saul foi coroado em Rama, em Mispá, em Guilgal ou, sucessivamente, nestes diversos lugares? A cronologia do reino de Saul continua totalmente desconhecida. A notícia de 1Sm 13,1 indica que dela não se tem lembrança.

 

 

         Elementos de uma compilação. Os livros de Samuel não são uma crônica que acompanhe os acontecimentos passo a passo. São uma obra literária que reúne materiais heterogêneos, às vezes muito antigos. Reúne tradições orais que devem remontar aos próprios dias de Saul e Davi, mas cujo estudo original já não se distingue com clareza por trás da forma escrita, páginas escritas provavelmente no reinado de Salomão e complementações introduzidas depois da ruína do Estado em 587, quando os livros de Samuel receberam seu lugar na obra atribuída à escola histórica chamada “deuteronomista” (Josué-Juízes-Samuel-Reis), tão facilmente reconhecida por sua fraseologia e estilo.

         Há certo consenso quanto a ver na “história da secessão de Davi” (2Sm 9 – 20 + 1Rs 1 – 2) um relato relativamente homogêneo, cujas características literárias lembram às tão perto o autor “javista” do Pentateuco que se chegou a ver essa página como o vestígio de uma antiga história nacional que iniciava pelo relato da criação do homem (Gn 2). O relato da revolta de Absalão, rico em observações precisas, como registradas ao vivo, deve ser obra de uma testemunha dos acontecimentos e não pode ter sido publicado muito tempo depois. Constitui o núcleo da “história de sucessão”, e recebeu como prefácio à história do nascimento de Salomão (2Sm 9 – 12) e como conclusão, a do fracasso de Adonias (1Rs 1 – 12); de modo que estes capítulos poderiam chamar-se também a “história da ascensão de Salomão”. Não obstante a objetividade de tom, percebe-se nitidamente a tendência do autor.

         A composição do conjunto precedente (1Sm 16 – 2Sm 5), à qual se podem acrescentar elementos antigos da profecia de Natan (2Sm 7) e a história da arca (2Sm 6), é bem mais difícil de ser rastreada. Se a história da ascensão ou do advento ao trono de Davi é melhor estruturada do que geralmente se acredita (vê-se que narradores e redatores procuraram construir), a presença de duplicatas chama a atenção: a entrada de Davi no serviço de Saul, o atentado malogrado de Saul contra Davi, a intervenção de Jônatan a favor de Davi, a aproximação de Davi aos filisteus, a denúncia da gente de Zif, o episódio em que Davi poupa Saul, tudo isso é narrado duas vezes. Por isso, vários exegetas acreditaram que estes capítulos continuavam os “documentos do Pentateuco”. Contudo, parece antes que na maioria dos casos estamos diante de tradições diferentes (já fixadas, quer oralmente, quer por escrito), que os narradores e redatores decidiram conservar e que tentaram organizar balizando sua coleção por fórmulas de moldura e sublinhando por palavras-chave os temas dominantes de cada parte. “Apesar destas duplicatas, a história da ascensão de Davi apresenta tanta afinidade com a da sucessão que se é inclinado a pensar que os autores pertenciam ao mesmo ambiente: escribas da corte de Jerusalém, selecionando e codificando tradições orais já elogiosas ao rei”. O processo de idealização de Davi, nitidamente perceptível nesta parte, prolonga-se a uma etapa ulterior da redação: 1Sm 16, narrando a unção de Davi por Samuel, serve evidentemente para pôr o segundo rei no mesmo nível que o primeiro e encontra-se intimamente ligado ao cap. 15, de incontestável caráter secundário.

         Os capítulos consagrados às guerras de Saul são uma compilação. Encontram-se aí tradições antigas sobre as guerras do tempo de Saul contra os filisteus e das quais o verdadeiro herói é Jônatan, o amigo de Davi; a tendência é claramente hostil a Saul (1Sm 13 – 14). A narrativa da campanha contra Amaleq (1Sm 15) tem bases bem menos seguras nas tradições antigas. É um enfeite literário introduzido talvez para marcar a falência da realeza de Saul, culpado por infringir um mandamento divino. A destruição de Saul é a introdução necessária da história de Davi, que a segue de imediato.

         À parte de 1Sm onde são tratadas as origens da realeza (8 – 12) não tem uma história menos complexa atrás de si. Também aí encontram-se compilados elementos de origem diversa. Alguns são antigos, apesar de retoques secundários. Assim a história das jumentas, certamente adaptação de uma lenda benjaminita (9 – 10,16), uma tradição acerca da escolha do rei por sorteio, em Mispá (10,17-27), a narração do cap. 11, onde Saul aparece favoravelmente, sob os traços de um juiz carismático vitorioso sobre o inimigo amonita. O cap. 8 expõe desde o início o problema teológico levantado pela própria instituição da monarquia. Condena o desejo do povo que pede um rei, embora indique também que YHWH acaba consentindo. Hoje tende-se a ver nos “costumes do rei”, contra os quais Samuel adverte seus compatriotas, a lembrança de práticas características dos reis “como as nações os possuíam” por volta do fim do 2º milênio, antes do que uma condenação antecipada de práticas iníquas dos reis de Israel. A base do cap. 8 seria então mais antiga do que se acreditou durante longo tempo. Contudo, convém reconhecer que o discurso de Samuel no cap. 8 foi retocado por um redator deuteronomista, bem como diversos outros discursos que figuram nos livros de Samuel (é o gênero literário que mais se presta a ampliações). E é ao deuteronomista só que se deve atribuir o sermão de despedida de Samuel no cap. 12. Em toda esta parte não aparece um juízo acerca de Saul. Ele é simplesmente apresentado, e de diversas maneiras, como eleito de YHWH. Parece haver aqui maior interesse pela instituição monárquica do que pelo primeiro detentor da dignidade real.

         A primeira parte do livro (1Sm 1 – 7) é dominada pela figura de Samuel. É apresentado como espécie de tipo ideal do homem religioso; ele é, ao mesmo tempo, associado ao santuário e investido com uma missão profética. Procura-se também mostrar nele o verdadeiro salvador de sua época (talvez com uma ponta polêmica contra Saul, cf. 1,27-28). Insiste-se na eleição de Samuel, para evidenciar naquele que consagrou os reis o agente credenciado por Yaohu. Outros elementos dos caps. 1 – 7 tomam sentido quando se levam em consideração as preocupações principais do conjunto dos livros de Samuel: as aventuras da arca são relatadas com tantos detalhes, porque contribuem para glorificar o móvel sagrado do qual Davi fez o “palácio” de sua capital; o anúncio do “sacerdote fiel”, em 2,27-36, serve para a glória de uma instituição da era salomônica, o sacerdócio sadoquita; a antítese elevação/queda (lembrada de modo lapidar em 2,7) domina a história de Samuel, oposto a Eli e seus filhos, mas também a de Davi oposto a Saul e sua casa. A lenda de Samuel não carece de nexos com o que se segue a ela. Pode-se atribuir a um doutrinário regalista a compilação de tradições antigas que constitui os capítulos 1 – 6. O cap. 7, onde se reconhecem a preocupação e o estilo do historiador deuteronomista, foi recomposto por este autor no intuito de fazer dele a conclusão da história dos Juízes.

 

 

         Lições acerca da realeza. A descoberta das tendências político-religiosas dos narradores e escritores permite formular algumas hipóteses quanto à composição dos livros de Samuel. Com efeito, mais que um longo capítulo da história antiga de Israel, estes livros são um ensinamento do qual convém perceber os pontos principais.

         O tema dominante é o da realeza. Não se procura encobrir a ambigüidade de sua instituição. Israel tem por rei YHWH. O que representa então um soberano humano? O problema é resolvido em favor da instituição monárquica, já que, afinal, YHWH e seu intermediário, Samuel, presidem à designação de Saul. Se, contudo a iniciativa do povo é condenada sem cerimônia, talvez seja para significar que a realeza de um homem, por direito, não procede da vontade humana e sim, da autoridade divina, e que a monarquia israelita não é nem democrática, nem autocrática, mas permanece subordinada à teocracia. Talvez procure-se sugerir que Saul pessoalmente tenha sofrido por ter sido “pedido” (o sentido de seu nome em hebraico). O nimbo legendário que envolve a figura de Samuel realça a supremacia do homem religioso mediador da vontade divina. Insiste-se na natureza religiosa das faltas que provocam a queda de Saul, para indicar que o rei não deve invadir um domínio que não é seu. A isso associa-se o interesse dos livros de Samuel pelos objetos, práticas e pessoas do culto (particularmente quanto à arca, intocável segundo 2Sm 6,7, e quanto ao altar de Jerusalém, 2Sm 24).

         O rei por excelência é Davi. Ele é fortemente idealizado, sobretudo na história de seus inícios, pelos relatos de suas façanhas, da afeição que ele inspira, de sua magnanimidade e modéstia, embora não se esconda que sua carreira foi a de um soldado que teve sorte. Não falta a observação da submissão que este rei ideal demonstra em relação a YHWH e suas instâncias e o seu cuidado em consultar a vontade divina. Assim, ele aceita a reprimenda do profeta Natan, em conseqüência de seu pecado de adultério, o que mostra que, em Israel, o rei não está acima da lei. Mas, à diferença de Saul, Davi não é punido na sua descendência; ele recebe a segurança de ver reinar no seu lugar um de seus filhos. Este filho é Salomão, cujo advento se vê preparado pelo amor que Yaohu lhe tem desde o nascimento. Nossos livros são, portanto uma apologia da dinastia judaíta. Segundo a profecia de Natan (2Sm 7), cujo teor essencial não foi modificado pela redação deuteronomista, a casa de Davi deve ocupar para sempre o trono de Jerusalém, pouco importa quais sejam as faltas pessoais dos que exercem nela a monarquia.

         Esta idéia religiosa expressa provavelmente num tempo em que a monarquia judaíta se considerava segura de um longo porvir, teve uma sorte extraordinária, que valeu aos livros de Samuel seu lugar na história da salvação. Virá um dia em que os reis se terão culpabilizado de tantas faltas que a própria realeza parecerá condenada; o veredicto definitivo será pronunciado sobre ela em 587. Não obstante, não se deixará de acreditar na garantia eterna concedida por Yaohu à casa de Davi, e esperar-se-á com confiança o advento de um filho de Davi digno das promessas feitas ao seu antepassado. Trata-se do Messias, por um lado, rei ideal, mas, por outro, descendente carnal daquele que YHWH tinha elegido por volta do ano 1000 antes de nossa era.

 

 

 

VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE 1 e 2 SAMUEL:

 

(1Sm).

 

         ANA

         Pontos fortes e êxitos:

         Mãe de Samuel, maior juiz de Israel.

         Fervente em adoração, efetiva em oração.

         Disposta a cumprir até mesmo um penoso compromisso.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Lutou com seu senso de auto-estima por ser incapaz de ter filhos.

 

 

         Lições de vida:

         Yaohu ouve e responde as orações.

         Nossos filhos são presentes de Yaohu.

         Yaohu está preocupado com o aflito e o oprimido.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Efraim.

         Ocupação: Dona de casa.

         Familiares: Marido – Elcana; filho – Samuel. Mais tarde, três outros filhos e duas filhas.

         Contemporâneo: Eli, o sumo sacerdote.

 

 

 

         Versículos-chave: “E disse ela: Ah! Meu senhor, viva a tua alma, meu senhor, eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao YHWH. Por este menino, orava eu; e o YHWH me concedeu a minha petição que eu lhe tinha pedido. Pelo que também ao YHWH eu o entrego, por todos os dias que viver; pois ao YHWH foi pedido. E ele adorou ali a YHWH” (1Sm 1,26-28).

 

         *Aqui, você, pode ver o contraste em (“senhor”, Senhor, e, “SENHOR”) –, POIS TODAS ESSAS FORMAS DE FALAR SE REFERE AO HOMEM QUE CUIDARIA DE SAMUEL. INSTRUINDO-O COMO SACERDOTE DE DEUS-YAOHU-UL. E, NÃO AO “NOME DE DEUS” NEM, AO MENOS, A UM TÍTULO DIVINO, POIS REPRESENTA UMA ENTIDADE PAGÃ COMO BAAL. E, SENHOR; ESCRITO DE QUALQUER FORMA, REPRESENTA UMA EXPRESSÃO AO SER HUMANO COMO RESPEITO E NÃO A UMA ENTIDADE DIVINA. POR ISSO TEM QUE SER O TETRAGRAMA – “YHWH”. (ANSELMO ESTEVAN).

 

         Sua história encontra-se em 1 Samuel 1 e 2.

 

 

 

         ELI

         Pontos fortes e êxitos:

         Julgou Israel por 40 anos.

         Falou com Ana, a mãe de Samuel, e assegurou-lhe a bênção de Yaohu.

         Criou e treinou Samuel, o maior juiz de Israel.

        

 

         Fraquezas e erros:

         Falhou em disciplinar seus filhos ou corrigi-los quando pecaram.

         Tendia em reagir a situações ao invés de tomar uma atitude decisiva.

         Viu a Arca da Aliança como uma relíquia a ser cuidada e não como um símbolo da presença de Yaohu para Israel.

 

 

         Lições de vida:

         Os pais precisam disciplinar seus filhos com responsabilidade.

         A vida é mais do que simplesmente reagir, ela requer iniciativa.

         As vitórias passadas não podem substituir a confiança presente.

        

 

Informações essenciais:

         Local: Siló.

         Ocupações: Sumo sacerdote e juiz de Israel.

         Familiares: Filhos – Hofni e Finéias.

         Contemporâneo: Samuel.

 

 

 

         Versículos-chave: “E disse YHWH a Samuel: Eis aqui vou eu a fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambas as orelhas. Naquele mesmo dia, suscitei contra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa, começa-lo-ei e acaba-lo-ei. Porque já eu lhe fiz saber que julgarei a sua casa para sempre, pela iniqüidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se seus filhos execráveis, não os repreendeu. Portanto, jurei a casa de Eli que nunca jamais será expiada à iniqüidade da casa de Eli com sacrifícios com oferta de manjares” (1Sm 3,11-14).

 

 

 

         Sua história encontra-se em 1 Samuel 1 – 4. Ele é também mencionado em 1 Reis 2,26.27.

 

         SAMUEL 

         Pontos fortes e êxitos:

         Usado por Yaohu para ajudar na transição de Israel de um livre governo tribal para uma monarquia.

         Ungiu os dois primeiros reis de Israel.

         Foi o último, porém mais eficiente juiz de Israel.

         Citado na Galeria dos Heróis da Fé em Hebreus 11.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Foi incapaz de levar seus dois filhos a uma intima comunhão com Yaohu.

 

 

         Lições de vida:

         O significado das realizações do povo está diretamente relacionado à sua relação com Yaohu.

         O tipo de pessoa que somos é mais importante do que qualquer coisa que possamos realizar.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Efraim.

         Ocupações: Juiz, profeta e sacerdote.

         Familiares: Mãe – Ana; pai – Elcana; filhos – Joel e Abias.

         Contemporâneos: Eli, Saul e Davi.

 

 

 

         Versículos-chave: “E crescia Samuel, e YHWH era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta de YHWH” (1Sm 3,19,20).

 

 

 

         Sua história encontra-se em 1 Samuel 1 – 28. Ele é também mencionado em Salmos 99,6; Jeremias 15,1; Atos 3,24; 13,20; Hebreus 11,32.

 

 

 

         SAUL

         Pontos fortes e êxitos:

         Primeiro rei de Israel designado por Yaohu.

         Conhecido por sua coragem e generosidade pessoais.

         Extremamente alto, com uma notável aparência.

        

 

         Fraquezas e erros:

         Suas habilidades de liderança não combinavam com as expectativas criadas por sua aparência.

         Impulsivo por natureza tendia a ultrapassar seus limites. Com inveja de Davi, tentou mata-lo.

         Ele especificamente desobedeceu a Yaohu em várias ocasiões.

 

 

         Lições de vida:

         Yaohu quer obediência do coração, não meros atos de cerimônia religiosa.

         A obediência sempre envolve sacrifícios, mas sacrifícios nem sempre envolve obediência.

         Yaohu quer fazer uso de nossas forças e debilidades.

         As fraquezas deveriam nos ajudar a lembrar as nossas necessidades da direção e ajuda de Yaohu.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Terra de Benjamim.

         Ocupação: Rei de Israel.

         Familiares: Pai – Quis; filhos – Jônatas e Isbosete; esposa – Ainoã, filha de Aimaás; filhas – Merabe e Mical.

 

 

 

         Versículos-chave: “Porém Samuel disse: Tem, porventura, YHWH tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça à palavra de YHWH? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra de YHWH, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (1 Sm 15,22.23).

 

 

 

Sua história encontra-se em 1 Samuel 9 a 31. Ele é também mencionado em Atos 13,21.

 

 

 

         DAVI

         Pontos fortes e êxitos:

         Maior rei de Israel.

         Antepassado de Yaohushua – Cristo.{Forma correta – Christós - O UNGIDO}.

         Citado na Galeria dos Heróis da Fé em Hebreus 11.

         Descrito por Yaohu como o homem segundo seu próprio coração.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Adulterou com Bate-Seba..

         Planejou o assassinato de Urias, marido de Bate-Seba.

         Desobedeceu a Yaohu ao realizar a contagem do povo.

         Não lidou decisivamente com os pecados de seus filhos.

 

 

         Lições de vida:

         A disposição para admitir honestamente os nossos erros é o primeiro passo para lidar com eles.

         O perdão não remove as conseqüências do pecado.

         Yaohu deseja a nossa total confiança e adoração.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Belém e Jerusalém.

         Ocupações: Pastor, músico, poeta, soldado e rei.

         Familiares: Pai – Jessé: esposas – Mical, Ainoã, Abigail e Bate-Seba; filhos – Absalão, Amom, Adonias, e Salomão; filhas – Tamar e outras; irmãos – sete.

         Contemporâneos: Saul, Jônatas, Samuel e Natã.

 

 

 

         Versículos-chave: “Agora, pois, YHWH – Yaohu, tu és mesmo Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens falado a teu servo este bem. Sê, pois, agora servido de abençoar a casa de teu servo, para permanecer para sempre diante de ti, pois tu, ó YHWH – Yaohu, o disseste; e com a tua bênção será sempre bendita a casa de teu servo” (2Sm 7,28.29).

 

 

 

         Sua história encontra-se em 1 Samuel 16 a 1 Reis 2. Seu nome também é mencionado em Amós 6,5; Mateus 1,1.6; 22,43-45; Lucas 1,32; Atos 13,22; Romanos 1,3; Hebreus 11,32.

 

 

 

         JÔNATAS

         Pontos fortes e êxitos:

         Corajoso, leal e um líder nato.

         O amigo mais intimo que Davi teve.

         Jamais colocou o seu próprio bem-estar à frente do bem-estar daqueles a quem amava.

         Dependeu sempre de Yaohu.

 

 

         Lições de vida:

         A lealdade é um dos elementos mais fortes da coragem.

         A lealdade a Yaohu orienta todos os demais relacionamentos.

         As grandes amizades têm sempre um custo elevado.

 

 

         Informações essenciais:

         Ocupação: Líder militar.

         Familiares: Pai – Saul, mãe – Ainoã; irmãos – Abinadabe e Malquisua; irmãs – Merabe e Mical; filho – Mefibosete.

 

 

 

         Versículo-chave: “Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; quão amabilíssimo me eras! Mais maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres” (2Sm 1,26).

 

 

 

         A história de Jônatas é relatada em 1 Samuel 13 – 31. Ele também é mencionado em 2 Samuel 9.

 

 

 

         ABGAIL

         Pontos fortes e êxitos:

         Sensível e capaz.

         Uma oradora persuasiva, capaz de enxergar além de si mesma.

 

 

         Lições de vida:

         As difíceis situações de sua vida podem fazer com que as pessoas dêem o melhor de si.

         Não é necessário ter um título de prestígio para desempenhar um importante papel.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Carmelo.

         Ocupação: Dona de casa.

         Familiares: Primeiro marido – Nabal; segundo marido – Davi; filho – Quileabe (Daniel).

         Contemporâneos: Saul, Mical e Ainoã.

 

 

 

         Versículos-chave: “Então, Davi disse a Abigail: Bendito YHWH, Yaohu de Israel, que hoje te enviou ao meu encontro. E bendito o teu conselho, e bendita tu, que hoje me estorvaste de vir com sangue e de que a minha mão me salvasse” (1Sm 25,32.33).

 

 

 

         A história de Abigail é relatada em 1 Samuel 25 – 2 Samuel 2. Ela também é mencionada em 1 Crônicas 3,1.

 

 

 

         (2Sm).

         ABNER

         Pontos fortes e êxitos:

         Comandante-chefe do exército de Saul e competente líder militar.

         Por muitos anos manteve a unidade de Israel, durante o frágil reinado de Isbosete.

         Reconheceu e aceitou o plano de Yaohu, que consistia em fazer de Davi o rei de todo o reino de Israel e Judá.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Seus esforços para unificar Judá e Israel eram motivados por razões egoístas, e não por uma convicção divina.

         Após a morte de Saul, coabitou com uma das concubinas reais.

 

 

         Lições de vida:

         Yaohu exige mais que uma simples e indiferente cooperação condicional.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Comandante dos exércitos de Saul e de Isbosete.

         Familiares: Pai – Ner; primo – Saul, filho – Jaasiel.

         Contemporâneos: Davi, Asael, Joabe e Abisai.

 

 

 

         Versículo-chave: “Então, disse o rei aos seus servos: Não sabeis que, hoje, caiu em Israel um príncipe e um grande?” (2 Sm 3,38).

 

 

 

         A história de Abner encontra-se em 1 Samuel 14,50 a 2 Samuel 4,12. Ele também é mencionado em 1 Reis 2,5.32; 1 Crônicas 26,28; 27,16-22.

 

 

 

         MICAL

         Pontos fortes e êxitos:

         Amava Davi e tornou-se sua primeira esposa.

         Salvou a vida de Davi.

         Conseguia raciocinar e agir com rapidez quando necessário.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Mentia quando pressionada.

         Deixou-se dominar pela amargura nos momentos mais difíceis.

         Em sua tristeza, odiou Davi pelo amor que ele demonstrava a Yaohu.

 

 

         Lições de vida:

         Somos mais responsáveis pela maneira como respondemos às circunstâncias, do que pelo que nos acontece.

         Desobedecer a Yaohu quase sempre prejudica tanto a pessoa que lhe desobedece, quanto aos seus semelhantes.

 

 

         Informações essenciais:

         Ocupação: Filha de um rei, Saul, e esposa de outro, Davi.

         Familiares: Pais – Saul e Ainoã; irmãos – Jônatas, Abinadabe e Malquisua; irmã – Merabe; marido – Davi e Palti.

 

 

 

         Versículo-chave: “E sucedeu que entrando a arca de YHWH na cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela e, vendo o rei Davi, que ia bailando e saltando diante de YHWH, o desprezou no seu coração” (2Sm 6,16).

 

 

 

         A história de Mical encontra-se em 1 Samuel 14 – 2 Samuel 6. Ela também é mencionada em 1 Crônicas 15,29.

 

 

 

         NATÃ

         Pontos fortes e êxitos:

         Um confiável conselheiro de Davi.

         Um profeta de Yaohu.

         Confrontava com coragem; porém, de modo cuidadoso.

         Um dos controles de Yaohu na vida de Davi.

         Fraquezas e erros:

         Sua ansiedade de ver Davi construir um templo para Yaohu em Jerusalém fez com que falasse sem ter recebido instruções divinas.

 

 

         Lições de vida:

         Não devemos ter medo de falar a verdade àqueles que amamos.

         Um companheiro em quem podermos confiar representa uma das maiores dádivas de Yaohu.

         Yaohu se preocupa em descobrir uma forma de se comunicar conosco quando agimos de modo errado.

 

 

         Informações essenciais:

         Ocupações: Profeta de Yaohu e conselheiro do rei.

         Contemporâneos: Davi, Bate-Seba, Salomão, Zadoque e Adonias.

 

 

 

         Versículo-chave: “Conforme todas estas palavras e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi” (2Sm 7,17).

 

 

 

         A história de Natã encontra-se em 2 Samuel 7 – 1 Reis 1. Ele também é mencionado em 1 Crônicas 17,15 e 2 Crônicas 9,29; 29,25.

 

 

 

         ABSALÃO

         Pontos fortes e êxitos:

         Era belo e tão carismático quanto seu pai, Davi.

 

 

Fraquezas e erros:

         Vingou o estupro de sua irmã Tamar, ao matar seu meio irmão, Amnom.

         Conspirou contra seu pai, para usurpar-lhe o trono.

         Atentava constantemente para conselhos errados.

 

 

         Lições de vida:

         Muitas vezes os pecados dos pais são repetidos e ampliados em seus filhos.

         Um homem perspicaz recebe muitos conselhos; mas o prudente analisa os conselhos que recebe.

         Todos os atos que contrariam os planos de Yaohu estão, mais cedo ou mais tarde, condenados ao fracasso.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Hebrom.

         Ocupação: Príncipe.

         Familiares: Pai – Davi; mãe – Maaca; irmãos – Amnom; Salomão e outros; irmã – Tamar.

         Contemporâneos: Natã; Jonadabe; Joabe; Aitofel e Husai.

 

 

 

         Versículos-chave: “E enviou Absalão espias por todas as tribos de Israel, dizendo: Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão reina em Hebrom” 2 Samuel 3,3; 13 – 19.

 

 

 

         JOABE

         Pontos fortes e êxitos:

         Brilhante planejador e estrategista.

         Combatente corajoso e comandante experiente.

         Líder confiante que não hesitou em confrontar até mesmo o rei.

         Procurou colaborar na reconciliação entre Davi e Absalão.

         Planejou a conquista de Jerusalém.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Era constantemente cruel violento e vingativo.

         Executou o plano de Davi para matar Urias, marido de Bate-Seba.

         Matou Abner para vingar o assassinato de seu irmão.

         Matou Absalão contra as ordens de Davi.

         Conspirou com Adonias contra Davi e Salomão.

 

 

         Lições de vida:

         Aqueles que vivem pela violência, freqüentemente morrem como vitimas da própria violência.

         Até mesmo os lideres mais brilhantes precisam de orientação.

 

 

         Informações essenciais:

         Ocupação: Comandante-chefe do exército de Davi.

         Familiares: Mãe – Zeruia; irmãos – Abisai e Asael; tio – Davi.

         Contemporâneos: Saul, Abner e Absalão.

 

 

 

         Versículo-chave: “E disse-lhe o rei: Faze como ele disse, e dá sobre ele, e sepulta-o, para que tires de mim e da casa de meu pai o sangue que Joabe sem causa derramou” (1Rs 2,31).

 

 

 

         A história de Joabe encontra-se em 2 Samuel 2 a 1 Reis 2. Ele também é mencionado em 1 Crônicas 2,16; 11,5-9.20.26; 19,8-15; 20,1; 21,2-6; 26,28 e no título do Salmo 60.

 

 

 

         ABISAI

         Pontos fortes e êxitos:

         Reconhecido como herói dentre os combatentes de Davi.

         Um voluntário destemido e disposto, fervorosamente leal a Davi.

         Salvou a vida de Davi.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Inclinado a agir sem pensar.

         Ajudou Joabe e assassinou Abner e Amassa.

 

 

         Lições de vida:

         Os seguidores mais eficientes associam um cuidadoso juízo à ação.

         A lealdade cega pode causar um grande mal.

         Informações essenciais:

         Ocupação: Soldado.

         Familiares: Mãe – Zeruia; irmãos – Joabe e Asael; tio – Davi.

 

 

 

         Versículos-chave: “Também Abisai, irmão de Joabe, filho de Zeruia, era cabeça de três; e este alçou a sua lança contra trezentos, e os feriu, e tinha nome entre os três. Porventura, este não era o mais nobre dentre estes três? Pois era o primeiro deles; porém aos primeiros três não chegou” (2Sm 23,18.19).

 

 

 

         A história de Absai encontra-se em 2 Samuel 2,18 – 23,19. Ele também é mencionado em 1 Samuel 26,1-13; 1 Crônicas 2,16; 11,20; 18,12; 19,11.15.

 

 

 

         OS VALENTES DE DAVI

         Pontos fortes e êxitos:

         Soldados hábeis e líderes militares.

         Compartilhavam inúmeras habilidades especiais.

         Embora freqüentemente em menor número, eram sempre vitoriosos.

         Eram leais a Davi.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Geralmente tinham pouco em comum, além de sua lealdade a Davi e à sua competência militar.

 

 

         Lições de vida:

         A grandeza é freqüentemente inspirada pela qualidade e pelo caráter da liderança.

         Até mesmo um pequeno exército, de homens capazes e leais, pode realizar grandes proezas.

 

 

         Informações essenciais:

         Locais: Vieram de todas as tribos de Israel (principalmente de Judá e Benjamim) e também de algumas nações vizinhas.

         Ocupações: Vários antecedentes – quase todos eram fugitivos.

 

 

 

         Versículos-chave: “Então, Davi se retirou dali e se escapou para a caverna de Adulão, e ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu pai e desceram ali para ele. E ajuntou-se a ele todo homem que se achava em aperto, e todo homem endividado, e todo homem de espírito desgostoso, e ele se fez chefe deles, e eram com ele uns quatrocentos homens” (1Sm 22,1.2).

 

 

 

         Suas histórias encontram-se em 1 Samuel 22 – 2 Samuel 23,39. Também são mencionados em 1 Crônicas 11 e 12.

 

 

 

 

 

 

 

 

        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:

 

 

REIS

 

 

 

         INTRODUÇÃO

 

 

 

         Visão geral

         Autor: Desconhecido.

         Propósito: Mostrar a justiça do exílio, assegurar a permanência da esperança na dinastia de Davi e chamar ao arrependimento para que Israel pudesse regressar do exílio.

         Data: c. 560-550 a.C.

         Verdades fundamentais:

         Apesar da severidade do exílio de Israel e Judá, a ira de Yaohu era plenamente justificada tendo em vista a apostasia repetida e grave do seu povo.

         As promessas de Yaohu à família de Davi continuavam em vigor apesar dos erros de seus filhos.

         Yaohu conclamou o seu povo exilado a se arrepender de seus pecados.

         A volta do exílio foi oferecida a Israel mediante o arrependimento.

 

 

         Propósito e características

         O livro de Reis trata da história e do final da monarquia em Israel, dos últimos dias de Davi (c. 970 a.C.) até o exílio na Babilônia, quase quatro séculos depois (c.586 a.C.). Os livros de 1 e 2 Reis constituem uma unidade dentro de um grupo maior de livros – Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel – chamada tradicionalmente de Profetas Anteriores e, mais recentemente, de História Deuteronomística (ou Deuteronômica). Uma vez que esses livros apresentam uma seqüência natural, o reconhecimento de uma unidade essencial é justificado.

         Os livros de 1 e 2 Reis constituíam, a princípio, um só livro. Conquanto nos manuscritos hebraicos mais antigos 1 e 2 Reis sejam uma única obra literária (como 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Crônicas, na Septuaginta [a tradução grega do AT], na Vulgata {a tradução latina} e na maioria das outras versões, a obra é dividida em dois livros). A divisão é artificial, ocasionada mais pelo números de papiros que cabiam num rolo antigo do que por algum ditame do conteúdo. Os reinados de Acazias (1Rs 22,51-53; 2Rs 1,1-18) e Josafá (1Rs 22,41-50; 2Rs 3,1-27) se sobrepõem nos dois livros. O ministério profético de Elias também aparece nos dois volumes (1Rs 17 – 19; 2Rs 1 – 2).

 

 

 

         CRISTO EM 1 e 2 REIS.

         O relato histórico de Reis aponta para Cristo de várias maneiras. Pelo menos duas questões aparecem em primeiro plano. Em primeiro lugar, a família de Davi é destacada como elemento central de Israel. Todas as esperanças de vitória e salvação – e até mesmo de regresso do exílio – estavam baseadas na misericórdia de Yaohu demonstrada para com a casa real de Davi e por meio dela. O Novo Testamento ensina que Cristo é o grande Filho de Davi, por meio do qual Yaohu cumpriu todas as promessas que havia feito a Davi e a seus filhos (Mt 1,1-17; At 2,22-36).

         Em segundo lugar, a monarquia e o culto no templo também ocupam uma posição central no relato. Na verdade, os reis de Israel e Judá são avaliados quase inteiramente de acordo com sua lealdade ou deslealdade para com o templo em Jerusalém e com a pureza do culto naquele local. Esse tema também se cumpriu em Cristo. O Novo Testamento ensina que ele é o sumo sacerdote eterno do povo de Yaohu (Hb 3,1; 4,14-15, cujo sangue expiou os seus pecados (Hb 2,17; 9,25-28). Ele reúne seu povo num santuário na terra (1Pe 2,4-5.9), e ministra no átrio celestial de Yaohu (Hb 6,19-20; 8,1-2; 9,24). A importância da fidelidade exclusiva ao culto no templo de Salomão corresponde ao chamado de Cristo para seus seguidores confiarem em sua mediação sacerdotal para receberem a salvação (Jo 14,6; At 4,12) durante o seu ministério presente no santuário celestial e, por fim, ao substituir o santuário terreno na nova terra (Ap 21,22).

 

 

 

         REIS: Os livros dos Reis cobrem um longo período da história de Israel. Os acontecimentos mais antigos, os últimos dias de Davi (1Rs 1,1 – 2,10), remontam a 972 a.C. aproximadamente, ao passo que a reabilitação do rei Ioiakin (2Rs 25,27-30) data de 561 a.C. Ora, como o indica a lista dos livros bíblicos, os Livros dos Reis fazem parte dos Profetas Anteriores. Isto deve alertar o leitor para o fato de que, conquanto esses livros sejam ricos em dados históricos, não devem ser considerados primordialmente como livros históricos. Por seu conteúdo podem, de referência, ser definidos como uma reflexão teológica sobre um período da história de Israel em que este povo era governado por reis.

 

         Conteúdo dos Livros dos Reis

 A. Fim do reinado de Davi e reinado de Salomão (1Rs 1 – 11).

Davi e a shunamita – Pretensões de Adonias à realeza – Reação do partido de Salomão e sua sagração em Guibon: 1Rs 1,1-40.

         Fracasso da conspiração de Adonias: 1Rs 1,41-53. Recomendações de Davi a Salomão: 1Rs 2,1-11. Sorte reservada a Adonias, a seus dois principais cúmplices e a Shimeí: 1Rs 2,12-46.

         Aparição de YHWH a Salomão – Julgamento de Salomão: 1Rs 3.

         Os grandes do reino – Administração de Salomão – Sabedoria de Salomão: 1Rs 4,1-5,14. Aliança com Hirâm, rei de Tiro, e preparativos para a construção do Templo: 1Rs 5,15-32.

         Construção do Templo e dos edifícios reais – Fabricação dos objetos de metal destinados ao Templo: 1Rs 6 – 7.

         Transferência da arca e dedicação do Templo – Nova aparição de YHWH a Salomão: 1Rs 9,10-28.

         Visita da rainha de Shebá – Riquezas de Salomão: 1Rs 10.

         Pecado de Salomão – Revolta no exterior – Anúncios do cisma a Jeroboão pelo profeta Ahiá: 1Rs 11.

        

B. Do cisma ao fim do reino de Israel (1Rs 12 – 2Rs 17).

Cisma político e religioso – Jeroboão, rei de Israel 1Rs 12.

         Profecia contra Betel: 1Rs 13.

         Abiá anuncia a morte do filho de Jeroboão: 1Rs 14,1-20.

         Roboão, Abitâm e Asa, reis de Judá: 1Rs 14, 21-15,24.

         Ciclo de Elias – A grande seca: Elias no Darit, depois em Serepta; ressureição do filho da viúva; o sacrifício do Carmelo; Elias no Horeb 1Rs 17-19.

         Duas campanhas de Aram contra Israel; cerco de Samaria e campanha de Afeq; intervenção de um profeta: 1Rs 20.

         Ciclo de Elias (continuação) – A vinha de Nabot: 1Rs 21.

         Campanha de Acab e de Josafat contra Aram; intervenção de Miquéias; morte de Acab: 1Rs 22,1-40. Josafat, rei de Judá: 1Rs 22,41-51.

         Acazias, rei de Israel: 1Rs 22,52-54.

         Ciclo de Elias (fim) – A morte de Acazias – Ascensão do profeta; Eliseu, o herdeiro do espírito de Elias: 2Rs 1 – 2.

         Jorâm, rei de Israel: 2Rs 3,1-3.

         Ciclo de Eliseu – Expedição contra Moab – Alguns milagres: o milagre do óleo; ressurreição do filho da shunamita; saneamento da sopa envenenada; multiplicação dos pães; cura do leproso Naaman; o ferro que flutua; um destacamento arameu afetado de cegueira – Segundo cerco de Samaria pelos arameus – Os bens da shunamita – Escolha de Hazael como rei de Aram: 2Rs 3,4 – 8,15. Iorâm e Acazias, reis de Judá: 2Rs 8,16-29.

         Ciclo de Elizeu (continuação): unção real sobe Iehu; rei de Israel – A repressão ao baalismo: assassinato de Iorâm, de Acazias e de Izébel; exterminação da família real de Israel e dos irmãos de Acazías; exterminação de todos os servos de Baal: 2Rs 9,14 – 10,36.

         Reino de Ataliá em Judá – O sacerdote Ioiadá escolhe Joás para rei de Judá: 2Rs 11

         Restauração do Templo – Ameaça dos arameus a Jerusalém: 2Rs 12.

         Joacaz e Joás, reis de Israel: 2Rs 13,1-13.

         Ciclo de Elizeu (fim): morte do profeta, seguida de dois milagres: 2Rs 13,14-25.

         Amasias, rei de Judá: 2Rs 14,1-22.

         Jeroboão II, rei de Israel: 2Rs 14,23-29.

         Azarias, rei de Judá: 2Rs 15,1-7.

         Zacarias, Shalum, Menahêm, Peqahiá e Péqah. Reis de Israel: 2Rs 15,8-31.

         Iotâm e Acaz, reis de Judá – Coalizão siro-efraimita; apela à Assíria: 2Rs 16.

         Oséias, último rei de Israel – Tomada de Samaria e deportação – Reflexões sobre a causa da ruína do reino de Israel – Deportação de populações estrangeiras para Samaria; sincretismo religioso: 2Rs 17.

 

         C. Do fim do reino de Israel ao fim do reino de Judá (2Rs 18-25).

         Ezequias, rei de Judá – Invasão assíria e intervenção de Isaías: 2Rs 18 – 19.

         Cura de Ezequias e embaixada babilônica; intervenções de Isaías: 2Rs 20.

         Manassés e Amon, reis de Judá: 2Rs 21.

         Josias, rei de Judá – Descoberta do livro da Lei – Reforma em Judá: 2Rs 22,1-23,30. Joacaz, Joaquim, Ioiakin, reis de Judá – Primeira deportação: 2Rs 23,31 – 24,17.

         Sedecias, último rei de Judá – Ruína de Jerusalém e deportação: 2Rs 24,18 – 25,21.

         Godolias, governador de Judá; seu assassinato; parte da população foge para o Egito: 2Rs 25,22-26. Ioiakin é agraciado: 2Rs 25,27-30.

 

 

         Origem dos Livros dos Reis. Os livros dos Reis, atualmente, nos são apresentados sob a forma de dois livros bem distintos. Na realidade, porém, os manuscritos da Bíblia hebraica constituem uma única obra. A divisão em dois livros deve ser atribuída a escritores gregos do século III a.C. Esta divisão, que paulatinamente acabou por prevalecer, cortou em dois – e de modo pouco hábil – o reino de Acazias (iniciado em 1Rs 22,52-54 e terminado em 2Rs 1), bem como o “ciclo de Elias” (iniciado em 1Rs 17 e terminado em 2Rs 1).

         Considerados em si mesmo, os Livros dos Reis não constituem uma unidade fechada, vale dizer, não foram concebidos independentemente de outros livros bíblicos. Já se emitiu a hipótese de que, primeiramente, fizessem parte de um conjunto histórico abrangendo os livros de Josué (talvez até mesmo o Deuteronômio), dos Juízes, de Samuel e dos Reis. Poder-se-ia até identificar um sinal dessa possibilidade no fato de 1Rs 1,1 – 2,11 ser a continuação imediata de 2Sm, que relatava o reino de Davi. Tal unidade é pressuposta para explicar a ulterior separação entre os dois livros (Sm e Rs).

         A análise dos Livros dos Reis acima apresentada permite avaliar a diversidade de conteúdo desses livros, bem como as diferenciações entre os elementos que os compõem. O próprio autor menciona a utilização de elementos anteriores e cita algumas fontes às quais recorreu. Tal formação indica que a obra não nasceu de uma só feita, mas foi executado em diversas etapas. De fato, 1Rs 11,41; 14,19.29 etc. Falam respectivamente de um livro dos “Atos de Salomão”, de “Anais dos reis de Israel” e de “Anais dos reis de Judá”, que serviram de ponto de partida para a redação do texto que atualmente possuímos.

         Mas os trechos que se referem a esses Atos ou a esses Anais representam tão somente uma parte de nossos livros. O autor, para sua obra, serviu-se ainda de outras fontes: parece, por exemplo, que teve conhecimento de arquivo provenientes do Templo (cf. 1Rs 4,1-6.7-19; 5,7-8). Em que proporções essas outras informações se constituíam em textos já escritos, ou será que provinham de meras tradições orais? A história da rainha de Shebá (1Rs 10,1-13) origina-se de uma tradição à parte. Os relatos concernentes ao rei Acab advêm de duas procedências muito diferentes: de um lado há textos que o condenam com o maior rigor, do outro, há textos que mostram como um rei valoroso (1Rs 22,9.35). O que nos foi relatado sobre o rei Josias (2Rs 22,1 23.30) provém talvez em parte de outra fonte que não os Anais oficiais.

         Ao lado dos relatos concernentes aos reis, há outras passagens mais peculiarmente dedicadas aos profetas e que constituem reminiscências conservadas por seus discípulos. Tais relatos foram anexados aos que se referem aos reis, de um lado, porque pertencem à mesma época e, de outro, porque narram as intervenções desses profetas junto aos reis. Assim compreendida, a obra contêm os três grandes “ciclos” ou seqüências de relatos sobre os profetas Elias. Eliseu e Isaías, sem falar de trechos mais abreviados sobre Ahiá, Miquéias, filho de Iimla, ou a respeito de algum profeta que tenha permanecido no anonimato (1R 13; 2Rs 21,10-15).

         Como foi possível reunir em um todo esses diferentes elementos? Abordar-se aqui um dos problemas mais difíceis da obra. É evidente que o autor que escreveu 2Rs 25,27-30 não é o mesmo que, falando na condição de contemporâneo dos acontecimentos relatados, descreveu a arca do Templo em 1Rs 8,7, ou narrou os fatos de 1Rs 9,21: deveria ter vivido mais de quatrocentos anos! A quem atribuir, então, a composição de Reis? Aventam-se várias hipóteses; a que aqui se propõe reúne a aprovação de grande número de exegetas.

         Com os livros de Josué (alguns sábios incluiriam até mesmo o Deuteronômio), dos Juízes e de Samuel, os Livros dos Reis constituiriam uma só e mesma obra.

         Um primeiro redator teria composto os capítulos que abrangem de 1Rs 12 a 2Rs 20. Para essa elaboração, ter-se-ia baseado, de um lado, em uma cronologia dos reis de Judá e de Israel, e de outro lado, em textos de que faziam parte, em todo caso, os Atos de Salomão e os Anais dos Reis de Judá e de Israel. Provavelmente, utilizou também elementos da tradição oral, sem falar do que lhe tenha sido possível descrever como testemunha, pois ele parece ter presenciado a ruína de Jerusalém em 587 a.C. Pensou-se até que esse autor fosse um sacerdote que teria escrito por volta de 580 a.C. na própria Palestina.

         Ainda na própria Palestina, uma geração mais tarde, em 550 a.C., aproximadamente, e antes do regresso dos exilados de Babilônia, um segundo redator teria retomado o trabalho de seu antecessor, completando-o com outros relatos e tradições de que dispunha. Assim, as lembranças que encontrara sobre Davi e a história de sua sucessão (as passagens de 2Sm que têm sua seqüência em 1Rs 1,1-2.11) e textos sobre o cerco de Jerusalém (2Rs 18 – 19, paralelos a Is 36 – 39). Em sua obra teria também introduzido o que a tradição narrava sobre a visita da rainha de Shebá. Em vista da importância que os profetas e a Lei de Moisés desempenham em sua obra (que abrange de Js a 2Rs), chegou-se a pensar que esse segundo redator fosse oriundo do âmbito dos profetas e que, talvez, ele pessoalmente fosse um discípulo do profeta Jeremias.

         Finalmente, por volta do final do século VI a.C., alguns acréscimos menores teriam sido incorporados ao livro, por escribas provenientes do âmbito dos levitas.

 

 

         A cronologia dos Livros dos Reis. A cronologia dos Livros dos Reis apresenta problemas intrincados. Só foi possível determina-la, partindo-se de uns raros pontos de referência que estabeleciam um contato seguro entre a História de Israel e a do Oriente Próximo. Alguns textos egípcios, os Anais e os documentos provenientes dos reis da Assiro-Babilônia foram especialmente valiosos para indicar com precisão a data de alguns acontecimentos.

         Excetuando-se esses pontos fixos, os dados fornecidos pelos Livros dos Reis são muitas vezes difíceis de interpretar. Em primeiro lugar, as datas dos reinos de Judá são contadas com base nos reinados dos reis de Israel, e vice-versa, o que acarreta sempre certo número de imprecisões. Além disso, alguns erros de copistas (interversões ou confusões de números) introduziram aqui e ali certa desordem cronológica. Mais ainda, se sabemos com precisão que Salomão (1Rs 1) e Iotâm (2Rs 15,5) foram um e outro co-regentes de seus pais, podemos admitir que também tenham existido outros casos de co-regência, provocando assim certas defasagens de difícil avaliação, quando se trata de fixar uma escola cronológica para os diferentes reinos.

         Descobriu-se, enfim, que não existe, para os Livros dos Reis, apenas uma ordem cronológica, mas diversos sistemas cronológicos, que se atropelam uns aos outros e cujas origens remontam às próprias fontes desses livros. Obtêm-se, assim, três resultados diferentes, conforme o critério adotado: para determinado período, somar-se ou os dados bíblicos concernentes aos reinos de Judá, ou ao reino de Israel, ou os dados fornecidos pelos sincronismos. Por exemplo, para o período que estende do cisma até o término do reino de Acab (933-853), isto é, 80 anos de cronologia tal como a reconstituímos, o total dos reinos é de 84 anos para Judá, de 78 anos para o reino do Norte e, para os dados conseguidos pelos sincronismos, de 75 anos.

         A cronologia aqui utilizada tenta levar em conta as mais recentes descobertas arqueológicas.

 

 

         Teologia dos Livros dos Reis. Estes livros são, primordialmente, uma reflexão teológica sobre a história do povo e dos reis. A história como tal são às vezes tratadas de maneira muito sucinta: por exemplo, o reino de Omri, um dos grandes reis de Israel, é narrado com extrema superficialidade (1Rs 16,23-26); o cerco de Samaria, que se estendeu por três anos, e o desmoronamento do reino do Norte são resumidos em poucos versículos (2Rs 17,3-6; 18,9-12). Como se viu acima, os Livros dos Reis fazem realmente parte de uma grande obra histórica impregnada pela teologia deuteronomista (e, mediante esta, pela teologia dos profetas), como podem revelar seu vocabulário e a multiplicidade de expressões deuteronomistas (quanto à teologia do Deuteronômio, veja-se a Introdução a esse livro). Apenas alguns temas particulares importantes dos Livros dos Reis são aqui ressaltados.

 

         A)  A realeza. A obra contém toda uma teologia da realeza, tal como a concebiam o autor deuteronomista e o profetismo. Um verdadeiro rei é aquele que guarda os preceitos de YHWH... (O ETERNO) anda em seus caminhos, observa suas leis, seus mandamentos, suas normas e exigências, conforme está escrito na Lei de Moisés (1Rs 2,3). A função real consiste em governar o povo com sabedoria e justiça, inclusive em “servi-lo” (1Rs 12,7), pois esse povo é propriedade de Yaohu (cf. 1Rs 3,8-9). A fidelidade ao ETERNO e a dedicação em celebrar-lhe corretamente o culto em Jerusalém constituem exigências imperiosas, e para cada reinado é feito uma rápida avaliação a esse respeito. Ora, raros são os reis que recebem aprovação!  Em sua grande maioria são julgados severamente. Trinta e quatro vezes ressoa o refrão: Ele fez o mal aos olhos do ETERNO. E não faltarão exemplos, Múltiplos são, com efeito, as infidelidades ao ETERNO: cultos idólatras, construção de templos e altares dedicados a falsos deuses, consulta a deuses estrangeiros, opressões e violências de toda sorte contra o povo, perseguições aos profetas do ETERNO, guerras empreendidas sem a aprovação de Yaohu, sacrifícios de crianças.

         Uma das grandes acusações que o autor lança contra os reis (principalmente contra os do reino do Norte), é a de terem levado Israel a pecar, isto é, de o terem arrastado às celebrações contrárias à Lei. Conquanto alguns reis se tenham arrependido e se tenham considerado perdoados, o quadro é tão sombrio que a ruína dos reinos de Israel e, depois de Judá é vista como a conseqüência justa e necessária dos pecados cometidos pelos reis e dos que eles induziram seus súditos a cometer.

 

         B)  Davi e sua dinastia. Acima da série dos reis de Judá paira a figura do fundador da dinastia, Davi, chamado por vezes o “servo” de Yaohu (p. ex. 1Rs 3,6; 8,24; 11,13). Sua fidelidade ao ETERNO, sua piedade – idealizada – vão servir de parâmetro para que se avalie o procedimento de seus sucessores. Assim é que Salomão caminha segundo as prescrições de Davi, seu pai (1Rs 3,3) ou que Asa fez o que é reto aos olhos do ETERNO, como Davi, seu pai (1Rs 15,11). Ou que Josias seguiu exatamente o caminho de seu pai Davi (2Rs 22,2). Em 13,2, dir-se-á explicitamente que é na condição de filho de Davi que esse Josias porá termos à impiedade de Israel. Mas tal certificado de conformidade a Davi é conferido muito parcimoniosamente; o profeta Ahiá, ao contrário, especifica que Jeroboão não foi como Davi (1Rs 14,8).

         Para o autor dos Reis, a desobediência dos sucessores de Davi foi à coisa direta tanto do cisma entre os reinos de Israel e de Judá (1Rs 11,9-11), como da ruína deste último (cf. 2Rs 23,26s). Todavia, apesar da ameaça contida em 1Rs 2,4: se teus filhos procederem bem... Jamais algum dos teus descendentes deixará de ocupar o trono de Israel (cf. 2Sm 7,12-16), esse autor vê perpetuar-se a promessa do ETERNO à dinastia davídica. Yaohu conserva “uma lâmpada” (um príncipe da dinastia) em Jerusalém “por causa de Davi” e da promessa que lhe fizera (1Rs 15,11; 2Rs 8,19).

         Enfim, os Livros dos Reis terminam com uma mensagem de esperança: o último descendente da dinastia davídica, apesar de deportado para a Caldéia, vê sua situação transformar-se. O rei de Babilônia manda-o “trocar suas vestes de prisioneiro” e concede-lhe a graça de comer todos os dias à mesa real.

 

         C)  Jerusalém e o Templo. Profundamente imbuídos do pensamento deuteronomista, os Livros dos Reis atribuem importância considerável a Jerusalém e ao culto celebrado no Templo. Acima de tudo, Jerusalém é a cidade “escolhida” por Yaohu (1Rs 8,12). Em seguida, é a cidade do Templo, e 1Rs 8,15-19 recorda que esse Templo tem como origem o desejo de Davi de construir uma Casa “PARA O NOME DO: ETERNO – YAOHU-UL (cf. 2Sm 7,1-16)”. A importância do santuário é claramente definida na oração de Salomão (1Rs 8,23-53), por ocasião da dedicação do Templo: este é na verdade o lugar do “encontro” (cf. a Tenda do Encontro, Êx 33,7) de Israel com seu Deus Yaohu em todas as circunstâncias da vida nacional. Também o relato da reforma de Josias (2Rs 22 – 23) é dominado pelo Templo: no Templo se encontra o rolo da Lei, é em primeiro lugar o Templo que é purificado, e é o Templo que, doravante, deverá centralizar toda a vida sacrifical de Israel. Essa reforma marcou a tal ponto o autor bíblico que ele mencionará como que se desculpando a antiga prática de oferecer sacrifício fora de Jerusalém (1Rs 3,2; 22,44; 2Rs 12,4; 14,4; 15,4.35), conquanto, historicamente falando, o fato fosse perfeitamente legítimo (cf. Elias no Carmelo, 1Rs 18).

         Graças à importância central atribuída ao Templo, os sacerdotes desempenhavam uma função preponderante na celebração do culto. Segundo a reforma de Josias, somente aos sacerdotes, e especificamente os de origem levítica, será reservado o direito de oferecer sacrifícios. 1Rs 8,1-6 já evoca o papel que desempenharam por ocasião da dedicação do Templo de Salomão. Enfim, aos sacerdotes é atribuído à preservação da dinastia davídica no momento em que Ataliá tentava extingui-la (2Rs 11). O autor chega a enfatizar que Joás fez o que é reto aos olhos do ETERNO porque o sacerdote Ioiadá o educara (2Rs 12,3). E já fora um sacerdote que ungira Salomão (1Rs 1,39).

         Em face da ordenação rigorosa de um culto centralizado em Jerusalém e dirigido por sacerdotes levitas, o autor dos Livros dos Reis manifesta total desaprovação à iniciativa tomada por Jeroboão de organizar o culto em outros santuários, como em Dan e em Betel. Seria esse o “pecado de Jeroboão” ou o “caminho de Jeroboão” (expressões que se repetem umas vinte vezes) e que ele condena radicalmente, como vinte vezes ainda acusará o mesmo rei de ter “levado Israel a pecar”, e seus sucessores, de o terem imitado. Para o autor, a desobediência à ordem de não oferecer sacrifícios senão em Jerusalém é tão grave que bastaria tão somente essa inobservância para acarretar um julgamento global de condenação para o reinado de um rei, mesmo que este, em outras situações, houvesse testemunhado sua fidelidade ao ETERNO, derrubando os altares de Baal (cf. 2Rs 3,1-3). Tais práticas cismáticas serão deploradas ainda após a ruína de Samaria (2Rs 17,32).

         [Imagine o termo: houvesse testemunhado sua fidelidade ao Senhor, derrubando os altares de Baal, ou seja: O “Senhor” – derrubando os altares do “Senhor – Baal” RIDÍCULO!]. ANSELMO ESTEVAN. Por isso, mudei o termo SENHOR = Baal. Para o correto “UL” = ETERNO.

 

D).  O profetismo. Nos Livros dos Reis, lugar de destaque é reservado aos profetas e às suas intervenções, quer em atos, quer em palavras. Não apenas Elias e Eliseu deram origem a tradições muito extensas, mas também outros profetas se vêem revestidos de grande autoridade: Natan, Shemaiá, Ahiá, Miquéias, Isaías, a profetisa Huldá. Ao lado dos milagres que lhes são atribuídos (principalmente a Elias e a Eliseu), a ação política que desenvolveu é considerada essencial. Assim, é Natan quem induz Davi a escolher Salomão como seu sucessor (1Rs 1,11-17), é Elias quem recebe a missão de ungir Hazael como rei de Arâm e Iehu como rei de Israel (1Rs 19,15s.; cf 2Rs 9,1-3; 8,11-13). São os profetas que destroem reis e dinastias, pronunciando sobre os mesmos oráculos mortais: assim procedeu Ahiá com Jeroboão (1Rs 14,10-11). Elias com Acab (1Rs 21,21-24). Em outra passagem, Isaías prediz a vitória do rei da Babilônia (2Rs 20,14-19). Em outras circunstâncias, porém, são eles que anunciam a vitória dos reis de Israel sobre seus inimigos (Eliseu: 2Rs 7,1; 13,17-19; Isaías: 2Rs 19), ou que intervêm por ocasião das operações militares (um profeta anônimo: 1Rs 20,13-14; Miquéias: 1Rs 22,19-28;  Eliseu: 2Rs 3,9-19; 6,8 –7,20). No relato da ruptura entre Israel e Judá, aparece um profeta com o objetivo de impedir uma guerra civil (Shemaiá: 1Rs 12,22-24). Enfim, Elias intervém junto a Acab para acusa-lo de ter violado – e de que maneira – o direito ancestral de propriedade (1Rs 21,3-17s.).

         Em todas essas situações, os profetas falam em nome do ETERNO, proclamando seus apelos à obediência e suas promessas de proteção. É evidente a intenção que os move: fazer respeitar a Lei e o direito em Israel, como é possível observar ainda no papel que desempenha a profetisa Huldá por ocasião da descoberta do texto legislativo que irá acarretar a reforma de Josias (2Rs 22,14-20). Os profetas também atuam tanto no terreno religioso como no da moral ou da política, pois tudo deve ser submetido ao único “rei” de Israel (Is 6,5; 44,6; Zc 14,16; cf. Introdução aos Salmos: os cânticos do “Reino”).

 

 

 

 

VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE 1 e 2 REIS:

 

         (1Rs).

 

BATE-SEBA

         Pontos fortes e êxitos:

         Tornou-se influente no palácio ao lado de seu filho Salomão.

         Era a mãe do mais sábio de Israel e ancestral do Messias - o Cristo.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Cometeu adultério.

 

 

         Lições de vida:

         Embora possamos nos sentir presos em uma cadeia de eventos, ainda somos responsáveis pelo modo como participamos deles.

         Um pecado pode parecer uma semente pequena, mas a colheita de conseqüências será além da medida.

         Nas piores situações possíveis, Yaohu ainda é capaz de realizar o bem, quando as pessoas verdadeiramente se voltam para Ele.

         Embora devamos viver com as conseqüências naturais de nossos pecados, o perdão de Yaohu é total.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupações: Rainha e rainha-mãe.

         Familiares: Pai – Eliã; marido – Urias e Davi, filhos – Siméia, Sobabe, Natã e Salomão (1Cr 3,5).

         Contemporâneos: Natã, Joabae e Adonias.

 

 

 

         Versículos-chave: “Ouvindo, pois, a mulher de Urias que Urias, seu marido, era morto, lamentou a seu Senhor - Davi. E, passando o luto, enviou Davi e a recolheu em sua casa; e lhe foi por mulher e ela lhe deu um filho. Porém essa coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do ETERNO” (2 Sm 11,26.27).

 

 

 

         Sua história encontra-se em 2 Samuel 11 – 12 e 1 Reis 1 – 2. O Salmo 51 é uma passagem relacionada à vida de Davi e Bate-Seba.

 

 

 

         SALOMÃO

         Pontos fortes e êxitos:

         Terceiro rei de Israel, herdeiro escolhido de Davi.

         O homem mais sábio que já viveu em Israel, com exceção do Messias – o Cristo, o filho de Yaohu.

         Autor de Eclesiastes e Cantares, como também de muitos provérbios e alguns salmos.

         Construiu o Templo de Deus – Yaohu em Jerusalém.

         Diplomata, comerciante, colecionador e patrono das artes.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Selou muitos acordos estrangeiros ao casar-se com mulheres pagãs.

         Permitiu que suas esposas afetassem sua lealdade a Yaohu.

         Tributou excessivamente seu povo e o recrutou para o trabalho e o serviço militar.

 

 

         Lições de vida:

         Uma liderança eficaz pode ser invalidada por uma vida pessoal ineficaz.

         Salomão falhou em obedecer a Yaohu, mas não aprendeu a lição do arrependimento até o final de sua vida.

         Saber quais ações são exigidas de nós significará pouco, caso não tenhamos vontade de realizá-las.

 

         Informações essenciais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Rei de Israel.

         Familiares: Pai – Davi, mãe – Bate-Seba; irmãos – Absalão, Adonias, etc.; irmã – Tamar; filhos – Roboão, etc.

 

 

 

         Versículo-chave: “Porventura, não pecou nosso Salomão rei de Israel, não havendo entre muitas nações rei semelhante a ele. E sendo amado de seu Deus Yaohu, e pondo-o Deus – Yaohu, rei sobre todo o Israel? E, contudo, as mulheres estranhas o fizeram pecar” (Ne 13,26).

 

 

 

         A história de Salomão encontra-se em 2 Samuel 12,24 até 1 Reis 11,43. Seu nome também é mencionado em 1 Crônicas 28 e 29; 2 Crônicas 1 – 10; Neemias 13,26; Salmos 72; Mateus 6,29 e 12,42.

         JEROBOÃO

         Pontos fortes e êxitos:

         Um eficiente líder e organizador.

         Primeiro rei das dez tribos de Israel no reino dividido.

         Um líder carismático com muito apoio popular.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Erigiu altares em Israel para manter o povo longe do Templo em Jerusalém.

         Designou sacerdotes que não eram da tribo de Levi.

         Dependeu mais de sua própria habilidade do que das promessas de Yaohu.

 

 

         Lições de vida:

         Grandes oportunidades são freqüentemente destruídas por pequenas decisões.

         Os esforços imprudentes para corrigir os erros de outros levam freqüentemente aos mesmos erros.

         Os erros sempre acontecem quando tentamos assumir o papel de Deus-Yaohu em qualquer situação.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Reino do Norte.

         Ocupação: Encarregado de projeto e rei de Israel.

         Familiares: Pai – Nebate; mão – Zerua; filha – Abias e Nadabe.

         Contemporâneos: Salomão, Natã; Aías e Roboão.

 

 

 

         Versículos-chave: “Depois dessas coisas, Jeroboão não deixou o seu mau caminho, antes, dos mais baixos do povo tornou a fazer sacerdotes dos lugares altos, a quem queria, lhe enchia a mão, e assim era um dos sacerdotes dos lugares altos. E isso foi causa de pecado à casa de Jeroboão, para destruí-la e extingui-la da terra” (1Rs 13,33.34).

 

 

 

         A história de Jeroboão encontra-se em 1 Reis 11,26 – 14,20. Ele é também mencionado em 2 Crônicas 10 – 13.

 

         ELIAS

         Pontos fortes e êxitos:

         Foi o mais famoso e dramático dos profetas de Israel.

         Predisse o início e o fim de uma seca de três anos e meio.

         Foi usado por Yaohu para ressuscitar uma criança.

         Representou Yaohu em uma demonstração contra os sacerdotes de Baal e Asera.

         Apareceu com Moisés e o Messias – Cristo no episódio da transfiguração no Novo Testamento.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Escolheu trabalhar sozinho e pagou por isso com o isolamento e a solidão.

         Fugiu com medo de Jezabel quando esta ameaçou sua vida.

 

 

         Lições de vida:

         Nunca estamos mais próximos da derrota do que nos momentos de maior vitória.

         Nunca estamos tão sós quanto podemos pensar ou nos sentir, Yaohu está sempre presente em nossa vida.

         Yaohu fala mais freqüentemente com sussurros persistentes do que com gritos.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Gileade.

         Ocupação: Profeta.

         Contemporâneos: Acabe, Jezabel, Acazias, Obadias, Jeú e Hazael.

 

 

 

         Versículos-chave: “Sucedeu, pois, que oferecendo-se a oferta de manjares, o profeta Elias se chegou e disse: O ETERNO, Deus-Yaohu de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme a tua palavra fiz todas estas coisas. Reponde-me, ETERNO, responde-me, para que este povo conheça que tu, ETERNO, és Deus – Yaohu e que tu fizeste tornar o seu coração para trás. Então, caiu fogo do ETERNO, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego” (1Rs 18,36-38).

 

 

         A história de Elias encontra-se em 1Reis 17,1 até 2 Reis 2,11. Ele também é mencionado em 2 Crônicas 21,12-15; Malaquias 4,5.6; Mateus 11,14; 16,14; 17,3-13; 27,47-49; Lucas 1,17; 4,25.26; João 1,19-25; Romanos 11,2-4; Tiago 5,17.18.

 

 

 

         ACABE

         Pontos fortes e êxitos:

         Oitavo rei de Israel.

         Um líder e estrategista militar de grande capacidade.

        

 

         Fraquezas e erros:

         Foi o rei mais ímpio de Israel.

         Casou-se com Jezabel, mulher pagã, e permitiu que esta promovesse a adoração a BAAL.

         Remoeu-se por não ter conseguido um pedaço de terra. Então sua esposa mandou matar o proprietário da vinha, Nabote.

         Estava acostumada a fazer a própria vontade e ficava deprimido quando isso não acontecia.

 

 

         Lições de vida:

         A escolha de um cônjuge terá um efeito significativo na vida – física, espiritual e emocionalmente.

         O egoísmo, se não for reprimido, pode levar a um grande mal.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Reino do Norte de Israel.

         Ocupação: Rei.

         Familiares; Esposa – Jezabel; pai – Onri; filhos – Acazias, Jorão, etc.

         Contemporâneos: Elias, Nabote, Jeú, Bem-Hadade e Josafá.

 

 

 

         Versículos-chave: “E fez Acabe, filho de Onri, o que era mal aos olhos do ETERNO, mais do que todos os que foram antes dele. E sucedeu que (como se fora coisa leve andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate), ainda tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e se encurvou diante dele. E levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria. Também Acabe fez um bosque, de maneira que Acabe fez muito mais para irritar ao ETERNO, Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele” (1Rs 16,30-33).

 

 

 

         A história de Acabe encontra-se em 1 Reis 16,28 – 22,40. Ele também é mencionado em 2 Crônicas 18 – 22 e Miquèias 6,16.

 

 

 

         JEZABEL

         Fraquezas e erros:

         Eliminou sistematicamente os representantes de Deus Yaohu em Israel.

         Promoveu e patrocinou a adoração a Baal.

         Ameaçou matar Elias.

         Acreditava que reis e rainhas podiam legalmente fazer ou ter qualquer coisa que desejassem.

         Usou suas fortes convicções para fazer a sua própria vontade.

 

 

         Lições de vida:

         Não é suficiente estar comprometido ou ser sincero. A questão sobre onde reside o nosso comprometimento faz uma grande diferença.

         Rejeitar a Yaohu sempre conduz ao desastre.

 

 

         Informações essenciais:

         Locais: Sidon e Samaria.

         Ocupação: Rainha de Israel.

         Familiares: Marido – Acabe; pai – Etbaal; filhos – Jorão, Acazias, etc.

         Contemporâneos: Elias e Jeú.

 

 

 

         Versículo-chave: “Porém ninguém fora como Acabe, que se vendera para fazer o que era mau aos olhos do ETERNO, porque Jezabel, sua mulher, o incitava” (1Rs 21,25).

 

         A história de Jezabel encontra-se em 1 Reis 16,31 a 2 Reis 9,37. Seu nome é usado como um sinônimo para a grande iniqüidade em Apocalipse 2,20.

 

 

 

         (2Rs).

 

         ELISEU

         Pontos fortes e êxitos:

         Foi sucessor de Elias como profeta de Deus Yaohu.

         Teve um ministério que durou mais de 50 anos.

         Teve um grande impacto sobre quatro nações: Israel, Judá, Moabe e Síria.

         Foi um homem integro que não tentou enriquecer-se à custa dos outros.

         Fez muitos milagres para ajudar aqueles que estavam sofrendo necessidades.

 

 

         Lições de vida:

         Aos olhos de Deus Yaohu, uma medida de grandeza é a disposição para servir aos pobres como também aos poderosos.

         Um substituto eficaz não só aprende com o seu mestre; também constrói sobre as realizações de seu mestre.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Reino do Norte.

         Ocupações: Lavrador e profeta.

         Familiares: Pai – Safate.

         Contemporâneos: Elias, Acabe, Jezabel e Jeú.

 

 

 

         Versículo-chave: “Sucedeu, pois, que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pedi-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim” (2Rs 2,9).

 

 

 

         A história de Eliseu encontra-se em 1 Reis 19,16 – 2 Reis 13,20. Ele também é mencionado em Lucas 4,27.

 

         JEÚ

         Pontos fortes e êxitos:

         Tomou o trono da família de Acabe e destruiu sua má influência.

         Fundou a mais longa dinastia do Reino do Norte.

         Foi ungido por Elias e confirmado por Eliseu.

         Destruiu a adoração a Baal.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Teve uma perspectiva negligente em relação à vida, e isto o tornou ousado e propenso ao erro.

         Adorou os bezerros de ouro de Jeroboão.

         Foi dedicado a Yaohu somente até o ponto em que a obediência serviu para seus próprios interesses.

 

 

         Lições de vida:

         O forte comprometimento precisa de controle porque pode resultar em imprudência.

         A obediência envolve tanto a ação quanto a direção.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: O Reino do Norte de Israel.

         Ocupações: Chefe do exército de Jorão, rei de Israel.

         Familiares: Avô – Ninsi; pai – Josafá; filho – Jeoacaz.

         Contemporâneos: Elias, Eliseu, Acabe, Jezabel, Jorão e Acazias.

 

 

 

         Versículo-chave: “Mas Jeú não teve cuidado de andar com todo o seu coração na lei do ETERNO, Deus de Israel, nem se apartou dos pecados de Jeroboão, que fez pecar a Israel” (2Rs 10,31).

 

 

 

         A história de Jeú encontra-se em 1 Reis 19,16 – 2 Reis 10,36. Ele também é mencionado em 2 Reis 15,12; 2 Crônicas 22,7-9; Oséias 1,4.5.

 

 

         EZEQUIAS

         Pontos fortes e êxitos:

         Foi o rei de Judá que instigou reformas civis e religiosas.

         Teve um relacionamento pessoal crescente com Yaohu.

         Desenvolveu uma poderosa vida de oração.

         Mencionado como o patrono de vários capítulos do livro de Provérbios (Pv 25,1).

 

 

         Fraquezas e erros:

         Mostrou pouco interesse ou sabedoria em relação a planejar para o futuro e a proteger a herança espiritual que desfrutou em beneficio das futuras gerações.

         Imprudentemente mostrou toda a sua riqueza aos mensageiros da Babilônia.

 

 

         Lições de vida:

         As reformas de limpeza têm vida curta quando poucas atitudes são tomadas para preserva-las para o futuro.

         A obediência a Yaohu no passado não remove a possibilidade de desobediência no presente.

         A completa dependência de Yaohu produz resultados surpreendentes.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Foi o 13º rei de Judá, o Reino do Sul.

         Familiares: Pai – Acaz; mãe – Abia; filho – Manassés.

         Contemporâneos: Isaías, Oséias, Miquéias e Senaqueribe.

 

 

 

         Versículos-chave: “No ETERNO, Deus de Israel, confiou, de maneira que, depois dele, não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele. Porque se chegou ao ETERNO, não se apartou de após ele e guardou os mandamentos que o ETERNO tinha dado a Moisés” (2Rs 18,5.6).

 

 

 

         A história de Ezequias encontra-se em 2 Reis 16,20 – 20,21; 2 Crônicas 28,27 – 32,33; Isaías 36,1 – 39,8. Ele também é mencionado em Provérbios 25,1; Isaías 1,1; Jeremias 15,4; 26,18.19; Oséias 1,1; Miquéias 1,1.

 

 

 

         JOSIAS

         Pontos fortes e êxitos:

         Foi rei de Judá.

         Buscou a Yaohu e se mostrou verdadeiramente aberto a Ele.

         Foi um reformador como seu bisavô Ezequias.

         Limpou totalmente o templo e reavivou a obediência à lei de Yaohu.

        

 

         Fraquezas e erros:

         Envolveu-se em um conflito militar contra o qual fora advertido.

 

 

         Lições de vida:

         Yaohu responde constantemente àqueles que têm corações arrependidos e humildes.

         Até mesmo as reformas de limpeza exterior têm pouco valor duradouro se não houver mudança na vida das pessoas.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Foi o 16º rei de Judá, o Reino do Sul.

         Familiares: Pai – Amom; mãe – Jedida; filho – Jeoacaz,

         Contemporâneos: Jeremias, Hulda, Hilquias e Sofonias.

 

 

 

         Versículo-chave: “E antes dele não houve rei semelhante, que se convertesse ao ETERNO com todo o seu coração, e com toda a sua alma, e com todas as suas forças, conforme toda a Lei de Moisés; e, depois dele, nunca se levantou outro tal” (2Rs 23,25).

 

A história de Josias encontra-se em 2 Reis 21,24 – 23,30; 2 Crônicas 33,25 – 35,27. Ele também é mencionado em Jeremias 1,1-3; 22,11.18.

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:

 

CRÔNICAS

 

 

 

         INTRODUÇÃO

 

 

         Visão geral

         Autor: Desconhecido.

         Propósito: Orientar a restauração do reino depois do exílio, enfatizando especialmente a unidade de Israel, o rei, o templo e as bênçãos e maldições imediatas.

         Data: c. 520-400 a.C.

         Verdades fundamentais:

         O povo de Yaohu tem nos reinos unidos de Davi e Salomão o modelo sobre como buscar as bênçãos divinas.

         O destino de cada geração de Israel era determinado pela sua fidelidade aos ideais de Yaohu quanto à monarquia, ao templo e à unidade do seu povo.

         As gerações futuras do povo de Yaohu devem aprender, por meio da história de Israel, as prioridades e os padrões de fidelidade esperados delas.

 

 

         Propósito e características

         A princípio, o livro de Crônicas não possuía um título. Seu nome hebraico tradicional pode ser traduzido como “os anais (acontecimentos do dias [tempos])”. Essa expressão aparece com freqüência no livro de Reis com certas especificações (p. ex., 1Rs 14,29). Também ocorre dessa maneira em outras passagens, porém sem especificações (Ne 12,23; Et 2,23; 6,1). Alguns textos da Septuaginta (a tradução grega do AT) se referem a Crônicas como “as coisas omitidas”; isto é, um complemento da história de Samuel e Reis. Jerônimo (e Lutero; segundo o seu exemplo) chamou o livro de “a crônica de toda a história sagrada”. Nosso título moderno tem origem nessa tradição.

 

 

 

      

CRISTO EM 1 e 2 CRÔNICAS.

Ao se concentrar no seu interesse pelo povo de Yaohu, pelo rei e pelo templo, bem como pela bênção e pelo julgamento divino, o cronista redigiu a sua história visando estimular a esperança de Israel na vinda do Messias. Seu foco imediato é a restauração da comunidade pós-exílio, mas o Novo Testamento revela que o Ideal do reino restaurado expressado pelo cronista se cumpriu em Cristo.

         A esperança do cronista para o povo de Yaohu se realizou em Cristo. Aqueles que seguem a Cristo são os herdeiros das promessas feitas a Israel (Gl 3,14.29; 4,28; Ef 2,11-22; 3,6), como também o eram os fiéis da comunidade pós-exílio. A igreja de Cristo se estende além de Israel de modo a incluir os gentios (Lc 2,32; At 9,15; 11,1.18). Na volta de Cristo, todos os eleitos serão reunidos sob a Eternidade de Cristo (Ef 2,11-22).

         O interesse do cronista pela restauração do trono de Davi também se cumpriu em Cristo. Ele é o Filho de Davi, o herdeiro legítimo do trono davídico (Lc 1,32; Rm 1,3; Ap 22,16). O SALVADOR cumpriu todos os requisitos de obediência impostos à linhagem de Davi (Rm 5,19; Fp 2,8; Hb 5,7-10). Na ressurreição, Cristo se assentou no seu trono celestial (At 2,33-35; Ef 1,20-23; Fp 2,9; Ap 3,21). Ele conduz o seu povo à bênção e à vitória (Rm 8,37; Ef 4,7-13) e reinará até que todos os seus inimigos tenham sido derrotados (1Co 15,24-26).

         A ênfase do cronista sobre o templo também se cumpriu em Cristo. Ele se entregou na cruz como expiação perfeita pelo pecado (Hb 9,11-28; 1Pe 3,18a; 1Jo 2,2), e intercede pelo seu povo no átrio celestial de Yaohu (Hb 3,1; 4,14-16; 6,20; 7,16; 8,1). Quando Cristo voltar, levará todo o seu povo à presença santa de Yaohu (Jo 14,1-4; 1Ts 4,16-17).

         O enfoque do cronista sobre a bênção e o julgamento divino também antevê a obra de Cristo. O SALVADOR advertiu a sua Igreja acerca da necessidade de fidelidade a Yaohu (Mt 5,17-20). Ele sofreu a morte na cruz para que o seu povo pudesse ser livrado do julgamento (Rm 3,21-26). Ele lhes concede nova vida para que tenham certeza da recompensa da bênção eterna (Jo 3,16; 2Pe 3,13; 1Jo 2,25).

         O cronista escreveu para encorajar seus leitores pós-exílio a renovarem o reino em sua época. No entanto, a sua história também aponta para o futuro, para o início do reino da primeira vinda de Cristo e sua consumação gloriosa quando ele voltar.

 

 

 

         CRÔNICAS: Os dois livros de Crônicas trazem, na Bíblia hebraica, um título que se poderia traduzir por Palavras (ou Atos) dos dias, isto é: livro dos atos diários referentes a uma história ou ainda, segundo São Jerônimo: Crônicas de toda a história divina, nome que se perpetuaria sob a forma de livros das Crônicas. Segundo a tradução grega, o nome, longamente conservado na tradição da Igreja, foi: Paralipômenos, palavra grega que significa: coisas deixadas de lado, ou ainda: coisas transmitidas à parte, termo aplicável ao conteúdo destes livros, considerados como complementos aos livros de Samuel e dos Reis. Com efeito, veremos que os relatos dos livros das Crônicas retomam em grande parte os relatos dos livros de Samuel e dos Reis, com outros elementos complementares, numa perspectiva histórica e teológica diferente.

         A divisão em dois livros é artificial, visto que não existe corte entre eles. Em sua origem, constituem um único livro, da mesma forma que os dois livros de Esdras e de Neemias. Aliás, este conjunto Crônicas-Esdras-Neemias forma um todo, como mostram os últimos versículos das Crônicas (2Cr 36,22-23), reproduzidos textualmente nos primeiros versículos de Esdras (1,1-3). Em conseqüência de circunstâncias desconhecidas, o lugar desses livros foi modificado no cânon da Bíblia hebraica, no qual as Crônicas são os últimos da coletânea, depois de Esdras-Neemias, quando na realidade deveriam precede-los. É possível que os livros das Crônicas tenham sido recebidos no cânon judaico depois de Esdras-Neemias, porque repetiam Samuel-Reis. A ordem lógica foi restabelecida nas versões antigas e com freqüência também nas traduções modernas.

 

 

         Plano. Os livros das Crônicas constituem um vasto panorama histórico que remonta à criação da humanidade e que se prolonga até o séc. V a.C., depois da volta do exílio da Babilônia. É a mais longa seqüência historiográfica da Bíblia, dado que o relato histórico contido nos livros que vão do Deuteronômio ao final dos livros dos Reis (freqüentemente chamado: história deuteronomista) só cobre o período cujo ponto de partida é a conquista de Canaã, e o ponto de chegada, o exílio de Babilônia.

         O conteúdo desta história é dividido em quatro seções:

         1) 1Cr 1 – 9: Listas genealógicas desde Adão até David, passando pelas 12 tribos de Israel. Algumas destas listas se prolongam até depois da época de David.

         2) 1Cr 10 – 29: Reinado de David, desde a morte de Saul até a morte de David.

         3) 2Cr 1 – 9: Reinado de Salomão.

         4) 2Cr 10 – 36: História do reino de Judá, desde a morte de Salomão até o exílio da Babilônia, pouco antes da época do retorno a Jerusalém. A continuação deste relato, referente ao retorno e à restauração do judaísmo depois do Exílio, encontra-se nos livros de Esdras e Neemias.

 

         Autor e data. Geralmente atribui-se o conjunto Crônicas-Esdras-Neemias a um mesmo autor, cujo nome é desconhecido e que é chamado o Cronista. A opinião que vê nesses livros a obra de vários autores não é seguida, e as diferenças que aparecem na composição das várias partes desta obra explicam-se naturalmente pela maneira como o autor utiliza os elementos diversificados que lhe serviram de fontes.

         A data da redação final da obra é delimitada pelos acontecimentos que aí se narram. A atividade de Esdras e Neemias situa-se essencialmente no séc. IV a.C. (ver a Introdução aos livros de Esdras e Neemias). Por isso não é possível fazer a redação remontar a uma época anterior a meados do séc. IV, ou seja, 350-330 a.C.

         Por outro lado, não parece que se possa descer a uma época muito posterior da história do judaísmo, como seja o período em que os judeus conheceram as provas da perseguição e da guerra, sob os Macabeus, no século II a.C. Parece mais indicado situar a obra do Cronista no período relativamente calmo e tranqüilo que precede o tempo das provações, ou seja, entre 330 e 250 a.C. Ainda que existam algumas adições redacionais de data ulterior à obra do Cronista, parece difícil atribuir ao conjunto dos livros uma data mais recente do que 200 a.C., embora nenhum indício preciso permita chegar com certeza a uma conclusão mais satisfatória.

 

 

         Composição e método de redação. Se ignoramos o autor das Crônicas e a data precisa da conclusão de sua obra, conhecemos bem a maneira pela qual ele realizou seu trabalho de redação e de composição literária. Este é o único livro do Antigo Testamento que mostra claramente a maneira pela qual foi composto.

         Na realidade, o autor não redigiu um relato que lhe tivesse sido inspirado por seus conhecimentos da história antiga do seu povo. Ele reproduz fielmente certo número de documentos que tem diante de si, reordenando-os às vezes em função do objetivo de sua obra e modificando-os de acordo com outros documentos que conhece ou de acordo com a idéia que tinha da história e de seu significado. Além disso, toma o cuidado – o que era raro em sua época – de citar suas fontes, dando-nos assim informações preciosas, ainda que incompletas e por vezes difíceis de precisar.

         Ele menciona:

         - O livro dos reis de Judá e de Israel (2Cr 16,11).

         - O livro dos reis de Israel (1Cr 9,1).

         - Os atos dos reis de Israel (2Cr 33,18).

         - O comentário (ou midrash) ao livro dos Reis (2Cr 24,27).

         - Os anais do rei David (1Cr 27,24).

         - As palavras (ou atos) do vidente Samuel (1Cr 29,29), do profeta Natan (1Cr 29,29), do vidente Gad (1Cr 29,29), do profeta Shemaiá e do vidente Idô (2Cr 12,15), de Iehu, filho de Hanani (2Cr 20,34), de Hozai (2cr 33,19).

         - A profecia de Ahiá de Shilô (2Cr 9,29).

         - A visão do vidente Iedô (2Cr 9,29), do profeta Isaías, filho de Amôs (2Cr 32,32). {No livro, “Amós”, está escrito com acento “circunflexo” ok. Anselmo}.

         - Um documento escrito do profeta Isaías, filho de Amôs (2Cr 26,22).

         É provável que vários destes títulos designem documentos idênticos, com algumas variantes na formulação de seus títulos. Apesar da variedade de opiniões dos comentadores, é possível identificar pelo menos três grupos de documentos de que o Cronista se serviu; antes de mais nada, os livros de Samuel e dos Reis, dos quais às vezes reproduz textualmente relatos inteiros; em seguida, outro documento histórico, hoje perdido, que continha elementos que o Cronista utilizou para completar os livros anteriores (talvez seja aquele designado com o termo midrash ou comentário ao livro dos Reis); por fim, um grupo de documentos que contêm diversas tradições proféticas, que o Cronista menciona de maneira pouco precisa, e que provêm ou dos livros de Samuel e dos Reis (tradições sobre Samuel), os dos livros proféticos (Isaías), ou de outras fontes que hoje desconhecemos.

         A todos estes materiais, que constituem o essencial dos relatos, é mister acrescentar outros elementos utilizados pelo Cronista sem indicação de origem e sem referências precisas. Em geral, são textos que provêm de outros livros do Antigo Testamento, que o autor conhecia muito bem e aos quais freqüentemente se reportava. Suas listas genealógicas são tiradas, em grande parte, dos dados da mesma natureza fornecidos pelo Gênesis, Êxodo, Números, Josué, Rute. Há capítulos que reproduzem total ou parcialmente textos litúrgicos tirados do Saltério (1Cr cita os Salmos 105; 96; 106).

         Levando em consideração a contribuição pessoal do Cronista a sua obra, pois não se trata de simples compilação de documentos anteriores, e admitindo, como é possível, que algumas adições mais tardias tenham sido juntadas à obra já acabada, constata-se que os livros das crônicas representam, na literatura bíblica, a única obra em que se pode analisar tão de perto a composição e o método de redação.

         Que método? Sem entrar em detalhes dos relatos, mas estabelecendo uma comparação geral entre os livros de Samuel e Reis e os livros das Crônicas, é possível explicitar alguns princípios diretores seguidos pelo Cronista na composição da obra. Em primeiro lugar, ele procedeu por eliminação, conservando de suas fontes apenas o que queria narrar, de acordo com a idéia que fazia de sua obra. A história do reinado de David e de sua dinastia foi para ele a verdadeira história do povo de Yaohu e de seus destinos. Conseqüentemente, tudo o que se referia à história do reino de Israel depois do cisma não lhe interessava; relegou ao silêncio toda esta parte e só narrou a história do reino de Judá e de sua capital, Jerusalém. De modo análogo, deixou de lado certo número de acontecimentos e fatos que não lhe pareciam muito importantes para evidenciar a glória dos reinados de David e de Salomão, ou que lhes fossem desfavoráveis (o adultério de David, a revolta de Absalão, o luxo e a idolatria do fim do reinado de Salomão). Tal método explica, em parte, as lacunas que não se pode deixar de constatar nesta obra histórica (não se alude ao exílio de Babilônia; períodos bastante longos da história entre o Exílio e a restauração de Esdras e Neemias – mais de um século – não mencionados).

         Vem o seguir a tarefa de adaptação que o Cronista levou a cabo, utilizando materiais que lhe serviam de fontes. Em razão quer de sua falta de interesse pela cronologia exata, quer das opiniões teológicas que o guiaram em seu relato, apresentou os fatos como o faria uma testemunha que os apresentasse à luz de sua própria personalidade e de sua época.

         As desgraças dos reis e dos povos são sempre explicadas por uma desobediência a Yaohu; pelo contrário, as bênçãos concedidas por Yaohu são sempre fruto do zelo e da fidelidade dos personagens com relação ao Templo e ao culto. As modificações de ordem cronológica são sempre difíceis de explicar, mas parecem obedecer a razões mais teológicas do que históricas (particularmente nos livros de Esdras e Neemias). Pode-se falar das Crônicas, como à vezes se faz, como escritos “tendenciosos”? Isto equivaleria a fazer um julgamento pejorativo e injusto do autor, que se preocupou mais em apresentar uma “teologia da história” do que em fazer uma exposição histórica objetiva e completa. Sua obra é menos a de um historiador, em sentido moderno, e mais a de um crente ou teólogo que vê na história o testemunho da ação permanente de Deus e a imagem, certamente ainda imperfeita, mas real, do Reino de Deus - Yaohu.

         Por fim, o método de composição comporta um trabalho destinado a completar os dados fornecidos pelas fontes principais, isto é, os livros de Samuel e dos Reis. Graças a outros documentos, a tradições escritas, ou mesmo orais, o Cronista dá detalhes complementares sobre certos aspectos da história do povo que não se encontram nos outros livros do cânon bíblico e que, desta forma, são muito preciosos para um melhor conhecimento dessa história. Mesmo se algumas passagens de seu texto exprimem suas reflexões pessoais e sua concepção das coisas, o mesmo não se pode dizer de numerosos pormenores que não podem ser obra de sua imaginação criadora, mas que ele encontrou em fontes que não mais conhecemos.

         Além disso, podemos saber como ele tratava suas fontes, comparando as passagens de sua obra com seus paralelos em Samuel-Reis. Embora certos retoques teológicos ou literários sejam perceptíveis aqui e ali as variantes geralmente são de ordem ocidental: o Cronista conheceu o texto hebraico de Samuel-Reis num estado mais antigo que nosso texto atual, e tanto Samuel-Reis como as Crônicas sofreram inevitáveis falhas de copistas. A comparação desses textos em seu estado presente nos dá preciosas informações sobre os acidentes de transmissão possíveis nos outros livros da Bíblia. Ela nos mostra, ao mesmo tempo, que o Cronista geralmente copiava de suas fontes com grande fidelidade. Mas orientava o conjunto do relato por meio de hábeis incisões ou por judiciosos empréstimos a outras fontes complementares.

         Em última análise, o método de composição literária do Cronista está estreitamente ligado à sua concepção da história e às suas convicções teológicas que expomos a seguir.

 

 

         Teologia do autor das Crônicas. A análise do conteúdo dos dois livros das Crônicas permite explicitar e sublinhar os aspectos teológicos mais importantes desta obra, ainda que não se possa pretender conhecer a teologia do Cronista em sua totalidade.

         Há uma evidência que se impõe logo de saída: a importância davídica. Tudo o que antecedeu a história de David é reduzido a um conjunto de listas genealógicas que retrocedem até Adão (caps. 1 – 9). E a ligação com David se faz apenas por um breve capítulo (cap. 10) sobre a morte de Saul, cuja realeza foi rejeitada por Yaohu em benefício da de David. Todo o fim do primeiro livro é consagrado a esta (caps. 11 – 29). Mas, se comparam estes relatos, com outros paralelos dos livros de Samuel e dos Reis, não se pode deixar de constatar as diferenças. Tudo o que se refere à infância, à juventude e aos anos da vida errante de David em conflito com Saul é deixado de lado, da mesma forma que seus sete anos e meio de reinado sobre Judá em Hebron, enquanto as outras tribos de Israel conheciam o reinado movimentado de um filho de Saul, Ishbôshet. Além disso, todos os acontecimentos à corte do rei, o comportamento do próprio rei no caso de Bat-Sheba, mulher de Uriá, as rivalidades de seus filhos por causa de sua sucessão, a revolta de Absalão, em resumo de tudo aquilo que dá aos caps. 9 – 23 de 2Sm o caráter vivo e realista de um relato sobre a vida de uma corte real oriental não se encontra nas Crônicas. Sem dúvida, a figura do rei David continua muito humana, mas idealizada. Tudo contribui para mostrar nele o rei segundo a vontade de Yaohu, o rei que permanecerá à testa de uma dinastia sem fim, sobretudo o rei que consagrou sua vida a fazer de Jerusalém uma capital e uma Cidade Santa e o preparar, até nos mínimos detalhes, a construção do Templo e a organização do culto, que doravante será ali celebrado. Às vezes, chegou-se a estabelecer uma espécie de paralelos entre a figura de Moisés na tradição “sacerdotal” do Pentateuco e a de David nas Crônicas. Com efeito, há certa semelhança entre estes dois homens que são apresentados – em épocas muito diferentes – como chefes e legisladores do povo, em Nome de YAOHU.

         Na seqüência dos relatos, o rei Salomão aparece como uma figura idealizada, a exemplo de David. A seu respeito, nada se conserva de desfavorável, nem a eliminação brutal de seus rivais no início de seu reinado, nem o luxo, a idolatria e a vida dissoluta da corte real no fim de seu reinado. Salomão é o rei que construiu o Templo seguindo as indicações e os preparativos minuciosos de seu pai, David. A dedicação do Templo assume uma solenidade e amplidão que não se encontra no livro dos Reis.

         O Templo e o culto estão no centro das preocupações do Cronista, e pode-se até perguntar se o principal objetivo de sua obra não é precisamente o de apresentar uma história do Templo de Jerusalém, a Cidade santa, e do culto que aí deve ser celebrado. Nas genealogias do início, as listas referentes à Judá e Benjamin são as mais desenvolvidas; é que são as da família de David e do território de Jerusalém. A história dos sucessores de David e Salomão está centrada no Templo, e os desenvolvimentos mais importantes são os que se referem aos reis cuja maior preocupação foi a de restaurar o Templo ou reformar o culto: Asá (2Cr 14 – 16), Josafat (caps. 17 – 20), e sobretudo Ezequias (caps. 29 – 32) e Josias (caps. 34 – 35). Logo depois da volta do Exílio, encontra-se a mesma preocupação que aparece nos livros de Esdras e Neemias: restauração do altar sobre as ruínas do Templo (Ed 3), reconstrução do Templo (Ed 4 – 6), da Cidade Santa (Ne 1 – 4) e restauração do culto (Ne 8 – 9).

         Da mesma forma, o Cronista cerca de especial predileção os ministros do culto, todos membros da tribo de Levi, sejam eles sacerdotes, descendentes de Aarão, sejam levitas, descendentes de outros clãs da mesma tribo. Enquanto todo o Pentateuco mencionava os sacerdotes 27 vezes, alcançam-se o recorde de 53 vezes para Esdras-

-Neemias e de 76 vezes para as Crônicas. Aplicando o que se estabelece em Lv 1,5 e em Nm 10,8, são os sacerdotes os encarregados de fazer soar as trombetas (1Cr 15,24; 2Cr 13,12) e de verter sobre o altar o sangue das vítimas imoladas (2Cr 30,16). Mas os levitas não são simples empregados subalternos: Transportam a arca, são porteiros e guardiões do Templo, desempenham as funções de cantores e músicos; em certas circunstâncias, chegam a participar, juntamente com os sacerdotes, da preparação (não da oferenda) dos sacrifícios (2Cr 29,34; 30,16-17).

         As cerimônias exprimem, nos relatos que as expõem, acentos de alegria, louvor e reconhecimento, e isto se faz supor que o próprio Cronista pode ter sido um levita ou tenha querido restabelecer suas funções às vezes depreciadas.

         Outra hipótese a considerar: O autor das Crônicas teria querido, com sua obra, enfatizar a legitimidade exclusiva do Templo e do culto em Jerusalém diante das tentativas feitas por alguns de estabelecer outros santuários e justificar outras cerimônias cultuais no passado, mas também na época do Cronista. Seu relato teria uma perspectiva polêmica, particularmente contra os samaritanos ou os que estiveram na origem deste cisma, cuja data exata é ignorada. Assim se explicaria o silêncio sistemático do Cronista sobre toda a história do reino de Israel depois do Cisma que se seguiu à morte de Salomão. Só o reino de Judá, com a dinastia davídica era legítimo; e os soberanos do reino do Norte, com Samaria, sua capital, e suas cerimônias cultuais contaminados pelo culto dos baalim, eram cismáticos, que não podiam pretender representar o verdadeiro povo de Yaohu. Por estas mesmas razões se explicariam também os conflitos, no tempo de Esdras e Neemias, como o “povo da terra”, que queria ajudar na reconstrução de Jerusalém e que foi impedido pelos descendentes dos exilados, os quais se consideravam os verdadeiros representantes do povo de Yaohu (Ed 4; Ne 2,19-20; 4; 6).

         Estes diferentes aspectos da obra do Cronista conduzem, do ponto de vista teológico, a uma visão sintética que bem pode ser expressa pelo termo teocracia. Para o autor, a história do povo de Yaohu, na comunidade judaica em que ele vive, é como que a imagem ideal do reino teocrático estabelecido por Yaohu, à testa do qual foi posto David. Na realidade, Yaohu é o único rei verdadeiro, e David assenta-se no trono de Yaohu. Através da realidade terrestre da história passada, o Cronista descreve o reino de Yaohu tal como podia ser representado na sua época: o culto no Templo único de Jerusalém, a Cidade Santa, exprimia a fidelidade, o júbilo, o louvor do povo a seu Rei, sobretudo graças aos sacerdotes e aos levitas; a obediência à Lei de Yaohu era a primeira obrigação do povo na vida diária; a relação constante entre Yaohu e seu povo traduzem-se por uma noção de retribuição levada ao grau mais absoluto. A justiça de Yaohu quer que toda fidelidade – sobre tudo da parte dos reis no trono de Jerusalém – receba sua bênção, mas também que toda falta e toda desobediência, particularmente no que se refere ao Templo e ao culto, acarretem a punição divina. Doutrina não rigorosa aparece ao longo de toda a história dos reis, sucessor de David, e enquanto os livros dos Reis nada dizem dos motivos da felicidade ou desgraça do povo, os livros das Crônicas se esforçam por dar uma justificação teológica segundo sua noção de justiça retributiva de Yaohu. Se Manasses gozou de um longo reinado, apesar das suas faltas, é porque se arrependeu e porque, voltando a Yaohu, purificou dos seus ídolos o Templo (2Cr 33). Se, pelo contrário, Josias, apesar de sua grande fidelidade, encontrou uma morte prematura, é porque se opusera à vontade de Yaohu por ocasião da passagem dos exércitos egípcios que iam combater na Assíria (2Cr 35).

         Ao contrário da literatura apocalíptica, que projeta para o futuro uma imagem da realidade terrestre para anunciar o que será o reino de Yaohu, a obra do Cronista idealiza o passado para mostrar o que deve ser a vida do povo no presente. Assim a realeza teocrática da época de David deve lembrar constantemente aos judeus contemporâneos do autor o que devem ser a celebração de seu culto, a obediência à Lei de Yaohu e a esperança na justa retribuição divina.

         Talvez seja por causa dessa perspectiva teológica voltada preferentemente para o passado que a obra do Cronista não está apoiada numa esperança messiânica explicitamente formulada. As perspectivas de futuro não prendem muito sua atenção. Meditando sobre a história passada, o Cronista parece querer fornecer ao presente uma lição de fidelidade a Yaohu, à sua Lei e ao seu Culto.

 

 

 

VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE CRÔNICAS (2Cr):

 

 

         ROBOÃO

         Pontos fortes e êxitos:

         O quarto e último rei de Israel, após o reino se dividir, governou Judá.

         Fortaleceu seu reino e alcançou uma certa popularidade.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Seguiu conselhos insensatos, o que levou à divisão do reino.

         Casou-se com mulheres estrangeiras, como fez seu pai, Salomão.

         Abandonou a adoração a Yaohu e permitiu que a idolatria se estabelecesse.

 

 

         Lições de vida:

         Decisões impensadas freqüentemente nos levam a trocar o que é mais valioso por algo de valor muito menor.

         Toda escolha que fazemos tem conseqüências reais e duradouras.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Rei de Israel; mais tarde, do Reino do Sul, Judá.

         Familiares: Pai – Salomão; mãe – Naamá; filho – Abias; esposa – Maaca.

         Contemporâneos: Jeroboão, Sisaque e Semaías.

 

 

 

         Versículo-chave: “Sucedeu, pois, que, havendo Roboão confirmado o reino e havendo-se fortalecido, deixou a lei do ETERNO, e, com ele, todo o Israel” (2Cr 12,1).

 

 

 

         A história de Roboão é contada em 1 Reis 11,43 – 14,31 e 2 Crônicas 9,31 – 13,7. Ele também é mencionado em Mateus 1,7.

 

 

 

         ASA

         Pontos fortes e êxitos:

         Obedeceu a Yaohu durante os primeiros dez anos de seu reinado.

         Empreendeu um esforço para abolir a idolatria.

         Depôs sua avó idólatra, Maaca.

         Derrotou o poderoso exército da Etiópia.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Respondeu com ira quando confrontado sobre seu pecado.

         Fez alianças com nações estrangeiras e pessoas ímpias.

 

 

         Lições de vida:

         Yaohu não só consolida o bem. Ele confronta o mal.

         Os esforços para seguir os planos e as regras de Yaohu trazem resultados positivos.

         O bom funcionamento de um plano não significa necessariamente que este esteja correto ou aprovado por Yaohu.

 

 

         Informações gerais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Rei de Judá.

         Familiares: Avó – Maaca; pai – Abias; filho – Josafá.

         Contemporâneos: Hanani; Bem-Hadade; Zerá; Azarias e Baasa.

 

 

 

         Versículo-chave: “Porque, quanto ao ETERNO, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com ele, nisso, pois, procedeste loucamente, porque, desde agora, haverá guerras contra ti” (2Cr 16,9).

 

 

 

         A história de Asa é contada em 1 Reis 15,8-24 e 2 Crônicas 14 – 16. Ele também é mencionado em Jeremias 41,9; Mateus 1,7.

 

 

         JOSAFÁ

         Pontos fortes e êxitos:

         Como um corajoso seguidor de Yaohu, lembrou ao povo os primeiros anos de seu pai, Asa.

         Executou um programa nacional de educação religiosa.

         Alcançou muitas vitórias militares.

         Difundiu a lei de Yaohu por todo o reino.

 

 

         Fraquezas e erros:

         Falhou em reconhecer os resultados de suas decisões em longo prazo.

         Não destruiu completamente a idolatria.

         Envolveu-se com o ímpio rei Acabe, e fez com ele alianças.

         Permitiu que seu filho, Jorão, se casasse com Atalia, filha de Acabe.

         Tornou-se parceiro de Acazias em um malfadado empreendimento náutico.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Rei de Judá.

         Familiares: Pai – Asa; mãe – Azuba; filho – Jorão; nora – Atalia.

 

 

 

         Versículos-chave: “E andou nos caminhos de Asa, seu pai, e não se desviou dele, fazendo o que era reto aos olhos do ETERNO. Contudo, os altos se não tiraram, porque o povo não tinha ainda preparado o coração para com o Deus-Yaohu de seus pais” (2Cr 20,32.33).{ALTOS – RITUAIS PAGÃOS IDÓLATRAS A BAAL...}. A. E.

 

 

 

         A história de Josafá é contada em 1 Reis 15,24 – 22,50 e 2 Crônicas 17,1 – 21,1. Ele também é mencionado em 2 Reis 3,1-14 e Joel 3,2.12.

 

 

 

         JOÁS

         Pontos fortes e êxitos:

         Empreendeu grandes reformas no Templo.

         Foi fiel a Yaohu enquanto Joiada viveu.

        

 

Fraquezas erros:

         Permitiu que a idolatria continuasse a ser praticada por seu povo.

         Usou os tesouros do Templo para subornar o rei Hazael, da Síria.

         Matou Zacarias, filho de Joiada.

         Permitiu que seus conselheiros desviassem o povo de Yaohu.

 

 

         Lições de vida:

         Um bom e esperançoso início pode ser anunciado por um final voltado para a impiedade.

         O melhor conselho é ineficaz se não nos ajudar a tomar decisões sábias.

         Por mais úteis ou nocivos que os outros possam ser, somos individualmente responsáveis pelo que fazemos.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Rei de Judá.

         Familiares: Pai – Acazias; mãe – Zíbia; avó – Atalia; tia – Jeoseba; tio – Joiada. Filho – Amazias; primo – Zacarias.

         Contemporâneos: Jeú e Hazael.

 

 

 

         Versículos-chave: “Porém, depois da morte de Joiada, vieram os príncipes de Judá e prostraram-se perante o rei; e o rei os ouviu. E deixaram a Casa do ETERNO, Deus – Yaohu – de seus pais, e serviam a imagens do bosque e aos ídolos; então, veio grande ira sobre Judá e Jerusalém por causa desta sua culpa” (2Cr 24,17.18).

 

 

 

         A história de Joás é contada em 2 Reis 11,1 – 12,21 e 2 Crônicas 22,11 – 24,27.

 

 

 

         UZIAS

         Pontos fortes e êxitos:

         Agradou a Yaohu durante seus primeiros anos como rei.

         Guerreiro bem sucedido e administrador competente que edificou cidades.

         Hábil em organizar e delegar.

         Reinou por 52 anos.

 

Fraquezas e erros:

         Desenvolveu uma atitude orgulhosa devido ao seu grande sucesso.

         Tentou cumprir os deveres dos sacerdotes, em desobediência direta a Yaohu.

         Falhou em remover muitos dos símbolos da idolatria na terra.

 

 

         Lições de vida:

         A falta de gratidão a Yaohu pode levar ao orgulho.

         Até as pessoas bem-sucedidas devem reconhecer o papel que Yaohu designa a outros.

 

 

         Informações essências:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Rei de Judá.

         Familiares: Pai – Amazias; mãe – Jecolias; filho – Jotão.

         Contemporâneos: Isaías; Amós; Oséias; Jeroboão; Zacarias e Azarias.

 

 

 

         Versículos-chave: “Também fez em Jerusalém máquinas da invenção de engenheiros, que estivessem nas torres e nos cantos, para atirarem flechas e grandes pedras; e voou a sua fama até muito longe, porque foi maravilhosamente ajudado até que se tornou forte. Mas, havendo-se fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o ETERNO, seu Deus-Yaohu, porque entrou no templo do ETERNO para queimar incenso no altar do incenso” (2Cr 26,15.16).

 

 

 

         A história de Uzias é contada em 2 Reis 15,1-7 e em 2 Crônicas 26,1-23. Ele também é mencionado em Isaías 1,1; 6,1; 7,1; Oséias 1,1; Amós 1,1; Zacarias 14,5.

 

 

 

         MANASSÉS

         Pontos fortes e êxitos:

         Embora as conseqüências de seus pecados tenham sido amargas.Manassés aprendeu com elas.

         Humildemente arrependeu dos seus pecados diante de Yaohu.

 

Fraquezas e erros:

         Desafiou a autoridade de Yaohu e foi derrotado.

         Inverteu muito dos efeitos positivo do governo de seu pai, Ezequias.

         Sacrificou seus filhos aos ídolos.

 

 

         Lições de vida:

         Yaohu percorrerá um longo caminho par conseguir a atenção de alguém.

         O perdão é limitado não pela quantidade de pecados, mas por nossa disposição ao arrependimento.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Jerusalém.

         Ocupação: Rei de Judá.

         Familiares: Pai – Ezequias; mãe – Hefzibá; filho – Amom.

 

 

 

         Versículos-chave: “E ele, angustiado, orou deveras ao ETERNO, seu Deus-Yaohu, e humilhou-se muito perante a Yaohu – Deus de seus pais, e lhe fez oração, e Yaohu se aplacou para com ele e ouviu a sua súplica, e o tornou a trazer a Jerusalém, ao seu reino; então, reconheceu Manassés que o ETERNO é Deus-Yaohu” (2Cr 33,12.13).

 

 

 

         A história de Manassés é contada em 2 Reis 21,1-18 e 2 Crônicas 32,33 – 33,20. Ele também é mencionado em Jeremias 15,4.

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:

 

 

 

ESDRAS-NEEMIAS

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

 

         Visão geral

         Autor: Desconhecido.

         Propósito: Incentivar aqueles que haviam regressado à Terra Prometida a continuar o trabalho que Zorobabel, Esdras e Neemias haviam iniciado.

         Data: c. 430-400 a.C.

         Verdades fundamentais:

         Yaohu apoiou e abençoou Zorobabel, Esdras e Neemias no trabalho de incrementar a restauração depois do exílio.

         Quando a restauração de Israel perdeu o seu vigor, Esdras e Neemias forneceram liderança fiel.

         O templo e Jerusalém eram de suma importância para que Yaohu abençoasse o seu povo.

         Para que possa receber a bênção de Yaohu, o seu povo deve ser conduzido ao arrependimento e à santidade.

 

 

         Propósito e características

         Esdras-Neemias é uma narrativa histórica que apresenta o trabalho de Zorobabel, Esdras e Neemias sob uma ótica bastante positiva. Ao mostrar apenas o lado positivo de sua liderança, o livro incentiva aqueles que haviam regressado do exílio a dar continuidade ao trabalho iniciado por esses líderes.

 

 

 

      

CRISTO EM ESDRAS-NEEMIAS.

         A revelação de Cristo é uma característica importante do Livro de Esdras-Neemias. O livro revela Cristo de pelo menos cinco maneiras.

         1. O trabalho de Esdras e Neemias teve como base à iniciativa de Zorobabel, o descendente de Davi que representou a família real no início da restauração final do povo de Yaohu à bênção (Ag 1 – 2; Zc 1 – 8). O trabalho de Zorobabel ficou aquém das expectativas, mas, posteriormente, O SALVADOR viria da linhagem de Zorobabel (Mt 1,12-16) e receberia as promessas dadas à casa de Davi depois do exílio.

         2. Os retratos idealistas de Zorobabel, Esdras e Neemias como líderes prenunciam a obra de Cristo. Do mesmo modo que esses homens dedicaram a própria vida a conduzir o povo de Yaohu às bênçãos divinas, Cristo conduz os seus às bênçãos supremas e eternas. Como Cristo (Mt 23,1-39), Esdras e Neemias confrontaram e corrigiram o pecado em Israel (9,1-15; 10,10-14; Ne 1,6-7; 9,1-3.26-38; 13,15-27). Como Cristo (Jo 17,6-26), eles se identificaram como o povo pecador e oraram por ele (9,6-15; Ne 1,4-11).

         3. O enfoque sobre a reconstrução e o funcionamento correto do templo em Jerusalém prefigura Cristo. O templo é um elemento central da fé cristã. Cristo não apenas purificou o templo (Mt 21,12-13; Jo 2,13-17) como também se tornou o templo (Jo 2,19-22). Cristo instituiu a igreja como templo de Yaohu (1Co 3,16-17; 2Co 6,16) e hoje, ministra no templo celestial (Hb 9,11-12.24). Quando voltar, Cristo trará a nova Jerusalém do céu para a terra a fim de tornar o novo céu e nova terra a cidade santa de Yaohu, com ele próprio e o Pai como o seu templo (Ap 21,22). Os temas de santidade, sacrifícios, orações, perdão, sacerdócio e da presença de Yaohu, associados com o templo em Esdras-Neemias, são cumpridos em Cristo.

         4. As reformas morais que Esdras e Neemias realizaram no âmbito nacional se cumpriram, igualmente, de modo supremo em Cristo. Ele também conclamou o povo da aliança de Yaohu a voltar para o ETERNO e à sua Lei (Mt 5,17-19). Na verdade, por meio de sua morte e ressurreição e do poder do seu Espírito (Ruach HaKodesh), Cristo purifica da injustiça e conduz à vida de fé (1Jo 1,7-9) todos os que crêem nele para que possam herdar as bênçãos de Yaohu (Mt 25,34-40; Rm 6,1-23; 1Pe 3,9-12).

         5. Durante a breve estadia de Esdras em Jerusalém, ele reconstituiu Israel e deu à sua fé uma forma que permitiria que ela sobrevivesse ao longo dos séculos. Esdras organizou a comunidade judaica em torno da Lei, a Torá. Dessa época em diante, a marca distintiva de um judeu não seria geográfica ou nacional, mas sim, referente à aceitação da Lei. A Lei abriu um caminho para a superação das limitações étnicas e geográficas de outros tempos. Essa mudança na fé judaica lançou os alicerces para muitas das características da fé cristã. O culto cristão, a organização eclesiástica, a vida em comunidade, os empreendimentos missionários e outros elementos da fé cristã se firmaram em grande parte, nessas mudanças resultantes do ministério de Esdras. {ver + pra frente o termo “cristão”(...). E o REMANESCENTE [...]. A. E.}.

 

 

 

         ESDRAS-NEEMIAS: Os livros de Esdras e de Neemias constituíam, na origem, um único livro. Pertencem ao período subseqüente ao retorno dos judeus do cativeiro babilônico, período que se prolongou durante mais de um século. A atividade dos dois personagens principais, Esdras e Neemias, não é mencionada em nenhum outro livro do Antigo Testamento hebraico. Sem os dois livros que levam os nomes deles, seria muito difícil, senão impossível, conhecer os eventos que marcaram a restauração do judaísmo após a provação do Exílio.

 

 

         Conteúdo do livro. Distinguem-se com facilidade as diversas partes destes dois livros:

         O livro de Esdras conta inicialmente (caps. 1 – 6) a volta dos primeiros cativos autorizados a retornar a Jerusalém por permissão de Ciro, rei dos persas, que acabava de conquistar a Babilônia. Esses primeiros repatriados restabeleceram o altar sobre as ruínas do Templo de Jerusalém, antes de reconstruir o próprio santuário, e apesar, de graves dificuldades advindas dos dirigentes regionais e dos adversários do judaísmo. O Templo só foi inteiramente reconstruído vários anos depois, na época dos profetas Ageu e Zacarias, sob o reinado de Dario (5,1-2).

         Segundo os capítulos 7 – 10, após um intervalo de várias dezenas de anos, Esdras, sacerdote e escriba, encarregado de uma missão oficial pelo rei da Pérsia, Artaxerxes, chega a Jerusalém, onde se aflige por ver um estado de coisas bem pouco fiel à tradição judaica, em especial por causa dos numerosos casamentos entre judeus e pagãos. Empreende uma reforma radical neste ponto e, respaldado pelo povo, manda os estrangeiros para fora das fronteiras da terra judaica, provavelmente bastante restrita naquela época.

         No início do livro de Neemias (caps. 1 – 7) o relato explica de que maneira Neemias, alto funcionário do rei Artaxerxes, entristecido com as notícias recebidas de seus compatriotas de Jerusalém, obtêm do rei a autorização para inspecionar a capital judaica e empreender a reconstrução da mesma, começando pela muralha. Essa será reconstruída em cinqüenta e dois dias, graças ao zelo de Neemias, obrigado ao mesmo tempo a lutar contra inimigos e a estimular a coragem e a disciplina de todos os habitantes.

         Nos capítulos 8 – 9, Esdras volta ao primeiro plano dos acontecimentos e restaura o culto e a celebração das festas em conformidade com a Lei de Moisés, que trouxera de Babilônia.

         Após diversos trechos relatando compromissos do povo, listas e a festa de inauguração da muralha, o livro termina com uma série de reformas efetuadas por Neemias em Jerusalém por ocasião de uma segunda estada, mais ou menos doze anos mais tarde (caps. 10 – 13).

         Eis, portanto, como se apresenta o plano dos dois livros:

 

 

         Esdras

         1: O edito de Ciro.

         2: Lista dos deportados repatriados.

         3: Restabelecimento do culto.

         4,1-5: Obstrução por parte dos inimigos de Judá.

         4,6-24: Troca de correspondência durante o reinado de Xerxes e Ataxerxes.

         5,1 – 6,18: Construção da Casa de Yaohu.

         6,19-22: A Páscoa.

         7,1-10: O escriba Esdras.

         7,11-28: A carta de Artaxerxes.

         8,1-14: Os companheiros de Esdras.

         8,15-36: Viagem de Esdras a Jerusalém.

         9: Oração de humilhação de Esdras.

         10,1-17: Despedida das mulheres estrangeiras.

         10,18-44: Lista dos culpados.

 

 

         Neemias

         1: Oração de Neemias.

         2: Viagem de Neemias a Jerusalém.

         3,1-32: Restauração dos muros de Jerusalém.

         3,33 – 4,17: Obstáculos e dificuldades.

         5: Injustiças sociais. Intervenção de Neemias.

         6: Término da reconstrução das muralhas.

         7: Recenseamento dos israelitas.

         8: Leitura pública da Lei.

         9: Oração de confissão dos pecados.

         10: Resoluções diversas.

         11: Repartição dos habitantes de Jerusalém.

         12: Sacerdotes e levitas.

         13: Reformas diversas, realizadas por Neemias.

 

         A história literária dos dois livros é bastante complexa. As antigas traduções gregas do Antigo Testamento abrangem, além de uma tradução dos dois livros reunidos em um só, um outro livro de Esdras, bem diferente destes últimos e com muita freqüência designado sob o termo: Esdras grego, ou então 1 Esdras (sendo que 2 Esdras designa a tradução dos dois livros hebraicos de Esdras-Neemias). O Esdras grego contém certas passagens das Crônicas e de Esdras, mas também relatos apócrifos (os três jovens pajens de Dario etc.). Quanto à tradição latina: ela conhece 4 livros de Esdras, sendo que o 1º corresponde ao livro bíblico de Esdras, o 2º ao livro de Neemias, o 3º ao Esdras grego, e o 4º é um apocalipse tardio atribuído a Esdras, mas que já não tem mais nada em comum com os dois livros do Antigo Testamento. A maior parte das edições modernas da Bíblia contém apenas os dois livros de Esdras e de Neemias, e deixam de lado o Esdras grego (1 ou 3Esd) e o Apocalipse de Esdras (4Esd), que nunca fizeram parte do cânon judaico.

 

 

         Problemas literários. Não há indicação quanto ao autor destes dois livros, mas é comum admitir-se que foi um e mesmo autor que redigiu e compôs a vasta síntese histórica dos dois livros das Crônicas, seguidos dos livros de Esdras e de Neemias. Um dos indícios mais significantes é a identidade entre os últimos versículos de 2 Crônicas (36,22-23) e os primeiros versículos de Esdras (1,1-3), o que demonstra a continuidade do relato. No entanto, os métodos de composição diferem sensivelmente.

         Para os livros de Esdras e Neemias, o autor utilizou como fontes diversos documentos antigos, que reproduziu e sistematizou entre si de modo a articula-los e incorpora-los no mesmo conjunto. Assim, é possível descobrir:

         a) documentos oficiais em hebraico (listas, estatísticas, etc., tais como Esd 2 e Ne 7; 10,3-30; 11,3-36; 12,1-26) e em aramaico (correspondência diplomática, decretos oficiais, Esd 4,9 – 6,18; 7,11-26);

         b) memórias de Esdras (Esd 7 – 10) contendo trechos redigidos na primeira pessoa, com Esd 7,27 – 9,15, e trechos na terceira pessoa, com Esd 7,1-10; Ne 8 – 9;

         c) memórias de Neemias (Ne 1 – 7; 10; 12,27 – 13,31).

         A utilização desses diversos documentos explica também a dualidade de idioma constatado no livro de Esdras, já que certos trechos foram conservados em aramaico (Esd 4,8 – 6,18 e 7,12-26), ao passo que o restante está em hebraico. Esta particularidade encontra-se também no livro de Daniel (2,4 – 7,28).

         Contudo, a redação dos dois livros a partir dessas fontes levanta alguns problemas de solução nada fácil. É o que ocorre com a lista dos judeus que voltaram do cativeiro, a qual figura ao mesmo tempo no cap. 2 de Esdras e no cap. 7 de Neemias, isto é, em duas situações históricas bem diversas. No primeiro caso (Esd 2), esta lista aplica-se às primeiras caravanas de deportados retornados a Jerusalém em decorrência do edito de Ciro em 538, totalizando mais de 50.000 pessoas. No segundo caso (Ne 7), trata-se de uma enumeração feita na época de Neemias, após a reconstrução das muralhas de Jerusalém pelo ano de 445, ou seja, cerca de um século mais tarde. É provável que esta lista, reproduzida nesses dois contextos, não represente com exatidão nem a situação no início do retorno, nem o da época de Neemias, mas uma época intermediária, que poderia ser a de Zorobabel e de Josué, que aliás figuram encabeçando a lista. Pode-se pensar em um recenseamento do povo que regressou a Jerusalém desde uns vinte anos antes, no mínimo, após a reconstrução do segundo Templo (520-515).

         Quanto à data da redação dos dois livros, é difícil precisa-los, uma vez que é necessário levar em conta o conjunto da obra de Crônicas-Esdras-Neemias. A julgar pelo conteúdo histórico desta obra, pelas idéias religiosas nela expressas e pelo ambiente do qual parece provir o autor, o período de acabamento da sua vasta obra historiográfica poderia situar-se entre o final do séc. IV e meados do séc. III a.C. Esse período corresponderia apenas à redação final dos livros, já que as fontes literárias utilizadas remontam certamente a épocas bem anteriores.

 

 

         Problemas históricos. A análise dos livros Esdras-Neemias levanta problemas relativos aos próprios eventos históricos. Dentre estes destacam-se dois, que têm originado hipóteses diversas, das quais nenhuma se impõe como solução certa e definitiva.

         O primeiro problema refere-se à interrupção da reconstrução do Templo de Jerusalém (Esd 4). Segundo o texto, esta interrupção foi ordenada pelo rei persa Artaxerxes (465-424) em conseqüência das queixas de habitantes da região que se opunham aos judeus (Esd 4,6-24). Ocorre que a cronologia torna tal acontecimento impossível. Com efeito, a construção do Templo foi terminada no 6º ano do reinado de Dario, isto é, por volta de 515 (Esd 6,15), após ter sido retomada no segundo ano do mesmo reinado, em 520 (Esd 4,24; Ag 1,15). A passagem Esd 4,6-23 refere-se a acontecimentos da época de Artaxerxes, ou seja, no mínimo 50 ou 60 anos mais tarde. A hipótese mais provável para resolver este problema consiste em ver, nesta última passagem, documentos relativos à interrupção de outros trabalhos, diferentes dos de reconstrução do Templo: talvez uma tentativa de reconstrução das muralhas da cidade na época de Artaxerxes, o que, aliás, explicaria bastante bem a ulterior iniciativa de Neemias para retomar esses trabalhos e leva-los a bom termo, sempre sob o reinado de Artaxerxes (Ne 1 – 4 e 6). O próprio conteúdo da correspondência diplomática de Esd 4,6-23 fala explicitamente de uma reconstrução da cidade e das muralhas, e não do Templo (vv. 12,13.16). Como explicar que este documento tenha sido inserido no meio do relato referente ao Templo em uma época bem anterior? Não o sabemos. Como se tratasse de trabalhos interrompidos por ordem de um rei da Pérsia, talvez tenha havido confusão, no momento da redação do livro, entre os trabalhos do Templo, na época de Artaxerxes.

         Mais complexo é o segundo problema: o da cronologia da atividade de Esdras e de Neemias em Jerusalém. A ordem cronológica atual do relato fala da chegada de Esdras no 7º ano de Artaxerxes (Esd 7,7) e da sua atividade reformadora (Esd 8 – 10), e em seguida, da chegada de Neemias no 20º ano de Artaxerxes (Ne 2,1) e da sua atividade em prol da reconstrução das muralhas (Ne 1 – 7). A seguir vê-se Esdras reaparecer – quando não se fizera mais menção a ele em Ne 1 – 7 – para a leitura solene da Lei (Ne 8 – 9); e por fim, Neemias exerce sua atividade sozinho, no decurso de outra estada em Jerusalém no 32º ano de Artaxerxes (Ne 13,6). Tem-se, pois, a impressão de que Esdras e Neemias exerceram sua atividade em Jerusalém simultaneamente, mas independentemente um do outro, ignorando-se quase totalmente, o que parece surpreendente, dado que aos dois receberam uma missão oficial do rei Artaxerxes (Esd 7,11; Ne 2,7-8). Têm-se buscado diversas explicações para resolver esta dificuldade: pensou-se que Esdras ficou por pouco tempo em Jerusalém e voltou ao rei da Pérsia enquanto Neemias estava em Jerusalém. Mas neste caso seria preciso supor uma verdadeira dança alternada dos dois, pois em Ne 8 – 9 Esdras está novamente em Jerusalém, e Neemias teria então partido novamente para junto do rei, antes de voltar a Jerusalém cerca de doze anos mais tarde (Ne 13,6). Pretendeu-se resolver a questão situando Esdras quando da segunda vinda de Neemias a Jerusalém (o que explicaria a presença simultânea dos dois, segundo Ne 8,9), mas neste caso é preciso modificar a data indicada em Esd 7,8: Não se trataria mais do 7º ano de Artaxerxes, mas do 27º ou do 37º ano desse rei (ou seja, pelo ano de 438 ou 428).

         Finalmente, tem-se proposto – e esta hipótese é quiçá a mais plausível – considerar toda a atividade de Neemias como anterior à de Esdras: Ne 1 – 7 e 10 – 13 relataram esta atividade de reconstrutor e de reformador. Mais tarde, em uma época que poderia ser o 7º ano do rei Artaxerxes II (e não de Artaxerxes I), por volta de 398-397, Esdras teria chegado a Jerusalém (Esd 7,7). Teria então realizado suas reformas (Esd 7 – 10) e restaurado o culto em seqüência à leitura solene da Lei (Ne 8 – 9). Esta hipótese, porém, não soluciona todas as dificuldades e não explica a presença de Neemias no momento da leitura da Lei (Ne 8,9). É verdade que este último dado poderia provir do redator final, que apresentou como contemporâneas as atividades de Esdras e de Neemias. O redator não teria levado em conta as datas respectivas das estadas e das reformas efetuadas pelos dois. O que queria era sobretudo dar a prioridade ao sacerdote-escriba Esdras em relação ao leigo Neemias. Esta razão teológica teria desorganizado a cronologia real dos acontecimentos. Mas estamos apenas diante de uma hipótese; o problema ainda não encontrou solução plenamente satisfatória.

 

         Perspectivas religiosas. Os livros de Esdras e de Neemias certamente não pertencem à categoria daqueles que se volta a reler freqüentemente. Muitos leitores da Bíblia pouco os conhecem e acreditam encontrar neles nada mais do que alguns documentos úteis para a história bíblica, porém destinados de maior interesse para os dias de hoje. Esta opinião não é exata e estriba-se num preconceito. Sem dúvida, estes dois livros não são comparáveis a outros cujo conteúdo religioso é muito mais rico, como ocorre com os Salmos, Jó ou os Profetas. Mas revelaria desconhece-los quem deixasse de enfatizar sua importância religiosa e seu valor permanente no conjunto dos livros bíblicos, tão ricos e tão variados. Em uma orquestra, os instrumentos não desempenham todos o mesmo papel, nem têm a mesma sonoridade. No entanto, são todos necessários para se poder ouvir a sinfonia na sua plenitude.

         Esses dois livros não apresentam uma exposição teológica propriamente dita, mas nos eventos bem concretos que relatam é possível descobrir as idéias mestras que guiaram os seus heróis.

         Os três centros de preocupação claramente evidenciados nesses textos são: o Templo, a cidade de Jerusalém, a comunidade do povo de Yaohu.

         A reconstrução do Templo é a primeira tarefa do povo que retorna do cativeiro. Aliás, o próprio objetivo da volta do Exílio é a reconstrução do santuário, já ordenada, segundo Esd 1,2, pelo rei Ciro em seu edito. A Casa de Yaohu é o sinal real e material da presença de Yaohu no meio do seu povo. É também o lugar em que se pode celebrar o culto; daí a importância de tudo o que concerne ao sacerdócio (2,36-39), aos levitas e a todo o pessoal ligado ao lugar santo (2,40-63), assim como de tudo o que diz a respeito aos objetos cultuais, às oferendas (1,9-11; 2,68-69) e, sobretudo ao altar, que é o primeiro a ser restabelecido para nele se oferecerem os sacrifícios, antes da própria edificação do novo Templo (3,1-7). Se ocorre um atraso na reconstrução do Templo, é sobretudo em razão da hostilidade dos adversários que procuram impedir os judeus de restabelecerem sua influência (cap. 4), [OS ADORADORES DE BAAL É QUE ERAM CONTRA A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO, E ETC. ANSELMO ESTEVAN], ao passo que nada se diz , nestes dois livros, da negligência, da indiferença e do desânimo dos próprios judeus nesta tarefa – como o atesta, porém, a profecia de Ageu (Ag 1,2-5). Pelo contrário, em Esd 6, a alegria explode por ocasião da Dedicação do Templo terminado, o qual é a obra de Yaohu mais que dos homens (v. 22).

         A presença do Templo é inseparável da cidade mesma; aliás, a preocupação por Jerusalém, cidade santa no presente e no futuro, faz parte dos objetivos que levaram Neemias a pedir a autorização do rei Artaxerxes para vir à capital judaica a fim de restaura-la e restituir-lhe a importância que lhe cabe. Esta preocupação por Jerusalém explica o zelo patriótico e religioso que ele demonstrou na reconstrução das muralhas em ruínas, com o concurso de toda a população (Ne 2 – 6). Para ele, tratava-se de uma missão profundamente religiosa, que Yaohu lhe havia confiado e que cumpriu, a despeito das dificuldades e das lutas, com a certeza de que Yaohu estava com ele e combatia em favor do seu povo. As medidas que Neemias adotou a seguir, com o fim de repovoar a cidade por muitos trocada pelo campo (Ne 11), ou com o fim de fazer respeitar o sábado (Ne 13,15-22), mostram que, para ele, Jerusalém devia voltar a assumir seu papel de cidade santa. Tratava-se do prolongamento de toda a história passada, interrompida pela ruína e pelo cativeiro.

         Todavia, o Templo e a cidade só têm significado real em função do povo que vive neste lugar e que constitui a comunidade do povo de Yaohu. Pois bem, esta comunidade, sacudida pelo Exílio, precisa ser restaurada sobre o seu verdadeiro fundamento, que é a obediência à Lei de Yaohu. É, sobretudo aqui que aparece a importância da obra de Esdras e de Neemias. O povo judeu não desfruta mais da sua independência nacional; só tem razão de ser porque é uma comunidade religiosa que reata a tradição antiga com as exigências da situação presente. Tal obra de restauração precisava manifestar-se em setores diversos. Primeiramente no do culto: A leitura solene da Lei de Moisés, trazida por Esdras (Ne 8) e explicada ao povo antes da festa dos Tabernáculos, fornece os elementos principais daquilo que será mais tarde o serviço da sinagoga. A Lei é o fundamento da vida do judaísmo, e permanecerá tal através dos séculos.

         A obediência à Lei de Yaohu explica também as medidas muitas vezes severas ordenadas por Esdras e Neemias para reconduzir o povo à observância das festas, dos sábados, das obrigações referentes às ofertas e aos dízimos destinados ao culto e aos sacerdotes (Ne 10; 12; 13,1-22), e também para reagir contra os casamentos com pagãos (Esd 10; Ne 13,23-29). É ainda por fidelidade à Lei que Neemias, com suas palavras e exemplo pessoal, soube equacionar o problema de ordem social, que dividia a população em conseqüência das diferenças de renda e da escandalosa desigualdade de condição social (Ne 5).

         E, no entanto, apesar dessas exigências, não nos deparamos na religião de Esdras e de Neemias com um legalismo tacanho que desfiguraria as perspectivas da verdadeira religião, como ocorre com freqüência neste campo. A Lei é sempre a do Deus Yaohu vivo, que fala e age, e para o qual o povo pode voltar-se através de um culto sincero e de uma oração espontânea. A cada instante vemos Esdras e Neemias dirigirem-se a Yaohu para pedir seu conselho, sua ajuda, sua proteção, ou para exprimir-lhe seu reconhecimento cheio de alegria (Esd 3,11; 6,21-22; 7,27-28; Ne 1,4-11; 4,4-5; 5,19 etc.). As duas grandes orações conservadas em Esd 9 e Ne 9 encerram com probabilidade elementos litúrgicos em uso no culto judaico (arrependimento, confissão dos pecados, imploração do perdão de Deus Yaohu, rememoração da história do povo no passado e de suas infidelidades, ato de confiança no Deus Yaohu – Deus de Israel, etc.). Esses textos revelam quanto a pregação dos profetas anteriores ao Exílio havia finalmente produzido seus frutos e conduzido o povo a esses sentimentos de humilhação e de fé no Yaohu que perdoa.

         Importa notar ainda um aspecto – secundário decerto, mas não sem valor – da vida religiosa dos judeus dessa época em Jerusalém: é a polêmica contra uma concepção excessivamente frouxa e liberal da vida religiosa, que acaba por admitir envolvimento com o paganismo. Mostram-no as medidas contra os casamentos com pagãos, mas também a recusa formal de toda colaboração com habitantes locais que se oferecem para trabalhar na reconstrução das muralhas (Ne 2,19-20; 4; 6 etc.), mas que na realidade são inimigos dos judeus. Percebe-se aqui o prelúdio da oposição entre judeus e samaritanos, cujo cisma se operará em época posterior (sem dúvida por volta de 328).

         Os livros de Esdras e de Neemias põem em relevo, sobretudo a personalidade desses dois homens tão diferentes, e, no entanto animados do mesmo desejo de trabalhar na restauração do seu povo e da vida religiosa: Esdras, sacerdote e escriba, erudito no campo da Lei, inspirador da renovação do culto, rigorista no tocante aos comprometimentos com os povos pagãos, e Neemias, leigo enérgico e de coragem indomável, a pregar pelo exemplo através do seu desinteresse, homem de oração e de fé. E, no entanto, por maior que seja o valor desses dois homens, sua personalidade nunca é priorizada em relação à sua obra. Cumprem a missão que Yaohu lhes confiou, e afora esta missão nada mais sabemos a respeito da vida deles, a respeito do término da sua atividade e da sua morte. A pessoa deles apaga-se por trás da ação, deixando na sombra o que aconteceu antes e depois do ministério que exerceram. Este é também um traço característico da vida religiosa do judaísmo de sua época.

 

 

 

         VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE ESDRAS e NEEMIAS:

 

 

 

         (Ed)

 

         ZOROBABEL

         Pontos fortes e êxitos:

         Liderou o primeiro grupo de exilados judeus que viviam na Babilônia de volta a Jerusalém.

         Completou a reconstrução do Templo de Yaohu.

         Demonstrou sabedoria tanto ao aceitar ajuda como ao recusa-la.

         Começou o projeto de reconstrução estabelecendo a adoração. Como algo primordial.

 

         Fraquezas e erros:

         Precisava de constante encorajamento.

         Permitiu que os problemas e a oposição detivessem o trabalho de reconstrução.

 

 

         Lições de vida:

         Uma líder precisa fornecer não só a motivação inicial para um projeto, mas também o encorajamento continuo necessário para manter o projeto em andamento.

         Um líder deve encontrar sua própria fonte segura de encorajamento.

         A fidelidade de Yaohu é demonstrada pelo modo como preservou a linhagem de Davi.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Babilônia e Jerusalém.

         Ocupação: Reconhecido líder dos exilados.

         Familiares: Pai – Sealtiel; avô - Joaquim.

         Contemporâneos: Ciro, Dario, Zacarias e Ageu.

 

 

 

         Versículos-chave: “E respondeu e me falou, dizendo: Esta é a palavra do ETERNO a Zorobabel, dizendo: Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o ETERNO dos Exércitos. Quem é tu, ó monte grande? Diante de Zorobabel, serás uma campina; porque ele trará a primeira pedra com aclamações: Graça, graça a ela” (Zc 4,6.7).

 

 

 

         A história de Zorobabel é contada em Esdras 2,2 – 5,2. Ele também é mencionado em 1 Crônicas 3,19; Neemias 7,7; 12,1.47; Ageu 1,1.12,14; 2,4.21.23; Zacarias 4,6-10; Mateus 1,12.13; Lucas 3,27.

 

 

 

         ESDRAS

         Pontos fortes e êxitos:

         Comprometeu-se a estudar, seguir e ensinar a Palavra de Yaohu.

         Liderou o segundo grupo de Judeus exilados na Babilônia da volta a Jerusalém.

         Pode ter escrito 1 e 2 Crônicas.

         Preocupou-se em manter os detalhes dos mandamentos de Yaohu.

         Enviado pelo rei Artaxerxes a Jerusalém para avaliar a situação, implantou um sistema de ensino religioso, e retornou com um relatório em primeira mão.

         Trabalhou ao lado de Neemias durante o último despertamento espiritual registrado no Antigo Testamento.

 

 

         Lições de vida:

         A disposição de uma pessoa em conhecer e praticar a Palavra de Yaohu terá um efeito direto no modo como Yaohu usará sua vida.

         O ponto de partida para servir a Yaohu é comprometer-se a servi-lo hoje, antes mesmo de saber detalhes do serviço.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Babilônia e Jerusalém.

         Ocupações: Escriba, emissário real e ensinador da Lei.

         Familiares: Pai – Seraías.

         Contemporâneos: Neemias e Artaxerxes.

 

 

 

         Versículo-chave: “Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar a Lei do ETERNO, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus direitos” (Ed 7,10).

 

 

 

         A história de Esdras está registrada em Esdras 7,1 – 10,16 e Neemias 8,1 – 12,36.

 

 

 

         (Ne)

 

         NEEMIAS

         Pontos fortes e êxitos:

         Um homem de caráter, persistência e oração.

         Extraordinário planejador organizador e motivador.

         Sob sua liderança, os muros ao redor de Jerusalém foram reconstruídos em 52 dias.

         Como líder político, conduziu a nação à reforma religiosa e ao despertamento espiritual.

         Agiu com calma diante da oposição.

         Foi capaz de ser honesto e objetivo com o seu povo, quando estavam em pecado.

 

 

         Lições de vida:

         O primeiro passo em qualquer empreendimento é orar.

         Pessoas sob a direção de Yaohu podem realizar tarefas impossíveis.

         Há duas partes importantes no verdadeiro serviço a Yaohu; falar com Ele e andar com Ele.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Pérsia e Jerusalém.

         Ocupações: Copeiro do rei, construtor de cidades e governador de Judá.

         Familiares: Pai – Hacalias.

         Contemporâneos: Esdras, Artaxerxes, Tobias e Sambalate.

 

 

 

         Versículo-chave: “Então, lhes declarei como a mão do meu Deus – Yaohu me fora favorável, como também as palavras do rei, que ele me tinha dito. Então, disseram: Levantemo-nos e edifiquemos. E esforçaram as suas mãos para o bem” (Ne 2,18).

 

 

 

         A história deste servo de Yaohu é contada no livro de Neemias.

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:

 

 

 

ESTER

 

 

 

         INTRODUÇÃO

 

 

 

         Visão geral

         Autor: Desconhecido.

         Propósito: Estabelecer a Festa de Purim como um memorial pelo livramento que Yaohu concedeu ao seu povo e como um lembrete para que permanecessem fiéis a ele mesmo quando estivessem vivendo sobre opressão.

         Data: c. 460-350 a.C.

         Verdades fundamentais:

         Por vezes, o povo de Yaohu sofrerá intensamente nas mãos dos inimigos de Yaohu.

         Yaohu preservará o seu povo nos seus períodos de opressão.

         O ETERNO derrotará aqueles que oprimem o seu povo, tirará o povo de seu estado de humilhação e o exaltará.

         O povo de Yaohu deve buscar a ajuda de Yaohu e permanecer fiel a ele apesar das provações nos sofrimentos.

         O povo de Yaohu deve celebrar com fidelidade as maravilhas dos livramentos que Yaohu operou no passado a fim de ter ânimo para enfrentar as provações do presente.

 

 

         Propósito e características

         Claramente, a intenção do escritor de Ester é explicar a origem da celebração de Purim e de institucionalizá-lo como uma comemoração pelo grande livramento dos judeus durante o período persa (9,20-32).

 

 

 

         CRISTO EM ESTER.

         O estilo teológico sutil de Ester não diminui a importância de os cristãos considerarem os acontecimentos narrados nesse livro à luz de Cristo e da salvação nele obtida. O povo de Yaohu estava no exílio, separado da sede de sua fé, Jerusalém, com seu templo e rei. Mesmo assim, o ETERNO cuidou de seus filhos, dando-lhes segurança e livramento que têm sido comemorados com a Festa de Purim desde aquela data.

         Essas características da narrativa apontam, em primeiro lugar, à vida do próprio Cristo. Em seu estado de humilhação, ele também sofreu sob a ação dos inimigos de Yaohu. Seu serviço fiel até a morte trouxe salvação para todos que o seguem (At 2,36).

         Além disso, a narrativa lembra aos leitores cristãos que, no momento atual, em que estão separados de seu Rei e templo, o Messias (Jo 16,7; At 1,7-9), eles devem esperar sofrer por causa de sua identificação com Cristo (At 14,22; Rm 8,35; 1Pe 4,16). Todavia, enquanto os seguidores de Cristo inocentemente suportam a dor até que a nova Jerusalém desça do céu, eles não estão sozinhos. O Messias prometeu que estaria presente, por meio da habitação do Espírito Santo, até o fim da era da Igreja (Mt 28,20; Ef 1,13-14). Os cristãos de hoje não devem travar conflito religioso ou espiritual usando poder político ou armas. Em vez disso, devem contar com a armadura espiritual para a sua proteção enquanto levam o evangelho a um mundo hostil (Ef 6,10-20). A coragem e a fé manifestadas por Ester, por Mordecai e pelos judeus revelam aos cristãos de hoje como devem seguir a Cristo até que ele retorne em glória. {Ver mais adiante a palavra, “Cristão”. E a palavra REMANESCENTE – JUNTAMENTE COM O TERMO CORRETO DE Cristo...”}. A.

 

 

 

         ESTER: Esta história conta como Ester, uma jovem judia dentre os deportados, se torna a rainha da Pérsia: como seu primo e tutor, Mordekai (Mardoquei), descobriu um complô contra a vida do rei; como o grão-vizir Haman procurou liquidar os judeus; como Ester interveio, arriscando a própria vida; como Haman foi enforcado, e os judeus foram autorizados pelo Estado a fazer um contrapogrom, cujo aniversário celebram com a festa dos Purim, isto é, das “Sortes”, lembrando que Haman mandou tirar à sorte, para marcar a data do extermínio.

         Nem Esdras, nem Neemias, nem o Sirácida mencionam esta história. Em Qumran não se encontraram fragmentos deste livro – é o único que falta. Em compensação, 2Mc 15,36 alude ao “dia de Mardoqueu”, o que mostra que, na primeira metade do séc. I a.C., a festa existia na Palestina. Se for verdade que 3,8 se harmoniza menos com a tolerância persa do que com a intransigência persecutória de Antíoco IV Epífanes, pode-se pensar que o autor escreveu por volta do fim do séc. II, isto é, três séculos depois de Xerses I, provavelmente na Mesopotâmia, que ele parece conhecer um pouco, ao passo que se cala sobre a Palestina. O estilo diferente e as contradições de 9,20-32 sugerem tratar-se de uma adição, assim como em 10,1-3. Mas a adição mais importante é a da Septuaginta (93 versículos a mais dos 167 do texto hebraico), cujo fim confirma que o livro hebraico é anterior ao Ptolomeu aí mencionado (Est gr. F. 10 -11).

         As adições de Ester grego tendem a tornar mais religioso este livro, que nunca fala de Yaohu, no qual tudo parece se resolver somente pela força e pela astúcia e que encontrou dificuldades de “canonização”. Entretanto, 4,14, é suficiente para lembrar que o ETERNO da história não é este ou aquele grande poder humano, e sim aquele que escolheu o povo judeu: todavia ele age na história não ex-machista, mas mediante as ações de suas testemunhas.

         Embora o livro reflita o conhecimento da topografia, da cronologia e da administração de Susa, o relato não é histórico no sentido moderno. Exceto o rei, os personagens são desconhecidos. A rainha sempre foi persa e a da época se chamava Amestris. Nunca houve semelhante antipogrom, que não passa de um sonho de desforra jamais realizado. Em compensação, os muitos pogroms que houve na história dos judeus poderiam bem explicar esta narrativa, que, talvez tendo um deles por ponto de partida, procura legitimar a festa dos Purim – cuja liturgia tem até hoje um ar de carnaval. Esse nome estrangeiro de “Purim”, explicado em 9,24-26, mostra que a festa judaica é a reprodução de uma festa pagã. Pensou-se na festa babilônica do Ano Novo em que Marduk, vencedor do caos, tem os Destinos em suas mãos; pensou-se também na luta dos deuses babilônicos Marduk e Ishtar contra os deuses elamitas Human e Vashti; ou ainda no massacre dos magos por Dario; ou no carnaval persa... Nenhuma hipótese se é plenamente satisfatória. Pode-se considerar que não se deve excluir esta ou aquela influência, e que os judeus, de um lado, diante dessas festas pagãs com sua mitologia e, de outro, diante das perseguições que sofriam, tenham se perguntado que significação teriam essas festas para eles, e como poderiam ser um meio de comunicar a sua própria mensagem. Como aconteceu com outras festas judaicas, eles retomaram o mito e o inseriram na história, pois não há, para o Antigo Testamento, conhecimento de Yaohu senão através da história dos homens no meio da qual ele escolheu e fez viver o seu povo. Dessa forma, a festa pagã foi adotada e legitimada pela lenda judaica que, fundada sobre experiências históricas, desmistificou a festa pagã. A mesma coisa fez também a Igreja cristã com o culto do Sol, no Natal. {§. Vide Obs:}. Anselmo Estevan.

         A história e a experiência cotidiana mostram que os homens não concedem facilmente aos outros o direito de serem diferentes (ver Est 3,8). Desde que o povo judeu vive disperso entre as nações, ele é – como as outras minorias que procuram conservar a sua identidade – objetivo de perseguições. O massacre dos judeus por ocasião da “Grande Peste” no séc. XIV ou a “solução final” adotada pelo nazismo e seus cúmplices são exemplo trágico disso.

         Se Israel sobrevive apesar de todas as tentativas de extermínio levadas a cabo contra ele, tal fato mostra que Yaohu cuida do povo que ele escolheu para se dar a conhecer ao mundo. [Por isso, é importante conhecer o seu verdadeiro e {PRÓPRIO} NOME. ANSELMO ESTEVAN].

         Mas, nem o extermínio dos judeus, programado por Haman, nem o contrapogrom organizado por Mordekai resolvem coisa alguma. Toda violência cega causa apenas nova revanche. A reconciliação não se produz junto ao patíbulo onde sucessivamente o inimigo enforca o judeu e o judeu, o inimigo, mas ao pé de uma cruz onde Ie(ho)shua = Cristo, crucificado por não-judeus e judeus juntos, morre por uns e outros. “É ele que é a nossa paz.... Em sua carne destruiu o muro de separação... ele matou o ódio” (Ef 2,14-16). {O correto é Yao[hu]shua = O UNGIDO = CHRISTÓS!}. Anselmo Estevan.

 

 

 

VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE ESTER:

 

 

         MARDOQUEU

         Pontos fortes e êxitos:

         Denunciou uma conspiração de assassinato contra o rei.

         Atencioso o suficiente para adotar sua prima.

         Recusou-se a curvar-se diante de qualquer pessoa, exceto Yaohu.

         Ocupou o lugar de Hamã como segunda pessoa no comando do reino de Assuero.

 

 

         Lições de vida:

         As oportunidades que temos são mais importantes do que aquelas que desejaríamos ter tido.

         Podemos confiar em Yaohu para tecer os acontecimentos da vida para o nosso bem, embora possamos não estar aptos a enxergar a totalidade da sua atuação.

         As recompensas pelas atitudes corretas são algumas vezes adiadas, mas são garantidas pelo próprio Yaohu.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Susã, uma das várias capitais da Pérsia.

         Ocupação: Oficial judeu que se tornou o segundo de Assuero.

         Familiares: Filha adotiva – Ester; pai – Jair.

         Contemporâneos: Assuero e Hamã.

 

 

 

         Versículo-chave: “Por que o judeu Mardoqueu foi o segundo depois do rei Assuero, e grande para com os judeus, e agradável para com a multidão de seus irmãos, procurando o bem do seu povo e trabalhando pela prosperidade de toda a sua nação” (Et 10,8).

 

 

 

         A história de Mardoqueu é contada no livro de Ester.

 

 

 

         ESTER

         Pontos fortes e êxitos:

         Sua beleza e seu caráter conquistaram o coração do rei da Pérsia.

         Combinou a coragem com um cuidadoso planejamento.

         Estava aberta a conselhos e disposta a agir.

         Preocupava-se mais com os outros do que com a sua própria segurança.

 

 

         Lições de vida:

         Servir a Yaohu freqüentemente exige que arrisquemos a nossa própria segurança.

         Yaohu tem sempre um propósito para as situações em que nos coloca.

         Embora a coragem seja sempre uma qualidade vital, ela não substitui o cuidadoso planejamento.

 

Informações essenciais:

         Local: Império Persa.

         Ocupação: Mulher de Assuero (Xerxes), rainha da Pérsia.

         Familiares: Primo – Mardoqueu; esposo – Assuero; pai – Abiail.

 

 

 

         Versículo-chave: “Vai, e ajunta todos os judeus que se acharem em Susã, e Jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de dia nem de noite, e eu e as minhas moças também assim jejuaremos, e assim irei ter com o rei, ainda que não é segundo a lei; e, perecendo, pereço” (Et 4,16).

 

 

 

         A história de Ester é relatada no livro de Ester.

 

 

 

         HAMÃ

         Pontos fortes e êxitos:

         Alcançou grande poder, e foi o segundo no comando do reino da Pérsia.

 

 

         Franquezas e erros:

         O desejo de controlar as pessoas e receber honra era seu maior objetivo.

         Foi cegado pela arrogância e presunção.

         Planejou matar Mardoqueu e construiu para ele uma forca.

         Orquestrou o plano para exterminar o povo de Yaohu espalhado por todo o império.

 

 

         Lições de vida:

         O ódio será punido.

         Yaohu possui um incrível registro para fazer com que os planos malignos se voltem contra os seus planejadores.

         O orgulho e a presunção serão punidos.

         Uma insaciável sede de poder e prestígio é autodestrutiva.

 

 

         Informações essenciais:

         Local: Susã, a capital da Pérsia.

         Ocupação: Segundo no comando do império.

         Familiares: Esposa – Zeres.

         Contemporâneos: Assuero, Mardoqueu e Ester.

 

 

 

         Versículos-chave: “Vendo, pois, Hamã que Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava diante dele, Hamã se encheu de furor. Porém, em seus olhos, teve em pouco o pôr as mãos só sobre Mardoqueu (porque lhe haviam declarado o povo de Mardoqueu); Hamã, pois, procurou destruir todos os judeus que havia em todo o reino de Assuero, ao povo de Mardoqueu” (Et 3,5.6).

 

 

 

         A história de Hamã está relatada no livro de Ester.

 

 

 

 

§. Sobre o autor; discordo das festas dos judeus que sejam um tipo de “Carnaval”. Pois todas as festas eram por ordem de Yaohu – para que o “seu povo” se divertisse (...). O que, hoje em dia não há mais... Só aquele foco em pregar mas o pregar com interesses alheios a VERDADEIRA SALVAÇÃO. Bem quanto ao texto em si, se houve algo “estranho”, foi a mistura com povos de outras raças que pregavam a ADORAÇÃO À “BAAL” – SENDO O SEU NOME PRÓPRIO =  SENHOR! Quanto às festas pagãs do “Cristianismo” – seguidores de “Cristo” – a palavra traduzida erroneamente...! Concordo plenamente pois os Padres, mudaram as datas para puramente uma festa pagã como descreve o texto... Sendo a palavra SALVADOR = O UNGIDO = DA PALAVRA = CHRISTÓS = FOI TOTALMENTE ESQUECIDO... Era isso que queria colocar. Anselmo Estevan!

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

LIVROS POÉTICOS E DE SABEDORIA:

 

 

 

(; SALMOS; PROVÉRBIOS; ECLESIASTES; CÂNTICO).

 

      

A POESIA DO ANTIGO TESTAMENTO.

         A Bíblia hebraica considera como livros poéticos apenas Jó, Salmos e Provérbios, enquanto na Bíblia cristã essa categoria inclui também os livros de Eclesiastes e Cantares dos Cânticos, Nenhum desses arranjos é inteiramente satisfatório. Por um lado, Cântico dos Cânticos, que é escrito em forma poética, foi excluído dessa sessão da Bíblia hebraica. Por outro lado, Eclesiastes, que é uma mistura de prosa e poesia, foi incluído nessa sessão da Bíblia cristã. A única coisa que os cinco livros têm em comum é o fato de não serem, estritamente falando, nem históricos nem proféticos. No entanto, uma vez que quatro deles foram redigidos inteiramente e um parcialmente em forma poética, tornou-se habitual chamá-los de livros poéticos. A poesia é extremamente comum em todo o Antigo Testamento, e os conceitos discutidos abaixo se aplicam a todas as passagens nessa forma literária.

         A poesia bíblica pode ser distinguida da prosa de pelo menos quatro maneiras importantes: a regularidade das estruturas rítmicas, o uso freqüente de figuras de linguagem, forte dependência de imagens, e expressão emocional intensa. A concisão na fraseologia é também muito comum. Até certo ponto, a prosa também apresenta essas características, mas elas são mais freqüentes e perceptíveis na poesia.

         Estrutura rítmica: Além de características como assonância e consonância, a estrutura rítmica formal da poesia hebraica pode ser vista de maneira mais clara no paralelismo, ou seja, a coordenação bastante próxima ou associação de um verso poético com outro. Os versos paralelos são constituídos de pelo menos dois versetos que formam um verso. O segundo verseto expande, enfatiza ou contrasta com uma ou mais dimensões do primeiro verseto. A ideia básica é “A, e, além disso, B” (ou, “A, mas, por outro lado, B”).

         A importância dessa característica da poesia do Antigo Testamento pode ser ilustrada pela comparação de dois registros da maneira como Jael tratou Sísera no livro de Juízes. No relato em prosa de Jz 4,19 lemos: “Dá-me, peço-te, de beber um pouco de água, porque tenho sede. Ela abriu um odre de leite, e deu-lhe de beber, e o cobriu”. Porém, no relato poético de Jz 5,25 temos:

         Verseto A: Água pediu ele, leite lhe deu ela;

         Verseto B: em taça de príncipes lhe ofereceu nata.

         No relato poético, pode-se observar claramente o ritmo do paralelismo entre os versetos. O segundo verseto enriquece “lhe deu ela” de forma estereofônica com “em taça de príncipes” e “leite” com “nata”. Chama a atenção para a nata e para a taça requintada na qual Jael serviu a iguaria de modo que o público possa ver e sentir a astúcia de Jael. Ela tratou seu hóspede exausto da batalha como se fosse um membro da realeza a fim de deixa-lo à vontade e torna-lo vulnerável. Nesse sentido, o relato em prosa se concentra mais nos fatos objetivos, enquanto o paralelismo do poema cria uma impressão mais vívida.

         Figuras de linguagem: A poesia também lança mão das figuras de linguagem com mais freqüência do que a prosa. Uma figura pode ser definida simplesmente como uma maneira indireta de dizer alguma coisa, ou como dizer algo intentando outro significado, de acordo com as convenções compartilhadas pelo escritor e o leitor. É comum os poetas recorrerem a figuras como a hipérbole ou exagero, simbolismo, metáforas, símiles, metonímias, sinédoques, sarcasmos, ironia e várias outras técnicas conhecidas de comunicação indireta.

         O Salmo 1,3, por exemplo, emprega a símile de uma árvore frutífera para descrever a condição favorável daqueles que meditam sobre a Lei de Yaohu.

         Ele é como árvore plantada

         Junto a corrente de águas,

         Que, no devido tempo, dá o seu fruto.

         O Salmo 34,10 usa uma hipérbole, afirmando a ausência absoluta de necessidades físicas a fim de transmitir a satisfação de Davi com a resposta de Yaohu às suas orações.

         Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome,

         Porém aos que buscam o ETERNO

         Bem nenhum lhes faltará.

         Os leitores de poesia devem ficar atentos para a freqüência das figuras de linguagem e para o modo como elas funcionam. Uma leitura rígida e literal dos textos poéticos pode resultar em interpretações enganosas.

         O uso de imagens: Pode ser definido como a forma de expressão de pensamentos que visa evocar a experiência mental de impressões sensoriais. É evidente que a prosa se vale da imaginação para comunicar os pensamentos do escritor, mas a poesia se apóia muito mais no poder imaginativo da linguagem. Em vez de falar claramente sobre uma questão, os poetas bíblicos muitas vezes conduzem seus leitores a experiências sensoriais dos temas tratados.

         O Salmo 42,7, por exemplo, retrata as dificuldades do Salmista numa linguagem forte com os sons e sensações experimentados por alguém que está sendo dominado pelas águas impetuosas de uma cachoeira.

         Um abismo chama outro abismo,

ao fragor das tuas catadupas;

todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim.

         O Salmo 23,2 retrata a proteção de Yaohu numa expressão pitoresca de refrigério, conforto, cor e quietude.

         Ele me faz repousar em pastos verdejantes.

Leva-me junto das águas de descanso.

         Os intérpretes da poesia bíblica devem permanecer atentos ao uso freqüente de imagens. Os recursos poéticos muitas vezes oferecem aos leitores a oportunidade de fazer reflexões profundas e transformadoras.

         Expressão emocional: A poesia bíblica também é particularmente eficaz na expressão e evocação de uma ampla gama de emoções apropriadas para os fiéis. Tratada da alegria e da dor, do louvor e do lamento, do amor e do ódio; praticamente nenhuma emoção é omitida.

         No Salmo 130,1.2, por exemplo, encontramos um lamento desesperado:

         Das profundezas clamo a ti, ETERNO.

         Escuta, ETERNO, a minha voz;

Estejam alertas os teus ouvidos

às minhas súplicas.

Ao mesmo tempo, descobrimos louvor jubiloso no Salmo 57,7.8:

Firme está o meu coração, ó Yaohu,

o meu coração está firme;

cantarei e entoarei louvores.

Desperta, ó minha alma!

Despertai, lira e harpa!

Quero acordar a alva.

         O enfoque emocional da poesia bíblica exige que os intérpretes atentem para suas próprias reações emocionais a essas Escrituras. Ao depararmos com os sentimentos intensos expressados nesses textos, somos desafiados a submeter à Palavra de Yaohu até as nossas paixões mais profundas.

 

 

 

 

A SABEDORIA DO ANTIGO TESTAMENTO

 

         Dos cinco livros poéticos do Antigo Testamento, três são de sabedoria: ; Provérbios e Eclesiastes. Textos sapienciais aparecem ocasionalmente em outros livros, mas apenas de modo limitado. Partes extensas dos livros de sabedoria são poéticos e apresentam as características mencionadas acima. No entanto, os livros de sabedoria podem ser distinguidos dos demais livros poéticos de várias maneiras.

         Características dos livros de sabedoria: Os livros de sabedoria apresentam pelo menos três características distintivas. Em primeiro lugar, o termo “sabedoria” e seus sinônimos, como, por exemplo, “entendimento”, aparecem com mais freqüência nesses livros do que nos outros. Em segundo lugar, eles apresentam um modo comum de revelação, baseando-se mais nas observações da vida do que em manifestações sobrenaturais visuais ou auditivas. Em terceiro lugar, uma vez que grande parte de sua inspiração é proveniente de observações contemporâneas da criação e das experiências humanas, a história da salvação não é o enfoque principal desses livros. São poucas as reflexões diretas sobre os acontecimentos redentores importantes ocorridos na história de Israel.

         Definição de sabedoria: A sabedoria pode ser definida em dois níveis. Num nível mais superficial, a sabedoria é uma aptidão importante, como as habilidades de sobrevivência (Pv 30,24-28), habilidades técnicas (Êx 28,3; 36,1) e as habilidades judiciais e administrativas (Dt 1,15-18; 1Rs 3,1-28). Num nível mais profundo, porém, a sabedoria tem as suas origens na ordem criada. As Escrituras explicam que Yaohu fez a sabedoria existir antes do restante da criação e ela está por trás de todas as relações naturais e sociais (Pv 3,19-20; 8,22-31). Uma compreensão maior dessa ordem criada torna uma pessoa sábia no sentido mais completo do termo. Os sábios das Escrituras expõem essa sabedoria cósmica sob a inspiração do Espírito de Yaohu [RUACH HAKODESH] (Pv 25,2; Ec 12,9-12).

         Embora a observação comum seja um elemento fundamental para o processo de aquisição de sabedoria, ela não se dava de maneira isolada dos valores religiosos. Os sábios que contribuíram para os livros de sabedoria e os compilaram se valeram com freqüência dos ensinamentos de Moisés e Davi para nortear suas interpretações da experiência. O sobrescrito de abertura do livro de Provérbios, por exemplo, informa aos seus leitores: “Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel” (Pv 1,1). Salomão falou como rei da aliança de Israel; realizou a sua tarefa não apenas com um olhar atento para o mundo e os comportamentos sociais, mas também com um coração repleto de fé proveniente de sua herança piedosa e, portanto, dependente de uma revelação anterior. Até mesmo Agur, o sábio prosélito de Massá, relatou como descobriu que a sabedoria só era possível dentro da fé israelita. Citando primeiro Davi (Sl 18,30) e depois Moisés (Dt 4,2), declarou em Pv 30,5-6:

         Toda palavra de Yaohu é pura;

ele é escudo para os que nele confiam.

Nada acrescentes às suas palavras,

para que não te repreenda,

e sejas achado mentiroso.

         Sabedoria didática e meditativa: O Antigo Testamento apresenta dois tipos principais de sabedoria. A maior parte da sabedoria didática se encontra no livro de Provérbios. Esse tipo de sabedoria costumava ser ensinado no contexto familiar (Pv 1,8.10). Consistia principalmente de ditos, enigmas e parábolas sapienciais (Pv 1,6) fáceis de memorizar e, muitas vezes provocativos criados para ensinar a sabedoria prática. Mediante o aprendizado dos provérbios, os jovens de Israel eram treinados para discernir orientação para inúmeras situações de vida.

         O valor prático da sabedoria proverbial é resultante não apenas do conhecimento que ela apresenta de modo direto, mas também da compreensão de que nem sempre é fácil conciliar a sabedoria proverbial com a experiência de nosso mundo decaído.

         Pv 22,29, por exemplo, diz:

         Vês a um homem perito na sua obra?

         Perante reis será posto;

não entre a plebe.

       Não é preciso muita vivência para saber que existe certa dissonância entre esse provérbio e grande parte da nossa experiência. Sabemos que o provérbio não descreve uma série inevitável de acontecimentos, pois nem sempre as pessoas de grande perícia são colocadas perante reis. Antes, observações da vida nos mostram que o objetivo desse dito era incentivar o desenvolvimento de aptidões instilando a esperança de reconhecimento. Não prometia que todas as pessoas habilidosas obteriam tal reconhecimento. Pode-se dizer o mesmo de vários provérbios, pois o pecado levou o mundo a ficar aquém dos padrões ideais que costumam ser descritos na sabedoria didática. Grande parte da sabedoria proverbial aponta para aproximações da ordem ideal experimentadas ocasionalmente e volta os olhos dos fiéis para uma esperança além deste mundo (Pv 12,28; 14,32; 23,17-18; 24,19-20), quando tudo será corrigido pelo julgamento final. Então, todas as dissonâncias entre a sabedoria proverbial e a experiência serão eliminadas.

         A sabedoria meditativa por sua vez pode ser vista em e Eclesiastes. Esse estilo literário explora o uso apropriado da sabedoria proverbial chamando a atenção para o enigma da vida. e Eclesiastes ajudam os intérpretes a evitar expectativas e interpretações exageradas da sabedoria proverbial. O livro de testa a utilidade da sabedoria proverbial para aqueles que passam por sofrimento. Onde está a justiça de Yaohu quando os justos sofrem e os perversos usam a sabedoria proverbial para acusa-los falsamente? Quanto da sabedoria de Yaohu os seres humanos são capazes de compreender em tais circunstâncias? Do mesmo modo, Eclesiastes assinala os limites da sabedoria proverbial na busca de contentamento e significado. Por que há tão pouca alegria no fruto do trabalho árduo? De que adianta buscar conhecimento ou adquirir riqueza se, ao que tudo indica, os justos e perversos perdem tudo o que conquistaram quando morrem? Os dois livros advertem contra interpretações simplistas da sabedoria didática que cria expectativa de justiça imediata e bênçãos contínua.

         e Eclesiastes corroboram o valor da sabedoria proverbial, mas também abrem caminho para uma compreensão mais profunda e plena. Em primeiro lugar, enfatizam que os seres humanos são seriamente limitados em sua capacidade de discernir a sabedoria de Yaohu, especialmente com respeito às anomalias desconcertantes da vida. É o cúmulo da insensatez acreditar que podemos, de fato, dominar a sabedoria necessária para entender todos os caminhos de Yaohu (Jó 28; 40 – 42). Em segundo lugar, lembram os leitores que até mesmo a aquisição de uma consciência limitada da sabedoria exige um temor do ETERNO reverente e constante (Pv 1,7). Jó 28,28 conclui, “Eis que o temor do ETERNO é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento”. Do mesmo modo, Ec 12,13 diz, “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Tema a Yaohu e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem”. A sabedoria meditativa ressalta que o reconhecimento das limitações humanas e da necessidade de submissão ao ETERNO nos permite viver como pessoas sábias.

 

 

OS ESCRITOS

 

INTRODUÇÃO

 

         Após a “Lei” e os “Profetas”, a Bíblia hebraica apresenta uma terceira coletânea, que não constitui um grupo homogêneo e não recebeu um título característico, já que foi simplesmente denominada Ketubim, ou seja, os (demais) Escritos.

         A coletânea dos Ketubim não foi mantida nos diversos manuscritos gregos e nas listas eclesiásticas. Alguns desses livros foram inseridos entre os livros “históricos” (Rt; Cr; Esd-Ne; Est) e “proféticos” (Lm; Dn), e os demais passaram muitas vezes a formar um grupo de livros “poéticos”.

         Nas listas hebraicas a seção dos Ketubim está sempre presente, mas nem sempre na mesma ordem interna.

         À guisa de exemplo, a lista fornecida pelo Talmud (Baba Batra 14b) parece ordená-los segundo um princípio cronológico: Rute (que termina com a genealogia de David), Salmos (atribuídos a David), (que alguns afirmam remontar à época da rainha de Shebá, cf. Jó 1,15), Provérbios, Eclesiastes (Coélet), Cântico dos Cânticos, (coletânea salomônica), Lamentações (atribuídas a Jeremias), Daniel (do tempo do Exílio), Ester, Esdras-Neemias, Crônicas (do período persa).

         A despeito da variedade dos sistemas da classificação, constata-se que os Salmos, e Provérbios figuram sempre juntos (freqüentemente na ordem: Salmos-Provérbios-Jó).

         Analogamente, Crônicas figura sempre ou no começo ou no fim da coleção (sendo que Esdras-Neemias ocupa sempre ou o último lugar ou o penúltimo, respectivamente). A posição final de Crônicas é curiosa, pois Esdras-Neemias constituem sua seqüência natural. Esta posição já é conhecida do Novo Testamento (Mt 23,35; Lc 11,51). Dever-se-á isto ao fato de a incorporação de Crônicas no cânon ter ocorrido mais tarde? Ou será que se quis ordenar os livros da Bíblia de maneira a estabelecer uma correspondência entre o primeiro e o último livro, visto que tanto o Gênesis como Crônicas começam por um quadro do desenvolvimento da humanidade e terminam com a promessa da salvação e do retorno a Israel (Gn 50,24-25; 2Cr 36,1-23)?

         O lugar dos Cinco Rolos (Ct; Rt: Lm; Ecl; Est) é muito instável. Todavia, em razão do costume de lê-los nos dias de festa (Cântico dos Cânticos na Páscoa, Rute em Pentecostes, Lamentações no aniversário da queda do Templo, Eclesiastes na festa das Tendas, Ester na de Purim), passou-se a justapor esses cinco livros nos manuscritos, e posteriormente também nas primeiras Bíblias impressas.